segunda-feira, 11 de outubro de 1999


XXII

AÇÃO DOS ANJOS NO GOVERNO DO MUNDO ORDENS E HIERARQUIAS ANGÉLICAS


Atuam também umas criaturas sobre as outras no mundo dos espíritos?
Sim, Senhor.

Como se chama este influxo?
Chama-se iluminação (CVI, 1).

Por quê?
Porque um Espírito puro influi no outro para transmitir-lhe a iluminação que recebe de Deus, relacionada com o governo do mundo (Ibid.).

Logo, a iluminação, que procede de Deus, comunica-se aos espíritos, ordenada e gradualmente?
Comunica-se com graduação e ordem maravilhosa.

Que entendeis, quando afirmais que se comunica com graduação e ordem maravilhosa?
Que Deus a comunica diretamente aos que estão mais próximos Dele, e estes aos demais anjos, porém com ordem tão severa que a iluminação dos primeiros só pode chegar aos últimos por ação dos intermediários (CVI, 3).

Logo há anjos superiores, intermediários e últimos na ordem estabelecida para se comunicarem entre si as iluminações que emanam de Deus?
Sim, Senhor (CVIII, 2).

Podereis esclarecer com um exemplo em que consiste esta subordinação?
Poderíamos compará-la a um rio que, em vistosas cascatas, se precipita de rocha em rocha, alimentando o seu curso, sem cessar, com as águas de um lago, situado no alto da montanha.

Há, em cada uma das ditas categorias angélicas, diversos agrupamentos?
Sim, Senhor (CVIII).

De quantas classes são?
De duas classes.

Que nome têm?
Chamam-se Hierarquias e Ordens Angélicas (Ibid.).

Que significa o nome de Hierarquia?
Hierarquia é uma palavra derivada do grego que significa Principado sagrado.

Que coisas se expressam com a palavra Principado?
Duas: O príncipe e a multidão a ele subordinada (Ibid.).

Qual é, pois, o significado completo da expressão “Principado sagrado”?
Significa e designa o conjunto de todas as criaturas racionais, chamadas a participar das coisas santas, debaixo do governo único de Deus, Rei dos Reis e Príncipe Soberano (Ibid.).

Logo, só há uma Hierarquia e um principado sagrado no mundo?
Considerado por parte de Deus, Rei Soberano de todas as criaturas racionais por Ele regidas, só há uma Hierarquia ou principado sagrado, que compreende os anjos e os homens (Ibid.).

Por que, pois, e em que sentido, se fala das Hierarquias no plural e especialmente no mundo dos espíritos puros ou anjos?
Porque, atendendo aos súbditos, se classificam os principados, segundo os diversos modos como o príncipe os governa (Ibid.).

Poderíeis elucidá-lo com um exemplo?
Sim, Senhor; debaixo do cetro de um monarca pode haver cidades e províncias regidas cora diversas leis e diferentes ministros (Ibid.).

São os homens da mesma Hierarquia que os anjos?
Enquanto vivem neste mundo, não, Senhor (Ibid.).

Por que dizeis “enquanto vivem neste mundo”?
Porque no céu serão admitidos nas Hierarquias angélicas (CVIII, 8).

Logo, há várias Hierarquias angélicas?
Sim, Senhor (CVIII, 8).

Quantas são?
São três (Ibid.).

Em que se distinguem?
Na forma diversa de conhecer a razão das coisas concernentes ao governo divino (Ibid.).

Como as conhecem os da primeira Hierarquia?
Com a iluminação direta procedente do mesmo Deus.

Que se segue daqui?
Segue-se que os anjos da primeira Hierarquia são os mais próximos de Deus e, portanto, as ordens desta hierarquia tomam os seus nomes de algum ministério que tenha por objeto o mesmo Deus (CVIII, 1,6).

Como conhecem os anjos da segunda Hierarquia a razão das decisões concernentes ao governo do mundo?
Nas suas causas universais criadas (Ibid.).

Que se deduz deste princípio?
Que os anjos da segunda Hierarquia as conhecem, mediante a iluminação dos da primeira, e suas ordens tomam o nome de algum ministério que tenha por objeto o conjunto de todas as criaturas (Ibid.).

Como as conhecem os anjos da terceira Hierarquia?
Enquanto são executivas e dependem de suas causas próximas (Ibid.).

Que se deduz deste modo de conhecer?
Que os anjos da última Hierarquia recebem as ordens divinas tão concretas e particularizadas como é necessário para comunicá-las às nossas inteligências e as suas ordens recebem denominação de atos limitados a um homem. v. gr., anjos da guarda, ou a uma província, como os principados (CVIII, 6).

Podereis esclarecer a doutrina exposta com uma comparação?
Com a seguinte: nas cortes dos reis há assessores e conselheiros áulicos que assistem à pessoa do Monarca; há secretários da real cúria e despacho a cujas secretarias vêm ter os negócios gerais de todo o reino: há, por fim. governadores e prepostos nas diversas províncias e nos diversos ramos da administração.

São as ordens angélicas distintas das Hierarquias?
Sim, Senhor (CVIII, 2).

Em que se distinguem?
Em que as Hierarquias se integram com diversas multidões de anjos que formam diferentes principados. debaixo do governo divino, e as ordens constituem classes distintas dentro das multidões que formam uma mesma hierarquia (Ibid.).

Quantas ordens há em cada Hierarquia?
Há três (Ibid.).

Por quê?
Porque é uma semelhança do que se passa entre os homens, onde se agrupam as classes sociais em aristocracia, classe média e povo inferior (Ibid.).

Logo, em cada Hierarquia, há anjos superiores, médios e inferiores?
Sim, Senhor e a estas categorias chamamos ordens angélicas (Ibid.).

Logo, são nove as ordens angélicas?
As principais são nove (CVIII, 5, 6).

Por que dizeis “as principais”?
Porque em cada ordem há infinitas sub-ordens, visto que cada anjo tem a sua categoria e ofício particular, ainda que nos não é dado conhecê-las neste mundo (CVIII, 3).

Ordem é o mesmo que coro angélico?
Sim, Senhor.

Por que se dá o nome de coros às ordens angélicas?
Porque, cumprindo as diversas ordens a missão que Deus lhes confia no governo do mundo, formam grupos harmônicos, onde maravilhosamente se retrata a glória divina.

Que nome têm as ordens angélicas?
Enumerados em ordem descendente, chamam-se: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos (CVIII, 5).

Há ordens ou classes entre os demônios?
Sim, Senhor; porque a ordem angélica depende da natureza de cada anjo, e esta permaneceu nos demônios.

Logo, há subordinação entre eles, como a havia antes da queda?
Sim, Senhor.

Algum dos demônios utiliza esta superioridade para praticar o bem?
Nunca, sempre para praticar o mal (CIX, 3).

Não existe, portanto, iluminação entre os demônios?
Não, Senhor, por isso que seu reino é chamado o império das trevas.


XXIII

AÇÃO DOS ANJOS BONS NO MUNDO CORPÓREO


Serve-se Deus dos anjos bons no governo do mundo material?
Sim, Senhor, porque este mundo é inferior ao dos anjos, e, em todo governo bem ordenado, os inferiores são regidos pelos superiores (CX, 1).

Qual é o seu ministério?
Velar pelo exato cumprimento do plano providencial e dos decretos divinos concernentes às coisas materiais.

A que ordem pertencem os anjos administradores das coisas materiais?
À ordem das Virtudes (CX, 1, 2, 2).

Que fazem os anjos que servem na administração do mundo corporal?
Velam pela perfeita execução do plano da Providência e pelas manifestações da vontade divina, em tudo o que se passa nos diversos seres que constituem o mundo material.

Logo, Deus executa por meio dos anjos que pertencem à ordem das Virtudes quantas alterações e mudanças se efetuam no mundo corporal, inclusive os milagres?
Sim, Senhor (CX, 4).

Têm os anjos virtude ou poder suficiente para fazer milagres?
Não, Senhor. Somente Deus pode fazê-los e o anjo concorre ou com intercessão ou como causa instrumental (CX, 4, ad 1).


XXIV

AÇÃO DOS ANJOS NO HOMEM

ANJO DA GUARDA


Podem os anjos influir no homem?
Sim, Senhor; porque são de natureza puramente espiritual, e, portanto, superior à humana (CXI).

Podem iluminar a nossa inteligência?
Sim, Senhor; dando-lhe vigor e pondo ao nosso alcance a Verdade puríssima que eles contemplam (CXI, 1).

Podem intervir diretamente na nossa vontade?
Não, Senhor; porque a volição é um movimento interior que só depende de Deus, sua causa (CXI, 2).

Logo, somente Deus pode atuar diretamente e mudar, como lhe apraz, os movimentos da vontade humana?
Só Deus o pode fazer (Ibid.).

Podem os anjos excitar a imaginação e as demais faculdades sensitivas?
Sim, Senhor; porque estando intimamente ligadas ao organismo dependem do mundo corpóreo submetido à ação dos anjos (CXI, 3).

Podem impressionar os sentidos externos?
Sim, Senhor; pela mesma razão, exceto quando a excitação provém do demônio, e neste caso pode ser contrabalançada por outra de um anjo bom (CXI, 4).

Por conseqüência, os anjos podem dificultar e impedir a obra dos demônios?
Sim, Senhor; porque a justiça divina submeteu os demônios, como castigo do seu pecado, ao domínio dos anjos (Ibid.).

Envia Deus os seus anjos a exercer algum ministério entre os homens?
Sim, Senhor; Deus se serve deles para promover o bem e para executar os seus desígnios junto dos mortais (CXII, 1).

Envia, com este fim, todos os anjos?
Não, Senhor (Ibid.).

Quais são os que nunca são empregados?
Os da primeira Hierarquia (CXII, 2, 3).

Por quê?
Porque é privilégio desta Hierarquia o de permanecer constantemente junto ao Trono de Deus (Ibid.).

Que titulo obtêm os anjos da primeira Hierarquia, em atenção a este privilégio?
O de anjos assistentes (Ibid.).

Quais são, pois, os enviados?
Todos os da segunda e terceira Hierarquia, porém note-se que as Dominações presidem ao cumprimento dos decretos divinos e as outras ordens, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos, são os executores (CXII, 4).

Destina Deus alguns anjos para guarda dos homens?
Sim, Senhor; porque a divina Providência decretou que o homem, ignorante no pensar, inconstante e frágil no querer, tivesse como guia protetor, na sua peregrinação até ao céu, um daqueles espíritos ditosos, confirmados para sempre no bem (CXIII, 1).

Destina Deus um anjo para a guarda de cada homem, ou um só para guardar muitos?
Destina um para cada homem, porque mais ama Deus uma alma do que todas as espécies de criaturas materiais, e, apesar disto, determinou que cada espécie tivesse um anjo custódio encarregado do seu governo (CXIII, 2).

De que ordem toma Deus os anjos da guarda?
Toma-os do último coro (CXIII, 3).

Têm todos os homens, sem exceção, anjo custódio?
Sim, Senhor; todos o têm, enquanto vivem neste mundo, em atenção aos obstáculos e perigos do caminho que têm de percorrer até chegar ao fim (CXIII, 4).

Teve-o Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem?
Considerando que era pessoa divina, não convinha que o tivesse; porém, teve anjos com a nobilíssima missão de servi-Lo (Ibid.).

Quando começa cada anjo custódio a exercer o seu ministério?
No instante em que o homem aparece no mundo (CXIII, 5).

Abandonam, alguma vez, os anjos custódios os homens confiados à sua guarda?
Não, Senhor; velam por eles sem interrupção até que exalem o último suspiro da sua vida (CXIII, 6).

Afligem-se à vista das tribulações e males do seu protegido ?
Não, Senhor; porque, depois de fazerem o que está em suas mãos para evitá-los, reconhecem e adoram neles a grandeza insondável dos juízos de Deus (CXIII, 7).

É boa e recomendável a prática de invocarmos com freqüência o nosso anjo da guarda e lhe confiarmos nossas pessoas e coisas?
É prática excelente e muito recomendável.

Quando invocamos os anjos da guarda, acodem eles, infalivelmente, em nosso socorro?
Sim, Senhor; porém com sujeição e conformidade com os decretos divinos e de modo que seja em coisa ordenada, em harmonia com a glória de Deus (CXIII, 8).


XXV

AÇÃO DOS ANJOS MAUS OU DEMÔNIOS


Podem os demônios combater e tentar os homens?
Sim, Senhor.

Por quê?
Porque o seu todo é malícia e, além disso, porque Deus sabe tirar proveito das tentações em benefício dos eleitos (CXIV, 1).

É próprio dos demônios o tentar?
Sim, Senhor.

Em que sentido o dizeis?
No sentido de que os demônios só tentam aos homens com o propósito de seduzi-los e perdê-los (CXIV, 2).

Podem com este objetivo fazer milagres?
Verdadeiros milagres, não, Senhor; porém, “alguma coisa parecida com os milagres”.

Que entendeis por estas palavras “alguma coisa parecida com os milagres”?
Entendemos alguns fatos prodigiosos que excedem as forças dos agentes mais próximos e conhecidos, porém, não a virtude natural de todas as criaturas (CXIII, 4).

Como os distinguiremos dos milagres?
Em que se realizam sempre com fim ilícito ou meios reprováveis e não podem, por conseqüência, ser obra de Deus (CXIV, 4, ad 1).

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