segunda-feira, 11 de outubro de 1999

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

1 — O Verbo Eterno do Pai, que pela sua imensidade abrange todas as coisas, para revocar à elevação da glória divina o homem diminuído pelo pecado, quis fazer-se limitado, assumindo a nossa limitação, não renunciando, porém, à sua majestade. Para que ninguém fosse dispensado de receber a doutrina da palavra celeste, que transmitira extensivamente por intermédio dos homens que a estudaram, e, de modo claro, pelos livros da Sagrada Escritura, condensou, numa breve suma, a doutrina da salvação humana. Desse modo conhecê-la-iam também aqueles que se entregam mais aos cuidados das coisas terrenas.
2 — A salvação humana consiste no conhecimento da verdade, que impede o obscurecimento da inteligência pelo erro; no desejo da devida finalidade do homem, que o impede de seguir os fins indevidos que o afastam da verdadeira felicidade, e, finalmente, na observância da justiça, para que ele não se macule por tantos vícios.
O necessário conhecimento das verdades da salvação humana está contido em poucos e breves artigos de fé. Por isso o Apóstolo disse: “Dará o Senhor uma palavra abreviada sobre a terra.” (Rom 9,28.) Esta é a palavra da fé que nós pregamos.
O Verbo Eterno do Pai corrigiu o desejo humano por uma breve oração, na qual manifesta, ao nos conduzir por ela, como o nosso desejo e a nossa esperança devem ser orientados.
A justiça humana, que consiste na observância da Lei, Ele resumiu num só preceito de caridade: “A plenitude da Lei é a caridade.” (Rom 13,10.)
Por esses motivos, o Apóstolo ensinou que toda a perfeição da presente vida consiste na fé, na esperança e na caridade, que são como capítulos nos quais se compendia a doutrina da nossa salvação. Escreveu também o Apóstolo: “Agora permanece a fé, a esperança, a caridade.” (I Cor 13,13.) Três virtudes pelas quais, conforme Santo Agostinho, presta-se culto a Deus.
3 — Para te transmitir, caríssimo filho Reginaldo, um compêndio da doutrina cristã de modo a tê-lo sempre diante dos olhos, a nossa intenção, no presente trabalho, é tratar das três virtudes: primeiro, da fé; depois, da esperança; e, por fim, da caridade. Em tal ordem considerou-as o Apóstolo, a qual, aliás, é conforme à reta razão. Realmente, o amor não pode ser reto se não estiver dirigido para o devido fim da esperança, nem esta pode existir se não houver o conhecimento da verdade.
É necessária, por conseguinte, em primeiro lugar, a fé, pela qual deves conhecer a verdade. Em segundo lugar, a esperança, pela qual deve ser colocado no devido fim o teu desejo. Em terceiro lugar, é necessária a caridade, pela qual a tua afeição deve ser inteiramente ordenada.
                                      

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