A existência de Deus - Exmo. Revmo.
Monsenhor Lefebvre
A fé, que é a ciência mais certa, à qual nos referimos, nos ensina a existência de deus: “Credo in unum Deum Patrem Omnipotentem, creatorem coeli et terrae, visibilium et invisibilium”.
Ela nos ensina que Deus é espírito: “Deus spiritu est”, Nosso Senhor o ensinou à Samaritana. É, pois, um Espírito todo poderoso que tudo criou.
Houve um momento em que o mundo não existia, onde somente Deus existia eternamente, em sua santidade e sua felicidade, perfeita e infinita, não tendo nenhuma necessidade de criar. No princípio de sua oração sacerdotal, Jesus faz alusão a esta época: “E agora Pai, glorificar-me-ei com aquela glória que eu tinha junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jô XVII,5).
A fé nos ensina que a razão pode chegar à conclusão da existência de Deus, e São Pedro em sua primeira Epístola (IPÊ I,18) repreende os homens com veemência por não haverem conhecido o verdadeiro deus que se manifesta em suas obras.
Realmente, tudo o que é, tudo o que somos, proclama a existência de Deus e canta suas perfeições divinas. Todo o Antigo Testamento e, particularmente, os Salmos e os Livros Sapienciais cantam a glória do Criador. É por isso que na oração litúrgica e sacerdotal os Salmos têm um lugar primordial.
É bom meditar sobre a criação “ex nihilo sui et subjecti”, feita do nada, pela simples decisão do Criador “qui putas se esse aliquid, cum nihil sit, ipse seducit: se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, ilude-se a si mesmo” (Gal VI,5).
Quanto mais nos aprofundamos nessa realidade, mais ficamos espantados com a onipotência de deus e com nosso nada, com a necessidade de toda criatura ser constantemente sustentada nesta existência, sob pena de desaparecer, de voltar ao nada. É isso que nos ensinam tanto a fé como a filosofia.
Essa meditação e essa constatação deveriam bastar para nos lançar humildemente em adoração profunda, numa atitude imóvel semelhante à imobilidade do próprio Deus. Deveríamos ter uma confiança sem limites naquele que é nosso Tudo e que decidiu nos criar e nos salvar.
Com que devoção e sinceridade deveríamos todas as manhãs, no começo das Matinas, recitar o Salmo XCIV: “Vinde, alegremo-nos… Vinde, adoremos… Seu é o mar pois Ele o fez, e a terra firme que suas mãos formaram, vinde adoremos e prosternemo-nos diante de Deus, choremos diante do Senhor que nos criou, porque Ele é o Senhor nosso Deus e nós somos seu povo e as ovelhas que Ele pastoreia”.
Como não agradecer à Igreja que põe suas palavras em nossos lábios para exprimir os mais profundos sentimentos de nossas almas de criaturas!
Se a criação é um grande mistério, é que Deus é para nós o grande Mistério e o permanecerá eternamente na visão beatífica. “Jamais alguém viu a Deus, senão aquele que vem de Deus”, somente o Verbo e o Espírito Santo vêm Deus, sendo de Deus e um só Deus com o Pai. (Jo VI,46).
Abordar os atributos e perfeições de Deus, realidade espiritual que abrange tudo, que vivifica tudo, que sustenta tudo na existência, só poderá aumentar o Mistério divino, para nossa maior satisfação, edificação e santificação.
Santo Tomás diz: “Quanto mais conhecermos perfeitamente a Deus aqui em baixo, melhor nós compreenderemos que Ele ultrapassa tudo o que a inteligência compreende” (II-II/8/3).
Vindo a fé em socorro da razão para nos convencer da existência de Deus e nos abrindo horizontes maravilhosos sobre a intimidade de deus pela Revelação e, sobretudo, pela Encarnação do Verbo divino, devemos interroga-la para saber se podemos dar a Deus um nome que será próprio de Deus e nos ajudará a melhor conhecê-lo.
Ora, é precisamente o que Deus fez, tanto no Antigo Testamento como no novo. Disse Moisés: “Eu lhes direi, o Deus de vossos pais me enviou a vós. Se eles me perguntarem qual é o seu nome, que lhes responderei? E Deus diz a Moisés: eu sou Aquele que sou. E ele continua: é assim que responderá aos filhos de Israel: Aquele que é, me envia a vós” (Ex III,13-14); assim também Nosso Senhor com os judeus, que lhes dizem: “Vós não tendes ainda cinqüenta anos e vistes Abraão? Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão fosse, eu sou” (Jô VIII,5-9).
Nunca serão suficientemente admiradas essas respostas luminosas que correspondem, aliás, às conclusões de nossa razão. “Deus é”, Ele é “ens a se”, o ser por Ele mesmo; todos os outros seres são “ab alio”, não têm sua razão de ser por eles mesmos.
Essas afirmações simples são uma fonte de meditação e de santificação interminável. Quer seja o olhar sobre Deus que termina no infinito, quer seja a constatação dos laços da criatura ao Criador, ou a visão do nada da criatura, estamos diante do que há de mais verdadeiro, de mais profundo e de mais misterioso em Deus e em nós.
Dom Marcel Lefebvre
Fonte: Blog's Católicos de Ribeirão e Católicos Tradicionais
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