segunda-feira, 1 de março de 1999

S.Pedro era celibatário


CAPÍTULO X
S.PEDRO ERA CELIBATÁRIO

A terceira objeção é contra o celibato de S.Pedro, para demonstrar que os padres devem se casar. O pastor pede, pois: Um texto da Sagrada Escritura que prove que S.Pedro não tinha esposa.

I-                    Argumento negativo

Provemos, em primeiro lugar, ser provável que S.Pedro não tinha mulher, quando foi chamado por Jesus Cristo, mas era viúvo. É o argumento negativo.
       O meu amigo crente quer um texto que prove que S.Pedro não tinha mulher: por que não pede um texto que prove que S.Pedro usava calça, turbante, alpercatas, manto, que comia, bebia e dormia?
Na falta deste texto, será preciso concluir, então que S.Pedro andava despido e que não comia, nem dormia?
                Que ingenuidade! Para que serve tal texto?...
Então é proibido casar-se?
                E se eu lhe pedisse um texto que provasse que S.Pedro tinha mulher, onde iria buscá-lo?
                Conhecendo só as palavras da Bíblia, sem compreender a significação, há de apresentar o texto de S.Lucas (Lc  4,38): E a sogra de Simão estava enferma.
                Isso prova que S. Pedro tinha sogra. É já uma coisa: porém há tanta gente que tem sogra e não tem mais mulher; pois uma pode morrer e a outra ficar.
Isso prova apenas que S.Pedro tinha sido casado,  antes de ser chamado por Nosso Senhor, e que talvez era viúvo.
                Meu pobre crente nem pensara até aí, e no triste afã de fabricar objeções viu sogras e mulheres em toda parte.
                Então, S.Pedro, por ter sogra, tinha sido casado, era viúvo... Mas diga lá: o viúvo é ou não é gente? Há na Igreja bastante padres que já foram casados e que, depois de enviuvar, entraram na milícia eclesiásticas. Há até muitos santos nestas condições.
                Haverá qualquer mal nisso? A Igreja católica exige o celibato dos seus sacerdotes, para seguirem o exemplo de Jesus Cristo e dos apóstolos, que eram celibatários.
                Jesus Cristo não o exigiu dos seus discípulos; aconselhou-o; porém parece-me que um conselho do Salvador não é coisa desprezível e deve, ao contrário, ser de real utilidade.

II. Argumento positivo

O argumento positivo é claro, embora não resolva completamente a questão. S.Pedro tinha sogra; é certo. S.Pedro teve mulher; é certo ainda.
                Na ocasião de ser chamado por Nosso Senhor ao apostolado, S. Pedro não tinha mais mulher, e se a tinha ainda, deixou-a de comum acordo, conforme o conselho do Mestre: Todo aquele que tiver deixado, por amor de mim, casa, irmãos, pais, ou mãe, ou mulher, ou filhos.. receberá a vida eterna (Mt 19,20)
                Eis um conselho do divino Mestre, dirigido aos apóstolos, e, na pessoa deles, aos séculos vindouros. Nosso Senhor convida os apóstolos a deixarem tudo, por seu amor... até a própria mulher.
                Os apóstolos compreenderam o convite de Cristo, e o compreenderam tão bem que ficaram admirados, e disseram: logo quem pode salvar-se? (Lc 18, 26)
                S.Pedro, sem hesitação, sem embaraço, como quem fala com completa certeza, dirige-se ao divino Mestre, e exclama: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos (Lc 18, 28)
                E o Senhor aprova e apóia esta exclamação de Pedro, respondendo: Na verdade vos digo, que não há quem deixe, pelo reino de Deus, casa, pais, irmãos ou mulher não receberá...a vida eterna (Lc 18, 29-30)
                Que verdade podia ser articulada, confirmada mais positivamente do que aquela? O Salvador promete o céu a quem deixar tudo, inclusive a  mulher, por seu amor! S.Pedro exclama ter deixado tudo. O Mestre o confirma, e promete-lhe o céu em recompensa.
                É pois claro e irrefutável que S.Pedro, embora tivesse sogra, não tinha, ou tinha deixado a mulher; era pois celibatário  como os outros apóstolos. Se assim não fosse, São Pedro não podia ter deixado tudo, visto não ter deixado a mulher, embora fosse incluída a mulher na enumeração, feita pelo Mestre, daquilo que se pode deixar por seu amor.
Reflitam sobre isto, caros protestantes, e vejam como este esdrúxulo desafio se desfia por completo, e encontra no Evangelho uma resposta clara e irrefutável. O argumento positivo não deixará subsistir a mínima dúvida: S.Pedro era viúvo, ou separado da Mulher, e como tal seguiu o divino Mestre, deixando tudo, pelo reino de Deus (Mt 19, 20).

Quem foi Padre Júlio Maria de Lombaerde - O Terror dos hereges

Quem foi Padre Júlio Maria de Lombaerde?

Padre Júlio Maria nasceu em Waereghen (Bélgica), aos 8 de janeiro de 1878. Filhos dos senhores José de Lombaerde e Sidônia Steelant. Recebeu o nome de Júlio Emílio no dia de seu santo Batismo.

Atraído pela vida missionária, quando assistia à Santa Missa de um santo missionário, ainda antes de concluir seus estudos, se fez “irmão branco” com o nome de Irmão Optato Maria, tendo ido trabalhar depois na África.

Em conseqüência de febres voltou à Europa e, sentindo-se chamado ao sacerdócio, entrou na Congregação da Sagrada Família, fundada pelo Padre Berthir, em Grave (Holanda) para recolher vocações tardias. Foi ordenado a 13 de janeiro de 1908. Em 1912, quando fazia um bem imenso pregando missões pela França, foi de repente enviado para o Brasil (Amazônia), onde trabalhou 15 anos como missionário entre os índios e caboclos.

Pe. Júlio Maria, pregando Missões no Nordeste
No Norte (Macapá) fundou providencialmente a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, tendo sido aprovada pelo Papa Bento XV. Tem-se desenvolvido muito essa Congregação.

Do Norte, o Padre Júlio Maria, demorando-se algum tempo em Natal, veio para Manhumirim (Minas Gerais), em 1928. A obra que aqui desenvolveu, com a proteção de Deus e apesar das perseguições constantes movidas pela Maçonaria local, é uma prova palpável da divindade da sua missão.

A pedido dos Sres. Vigários, e estimulado pelo santo Dom Carloto, primeiro Bispo de Caratinga, Padre Júlio Maria, com muito fruto espiritual, percorreu grande parte da Diocese, pregando Missões.

“Do nada”, mas sempre abençoado por Deus e Nossa Senhora, fundou aqui a primeira Congregação de padres missionários genuinamente brasileira: a Congregação dos Missionários de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, bem como a das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora.

Padre Júlio Maria, polemista sem par, teólogo exímio, pregador admirável, escritor de renome, teve sempre sua pena e sua rara inteligência a serviço da Igreja e pelo seu [jornal] “O Lutador” se fez o “terror dos hereges”.

Mestre, pai e amigo, igual a ele nunca existirá. Mestre do povo, pai dos pobres, amigo das crianças, era chamado por estas como sendo o seu querido ‘vovozinho’.

Em trágico acidente de automóvel, verificado a 24 de dezembro de 1944 [estando viajando às pressas, por urgência de celebrar a Santa Missa de Natal], sozinho, longe de seus filhos, Padre Júlio Maria morreu, lutando ainda como passara toda a sua vida. O Brasil inteiro chorou a perda desse grande sacerdote, brasileiro de Coração.

Suas obras: O Seminário Apostólico, o Colégio Pio XII, o hospital-asilo São Vicente de Paulo, o Patronato Santa Maria [para acolhimento dos órfãos], Escola Normal Santa Terezinha, a editora e o jornal “O Lutador". 

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Conclusão Geral

CONCLUSÃO GERAL

Ao iniciar este trabalho de respostas, eu disse, na Introdução, que “atacar a crença dos outros não é provar a autenticidade de sua própria crença”.
Nas páginas precedentes tenho atacado o protestantismo e refutado as objeções que ele formula, provando assim a doutrina legítima, autêntica e divina, da Igreja Católica, Apostólica, Romana.
O protestante que ler estas respostas deve ficar convencido, tanto pelo raciocínio do seu bom-senso, como pelas mil provas da Sagrada Escritura, que o protestantismo é um erro, uma heresia, o antípoda da religião verdadeira, enquanto a Igreja Católica segue integralmente os ensinos, os preceitos, os conselhos e as intuições de Jesus Cristo.
Não receio repetir que as respostas dadas são absolutamente irrefutáveis. Não há uma única resposta que não esteja baseada e firmada no texto sagrado do Evangelho, como o leitor pode ver.
Nenhum sofisma, nenhuma interpretação ambígua ou incerta entra nestas páginas. É a Sagrada Escritura, clara nas suas expressões e clara na sua interpretação.
É um trabalho de exegese séria, que não admite réplica, porque a palavra de Deus, no seu sentido óbvio, é indiscutível. Possa este livrinho ser um raio de luz para nossos pobres irmãos separados, – os protestantes, – como para os próprios católicos.
Os primeiros precisam de luz para ver; os segundos precisam dela para ver melhor.
Os primeiros precisam ver o erro que professam e a verdade que ignoram; os segundos devem ver o erro, para evitá-lo, e a verdade, para continuarem a seguirem, com convicção e desassombro.
Peço ao divino Mestre, pela intercessão da Virgem Imaculada, ser para todos os que ele disse de si mesmo a Tomé: via, veritas et vita (Jo 14, 6). O caminho, a verdade e a vida.
O caminho é a moral ensinada por Jesus Cristo.
A verdade é o dogma revelado por ele.
A vida é a união com ele pela graça divina.
É o tríplice laço que prende o homem a Deus:
A moral dirige as faculdades e as ações.
O dogma nutre-lhe o espírito e o coração.
A graça transforma-lhe a alma.
A moral é o indicador do caminho.
O dogma é o indicador da verdade.
A graça é o indicador da vida.
Pela moral o homem faz o bem.
Pelo dogma, o homem segue a verdade.
Pela graça, o homem se transforma.

Pelo bem, feito na verdade, o homem se transforma em santo. Sejamos, pois, santos, como Deus é santo. – Sancti estote, quia ego sanctus sum (Lv 11, 14).

Mudança de Religião

CAPÍTULO XXII
MUDANÇA DE RELIGIÃO

A 20ª e última objeção protestante do boletim citado seria de uma ingenuidade infantil se não fosse de um ridículo capcioso.

O amigo protestante pede: um texto das Escrituras que prove que um homem deve ser perseguido e amaldiçoado por haver abandonado sua religião em que nasceu e aceitado a religião de Jesus Cristo.
Aqui haveria muita coisa a distinguir; assinalarei apenas os seguintes pontos:

1º Um homem perverso deve ser perseguido e pode ser amaldiçoado: maledicti qui declinant a mandatis tuis (Sl 118, 21).

2º Pode-se abandonar a religião em que se nasce, tendo a certeza de ser errada e a certeza de a outra que se quer abraçar ser a verdadeira. – Revertimini a viis vestris pessimis (4 Rs 17, 13).

3º A religião de Jesus Cristo é uma só: Dominus Deus tuus, Deus unus est (Mc 12, 24). Vamos por partes.

I.                   O homem perseguido

É uma mania protestante o gritar de ser perseguido, quando não pode espalhar os seus erros ou encontrar qualquer oposição. É mania conhecida; a Bíblia diz muito bem: querem pegar a sombra e perseguem o vento (Ecli 34, 2).
Os protestantes andam atacando, caluniando e blasfemando contra o catolicismo, a Santíssima Virgem, o papa, os padres, os sacramentos e os sinos da Igreja.
Os católicos cruzando os braços, sorrindo e aceitando bíblias falsificadas, tudo corre bem, mas quando um deles repele os insultos, refuta os erros, diz-lhes meia dúzia de verdades, encolhem-se e gritam que são caluniados, perseguidos e maltratados.
É o ladrão, que, penetrando em casa alheia, é pego em flagrante no roubo, gritando que o dono da casa, que lhe administra umas pauladas nas costas, é um perseguidor, um algoz. Não, senhor, ele é um defensor em legítima defesa de seus bens.
Os católicos estão no mesmo caso. A religião é de paz e de concórdia; mas também é de dignidade, de brio e de firmeza.
Reagir contra o ladrão não é perseguir; é defender-se.
Repelir o caluniador não é perseguir; é restabelecer a verdade perturbada.
Refutar o erro não é perseguir: é manter a verdade, é fazê-la triunfar.

Defender a sua religião contra os ímpios e hereges é um ato de dignidade, de brio e de convicção, como é de brio o fato de defender a sua pátria contra o inimigo invasor.
Os que não ouvirem a Igreja, diz o Salvador, devem ser considerados como gentios ou publicanos (Mt 18, 17). Haverá menos rigor para Sodoma, do que para aqueles que não aproveitam a minha palavra, diz ainda o Mestre (Lc 10, 13).
Podemos, pois, tratar os protestantes como tratamos os gentios, não com ódios, mas com compaixão, e dizer que terríveis castigos esperam a sua revolta contra a Igreja.
Isso não é perseguir: é dizer a verdade. É permitido e é dever mesmo para os católicos opor-se à invasão do protestantismo, repeli-lo como se repele o ladrão, o assassino, o lobo, que se introduz numa casa ou num rebanho.

II.                Mudança de religião

Aqui, meu caro protestante, temos um ponto complexo que deve ser bem compreendido. Mudar de religião é um negócio sério! Três casos se apresentam:

a) O homem sabe que está no erro: neste caso deve mudar.
b) O homem duvida da sua religião. Neste caso deve consultar.
c) O homem tem a certeza de estar com a verdade: neste caso deve ficar firme e inabalável. Só o segundo caso é aplicável ao ponto em discussão.

O homem duvida da sua religião. Tal dúvida pode ser uma tentação do demônio, como pode ser uma inspiração divina; pode ser também uma falta de instrução.
Mas vejamos de perto. Por que duvida ele? Duvida ele porque encontra em sua religião certos pontos incompreensíveis, misteriosos? Não há razão, porque a religião, sendo divina, nunca pode ser completamente compreendida pela inteligência humana.
Duvida ele porque há abusos e fraquezas na religião? Não há razão ainda, porque, se a religião é divina, os homens que a praticam não são divinos, e apesar de sua boa vontade, podem conservar ainda abusos e cometer faltas.
Duvida ele porque a sua religião não possui os caracteres da religião verdadeira? Aqui o caso é diferente. A dúvida tem sua razão de ser. É preciso orar, estudar, indagar e refletir. A solução é bastante simples para um homem culto. Basta ele procurar conhecer os sinais distintivos da religião verdadeira.

III.             Os sinais da religião verdadeira

É fora de discussão a existência da religião, e que esta religião é uma só: unus Dominus, uma fides, unum baptismaI (Ef 4,3). Um senhor, uma fé, um batismo, diz o Apóstolo.
Jesus Cristo fundou uma só Igreja: é certo, conforme a sua própria palavra: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mt 16, 18). Ele chama-a minha Igreja, para indicar que só ela está fundada sobre ele e é dele.
Esta igreja, para ser conhecida entre as diversas igrejas, tem quatro caracteres próprios, que a distinguem de todas as outras.
Esta igreja deve ser uma, santa, católica e apostólica.
Isto quer dizer que a Igreja verdadeira deve ser uma nos pontos essenciais, na fé, no culto e na constituição hierárquica. Deve ser una em sua doutrina, em seu culto e em muitos de seus membros. Deve ser católica ou universal, porquanto deve existir em todas as épocas e estar difundida pelo mundo inteiro. Deve ser apostólica, porque deve ter a sua origem dos apóstolos.
Eis a pedra de toque para descobrir a Igreja verdadeira e distingui-la das seitas humanas. Queira fazer isto, caro crente, ou querendo, façamo-lo juntos.

IV. Uma comparação
O protestantismo não é um: é dividido em centenas de seitas, que professam doutrinas diferentes, nem se sujeita a um governo central ou supremo.
O catolicismo é um: na fé, que nunca mudou; no culto, tendo sempre o mesmo sacrifício e os mesmos sacramentos; no governo, que é e foi sempre o sumo pontífice ou papa de Roma.
O protestantismo não é santo: em sua doutrina, que é de rancor, de ódio e de calúnia; em seu culto, rejeitando muitas coisas instituídas por Jesus Cristo; em seus membros, desde a sua separação até a presente data.
O catolicismo é santo: em sua doutrina, que nada encerra de absurdo ou de indigno de Deus; no culto, possuindo todos os meios de santificação instituídos por Jesus Cristo (sacramentos, missa, festas, etc.); em seus filhos, contando milhares e milhares de virgens, de mártires e de homens santos, mostrando a sua santidade pelos milagres que operam depois da morte.
O protestantismo não é universal, porque não tem existido sempre (nasceu em 1518, fundado por Lutero, padre apóstata) e porque não está espalhado pelo mundo inteiro. São Igrejas locais ou nacionais e não universais.
O catolicismo, ao contrário, é verdadeiramente universal: a) porque existiu sempre; b) porque está difundido por todo o mundo. Ele sozinho tem mais filhos e membros que todas as seitas protestantes englobadamente.
O protestantismo não é apostólico, porque nascera quinze séculos depois da morte dos apóstolos e, por outro lado, não tem conseguido provar, com milagres, a existência de uma missão extraordinária para pregar.
Quanto ao catolicismo, é genuinamente apostólico: a) porque tira a sua origem dos apóstolos, aos quais remonta a história. b) Porque seus bispos são legítimos sucessores dos apóstolos; e em particular o Bispo de Roma, o Papa, é o sucessor de S. Pedro, – primeiro Bispo de Roma.

V. Aplicação
Os caracteres aqui citados podem e devem ser conhecidos por todos.
Deus não pode permitir a dúvida em matéria tão grave como é a religião; e tal dúvida não pode existir numa alma sincera, num coração reto.
A religião é divina e por isso não pode ser completamente compreendida por uma inteligência humana; mas nunca pode estar em contradição com esta inteligência humana, pela razão de ser Deus o autor de ambas. A contradição recairia sobre o próprio Deus.
O homem pode e deve perscrutar a religião, estudá-lo, conhecê-la o melhor possível. Por meio dos quatro caracteres, qualquer um pode provar a verdade ou o erro da sua religião: está ao alcance de todos. O católico deve fazê-lo, não pela dúvida, mas para dar firmeza à sua fé. O protestante deve fazê-lo, para verificar e compreender o que está errado.
Depois deste exame, o homem pode conscienciosamente abandonar a sua religião, desde que esta não satisfaça aos requisitos. Sem este exame, sem esta verificação o homem não pode abandonar a religião em que nasceu, ou que professa.
O amigo protestante deve ver, pois, que está errado. Sendo protestante, pode aceitar a religião de Jesus Cristo: a religião católica. O católico não pode de modo nenhum deixar a sua religião para fazer-se protestante.
E não vale a pena mudar o nome do protestantismo, chamando-o de “religião de Jesus Cristo”. Nunca foi, nunca há de sê-lo!
A religião de Jesus Cristo é uma só: – a católica; o protestantismo pode ser chamado “religião de Lutero”, nunca “de Jesus Cristo”, com que não tem outra relação, senão a Bíblia que é comum a ambas, mas cuja interpretação pessoal ou eclesiástica cava um abismo entre ambas.
O protestantismo interpreta a Bíblia a seu talante, contrariamente à Bíblia.
S. Pedro diz que toda a profecia da Escritura não pode ser feita por interpretação própria (2 Ped 1, 20).
O catolicismo escuta a Igreja para esta interpretação, conforme o ensino da Bíblia: o Espírito Santo colocou os bispos para governar a Igreja de Deus (At 20, 28).
Aquele que não escuta nem a sua consciência, nem a Igreja de Deus, deve ser tratado como um pagão, diz o divino Mestre (Mt 18, 17).
A Igreja Católica não persegue ninguém: ela é de caridade; mas refuta os erros, orando pelos que erram, conforme o conselho de S. Agostinho: interficite errores, diligite errantes.
Convém notar, entretanto, que o amor não é covardia nem traição. O protestantismo é uma heresia composta de seitas humanas, que profanam os mistérios de Deus, o que fazia dizer a Melanchthon, contemplando as águas do Elba: todas estas águas são insuficientes para lavar os grandes males da reforma protestante (Cartas).
Ora, deixando de condenar a heresia, a Igreja Católica não seria tolerante; seria simplesmente traidora de Deus e da sua missão, traidora da verdade. E isto é absolutamente impossível, sendo a Igreja, no dizer de S. Paulo: a coluna e o firmamento da verdade (1 Tim 3, 15).

VI. Conclusão
Está vendo, caro amigo, que a sua conclusão é falsa e falsíssima: um homem não deve ser perseguido por abandonar a religião em que nasceu; mas, antes de abandonar uma religião, um homem deve examinar a religião que quer deixar e aquela que pretende abraçar, para ver qual delas satisfaz aos quatro caracteres indicados: unidade, santa, catolicidade e apostolicidade.
Achando que a religião em que nasceu possui estes quatro caracteres, não pode mudar, pois está na verdade. Achando que não satisfaz a estes quatro requisitos, pode e deve abandoná-la, para abraçar aquela que os possui, e que só é a religião de Jesus Cristo.
Possa meu amigo crente compreender estas verdades claras e divinas, e adotá-las como regra de vida; é o único desejo daquele que procura refutar os seus erros, mas que ama a sua alma, e anela em salvá-la.

O Batismo


CAPÍTULO XXI
O BATISMO

A 17ª objeção é fenomenal e contradiz a própria doutrina e o próprio uso protestantes. Desta vez, o protestante protesta contra si mesmo, contra Lutero e contra inúmeras seitas protestantes.
Protesta porque a Igreja Católica afirma que o pecado original existe, e que é remitido pelo batismo.
Basta esta afirmação para o nosso amigo protestante exigir: um texto que prove que o batismo lava o pecado original, nos faz cristãos, filhos de Deus, herdeiros do reino de Deus.
Vamos, de novo, satisfazer as exigências do nosso amigo crente.

I. Sacramento e lei
O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, para apagar o pecado original.
Jesus disse: se alguém não for regenerado pela água e o Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3,5).
Esta regeneração é o batismo. Conforme as palavras do salvador, a salvação é impossível sem o batismo.
Além de o batismo ser absolutamente necessário, há também uma lei que obriga a recebê-lo. As próprias palavras da promulgação o afirmam: ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19).
Até aqui o amigo protestante deve estar de acordo conosco. Tiremos disso uma conclusão lógica: Jesus Cristo nada fez de útil, tudo o que fez e disse tem uma razão de ser.
Se, pois, ele exige tão rigorosamente a recepção do batismo, é porque o batismo para qualquer coisa, produz um efeito que só ele pode produzir. E qual é este efeito?

II. Efeitos do batismo
É a Sagrada Escrita que no-los vai indicar claramente: aquele que crer e for batizado será salvo, diz o próprio Jesus Cristo (Mc 16, 16).
Eis já o que é claro e positivo: a fé e o batismo são as chaves da nossa salvação.
Ora, para ter precisão de salvação, é preciso estar perdido; são dois termos correlativos: um supõe o outro. O homem estava, pois, perdido. Como? Pelo pecado original transmitido por Adão e Eva a todos os seus descendentes.
Isto é provado claramente pelo testemunho do apóstolo: por um homem só entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecam num só (Rom 5, 12).
Eis o que é bem claro. Antes do apóstolo, o santo rei David já tinha dito a mesma verdade: fui gerado na iniqüidade, e minha mãe concebeu-me no pecado (Sl 50, 7).
Eis, pois, duas verdades bem provadas: o pecado original foi cometido pelos nossos primeiros pais. Este pecado é transmitido a todas as gerações humanas, sendo assim um pecado universal.
Procuremos agora um remédio para esta mal universal. É S. Pedro quem no-lo ensina: fazei penitência e cada de um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados (At 2, 38). O batismo é pois um meio de remir os pecados.
E quais são estes pecados? O batismo pode ser recebido em qualquer idade. A criança, não sabendo distinguir entre o bem e o mal, é incapaz de cometer pecado. Deve pois existir qualquer pecado que não seja cometido pessoalmente por nós, mas é transmitido pela geração. Tal pecado é o pecado original.
S. Paulo dissipa as últimas dúvidas e, num rasgo sublime, projeta sobre o batismo uma luz toda divina.
Escute estas passagens, caro protestante: que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como vivemos ainda nele? Ou não sabes que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? De modo que estamos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele, na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição (Rom 6, 1-6).
Que sublime página de teologia sobre os efeitos do batismo! Se os amigos protestantes soubessem compreender um pouco a Bíblia, ficariam envergonhados das ineptas objeções que levantam.
S. Paulo dá a resposta completa à objeção protestante e prova a exposição católica que afirma que o batismo:

a) Lava do pecado original;
b) Faz-nos filhos de Deus;
c) E herdeiros do céu.

Somos batizados na morte de Jesus Cristo, diz S. Paulo. Ora, esta morte é a destruição do pecado. Não havendo pecado em nós, tornamo-nos filhos de Deus, ressuscitados da morte do pecado, como Cristo ressuscitou da morte do túmulo.
Semelhantes a Cristo pelo batismo, ressuscitados como ele, tornamo-nos participantes da glória do céu.
Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo, diz S. Paulo (Rom 8, 17). Ora, esta herança é graça na terra e a glória no céu.
Justificados pela graça, diz o Apóstolo, seremos herdeiros segundo a herança da vida eterna (Tito, 3, 7).

I.                   Conclusão

Concluamos, mostrando aos pobres protestantes como eles são ilógicos, e como estão em contradição com a Bíblia e com os seus próprios costumes.
Os protestantes administram o batismo para os seus próprios adeptos e, entretanto, não acreditam no próprio batismo. Fazem objeção contra o batismo e o conservam como obrigatório, para ser cristão, e até para ser protestante. De outro lado, sendo conseqüentes, não deveriam admitir o batismo. É um princípio por eles admitido que ninguém pode ser justificado sem um ato de fé em Jesus Cristo. Ora, as crianças não são capazes de fazer este ato. Logo, o batismo das crianças é inútil.
Outro argumento contra eles: é também um princípio protestante que nada se deve fazer que não seja autorizado por um exemplo tirado da Bíblia. Ora, não há nela nenhum exemplo de batismo de criança. Logo, os protestantes deveriam rejeitar o batismo de crianças, como contrário à Bíblia.
Até a escritura pode ser interpretada como favorável ao batismo de pessoas adultas, antes que das crianças. Aquele que crer e for batizado será salvo (Mc 16, 16).
A Igreja Católica manda batizar as crianças, não por indicação da Bíblia, mas pela interpretação do texto sagrado, pela tradição constante dos séculos, desde os apóstolos até hoje.
Eis umas citações antiguíssimas a esse respeito:
Dionísio Aeropagita, do século II, diz: “É uma tradição que nos vem dos apóstolos, que as crianças devem ser batizadas” (Eccl. hier, cult.).
S. Irineu, também do século II, diz: “todos aqueles que são regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos” (Sup. S. Luc.).
Orígenes repete a mesma verdade. É na Igreja uma tradição, provinda dos apóstolos, dar o batismo às crianças (Leb. 5, c. 6).
S. Cipriano, ainda no mesmo século, escreve: “parece-me bom e a todo o concílio que as crianças sejam batizadas, mesmo antes dos oito dias” (Lev. 3, ep. ad Fidum).
Eis testemunhos autênticos dos primeiros séculos, atestando sempre ter sido uso na Igreja batizar as crianças.
Eis como cai a objeção protestante e vira contra eles, mostrando como estão em contradição consigo mesmos: fazendo o que não acreditam e acreditando no que não fazem. No primeiro caso, não deviam batizar crianças como o fazem. No segundo, não podiam atacar o batismo, nem pedir textos para provar que o batismo apaga o pecado original e nos faz filhos de Deus.
É a eterna mania de protestar... Até contra eles mesmos!

II.                O batismo dos sinos

A 19ª nona objeção pede um texto que prove o batismo dos sinos. Tal objeção não merece resposta, mas demonstra a supina ignorância dos biblistas, que pegam uma palavra e interpretam-na, não como é entendida pelos adversários, mas como eles mesmos a entendem.
Batizar um sino é apenas uma expressão popular, que significa: benzer um sino, isto é, consagrá-lo ao serviço de Deus.
Tal prática é completamente bíblica. Vemos na Bíblia que tudo quanto se dedica ao serviço religioso deve ser separado dos objetos profanos e reservado ao uso santo, a que é destinado. Os capítulos 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31 do Êxodo são a enumeração de todos os objetos que Deus manda fazer e reservar para o seu serviço.
E não somente Deus manda separar estes objetos, mas exige que sejam consagrados, bentos ou ungidos, de uma unção especial.
Ele manda fazer o azeite da santa unção, e diz: e com ele ungirás a tenda da consagração e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus vasos, e o altar do incenso, e o altar do holocausto com todos os seus vasos, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo (Êx 30, 26-30).
Eis, meu caro protestante, a origem da bênção ou a unção dos sinos e de todos os objetos de culto.
O sino não figura nesta enumeração, porque não existia naquele tempo; a trombeta era o instrumento para chamar os fiéis à casa de Deus.
A Igreja Católica, fiel e conservadora das prescrições divinas, conserva o mesmo costume, e benze, unge ou consagra todos os objetos que são destinados ao culto divino.
Isto é ou não é bíblico?... E o contrário, como fazem os protestantes, é ou não é completamente anti-bíblico?...
Basta ter olhos para ver... E querer ver!...