quarta-feira, 30 de outubro de 2013

COLÓQUIOS COM MONSENHOR LEFEBVRE


COLÓQUIOS COM MONSENHOR LEFEBVRE
Dom Tomás de Aquino

Foi em 1975 que vi Dom Lefebvre pela primeira vez. Ele viera a nosso Mosteiro de Santa Maria Madalena em Bedoin, no Sul da França, para conferir as ordens menores a dois de nossos irmãos, o Ir. Jehan de Belleville e o Ir. Joseph Vannier. A pregação de Dom Lefebvre me impressionou pela sua serenidade. Ele respirava a paz, essa paz que é a divisa dos beneditinos e que ele parecia possuir mais do que nós.

Esta cerimônia não passou despercebida aos progressistas, que não nos perdoaram. Receber Dom Lefebvre! Deixá-los conferir ordens a nossos estudantes! Isto não podia ficar sem uma punição exemplar. O superior geral de nossa congregação veio ver-nos trajado à maneira progressista, como o exigem os tempos modernos, isto é, de paletó e gravata. Talvez a gravata seja fruto da minha imaginação, mas do paletó eu me lembro bem. Conclusão. Nós fomos excluídos da ordem beneditina. Na verdade era Dom Lefebvre que eles procuravam atingir, ou melhor, era Nosso Senhor que eles perseguiam.

Em 1976 eu pude escutar Dom Lefebvre pregando em Ecône no início daquele verão, que ficou conhecido como “verão quente” devido à gravidade dos acontecimentos que marcaram a vida da Fraternidade São Pio X e da Igreja naqueles dias heróicos em que Dom Lefebvre teve de dizer não a Paulo VI. Interrogado pelos jornalistas a respeito de sua atitude, Dom Lefebvre respondeu com simplicidade:

“Quando eu estiver diante de meu juiz, não quero que Ele possa dizer-me: ‘O senhor também, o senhor deixou que destruíssem a minha Igreja’.”[1]

Mas foi somente em 1984 que tive contato pessoal com Dom Lefebvre. Eu havia sido enviado para o seminário de Ecône, sendo já padre, para completar os meus estudos e para cuidar da saúde.

Aproveitando a presença de Dom Lefebvre, fui vê-lo com certa freqüência. Sua bondade paternal tornou fácil essas conversas, cujo essencial transcrevo aqui. Como eu tinha o costume de escrever o conteúdo desses colóquios após cada entrevista, hoje me sirvo dessas notas na redação desse artigo.

Na terça-feira, 6 de novembro de 1984, Dom Lefebvre falou-me do Ecumenismo:

“Se as outras religiões não são obra do demônio, então não há razão para não admiti-las; não há razão para combatê-las. Ora, todas as religiões, fora a Religião Católica, são obras que não vem de Deus. ‘Quem não é por Mim, é contra Mim’, disse Nosso Senhor. Toda religião, fora a Religião Católica, é obra do demônio. Toda atenuação desta verdade concorre para a perda das almas. Esta heresia está de tal maneira espalhada que mesmo nossos fiéis não escapam inteiramente à sua influência. Eu penso que nós estamos diante de uma verdadeira heresia. Penso como Dom Antônio de Castro Mayer, mas não quis dizê-lo publicamente até agora.”

No dia 12 de Março de 1985, Dom Lefebvre falou-me da questão dos acordos com Roma. Penso que Dom Lefebvre abordou este assunto por causa de Dom Gérard, que por essa época procurou obter de Dom Lefebvre apoio para um acordo com Roma. Dom Gérard dizia que com o Cardeal Ratzinger era possível de se entender e que Dom Lefebvre era fechado demais. Mesmo assim, Dom Gérard procurava a aprovação de Dom Lefebvre, sem a qual ele não teria a aprovação dos fiéis da Tradição.

“Submeter-se a homens que não têm a integridade da Fé Católica? Submeter-se a homens que proclamam princípios contrários aos princípios da Igreja? Ou nós seremos obrigados a romper de novo com eles e a situação se tornará pior que antes, ou seremos conduzidos insensivelmente à diminuição e à perda da Fé.

Há ainda uma terceira possibilidade. Uma vida bem difícil por causa do contato freqüente com homens que não tem a Fé católica, conduzindo à desorientação e ao enfraquecimento do espírito de combate dos fiéis.”

Esta questão conduziu Dom Lefebvre a falar das Sagrações:

“Eu esperei o mais possível para que Deus me esclarecesse a respeito das sagrações. Em Roma eles se afundam cada vez mais nos seus erros. Eu penso que é necessário assegurar a permanência do sacerdócio católico. Eu esperei a confirmação deste dever. Parece que a tenho cada vez mais.

O Liberalismo é uma heresia. Eu não o quis dizer até agora. Não se podia imaginar que um Papa pudesse chegar a tal ponto. Ele já não é Papa por causa disso? Eu não penso que se possa afirmar isto. É uma coisa que não se podia imaginar.”

E voltando à questão dos acordos:

“Nossa posição, tal como é agora, nos permite ficar unidos na fé. Todos aqueles que quiseram fazer um compromisso com os modernistas se desviaram. Penso que nós não devemos nos submeter a eles.

Eu desconfio imensamente. Passo as noites a pensar nisso. Não somos nós que temos de assinar nada. São eles que têm de assinar garantindo que aceitam a doutrina da Igreja. Eles querem nossa submissão, mas não nos dão a doutrina.”

Bela conclusão. Submissão? Sim, mas com a doutrina. Sem a Verdade Revelada, sem a Tradição, nada feito, pois seria o suicídio da Fé e a perda da vida eterna.

No dia 30 de março de 1985, Sábado da Paixão, Dom Lefebvre faz observações interessantes sobre a política, conversando com os professores do seminário em Ecône.

“Em vez da ONU, o Vaticano deveria ter encorajado a união dos Estados católicos. Houve um momento, após a guerra, em que havia vários chefes de Estado católicos na Europa: Salazar em Portugal, Franco na Espanha, De Valera na Irlanda, Alphonsini na Itália, Cotti na França e Adenauer na Alemanha, o qual, apesar de não ser católico, tinha alguns princípios católicos.”

Falando de Salazar, Dom Lefebvre contou que o grande presidente português se queixara dos bispos de seu país:

“É necessário reformar as universidades, mas os bispos não me ajudam. Eles parecem não compreender a importância. Mas, sem isso, como conseguir uma geração francamente católica?”

Neste mesmo dia, ou pouco depois, Dom Lefebvre, comentando a ilusão de alguns que estão sempre a procura de compromissos, disse:

“O Sr. X é sempre ambíguo. Ele quer nos conduzir a compromissos. Se a missa não é herética, é ortodoxa, diz o Sr. X. Como? E todas as nuances e graus entre a heresia e a ortodoxia?”

E, falando dos bispos que procuram semear esse clima de ambigüidade, diz:

“Eles se esforçam por propagar a Missa de indulto,[2] mas com a finalidade de aproximar os fiéis da Missa nova e da doutrina de Vaticano II.”

No dia 14 de maio de 1985, no seu escritório, Dom Lefebvre me fala do Concílio:

“Eles vivem na mentira. Inconscientemente. Talvez. Mas, objetivamente, vivem na mentira. No Concílio, eles diziam: ’O Concílio é pastoral.’ O próprio Papa dizia: ‘O Concílio é pastoral e não dogmático.’ Agora eles querem impô-lo como um concílio dogmático.”

Na segunda-feira de Pentecostes, Dom Lefebvre me fala do retiro que ele devia nos pregar no Barroux. As relações com Dom Gérard estavam bem tensas nesta época por causa dos acordos que ele queria fazer com Roma.

“Eu estou num grande embaraço”, diz Dom Lefebvre. “Receio que as palavras não me saiam da boca.”

Confissão comovente que mostra que, se Dom Lefebvre era um combatente, não era insensível e lhe custava enfrentar certas situações. Mas, mesmo assim, foi ao Mosteiro e nos pregou o retiro anual de 1985.

Este retiro foi uma nova ocasião de conversar com Dom Lefebvre. A questão das sagrações se tornava cada vez mais atual.

“Devo sagrar um bispo? Isto me repugna”, dizia ele, “mas me cite um só bispo que tenha um seminário onde se dê uma formação católica, sem mistura de modernismo. Penso que, se eu não fizer nada, Nosso Senhor me repreenderá após a minha morte, dizendo: ‘O senhor tinha o caráter episcopal, o senhor devia ter assegurado a continuação do sacerdócio católico.’”

Em outra ocasião, Dom Lefebvre deu mais esta razão para as sagrações, razão que me parece decisiva e que guardei na memória:

“Se Roma fosse capaz de formar padres católicos, eu não teria nenhuma razão de sagrar sem a autorização de Roma. Mas Roma já não é capaz.”

Tornava-se então necessário sagrar novos bispos. No entanto, Dom Lefebvre iria esperar ainda dois anos, prova de sua grande prudência. Ele queria ter a certeza de que isto era verdadeiramente o seu dever. Talvez quisesse também preparar os padres e os fiéis para este ato tão necessário, mas também tão insólito.

Estando de passagem em Ecône, em janeiro de 1986, aproveito para ver Dom Lefebvre. Entre outras coisas, ele me disse:

“O Papa anunciou um congresso de todas as religiões em Assis. Um congresso de todas as religiões! Que Deus vão eles invocar? Eu não vejo senão o Grande Arquiteto! Tudo isso é uma idéia maçônica. Creio que haverá reações. Itália. Assis. Tudo isso é ainda por demais católico. Eles vão, talvez, pedir um lugar menos católico. Jerusalém, talvez. ”

Diante de tudo isso, pergunto a Dom Lefebvre qual era a essência da doutrina do Santo Padre. Dom Lefebvre responde:

“Que não há verdade. Que a verdade evolui. O que conta é a vida.

Mas isto é a essência do Modernismo.

Eles são modernistas diz Dom Lefebvre. Ratzinger e o Papa são modernistas. Essa é a razão por que não compreendem nada de nossas reclamações. Eles dizem: ‘Mas que mal há em tudo isto?’ É por essa razão que eles foram escolhidos. Por causa de seu espírito impreciso. Jamais dariam esses postos a alguém que tivesse o espírito escolástico, o espírito claro, límpido. Não. Eles já não querem isso.

É a maçonaria, prossegue Dom Lefebvre, que dirige o Vaticano. O Cardeal Cagnon me disse, ele mesmo. Não são necessariamente os que ocupam os postos principais que são maçons, mas eles são colocados de maneira a dirigir tudo.”

No final de 1986 Dom José Vannier e eu fomos envidados para ver um terreno que nos era oferecido para a fundação de um mosteiro no Brasil. Antes de deixar a Europa, fomos a Ecône para nos despedir de Dom Lefebvre. Ele nos falou então de Assis e de um desenho explicativo que ele queria difundir para alertar os fiéis sobre a gravidade desta reunião ecumênica. Ele nos mostrou dois desenhos. Um era de um seminarista e outro de uma irmã da Fraternidade. O do seminarista era mais bem feito, mas o da irmã era mais respeitoso. Dom Lefebvre preferia o da irmã. Ele não queria uma caricatura. Queria simplesmente explicar com imagens o pecado gravíssimo da reunião de Assis. Antes de partirmos, assegurei a Dom Lefebvre nossa adesão sem restrições à idéia do desenho.

Tendo partido para a América do Sul, nossa primeira visita foi ao seminário da Fraternidade São Pio X na Argentina. Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer aí se encontravam para as ordenações daquele ano, nas quais dois padres de Campos receberam o sacerdócio: o Rev. Pe. Hélio Rosa e o Rev. Pe. José Paulo Vieira, assim como o Rev. Pe. Álvaro Calderón e alguns outros padres da Fraternidade São Pio X.

Reencontrando Dom Lefebvre, ele nos falou novamente de Assis, e comentou as reações havidas a respeito dos famosos desenhos:

“Eu fiquei surpreso com a reação. Já a esperava, mas não tanto. Porém é uma lição de catecismo! Pode-se dizer o mesmo de todos os pecados. No céu não há ecumenistas, assim como no céu não há divorciados. No céu não há ninguém em estado de pecado mortal.

Peço a Deus que estes desenhos cheguem às mãos do Santo Padre e que ele acorde e se diga: ‘Aonde irei parar se continuo assim?’ É preciso que o Santo Padre salve a sua alma!

Ele convidou o chefe das falsas religiões a rezar nos seus erros. É um convite a permanecer no erro. É um reconhecimento desses erros.

Depois disso, eu disse que só faltava agora dançar com o demônio. Parece que o Papa já o fez, dançando ao som do rock, com estola, no meio de moças, na Austrália. Alguns se escandalizam mais com isso do que com a reunião de Assis. É uma falta de espírito de Fé. Assis é mais grave. É mais teológico.

A reunião que se realizou na véspera foi ainda pior. As palavras do príncipe Edimbourg foram blasfematórias.”

Este príncipe, marido da rainha da Inglaterra, disse que era necessário terminar com esse escândalo, que já dura dois mil anos, de um homem que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.” O que se poderia esperar de diferente quando se trata de convidar todos os heréticos, cismáticos e infiéis a se manifestar?

Ainda no seminário da Argentina, Dom Lefebvre nos disse, falando das sagrações:

“Do ponto de vista teológico Dom Antônio de Castro Mayer nem vê dificuldade, mas tanto ele como eu pensamos que é melhor esperar um pouco.”

A respeito do Papa, acrescentou:

“Quanto a dizer que o Papa não é Papa, eu não sei. Os teólogos não estão de acordo a esse respeito. Não quero entrar nesta questão. Isto não me parece ainda muito claro. Prefiro dizer apenas que ele é um pecador público. Um Concílio decidirá, depois da sua morte, se ele foi Papa ou não.”

Em seguida nos falou do Cardeal Villot:

“Villot mentiu para Paulo VI, dizendo-lhe que eu havia feito os seminaristas assinar um documento contra o Papa. Quando pude ver Paulo VI, Villot estava furioso. Ele impôs que Benelli estivesse presente à conversa. O Santo Padre me falou desse famoso documento que eu teria feito os seminaristas assinar. Eu disse claramente a Paulo VI que não existia nada daquilo. Depois, o cardeal Benelli, em L’Osservatore Romano, negou que nós tivéssemos falado deste assunto. São uns bandidos. Mesmo a honestidade, a mais elementar, eles já não a têm.

Villot havia organizado tudo. Ele dizia que dentro de seis meses a Fraternidade não existiria mais. Deu-se então a visita canônica a Ecône, o chamado a Roma, a entrevista com Garrone, Tabera e Wright e o que se seguiu. Pior que os soviéticos; nem mesmo a aparência de um julgamento. Eu disse isso a João Paulo II. Ele sorriu. Nada mais [...].”

Falando de Montini e Pio XII, Dom Lefebvre nos disse:

“No começo do Concílio eu fiquei sabendo da história de Montini. ‘Promoveatur ut removeatur’.[3] E, no dia da sagração de Montini, Pio XII fez um discurso ditirâmbico. Que costume desastroso! Até Pio XII.”[4]

Em seguida vieram os anos da fundação da Santa Cruz, durante os quais Dom Lefebvre nos ajudou com seus preciosos conselhos. Eu tinha a consciência bastante incomodada por causa das modificações litúrgicas introduzidas por Dom Gérard na missa. Não se tratava ainda da nova missa, mas também já não era o missal de João XXIII, de 1962. Eram algumas modificações introduzidas por Paulo VI e por Dom Gérard ele mesmo. Escrevi então para Dom Lefebvre, que, embora não aprovando Dom Gérard, me aconselhou sobretudo guardar boas relações com o nosso mosteiro da França, o Barroux. Por aí se vê que Dom Lefebvre era bastante conciliador. Se se opôs ao Santo Padre, era porque realmente não havia outra solução. Ele se opôs por dever e não por inclinação natural.

Mas estas boas relações com nosso mosteiro da França não iam durar muito tempo. Dom Gérard, depois das sagrações, fará um acordo que porá os nossos mosteiros debaixo da autoridade dos modernistas.

Dom Lefebvre me escreveu então uma carta datada de 18 de agosto de 1988, na qual dizia:

“Como lamento que o senhor tenha partido antes dos acontecimentos do Barroux.[5] Teria sido mais fácil considerar a situação resultante da decisão desastrosa de Dom Gérard.

O Padre Tam se ofereceu para visitá-lo ao voltar ao México e lhe entregar estas linhas.

Dom Gérard, na sua declaração, expõe o que lhe é concedido e aceita pôr-se debaixo da obediência de Roma modernista, que permanece fundamentalmente antitradicional, o que motivou o meu afastamento.

Ele queria ao mesmo tempo guardar a amizade e o apoio dos tradicionalistas, o que é inconcebível. Ele nos acusa de ‘resistencialismo’.

Eu bem o avisei. Mas sua decisão estava já tomada havia muito tempo, e ele não quis mais escutar conselhos.

As conseqüências agora são inevitáveis. Mas não teremos mais nenhuma relação com o Barroux e avisamos todos os nossos fiéis para que não ajudassem mais uma obra que daqui para frente está nas mãos de nossos inimigos, dos inimigos de Nosso Senhor e de seu reino universal.

As irmãs beneditinas estão angustiadas. Elas vieram me ver. Eu lhes aconselhei o que lhe aconselho igualmente: guardar a sua liberdade e recusar todo laço com esta Roma modernista.

Dom Gérard usa de todos os argumentos para paralisar a resistência [...].

O senhor devia se unir com Dom Lourenço e com o argentino,[6] e com seus noviços [...].

Os senhores três, com os noviços de Campos, os senhores poderão continuar e constituir um mosteiro independente de Roma. É necessário não hesitar em afirmá-lo publicamente. Deus o ajudará.

E o senhor poderia em seguida, depois de algum tempo, reconstituir um mosteiro na França. O senhor seria muito apoiado e teria vocações.

Dom Gérard suicidou a sua obra.

O Padre Tam lhe dirá de viva voz o que eu não escrevi. Peço a Nossa Senhora que o ajude na defesa da honra de seu divino Filho.

Que Deus o abençoe e abençoe o seu mosteiro.”

Eis como Dom Lefebvre via a situação. Nós seguimos os seus conselhos. Uma declaração pública foi feita, e nós nos separamos de Dom Gérard. Esta declaração foi feita com a ajuda do Rev. Padre Fernando Rifan, do Rev. Padre Tam e do Dr. Júlio Fleichman, pai de Dom Lourenço. Dom Lefebvre queria que esta declaração fosse conhecida dos monges do Barroux e que estes depusessem Dom Gérard “se ele não quiser romper com Roma”.[7]

“As sagrações trouxeram um reforço de vida à Tradição”, escrevia Dom Lefebvre nesta mesma ocasião. “Os fiéis estão contentes. Eis por que a defecção de Dom Gérard é duramente criticada e ninguém o segue; exceto alguns falsos tradicionalistas.”

Após as sagrações e os acontecimentos que se seguiram de perto, Dom Lefebvre teve de suportar uma dura provação com o caso do Padre Morello, na Argentina. Isto não o impediu de continuar a nos aconselhar com sua paternal solicitude. Não somente nós fomos ajudados por ele, mas também Campos e mais especialmente o Rev. Padre Rifan.

No entanto, era sobretudo Dom Antônio de Castro Mayer, seu amigo e irmão no episcopado, que ocupava o coração de Dom Lefebvre.

“Ecos me chegam do Brasil”, escrevia ele a Dom Antônio, “a respeito de vossa saúde, que declina. O apelo de Deus estará próximo? Esta eventualidade me enche de profunda dor. Em que solidão vou me encontrar sem meu irmão mais velho no episcopado, sem o combatente exemplar pela honra de Jesus Cristo, sem o amigo fiel e único no terrível deserto da Igreja Conciliar!”[8]

Dom Lefebvre e Dom Antônio iam nos deixar quase ao mesmo tempo, em 1991, deixando-nos o exemplo da sua Fé e de seu espírito de combate recebidos em Roma durante os anos de seminário junto ao túmulo do príncipe dos Apóstolos.

Que suas heróicas virtudes e seus méritos nos obtenham a graça da fidelidade.


--------------------------------------------------------------------------------

[1] Dom Tissier de Mallerais, Marcel Lefebvre, une vie, Ed. Clovis, 2002, p. 644.

[2] Indulto de 1984 para celebrar a Missa de São Pio V, concedido pelo Papa João Paulo II, mas com uma restrição: não rejeitar a Missa de Paulo VI. Conclusão: indulto só para os que não tinham motivos para fazer uso exclusivo da Missa de São Pio V. Como dizia, com humor, um escritor francês: “Este indulto é reservado exclusivamente àqueles que não têm nenhuma razão para pedi-lo.” Na verdade, como nota Dom Lefebvre, este indulto tinha como objetivo habituar os padres e os fiéis às duas missas e, desta forma, fazê-los aceitar a Missa nova, como foi o caso de Dom Fernando Rifan e o de tantos outros.

[3] “Promovido para ser removido”.

[4] Secretário de Estado de Pio XII, Montini havia traído Pio XII. Pio XII o destituiu, mas deu-lhe cargo de arcebispo de Milão e fez um sermão elogioso ao seu mau servidor.

[5] Eu tinha voltado ao Brasil antes da conclusão ou, ao menos, da publicação dos acordos de Dom Gérard com Roma.

[6] Dom João da Cruz.

[7] Carta de 2 de setembro de 1988.

[8] Carta de 4 de dezembro de 1990. Apesar de sua análise penetrante desse “terrível deserto da Igreja Conciliar” e das indagações que ele se fazia a respeito do Santo Padre, Dom Lefebvre nunca foi sedevacantista, muito pelo contrário. Sua posição se baseava na atitude de São Pio X em relação aos modernistas e da atitude de Pio IX em relação aos liberais.


REVISTA CORREDENTORA 4-03-2010

http://www.co-redentora.com.br/?p=28

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Em atenção aos pedidos de Nossa Senhora em Fátima

Ofereceremos a Jesus nossa reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, Sua Mãe Santíssima. 






O TUMOR, O BISTURI E O ESPARADRAPO II

Pelo Revmo. Padre Chazal

Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias -Vitória/ESObservação à tradução, comunique-nos: capela@nossasenhoradasalegrias.com.brOriginal em: http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br/2013/10/el-tumor-el-bisturi-y-el-esparadrapo-ii.html




1.-A conversão de Mons. Fellay

Martinho Lutero e João Calvino haveriam de se horrorizar das heresias de Francisco desde o primeiro momento, enquanto que nós tivemos que esperar até o dia 12 de outubro de 2013. Finalmente, é oficial, depois de sete meses de silêncio ensurdecedor, Mons. Fellay afirma que o Papa Francisco é um mal Papa: conferência “rebranding” em Kansas City, sermão comentando as ações conhecidas deste terrível sucessor de Pedro, posta ao dia gradual (ainda que decepcionante) dos sites oficiais, tudo mostra uma mudança em relação as mudanças impostas anteriormente sobre a maneira de ver como Roma mudou.

Desde o ano 2000 até agora, Roma “havia mudado” no bom sentido, ainda que sem haver mudado totalmente; enquanto que agora, Roma volta a mudar no mal sentido (ainda que conservando certas “mudanças” positivas, mas raras.

Desde o ponto de vista de Menzigen, é Roma quem “mudou”, não nós, ainda que nós mudamos de ponto de vista, de maneira que se Roma “muda” outra vez em favor da Tradição, como sob Bento XVI, nós mudaremos amanhã, assim como mudamos agora neste 12 de Outubro e como mudamos anteriormente.

Todo o problema está ali, porque a Revolução propõe sem cessar, de maneira alternativa, destruidores e conservadores. Logo da chuva franciscana do papa atual, estamos dispostos a não deixar-nos surpreender por um suposto “bom tempo” novo, igual que com Bento XVI? A Fraternidade não mudará então? Outra mudança de discurso: Monsenhor Fellay agradece ao Céu que nos preservou de firmar um acordo canônico em 2012. Portanto, todos aqueles que se levantaram publicamente contra a um acordo e que perseveraram no rachaço categórico deste, rechaçando os princípios acordistas do Capítulo de 2012, em virtude dos princípios enunciados por Monsenhor Lefebvre, princípios reconhecidos solenemente no Capítulo de 2006, a todos esses loucos anti-acordistas... lhes hão “dado as graças”.

A versão oficial é que não foram eles os que impediram a assinatura, senão que foi Roma quem, em 13 de Junho de 2012, fez tais mudanças ao texto da Declaração de 15 de Abril, que nas circunstâncias presentes “desgraçadamente” (sic) tal texto não passaria na Fraternidade (cf. carta de 17 de junho 2012, Cor Unum 104)

Agora, sem preocupações, outra vez podemos nos opor publicamente aos acordos sem ser incomodados. Grande mudança em respeito a 2012. Se os pobres padres da resistência houvessem esperado um ano, ainda estariam no calorzinho. A eleição do ultra-revolucionário Francisco houvera acalmado suas últimas inquietudes quanto a um acordo, mas eis que seguem inquietos, principalmente na “web”.

Porque os padres da Resistência continuam seu combate?

2.- O tumor mudou?

Desgraçadamente não, somente para pior, como o papado atual.

A declaração doutrinal ainda está ali, neste discurso recente, ainda intacta.

Há que compreender uma coisa importante; insisto e me atrevo quase a dizer que sou infalível neste tema: O Papa é infalível mas pode equivocar-se, enquanto que Mons. Fellay é infalível inclusive quando se equivoca. (Alguns dizem sobretudo quando se equivoca).

É assim que Monsenhor acaba de reiterar, pela enésima vez neste 12 de Outubro, sua posição sobre a Declaração de 15 de Abril. Esta é um texto sutil, incompreendido e aceitável tomado em seu conjunto. Ele pensa que quando pior, tudo o que poderia censurar-lhe, é o deixar ambiguidades que poderiam ser resolvidas se tivéssemos o trabalho de analisar o contexto.

Estas ambiguidades do texto são bastante significativas:

1.- O Vaticano II ilumina a vida da Igreja,
2.- A nova Missa foi promulgado legitimamente,
3.- Os sacramentos novus ordo são todos válidos per se,
4.- Há que seguir principalmente o novo Código,
5.- A profissão de Fé de 1989 (do Card. Ratzinger) é válida.

Pergunta: São estas simples ambiguidades?

Se a declaração doutrinal não contasse mais que estes erros não ambíguos, seria puramente errônea. O erro seria facilmente detectável por todos, e o texto não seria tão perigoso.

O problema é a ambiguidade modernista que consiste em dizer que seguiremos a Tradição completa, imutável, contínua, interrompida, infalível, insistindo que somente pensamos nisto... enquanto que pisoteamos esta mesma Tradição alguns parágrafos mais adiante.
  
Monsenhor Fellay repete a quem quer escutar que ele colocou o princípio da Tradição imutável na cabeça do documento, ele se nega a compreender que isso é precisamente o que nos horroriza: a idéia de que ele vai se servir da Tradição para afirmar tais erros. “Sim, o senhor colocou a Tradição na cabeça do documento; mas, como é possível que a Tradição o fez aceitar tais erros, em lugar de condená-los imediatamente?

É modernista o pensamento que a idéia de Tradição possa ser tão forte até o ponto de dar-lhe uma natureza tradicional a essas afirmações verdadeiramente errôneas ou contrárias a esta mesma Tradição. Monsenhor Fellay se nega a ver a irredutível oposição entre o princípio (duvidoso) da Declaração de 15 de abril e os cinco erros que o seguem. Esta negativa é muito maior (por perigosa) que os cinco erros mesmos.

Estamos tratando com uma enfermidade do espírito, uma decadência dos conceitos, o que se chama comumente de modernismo... E há várias moradas na casa do modernismo, uma em Roma e outra em Menzigen. (Pequeno problema técnico em Menzigen: todos prestam o juramento anti modernista, enquanto que em Roma já não praticam este duplo jogo).

Esta enfermidade é tão profunda, que toca o princípio da não contradição e geralmente é incurável, em Menzigen ou em outro lugar.

E é esta mesma enfermidade que Mons. Fellay censura a Francisco, de uma alocução escandalosa a outra quase tradicional. Lhe censura sem perceber que a Declaração Doutrinal sofre do mesmo...

Pobres de nós que não podemos compreender, diz Monsenhor Fellay, que se colocamos a Tradição como princípio absoluto, em seguida podemos utilizar expressões sutis, aparentemente ambíguas (os cinco pontos), para fazer passar não o erro, senão a mesma Tradição. Nós jamais compreenderemos que a melhor maneira de combater o Vaticano II e suas reformas, é reconhecê-lo em certa medida... « nós nos atrevemos a dizer que há algo católico no Concílio Vaticano II » (minuto 17 do sermão de 13 de outubro de 2013). Digamos que é um modernismo justo posicionista.

3.- O progresso do erro

Nestas condições já não podemos nos entender; chegou o tempo da destruição destas cinco novidades fora da influência de Menzigen. Certamente, estamos um pouco atormentados exteriormente, pois nem sempre é fácil materialmente e nossos pequenos grupos estão muito dispersos, mas a paz reina em nossos corações, e o caminho é claro.

Entretanto, os erros de Menzingen descem aos degraus da hierarquia. A conferência do Padre Themann, professor em Winona foi amplamente difundida, é o mesmo modernismo: aqueles que pensam que “legitimamente promulgada” quer dizer “legitimamente promulgada” não compreenderam nada, disse o jovem sacerdote. Em virtude do contexto, “legitimamente promulgada” quer dizer “autoridade legítima promulgante”.

Nem todos os padres da Fraternidade estão a favor da Declaração de 15 de abril, mas uma nova maneira de ver o Vaticano II saiu à luz: é interpretável, não de maneira ratzingeriana (hermenêutica da continuidade), senão da maneira “tradicional”, se se modifica o que deve ser modificado nestas grandes ambiguidades, a um sentido tradicional (entrevista a Nouvelles de France). Nosso espírito não é suficientemente sutil para ver a diferença entre estas duas interpretações (de fato, não há).

Outra coisa profundamente inquietante é o uso do novo código de direito canônico. Nas cartas de expulsão que são distribuídas, o novo código figura inclusive antes que o antigo. Assegurei-me disso com Padre Ortiz, que acaba de ser expulso, nada mudou desde 2012.

Todas as irregularidades que sobrevieram durante a caça às bruxas e as expulsões, como a do Padre Rafael OSB (da qual é culpável Mons. Galarreta), demonstram também um desprezo do direito como tal.

As pústulas liberais emergem aqui e ali, inclusive nos confrades que acreditávamos antiliberais e nos fiéis constatamos uma mundanidade e uma mentalidade contraceptiva crescente, alentada por estes sacerdotes que recomendam o método natural, os matrimônios mistos com os Ecclesia Dei, o tradi-ecumenismo...

Em alguns lugares, a juventude abandona totalmente a prática religiosa.
  
Todavia não sabemos onde estamos a respeito ao branding. Que passou com os 70 milhões de euros Rothschildianos? A Fraternidade é uma corporação registrada sob o título “Dello Sarto AG”? Os bens dos distritos respectivos estão centralizados?

Os bens imobiliários da Fraternidade são utilizados como garantia para o empréstimo de dinheiro? Segue Krah sentado nos negócios íntimos da Fraternidade? Os judeus seguem sendo “nossos irmãos maiores”, como disse Monsenhor Fellay? Todas as respostas são opacas.

E que não venham dizer-nos que exageramos. Não é a primeira vez que vemos um boletim da Fraternidade intitulado estupidamente “O esquilo voador”, publicar uma homilia inteira de Francisco na qual ele elogia ao Padre Arrupe, SJ, que chegou ao ponto de impedir que Paulo VI dormisse. Não é a primeira vez que, quando Francisco lança uma chamada para uma vigília de oração com as falsas religiões, que um superior de distrito:

-responda a este chamado,
-publique este chamado as falsas religiões,
-e que em lugar de fazer rezar em reparação, pede aos fiéis que rezem pela paz com o papa no momento em que este papa faz descender a guerra neste mundo ao pisotear o primeiro mandamento.

Finalmente, as numerosas e desafortunadas citações do conselho geral devem ser retratas uma por uma: cf. Entrevista a CNS, a teoria de 95% de “bondade” no Vaticano II, a afirmação que o Vaticano II não é uma super-heresia... igual com as seis condições do Capítulo... Humanamente, uma volta atrás é impossível, tanto mais que a concepção menzigeriana da autoridade é que a autoridade não pode ficar mal (o que inclui a Roma atual, a conferência de Monsenhor Fellay em Lille, em 7 de maio), e que ademais o superior geral é o único intérprete infalível do que diz, inclusive se o sentido óbvio das palavras deixa muito que desejar; e ainda que suas palavras fossem desgraçadas, o contexto chegaria a seu resgate para dar-lhe um sentido não somente ortodoxo, senão altamente diplomático. Não estamos fora de perigo.

 4- Caritas non cogitat malum

A verdade é a verdade, inclusive do lado de uma montanha de hipocrisias que não quero enumerar.

Monsenhor Fellay trata Francisco de modernista e se regozija que não houve acordo. Ele espera inclusive um grande castigo geral como Monsenhor Williamson.

Melhor para a Fraternidade, esperemos que esse castigo a ajude a reagir!

Se Monsenhor Fellay houvesse podido colocar seus desejos reconciliacionistas em execução (recordam o sermão de Pentecostes 2012, “é Roma quem quer reconhecer-nos?”), mais sacerdotes tinham se unido a nós, mas seria o fim da Fraternidade. Eu não desejei tal catástrofe, nem sequer para engrossar as fileiras magras da resistência; porém, o liberalismo rampante no interior da Fraternidade é um perigo muito mais grave e mais difícil de erradicar que somente a assinatura de um reconhecimento canônico com a nova Roma fornicadora.

O veneno mortal do liberalismo segue na obra, ganhou muitos postos importantes, e os bons, como o Padre Scott se deixam enviar como os babuínos de Zimbábue, se deixam fazer a um lado. A linha doutrinal já não é a mesma que antes, e os racionamentos modernistas do Superior Geral na Declaração Doutrinal mostram algo nada bom.

Para nós o melhor que se possa fazer é permanecer fora e jamais reconciliar-nos com Menzingen, mesmo que o nulla partem com os hereges não triunfou oficialmente na cabeça e os membros deste corpo profundamente enfermo e enquanto Menzigen se neguem a compreender que uma verdade justaposta a um erro é mais que um erro, é a perversão total do espírito, como dizia Monsenhor Lefebvre a respeito do Vaticano II.

O último do modernismo é o uso da verdade para fazer passar o erro. Pobre de mim, que cria que todo o mundo havia aprendido isto em Êcone.

5- Por fim

"Se se prega a Cristo, seja por inveja ou com verdadeiro zelo, me alegro e me regozijo", diz o Grande São Paulo. Se demolimos ao infame Francisco, não posso mais que alegrar-me. Estamos aqui, diz também São Paulo, "para demolir todas as construções do demônio" e quem pode negá-lo, de todas as maquinações históricas de Lúcifer, a Roma modernista é quem merece todas as condenações e todas as detestações possíveis, até que a medida de suas iniquidades seja cheia e a cólera divina caia sobre ela.

Essa nova Roma é um insulto a Deus, quanto mais sejamos os que a atacamos, melhor. Bem-vindo, Monsenhor, a periferia da ante-sala da zona contígua ao redil. O barco afunda mais lentamente, pelo que parece. Bombardeie enquanto pode, mas bombardeie água, não ar; todos nossos votos e nossas orações o acompanhem.

In Iesu et Maria

François Chazal+

Resistência Católica - Locais de Santa Missa

Mosteiro da Santa Cruz - Monges Beneditinos - Nova Friburgo/RJ.
www.beneditinos.org.br

Mosteiro Nossa Senhora da Fé e do Rosário - FBMV

Convento das Irmãs Escravas de Maria Rainha da Paz - Campo Grande/MS

Grupo São Domingos de Gusmão - Maringá/PR

Grupo Dom Bosco - Foz do Iguaçu/PR

Fiéis Católicos de Londrina/PR

Missão Cristo Rei - Ipatinga/MG

Missão Sagrada Família - Betim/MG 

Missão São José - João Monlevade
Contato: runaejcv@gmail.com

Fiéis Católicos de Recife/Pernambuco
Para contato: cbrmonica@gmail.com

Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES