segunda-feira, 1 de março de 1999

Os sete Sacramentos

CAPÍTULO XVI
OS SETE SACRAMENTOS

        A 11ª objeção é: dar um texto que prove que há sete sacramentos.

                Vamos satisfazer ao nosso amigo crente e citar-lhe, como de costume, textos da Sagrada Escritura, da história, do bom-senso e até textos protestantes. É coisa fácil, e esperamos provar claramente que há deveras sete sacramentos, nem mais, nem menos.

I.        Noções necessárias
       
        Procuremos, em primeiro lugar, compreender bem o que é um sacramento, donde vem e para que serve. Esta simples noção fará cair já a maior parte das objeções, como, perante a exposição clara da verdade, dissipam-se todos os erros.
        O catecismo diz que sacramento é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para produzir a graça em nossas almas e santificá-las.
        Desta definição resulta que três coisas são exigidas para constituir um sacramento. São:
Um sinal sensível, representativo da natureza da graça produzida. Deve ser sensível porque se não pudéssemos percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este sinal sensível consta sempre de matéria e de forma, isto é, da matéria empregada e das palavras pronunciadas pelo ministro do sacramento.
2° Deve ser instituído por Jesus Cristo, porque só Deus pode ligar a um sinal visível a faculdade de produzir graça. Jesus Cristo, durante a sua vida mortal, instituiu pessoalmente os sete sacramentos, deixando apenas à Igreja o cuidado de estabelecer ritos secundários, realçá-los com cerimônias, sem tocar-lhes na substância.
Para produzir a graça. Isto é, para distribuir-nos os efeitos e méritos da redenção que Jesus Cristo mereceu por nós, na cruz... Os sacramentos comunicam esta graça, por virtude própria, independente das disposições daquele que os administra ou recebe. Esta qualidade, chamada pela teologia ex opere operato, distingue os sacramentos da oração, das boas obras e dos sacramentais, que tiram a sua eficácia ex opere operantes das disposições do sujeito.
        Compreendidas estas noções, temos de provar agora verdades negadas pelos protestantes. Primeiro, que há sacramentos – segundo, que há sete sacramentos.
II.      Há sacramentos

        Os amigos protestantes ensinam – e isso unicamente para contradizer a Igreja católica – que os sacramentos são meras cerimônias exteriores, testemunhando que a graça está na alma, sem o poder de infundi-la. É um erro fundamental e grosseiro.
        Para provar irrefutavelmente a necessidade dos sacramentos, é preciso recorrer à sublime doutrina da graça, ou da nossa vida sobrenatural. Verdade que o protestantes não negam em seu princípio, mas em seus meios. Os sacramentos são, de fato, os meios, os canais, para transmitir-nos a graça divina, os merecimentos de Jesus Cristo.
        Antes de tudo, notemos que a religião de Cristo não é simplesmente um meio, é antes de tudo um princípio.
        Os homens sabem inventar meios; só Deus pode fixar princípios... Pela adição de princípios aos meios humanos, ele faz ato de Deus: cria. Esta criação nas almas chama-se a graça. A graça, que a teologia define um dom sobrenatural de Deus, por causa dos méritos de Jesus Cristo, como meio de salvação, é tudo na religião católica, é sua seiva, o seu sopro, a sua alavanca.
        Arquimedes concebe uma máquina para suspender o mundo, mas falta-lhe um ponto de apoio e uma alavanca. Descartes sonha o mecanismo do universo, mas falta-lhe a matéria e o movimento.
        Jesus Cristo quer levantar as almas a Deus, e nada lhe falta, ele concebe e ele faz.
        S. Tomás, na sua linguagem de águia, resolve tudo nestas palavras do ofício do Santíssimo Sacramento: O filho único de Deus, misericordiosamente cioso de tornar-nos participantes da sua divindade, tomou nossa natureza para que Deus, feito homem, fizesse dos homens deuses, - ut homines deos faceret factus homo (Lect. IV).
III. Vida sobrenatural

        A vida sobrenatural existe... e existindo, ela é obrigatória para o homem. É a  ordem estabelecida por Deus. Queira ou não queira, o homem tem de viver da graça ou de perder-se miseravelmente.
        Quando um Deus vem a este mundo, sofre e morre para transmitir ao homem o preço, o resgate dos seus méritos, o homem não pode subtrair-se a tamanho amor; há de escolher: ou Cristo ou o demo, ou a vida de Cristo que é a graça, ou a vida da carne que é o vício; a salvação ou a perdição.
        Gravemos na mente um definição da graça, dada por S. Agostinho (Sermo 133, cap. XI): “A graça é como o prazer que nos atrai... Não há nada de duro, na santa violência com que Deus nos atrai... tudo é suave e benfazejo”. Esta palavra é admirável: A graça é um verdadeiro poder atrativo, que prevém à vontade, a estimula e a leva a Deus, a atrai por deleitação interior, e faz amar, como por instinto, Aquele que a nossa razão devia amar acima de tudo: Deus. Este termo atrativo parece novo em teologia, entretanto ele é a expressão da palavra de Jesus: Ninguém pode vir a mim, se Aquele que me enviou não o atrair (Jo  8,22). E esta outra: Uma vez levando da terra, atrairei tudo a mim – omnia traham ad meipsum (Jo 12,32).

IV.   O que é a graça

        A graça em seu princípio é, pois, a vida de Deus em nós: Participatio quaedam naturae divinae, diz S. Tomás.
        Para comunicar-nos a sua vida, Deus podia agir imediatamente sobre a nossa alma; ele o faz às vezes. A simples elevação dos nossos corações, pela oração, podia produzir este efeito, mas além desta ação imediata de Deus sobre a alma, além do meio da oração, Deus instituiu meios particulares para comunicar-nos as suas graças, meios obrigados, indispensáveis: estes meios são os sacramentos.
        Vejamos esta necessidade; está admiravelmente descrita por S. Paulo. Escute bem, amigo protestante, ou melhor, tome a sua Bíblia e leia este capítulo admirável de S. Paulo aos Romanos (cap. 6): Permanecemos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum (6,1). Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos (8). O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça (14).
        Há pois duas vidas em nós: a vida do pecado e a da graça. Ora, esta graça é o dom de Deus, proveniente dos méritos de Jesus Cristo. É a seiva desta grava que deve circular em nós: Nós somos os ramos, Cristo é o tronco (Jo 15, 4-5). Deve haver união completa, íntima entre os meios de transmissão da graça e a alma que recebe esta graça, como há união completa entre o troco e os ramos.
        Na oração e nas boas obras esta união completa não existe... deve haver outro meio e este meio são os sacramentos. – Os sacramentos tornam-se, neste sentido, os canais transmissores da graça divina às almas. – Canais estabelecidos por Jesus Cristo, e portanto necessários.
IV.   Há sete sacramentos

        É um dogma da nossa fé que os sacramentos existem, e que estes sacramentos são em número de sete, conforme o definiu o concílio de Trento, condenando a tese protestante.
        Se alguém disser que os sacramentos não foram instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo, ou que são mais de sete, ou menos, a saber: Batismo, crisma, eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio, contra ele seja o anátema (Sessão 7, cân. 1).
        São, pois, sete os sacramentos, nem mais, nem menos, contra os protestantes que nunca tiveram de acordo entre si sobre este ponto.
        No século XVI, os amigos protestantes rejeitaram os sete sacramentos... Rejeitar em palavras é fácil, como é fácil rejeitar a existência da cadeia para os malfeitores; o que não impede que aí acabem às vezes. Depois admitiram dois: batismo e eucaristia; dois, três ou quatro: os dois acima, e mais a penitência e a ordem. Hoje em dia, os ritualistas conservam os sete; as demais seitas reconhecem apenas o batismo, e um simulacro de eucaristia. Bastaria este desacordo e esta contínua vacilação para mostrar o erro protestante.
        A verdade não muda, caro protestante; só o erro anda sempre claudicando, sempre hesitando e sempre mudando.
        A Igreja católica sempre ensinou e sempre ensinará que há sete sacramentos, porque assim recebeu o ensino dos apóstolos, tanto pela Tradição, como pelo Evangelho, e assim o vai transmitindo aos séculos. Nunca houve discussão a este respeito na Igreja, embora não encontremos nos primeiros séculos a enumeração metódica, que hoje empregamos na citação dos sacramentos.
        Três argumentos temos às mãos para provar a tese dos sete sacramentos, e todos três são irrefutáveis: 1° A crença dos séculos. o bom-senso. 3° O Evangelho.
        Recorramos a estes argumentos.

A)     A crença secular

                O primeiro argumento da crença popular desta verdade parece remontar ao século V. A doutrina dos sete sacramentos encontra-se explicitamente nas seitas dos nestorianos e nos monofisistas, que se separaram da Igreja no século V. não é admissível que estes hereges não tenham recebido da Igreja romana o número de sete sacramento. Se a conservaram como nós, é porque tal doutrina era um patrimônio comum, transmitido pela tradição apostólica e conhecido por todos, de modo que teria sido imprudente negar o que todos aceitavam como indiscutível.
B)     O bom-senso

                Lembro ao meu amigo protestante que Deus, sendo o autor da razão humana ou bom-senso, e o autor dos sacramentos, deve existir entre estes  dois um perfeito acordo.
                É apenas argumento de conveniência, é certo, mas este argumento tem o seu valor pela analogia perfeita que estabelece entre as leis da vida natural e as da vida sobrenatural.
                S. Tomás explica admiravelmente esta analogia. Os sete sacramentos reunidos são necessários e bastam para a vida, conservação e prosperidade espiritual, quer do corpo inteiro da Igreja, quer de cada membro em particular.
                Os cinco primeiros são estabelecidos para o aperfeiçoamento pessoal, os doisúltimos para o governo e a multiplicação da Igreja.
                Na ordem natural, para o aperfeiçoamento pessoal, é preciso: 1° nascer; 2° fortificar-se; 3° alimentar-se; 4ª curar-se na enfermidade; 5° refazer-se nos achaques da velhice.
                Para o aperfeiçoamento moral a humanidade carece de: 1° Autoridade para governar. 2° Propagação para perpetuar-se.
                Tal é a ordem natural. Temos os mesmos elementos na ordem espiritual:
                1° O batismo é o nascimento da graça.
                2° A crisma é o desenvolvimento da graça.
                3° A eucaristia é o alimento da alma.
                4° A penitência é a cura das fraquezas da alma.
                5° A extrema-unção é o restabelecimento das forças espirituais.
                6° A ordem gera a autoridade sacerdotal.
                7° O matrimônio assegura a propagação dos católicos e das suas doutrinas.
                Os sete sacramentos são, deste modo, como outros tantos socorros, dispostos ao longo do caminho da vida, para a infância, a juventude, a idade madura e a velhice; para as duas principais carreiras que se oferecem: sacerdócio e casamento.
                Não se pode negar que a analogia é admirável e estabelece que deve haver sete sacramentos. Se houvesse menos, faltaria qualquer coisa; se houve mais haveria supérfluo; todas as necessidades estão preenchidas.
C)     O Evangelho

                Para o protestante, escravo da letra da bíblia, o último argumento deve ser o mais decisivo. Estarão expressos no Evangelho os sete sacramentos? Perguntará o amigo protestante. Perfeitamente. O que derrota o pobre protestante é o seu apego estreito à letra e ao número.
                Nosso Senhor não citou o número de sete sacramentos; só os sacramentos, e o protestante, não encontrando o algarismo 7, começa logo a gritar que não há sete sacramentos.
                A culpa seria assim de Jesus Cristo, que não pronunciou o número 7, como não pronunciou a palavra sacramento.
                Mas diga-me, meu caro crente: o senhor acredita no mistério da Santíssima Trindade, sendo três as pessoas distintas, em uma natureza divina: o Padre, o Filho e o Espírito Santo? Acredita? Não deveria acreditar, pois Jesus Cristo nunca pronunciou o algarismo três, falando da Santíssima Trindade.
                Ele fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e não pronuncia o número três. E, entretanto, o meu inteligente protestante conclui: O Pai é um. O Filho é dois. O Espírito Santo é três e conclui que há três pessoas em Deus.
                Mas por que não faz o mesmo cálculo quando se trata dos sacramentos? O Evangelho não fala de sete sacramentos, mas vai enumerando todos os sete, instituídos por Jesus Cristo. São sete, nem mais nem menos: e a Igreja, apoiada nos argumentos comprovativos, colhidos nos Evangelhos, de cada sacramento, demonstra que são sete, nem mais, nem menos.
                E se os protestantes não aceitam o número de sete, por que aceitam o número de dois ou três, tratando-se dos sacramentos, visto estes números não figurarem no Evangelho? É preciso ser consequente: ou tudo ou nada, desde que não há razão que milite em favor de um número determinado.
V.     Os textos da Bíblia

        É tempo de citar os textos pedidos que provam a existência dos sete sacramentos. Citando um texto que se refere a cada um em particular, fica provada a existência dos sete, até o meu amigo protestante achar um algarismo que diminua este número, ou prove que um deles não foi obra de Cristo, enfim encontrar mais um outro que satisfaça às condições exigidas, sem redundar num dos sacramentos já existentes.
1° BATISMO

        Sua instituição e preceito estão positivamente marcados nos seguintes textos: Em verdade vos digo, disse Jesus a Nicodemos, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus (Jo 3,5). Ide, ensinai a todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Padre, e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19). O que crer e for batizado, será salvo, promete o Salvador (Mc 16,61). Recebe o batismo e lava os teus pecados, disse Ananias a Saulo (At 22,16). Os apóstolos administravam o batismo a todos os que desejavam alistar-se na religião nova. Três mil pessoas recebem o batismo das mãos de S. Pedro, no dia de pentecostes (At 2, 38-41). O batismo é, pois, um sacramento instituído por Jesus Cristo.
2° A CRISMA

        Nova instituição divina, as Escrituras marcando os elementos constitutivos da crisma. Os atos dos apóstolos provam que o seu rito exterior consiste na imposição das mãos: os apóstolos Pedro e João, enviados a Samaria, punham as mãos sobre os que tinham sido batizados, e recebiam estes o Espírito Santo (At 8, 12-17). Do mesmo modo, S. Paulo, vindo a Éfeso, batizou, em nome de Jesus, discípulos de João e a eles impôs as mãos, para que o Espírito Santo baixasse sobre eles (At 19, 1-6). Segundo estes textos, compreende-se claramente que Pedro e João de um lado, e Paulo de outro, deram o Espírito Santo, pela imposição das mãos. Ora, uma tal prática seria ridícula, se eles o fizessem, fora da vontade e das prescrições do Mestre, donde se deve concluir necessariamente que o próprio Nosso Senhor tenha instituído o sacramento da crisma numa ocasião que a Sagrada Escritura não refere. Tal é, aliás, a opinião de muitos teólogos protestantes menos tolos do que os nossos pastores de hoje. Quanto ao uso cristão, verdadeiramente antigo, da imposição das mãos, diz o luterano Marhainehe, os apóstolos não o teriam certamente introduzido sem que recebessem a ordem divina. A crisma, diz o grande Leibniz, o luzeiro protestante, completa a obra começada pelo batismo (Leib. 1, p. 215.). A crisma é, pois, um sacramento instituído por Jesus Cristo.

3ª  A EUCARISTIA

        Tendo provado a existência deste sacramento com numerosos textos no capítulo XV da presente obra, é inútil repetir as mesmas verdades. A eucaristia, por sua vez, é um sacramento instituído por Jesus Cristo, em que ele nos dá o seu próprio corpo e o seu próprio sangue, como alimento das nossas almas: Aquele que come o meu corpo e bebe o meu sangue, esse fica em mim e eu nele (Jo 6, 57-59).

4° A CONFISSÃO
       
        Outra verdade já provada no capítulo XIV desta obra. Os pecados serão perdoados aos que vós perdoardes, e serão retidos os que vós retiverdes, diz o Mestre. O rito exterior encontra-se na confissão dos pecados e na absolvição judiciária. Quanto ao preceito de confessar-se, é positivo; S. Paulo escreve: Deus nos confiou o ministério da reconciliação, pôs em nós a palavra de reconciliação, logo fazemos o ofício de embaixadores em nome de Cristo (2 Cor 5, 18-20). A confissão, por sua vez, é também um sacramento instituído pelo próprio Jesus, para comunicar aos pecadores arrependidos o perdão das suas faltas.

5° A EXTREMA-UNÇÃO

        É o quinto sacramento instituído por Jesus Cristo, sem que saibamos em que época o instituiu. A Sagrada Escritura, como para a crisma, nos transmite apenas o rito exterior e o efeito produzido. O Evangelho diz que à ordem do Senhor... os apóstolos expeliam muitos demônios e ungiam com óleo a muitos enfermos, e os curavam (Mc 6,13). Eis um fato, é a ordem do Senhor. A instituição da extrema-unção decorre destas palavras de S. Tiago: Está entre vós alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E o Senhor o aliviará, e se estiver em algum pecado ser-lhe-á perdoado (Tgo 5, 14-15). Nunca o Apóstolo teria prometido tais efeitos a uma unção, na enfermidade, sem firmar-se na autoridade divina da instituição deste sacramento. A extrema-unção é, pois, verdadeiramente um sacramento instituído por Jesus Cristo para aliviar os enfermos e dar-lhes o perdão das suas culpas.
       
6° A ORDEM

        A ordem é o sacramento que dá o poder de desempenhar as funções eclesiásticas, e a graça de fazê-lo santamente; em outros termos, é o sacramento que faz os sacerdotes, ou ministros de Deus. Muitos textos da Sagrada Escritura provam a existência do sacerdócio e indicam o rito da ordenação sacerdotal. Lemos de fato que Nosso Senhor fez uma seleção entre os discípulos: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi, diz ele (Jo 15,16). Aos discípulos eleitos, chamados apóstolos, o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares do sacerdócio: a) oferecer o santo sacrifício; b) perdoar os pecados; c) pregar o Evangelho e d) governar a Igreja.
Fazeiisto em memória de mim (Lc 22,19). É a ordem de reproduzir o que ele tinha feito: mudar o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue divino.
Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes (Jo 20,23). É o poder de perdoar os pecados.
Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16, 15).
O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a Igreja de Deus (At 20,28).
        Eis os poderes dados por Jesus Cristo a seus ministros ou sacerdotes, representados pelos primeiros sacerdotes, que foram os apóstolos.
        Quando ao rito de ordenação, não é menos claramente indicado: Não desprezes a graça que há em ti e te foi dadapor profecia pela imposição das mãos do presbitério (1 Tim 4,14). – Chama-se presbitério a reunião dos bispos e padres que concorreram para a ordenação de Timóteo, de que S. Paulo foi o principal ministro, como se vê claramente na segunda epístola dirigida ao mesmo discípulo. Por este motivo, diz ele, te admoesto que reanimes a graça de Deus, que recebeste pela imposição de minhas mãos (2 Tim 1,6).
        O exemplo dos apóstolos nos mostra a transmissão dos poderes sacerdotais pela ordenação. E por onde Paulo e Barnabé passavam, ordenavam sacerdotes para cada Igreja (At 14,22).
        Tudo isso prova claramente que os apóstolos tinham recebido de Jesus Cristo a divina investidura de poderes, que iam assim distribuindo pela imposição das mãos: e esta investidura é o sacramento da ordem.
        O castelo tão cuidadosamente arquitetado pelos pastores protestantes para esconderem o grande sacramento da ordem, que faz do sacerdote católico verdadeiro representantede Deus, com poderes divinos, cai miseravelmente diante dos textos citados, e faz aparecer a grandeza do sacerdócio católico e a baixeza do pastorado protestante, que nada é e nada vale, senão uma exploração, um meio de vida; pois, se os sacerdotes católicos recebem os seus poderes de Deus, o pastor protestante nada recebe de ninguém: ele mesmo escolhe-se, nomeia-se, e dá a si os poderes que julga ter.

7° O MATRIMÔNIO

        É o último na série dos sacramentos. O casamento, que era antes de Jesus Cristo mero contrato, é um verdadeiro sacramento na nova lei. Não sabemos exatamente o tempo nem o lugar em que Jesus Cristo instituiu este sacramento; pensam os teólogos que foi nas bodas de Caná. Outros pensam que foi na ocasião em que o Salvador restaurou a unidade e a indissolubilidade primitivas. Interrogado a respeito do divórcio, que nem o direito de separar-se tem o homem e a mulher, exceto o caso de adultério (Mt 19, 3-5).
        Outros ainda pensam que foi instituído depois da ressurreição, e promulgado por S. Paulo, na epístola aos efésios (5, 25-33).
        Pouco importa o tempo e o lugar, o certo é que o matrimônio foi por Nosso Senhor elevado à dignidade de sacramento, como resulta positiva a irrefutavelmente da Sagrada Escritura. Não separe o homem o que Deus ajuntou, disse Jesus Cristo (Mt 19,6).
        Este mistério, ou sacramento, é grande em relação a Cristo e à Igreja, diz S. Paulo (Ef 5,32). Isso é grande em relação a Cristo, porque é instituição divina; grande em relação à Igreja, que deve mantê-lo na sua unidade e indissolubilidade.
        O rito externo foi indicado por S. Paulo: é a mútua tradição e aceitação do direito sobre os corpos, em ordem aos fins do casamento, formando a união santa, como é santa a união do Cristo com sua Igreja (Ef 5,25).
        É mais uma bomba que pegam os nossos amigos protestantes; eles, que rejeitam o sacramento, para contentar-se unicamente com o contrato civil, preferindo – como aliás fazem sempre – a obra humana à instituição divina.

I.        Conclusão

        Eis, pois, bem provada a tese em refutação do erro protestante.
        Há sacramentos na Igreja que são os canais para transmitir aos homens a graça divina, proveniente dos méritos de Jesus Cristo.
        Há sete sacramentos, nem mais, nem menos, porque há necessidade destes sete e porque um oitavo seria necessariamente repetição de um outro, e ainda porque Jesus Cristo, não consultando os protestantes, entendeu instituir sete.
        Tudo isso é bem provado, tanto pela Sagrada Escritura, como pelo bom-senso e pela tradição dos séculos cristãos. Só não enxerga quem não quer enxergar; e não compreende quem não quer compreender, porém a verdade é e será sempre esta...
        Se os protestantes não aceitam os sete sacramentos, devia-se concluir que nem sabem contar até sete. Neste caso é o pirronismo da ignorância.
        Pobres protestantes iludidos... quando sabereis compreender a vossa bíblia?
E o número 12° das objeções, pedindo um texto que prove que o uso das imagens foi recomendado por Cristo a seus apóstolos...
        Vou satisfazer, e isso longa e plenamente, a meu amigo protestante, mostrando-lhe claramente a inanidade da objeção, a má interpretação da bíblia a este respeito, como a má interpretação dos costumes católicos.
I.        A doutrina da Igreja
       
        A imagem de um santo é a sua semelhança pintada ou esculpida. Uma imagem pode ser exata quando representa a forma própria; simbólica, quando representa o original sob a forma de um símbolo.
        A fotografia de um santo é a imagem exata; um esqueleto é um símbolo da morte, um dragão é o símbolo do demônio, uma cabeça com asas é o símbolo de um anjo. A cruz é o símbolo da redenção.
        Os católicos adoram as imagens, dizem eles, com um gesto de desprezo; ora, é absolutamente proibido o tal culto pela bíblia... Eles são uns idólatras.
        Pobre ingenuidade, que confunde tudo, e nem compreende a significação das palavras. Estudemos este assunto de um modo claro, popular, baseado sobre a bíblia e o bom-senso; e veremos logo que os católicos não adoram imagem alguma, mas simplesmente veneram as imagens, não pelo seu próprio valor, mas pelas pessoas ou coisas que representam. Veremos depois que tal culto não somente nunca foi proibido pela bíblia, mas até aconselhado, e até prescrito pelo próprio Deus. Será a destruição radical da objeção protestante.
II.      Legitimidade das imagens

        A Igreja católica venera as imagens. Este culto é formalmente legitimado pelo concílio de Trento, que diz: As imagens de Jesus Cristo, da Mãe de deus, e dos outros santos, podem ser adquiridas e conservadas, sobretudo nas Igrejas, e se lhes pode prestar honra e veneração; não porque há nelas qualquer virtude ou qualquer coisa de divino, ou para delas alcançar qualquer auxílio, ou porque se tenha nelas confiança, como os pagãos de outrora, que colocavam a sua esperança nos ídolos, mas, sim, porque o culto que lhes é prestado dirige-se ao original que representam, de modo que nas imagens que possuímos, diante das quais nos descobrimos ou inclinamos a cabeça, nós adoramos Cristo, e veneramos os santos que elas representam (Sess. XXV).
        Dois pontos destacam-se deste texto, que são a refutação das diversas objeções levantadas pelos protestantes.
        1° Pode-se prestar honra e veneração às imagens, não por si mesmas, mas pelo original que representam.
        2° Não é a imagem que honramos, mas sim a pessoa representada pela imagem.
        O concílio de Nicéia, o primeiro celebrado na Igreja, no ano de 325, sob o papa S. Silvestre I e o imperador Constantino, defende o culto das imagens contra os iconoclastas, com um vigor admirável.
        Lê-se nos atos deste concílio: Nós recebemos o culto das imagens, e ferimos de anátema os que procedem de modo contrário. Anátema a todo aquele que aplica às santas imagens os textos da escritura contra os ídolos. Anátema a todo aquele que as chama ídolos. Anátema àqueles que ousam dizer que a Igreja presta culto a ídolos.
        Eis a lei da Igreja, a lei de Jesus Cristo, a lei da Sagrada Escritura. Pois é tudo um só. Vamos provar isso clara e insofismavelmente aos nossos pobres protestantes.
III.    O uso das imagens na Bíblia
        Os amigos protestantes devem concordar que Deus não pode estar em contradição consigo mesmo. Provando pois que ele permite e manda fazer imagens, é provar que tal proibição não existe. Examinemos, pois, a bíblia que os protestantes dizem ser a sua única regra de fé.
        Beseleel fez, por ordem de Deus, dois querubins de ouro, de obra batida, às duas extremidades do propiciatório. Um querubim a uma extremidade... e o outro à outra extremidade... E os querubins estendiam as asas por cima... e os rostos estavam defronte do outro (Ex 37, 6-9).
        Moisés orou pelo povo; e disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente de bronze e põe-na sobre uma haste e todo mordido que olhar para ela viverá... E Moisés fez uma serpente de metal... e quem olhava para ela, ficava curado (Nm 21, 8-9).
        Na descrição do tempo de Salomão, fala-se de um príncipe que colocou no templo dois grandes querubins (anjos) de madeira de oliveira de dez côvados de altura e enfeitava os muros do tempo com toda espécie de molduras e esculturas de anjos  (3 Rs 6, 23-29).
        E neste templo assim repleto de imagens, Deus apareceu e falou a Salomão, dizendo: Ouvi a tua oração... santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre (3 Rs 9, 1-3).
        Muitos passos semelhantes se poderiam citar, que provam claramente que o próprio Deus mandou colocar em seu templo imagens de diversas criaturas e objetos. E o templo assim adornado agradou a Deus, ao ponto que ele prometeu por ali o seu nome, para ser invocado para sempre. E não objetem que tais imagens foram feitas pelos homens para embelezar o templo. A bíblia responde pelos lábios de David: Todas estas coisas me foram dadas por escrito, pela mão de Deus, para que eu tivesse a inteligência de todas estas obras segundo o modelo (1 Par 28, 11-19).
        Eis já umas passagens; podia multiplica-las à vontade; pois há na bíblia 81 passos onde se trata de tais querubins, que incontestavelmente são figuras de anjos. Como referência limitamo-nos às seguintes indicações: Gn 3,24; Ex 25, 18-22; 37, 7-9; Nm 7, 89; 1 Rs 4,4; 6,2; 22,11; 3 Rs  6, 23-35; 4 Rs 19,18; 1 Par 13,3; 2 Par 3, 10-11; 5,2; Ez 10, 8-12; 27-16; Sl 18,11; 80, 2; 99,1; Filip 2, 10; Heb 11,21.

IV.   Onde está o erro?
       
        Eis fatos da bíblia... e fatos certos, sem que seja possível dar-lhes outra explicação que aquela que representa o texto citado.
        Eis os protestantes em flagrante contradição com a Bíblia... Verifiquem os textos e contextos e tenham a coragem de confessar o seu erro, em frente da verdade refulgente que se impõe.
        Dos textos já citados, vê-se claramente que Deus, em pessoa, manda fazer imagens de espíritos, ou querubins. Tais imagens são verdadeiramente imagens religiosas, pois os querubins pertencem à ordem espiritual e são associados ao culto divino, aos emblemas religiosos, como o são a arca da aliança e o tabernáculo.
        Conforme a sua própria palavra a Salomão, Deus estava realmente presente sobre o proprietário, no meio dos dois querubins.
        Ora, é certo que os judeus prestavam um culto a estas imagens, como sendo elas a expressão da aliança de Deus com seu povo, e o lugar determinado da sua presença
        A Bíblia reza no livro de Josué: Josué prostrou-se com o rosto em terra diante da arca do Senhor, e assim permaneceu até à tarde, imitando-o toso os anciãos de Israel (Jos 7,6).
        Terão sido idólatras Josué e os anciãos de Israel?
        Foi Deus ainda que ordenou a Moisés levantar uma serpente de metal (Nm 21,8).
        O culto prestado pelos hebreus, por ordem de Deus, a esta serpente era indubitavelmente religioso, porquanto Deus fez depender a cura sobrenatural dos mordidos, do olhar sobre o réptil metálico.
        Temos as provas disto nas próprias palavras de S. João, que diz que tal serpente era o símbolo do Cristo crucificado. Bem como ergueu Moisés a serpente no deserto, assim cumpre que seja levantado o Filho do Homem (Jo 3,14).
         A conclusão é, pois, irrefutável. Se Deus tivesse proibido as imagens, como manchadas de idolatria, ele próprio teria dado mau exemplo, mandando fazer imagens, estando assim em flagrante contradição consigo mesmo, proibindo e mandando fazer o que proíbe.
        Então, ou os protestantes estão enganados ou Deus enganou aos outros. Não podendo Deus enganar-se, nem enganar aos outros, é claro que os protestantes estão em erro.
V.     Gênero de culto das imagens

        Está pois bem provado: O culto das imagens não somente nunca foi proibido, mas foi ordenado por Deus.
        Examinemos agora qual é o culto que devemos prestar às imagens. O culto devido à imagem, como ensina S. Tomás, é aquele que é devido a seu exemplar, porém de um modo diferente.
        O exemplar é honrado por si mesmo, enquanto a imagem o é por causa do exemplar...
        O primeiro chama-se culto absoluto, o segundo é o culto relativo.
        Deste modo, o exemplar e a imagem formam um único objeto de veneração.
        Isso explica que nunca honramos uma imagem por si mesma, mas unicamente pelo objeto que representa; e que as honras que lhe tributamos são tanto maiores, quanto maior é o objeto que representam.
        Deus, como soberano Senhor, merece um culto de adoração absoluto (latria), as imagens de Jesus Cristo merecem o mesmo culto, porém de um modo relativo.
        Maria Santíssima, como Mãe de Deus, merece um culto de super-veneração absoluto, abaixo de Deus e acima dos santos (hiperdulia).
        As imagens de Maria Santíssima merecem um culto de veneração absoluto (dulia). As suas imagens merecem o mesmo culto; porém de um modo relativo.
        Se descêssemos da ordem sobrenatural à ordem natural, encontraríamos a mesma distinção aceita por todos.
        Os súditos de um reino devem ao seu chefe um culto de respeito; os filhos devem a seus pais um culto de amor filial; os amigos devem a seus amigos um culto de amizade, e este culto é devido de um modo absoluto às suas pessoas e de um modo relativo às imagens que os representam.
        O homem deve à sua terra um culto de patriotismo absoluto; e deve à bandeira pátria o culto relativo, embora a bandeira, como objeto material, seja apenas um pedaço de pano, porém como objeto representativo, simbólico, é o coração da pátria que pulsa em suas dobras.
        Pelo que procede vê-se haver três maneiras de considerar uma imagem:
        1° Como objeto material, isto é, a matéria de que é feita. – A este ponto de vista nenhuma imagem merece culto.
        2° Como um objeto santo, como seria uma coisa sagrada, por exemplo a Bíblia. A este ponto de vista o objeto merece respeito e veneração, porém inferior ao que se tributa ao protótipo.
        3° Como objeto formal, isto é, como representação do protótipo. A este ponto de vista merece também um culto relativo, como sendo a expressão de um objeto que merece um culto absoluto.
        Assim a cruz, os pregos, a lança, devem ser honrados de um culto de latria relativo. As imagens de Maria Santíssima de um culto de hiperdulia relativo, e as imagens e relíquias dos santos, de um culto de dulia relativo.
        Eis a doutrina da Bíblia e da Igreja a respeito das imagens. Tudo isso é claro, é lógico, é irrefutável.

VI.   A prova da razão
       
        Corroboremos estas provas positivas da Bíblia, da legitimidade e da utilidade das imagens, pela prova da nossa razão e do bom-senso.
                A palavra e o nome são apenas imagens passageiras das coisas que significam: entretanto a palavra de uma pessoa honrada merece respeito e veneração. Por que não se venerariam imagens duradouras das coisas santas?
                Todos tributam honra ao nome de Jesus, o qual, como diz S. Paulo, faz dobrar o joelho dos que estão no céu, na terra e nos infernos (Filip 2,10).
                Quem não tributa honra a um livro que contém a palavra de Deus, a Sagrada Escritura? Por que não se faria a mesma coisa para as imagens e estátuas?
                É certo que as imagens e estátuas são preferíveis às palavras escritas para esclarecer os espíritos das classes inferiores.
                O poeta Horácio já escrevia em sua arte poética Hierurgia: o que se vê pelos olhos entra mais a fundo na alma, do que o que só entra pelos ouvidos.
                O homem venera a bandeira nacional de sua pátria. Os súditos honram os retratos dos seus chefes e presidentes. O povo honra as estátuas dos seus heróis e homens ilustres. Os filhos honram e veneram os retratos de seus pais e irmãos. Os amigos cercam de veneração objetos, lembranças e retratos dos seus amigos.
        E tudo isso é razoável, lógico, é uma aspiração do coração humano.
                Como seria, pois, possível que Deus proíba uma aspiração legítima que ele mesmo pôs no fundo da alma humana? Como pode ele condenar no homem o que ele mesmo faz,  ensina?
                Não! Uma tal proibição não pode existir, porque estaria em contradição consigo mesmo o Criador, que é o autor da ordem natural e da ordem sobrenatural, da natureza e da alma humana.
                Eis por que a Igreja católica honra e venera as imagens dos santos, e de um modo especial a Santíssima Virgem Maria, rainha dos santos. Ela o faz, não somente por respeito pela gloriosa Mãe de Jesus, como também porque a vista das suas imagens nos lembra as suas virtudes e nos estimula a imitar os seus exemplos.

VII. Objeção protestante
               
                Eis exposto o lado positivo da questão. Examinemos, agora, o lado sobre que se baseiam os protestantes, para atacarem, como o fazem, o culto das imagens.
                O grande argumento que costumam produzir é o mandamento da lei de Deus. Citemo-lo aqui, inteiro, para depois mostrar que tal mandamento não diz absolutamente o que os protestantes querem que diga.
                A passagem é tirada do Êxodo, capítulo 20, 1-6: 1.Depois falou o Senhor todas estas coisas: 2. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 3.Não terás deuses estrangeiros diante de mim. 4. Não farás para ti imagens de escultura, nem figura alguma de tudo que há em cima, no céu, e do que há embaixo, na terra; 5. Não as adorarás, nem lhes darás culto, porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus forte e zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem. 6. E que usa de misericórdia até mil gerações, com aqueles que me amam e guardam os meus preceitos.
                Eis o famoso texto da Bíblia que serve de pretexto aos protestantes para gritarem que é proibido fazer e honrar imagens.
                Façamos notar que para fazer exprimir a esta passagem o sentido que lhe atribuem, dividiram este mandamento em dois, para separar Deus e as imagens.
                A Sagrada Escritura diz que os mandamentos da lei de Deus são dez, sem indicar, em parte alguma, como devem ser divididos. O texto antigo não tem nem pontuação, nem frases separadas, nem divisão: é uma frase única.
                A divisão tem sido feita pela Igreja Católica, desde o princípio, e foi alterada pelos protestantes, para melhor conseguirem o seu intuito.
                Um breve exame do texto mostra logo que a proibição de fazer ídolos e de adorá-los é apenas uma explicação e uma consequência do preceito de adorar unicamente o único Deus verdadeiro, e de não ter, em sua presença, deuses estrangeiros.

VIII.            Interpretação católica
                Examinemos de perto o texto citado. Em primeiro lugar é preciso lembrar-nos que Deus fala aos judeus do seu tempo, e como tal combate os abusos entre eles existentes.
                Ora, estes abusos, devido ao contato contínuo com os povos idólatras, como no-lo indica a Bíblia, era uma forte inclinação à idolatria.
                Os pagãos desse tempo, como ainda hoje, adoravam o sol, a lua, as estrelas,  – faziam imagens de animais, como o boi Ápis, o bezerro da fecundidade, os jacarés, peixes, monstros marinhos, etc.
                A proibição divina versa claramente sobre estes ídolos. O que há em cima, no céu: isto é, no firmamento: sol, lua, estrelas. O que há em baixo, na terra: animais, pássaros, homens.   O que há debaixo da terra, nas águas: os peixes e os monstros marinhos.
                Que seja este o sentido de tais palavras é óbvio, pela própria Bíblia, no Deuteronômio, cap. 29, 16-18. Porque vós sabeis de que modo habitamos nós na terra do Egito, e como passamos pelo meio das nações pelas quais passastes, e ao passá-las vistes as suas abominações e imundícies, isto é, os seus ídolos, o pau e a pedra, a prata e o ouro, que eles adoravam. Não suceda que entre vós se ache homem ou mulher, família ou tribo cujo coração esteja hoje apartado do Senhor Nosso Deus, de modo que vá servir aos deuses daquelas nações, e seja entre vós uma raiz que produz a amargura.
                Claro está que nestas passagens da Escriturao que se proíbe é adorar imagens, é prestar culto aos ídolos, como, aliás, fizeram, por vezes, os israelistas, e foram por isso castigados por Deus.
                Aqui não se trata absolutamente nem de Deus, nem dos anjos, nem dos santos; trata-se unicamente de coisas terrestres...
                Vê-se claramente que Deus faz aqui uma tríplice graduação entre os objetos que não se devem adorar. Em cima, no céu: sol, lua, estrelas. Em baixo, na terra: animais, etc. Debaixo da terra: peixes, etc.
                Donde se vê que as imagens proibidas são forçosamente de coisas criadas, e por conseguinte não se trata em absoluto de imagens da divindade.
                Isto é claramente provado por um texto da Bíblia (Dt 4, 15-20): Guardai, portanto, cuidadosamente, as vossas almas. Vós não vistes figura alguma no dia que o Senhor vos falou no Horeb do meio do fogo, por não suceder que enganados façais para vós alguma imagem de escultura ou alguma figura de homem ou de mulher, nem semelhante de qualquer animal que há sobre a terra, ou das aves que se movem na terra ou dos peixes que debaixo da terra moram nas águas: não seja que, levantando os olhos ao céu, vejas o sol e a lua, bem como todos os astros do céu e, caindo no erro, adores e dês culto a estas coisas que o Senhor teu Deus criou para serviço de todas as gentes que vivem debaixo do céu.
                Eis, pois, o que é claro. À luz destes textos da Bíblia dissipam-se todas as objeções protestantes, e vê-se perfídia da sua interpretação.

IX.    Falsa conclusão

                Do texto acima, mal interpretado, isto é, o ser proibido fazer imagens do que há em cima no céu, os protestantes tiram a seguinte conclusão: Ora – Deus está no céu. Nosso Senhor está no céu. Os santos estão no céu.
                Logo, a Igreja não pode fazer imagens nem de Deus, nem de Nosso Senhor, nem dos santos do céu.  Fazê-lo é quebrar a este mandamento absolutamente claro.
                Que seja absolutamente falsa esta conclusão fica inabalavelmente comprovado, pelo texto já citado supra... não seja que, levantando os olhos ao céu, vejas o sol e a lua e todos os astros do céu e, caindo no erro, adores e dês culto a essas coisas que o Senhor teu Deus criou... (Dt 4, 15-20).
                Impossível maior evidência do que a que aí se observa para significa, sem possível dúvida, qual o verdadeiro céu e a que se referem as Escrituras, e quais os entes cujas imagens são por Deus proibidas. Os amigos biblistas fazem uma simples troca de céus. Trocam inocentemente o céu do firmamento do qual falam evidentemente as Escrituras, pelo céu habitado pelos santos, pelos anjos e pela própria divindade.
                É, pois, claro que tal proibição de fazer imagens de Deus, de Maria Santíssima, dos anjos e dos santos, não existe em absoluto na Bíblia: o que aí existe é a proibição de fazer e adornar imagens de coisas terrestres, quer do firmamento, da terra ou do mar, como o mostram os textos citados.
                Se assim não fosse, como se poderia conciliar a proibição, de um lado, e do outro a ordem de Deus de fazer imagens de querubins (Ex 25, 18-20), até de uma serpente (Nm 21,9).
               
X.      Confusão entre imagem e ídolos

                Deus proíbe aos judeus terem deuses estrangeiros: isto é uma alusão aos falsos deuses dos egípcios, de que a Bíblia diz (Sl 113, 11-14 ou seg. o hebr. 115, 4-8): Os ídolos das gentes não são senão prata e ouro, obras de mãos de homens. Têm boca e não falam, têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem, têm narizes e não cheiram, tem mãos e não apalpam, têm pés e não andam; não clamam com sua garganta... Sejam semelhantes a eles os que os fazem, e todos os que confiam neles.
                O texto original hebraico, que o português traduz por “deuses estrangeiros” – e o latim por deos alienos, é mais claro e mais positivo, a palavra utilizada é feser, que significa ídolo, e não imagem.
                O que é proibido é, pois, adorarimagens ou prestar-lhes culto, como tais: em outras palavras, a idolatria.
                O que é a idolatria? É prestar culto divino a uma criatura; em outras palavras: É o culto divino prestado a um objeto sensível, natural ou fabricado, do qual se supõe ser qualquer coisa de Deus.
                A idolatria é um crime enorme, de lesa-divindade, pois consiste em colocar uma criatura no lugar de Deus, e em prestar-lhe honras, unicamente devidas a Deus.

XI.    O culto católico

                Para os católicos serem idólatrasprecisavam, pois, fazer imagens de objetos, isto é, animais ou homens, atribuir-lhes um poder divino (ex opere operato) e tributar-lhes honras divinas.
                Ora, nunca entrou na mente de um católico atribuir a uma imagem um poder divino, ou prestar-lhe culto como tal; limita-se a fazer imagens de Deus, de Maria Santíssima, dos santos ou anjos, e honrá-las, não por si mesmas, mas pela pessoa que representam. – E, convém nota-lo, o culto que tributamos às imagens é sempre um culto relativo, ficando o culto absoluto para a pessoa representada.
                Os católicos não fazem das imagens fetiches, aos quais se atribui um efeito sensível e extraordinário, o qual é fisicamente impossível.
                Na Igreja Católica nenhuma imagem é aceita como mágica. As próprias imagens reputadas milagrosas não o são por si mesmas (ex opere operato). Deus serve-se delas, apenas, para manifestar a sua onipotência, quando bem lhe apraz, não por causa da forma ou do título da imagem, mas porque assim ele o quer.
                A imagem nada faz e nada concede. É apenas um instrumento nas mãos de Deus para comunicar suas graças aos homens, ou ex opere operantes, em virtude das disposições daquele que honra estas imagens, ou então ex misericordia ejus, em consideração da sua misericórdia, como ele fez aos judeus pelo olhar dirigido à serpente metálica, fabricada por Moisés.
                O que é proibido pela lei divina é o culto de ídolos, e não o culto das imagens, porque o ídolo é uma imagem falsa, um simulacro, como diz Habacuc (2,18), e não uma representação exterior de uma realidade.
                S. Paulo chamou Cristo: imagem de Deus (2 Cor 4,4). — Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus (Gn 1,27) e mandou fazer imagens à semelhança do homem (3 Rs 6,35).
                Se toda imagem fosse ídolo, precisava concluir que Jesus Cristo é um ídolo – que Deus mandou fazer ídolos. E qual o protestante que teria a coragem de dizê-lo? É preciso concluir, pois, que o que Deus proibiu era fazer ídolos e prestar-lhes um culto idólatra... e isso de objetos criados.

XII.  As imagens nas Escrituras

                É, pois, evidente que Deus não proibiu fazer imagens, até mesmo mandou e autorizou que as fizessem para melhor facilitar a instrução religiosa e por ser útil à piedade.
                Assim é que, embora os anjos não tenham corpo, sendo eles espíritos, entretanto Deus ordenou que fossem esculpidos e pintados com a imagem humana no Antigo Testamento; abençoou Obededom e a sua casa pelo culto de veneração prestado à arca em que se destacaram as imagens de dois desses anjos querubins.
                Deus se revelou a Adão sob uma imagem sensível, passeando no paraíso, depois do meio-dia (Gn 3,5).
                Jacob viu a Deus no vértice da escada, por conseguinte sob a forma corporal.
                Isaías viu Deus assentado num trono sob a figura de um rei (Is 6,6).
                Amós (9,1) viu o Senhor de pé sobre o altar.
                O Espírito Santo manifestou-se na imagem de uma pomba (Mt 3,16).
                Os anjos muitas vezes se apresentaram em imagem humana (Gn 16,9; 21,17; 22,11; Nm 22,22; Jos 5,14; Tob 5,6; 22,15; Dan 14,33; Os 12,4; Mt 1,20; 28,5; Lc 1,19, 26; 22,43; At 5, 19; 7,30; 12,7; 27, 23; Apoc 1,4)
                Por que então julgar levianamente que Jesus Cristo e os apóstolos tivessem deixado de recomendar e mesmo proibido fazer imagens?
                As Escrituras em sua linguagem atribuem a Deus estes atos sensíveis: caminha, fala, está em pé, da-lhe assento, trono e escabelo, etc.. Por que então supor que Jesus Cristo e os apóstolos se tivessem oposto a que se reproduzissem pela pintura e escultura essas imagens, que nas próprias Escrituras foram traçadas por ordem divina?

XIII.            O exemplo de Jesus Cristo

                Jesus Cristo não se exprimiu declaradamente sobre o culto das imagens, porque já o considerava divinamente recomendado. Para que recomendar o que nunca foi proibido, ou tratar do que era domínio público, como permitido, útil e estabelecido pelo exemplo do próprio Deus?
                Sua missão era dar cumprimento à lei. Ora, não havendo nenhuma lei proibitiva de fazer imagens e de prestar-lhes culto, a não ser para adorá-los, transformadas em ídolos, não havia razão de dar novos preceitos a esse respeito.
                Mas, se Jesus não deu novo preceito de fazer e de honrar as imagens, ele deu o exemplo.
                Não é um fato mencionado no Evangelho, porém é um fato histórico, por todos aceito e contado pelos próprios historiadores pagãos: Cristo, percorrendo o caminho do Calvário, exausto, coberto de poeira, de suor e de sangue, deixou-se limpar o rosto por uma mulher, compadecida, que a Tradição chama Verônica, e em recompensa deste ato de caridade o divino Salvador imprimiu naquele véu a imagem do seu semblante. Este véu, venerado até hoje, em Turim, tem sido o instrumento de conversão de muitos.
                E não se lê no Novo Testamento (Mc 1,10) que quando o divino Salvador foi batizado, nas águas do Jordão, por S. João Batista, o divino Espírito Santo (3ª pessoa da Santíssima Trindade) desceu sob a forma visível de uma pomba, e pousou sobre Jesus?
                E mais tarde, no dia de Pentecostes, também não desceu o mesmo divino Espírito Santo sobre os apóstolos, reunidos no Cenáculo, sob a forma sensível de línguas de fogo?
                A Tradição nos mostra igualmente S. Lucas, pintando a imagem da Santíssima Virgem, cujo original (fala-se de três originais por ele pintados) é exposto à veneração dos fiéis na igreja de Loreto.
                As catacumbas, que datam dos primeiros séculos do cristianismo, mostram em grande quantidade imagens e estátuas de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem, de S. Pedro e de S. Paulo, e outros santos dos primórdios do cristianismo.
                Tudo isso são testemunhos, são provas irrefutáveis de que é formalmente permitido, aconselhado e aprovado fazer imagens e prestar-lhes um culto religioso.

XIV.            Testemunhas protestantes

                Terminaremos pela citação de uns textos insuspeitos de protestantes, criteriosamente mais aproximados da verdade católica;
                Um grande teólogo alemão, Döderlein, escreve: “Os que afirmam que os católicos adoram as imagens, não são guiados pela verdade, mas pelo ódio”.
                O ministro luterano Lavater escreve também: “Lícito lhe será dizer que é uma vergonha, em nosso século esclarecido, recriminar ao católico sua veneração às imagens, como um ato de idolatria, quem se sente incapaz de glorificar sua própria seita de outra maneira que caluniando assim o catolicismo (Schr. an den Grafer Stolberg).
                O grande Leibniz em seu Sistema Teológico escreve (p. 107): “Eu não sou daqueles que, esquecendo a fraqueza humana, proscrevem do serviço divino tudo o que impressiona os sentidos, sob o pretexto de que a adoração deve ser feita em espírito e verdade”.
                Ouçamos mais outro protestante, o célebre Wagner (t. I, p. 318): “Vós deveis, ó luteranos, e vós também, ó reformados, restituir à religião e ao seu santuário a dignidade e o esplendor que dia a dia vão perdendo, porque todos os dias destruís o serviço divino, a título de o purificar”.
                Um dos mais abalizados teólogos protestantes, Clausen, escreve, por sua vez, numa obra notável: Rito do Catolicismo e Protestantismo, p. 790. A Igreja reformada rejeita toda a solenidade exterior, tudo o que reveste uma forma esplendorosa e que leva a alma à contemplação das coisas sobrenaturais, como se a veneração para com Deus corresse perigo, adornando-se os muros de uma igreja com santas imagens, enfeitando-se o altar para o distinguir de uma mesa doméstica, como se fora uma coisa má traduzir em formas exteriores o respeito que a santidade do lugar inspira...
                “Entre católicos – diz ainda Clausen – as melhores produções de arte são consagradas ao embelezamento das igrejas; os luteranos querem templos cujos muros sejam nus e desprovidos de todo adorno, o que não obsta que os mesmo protestantes adornem com todos os tesouros da arte as suas habitações particulares... As censuras dos nossos adversários a esse respeito são justas. É muito verdade que a nudez das nossas igrejas está em perfeita harmonia com o que se passa no interior delas”.
                A rude franqueza destas últimas palavras de Clausen é um brado espontâneo e enérgico da consciência cristã, aviltada pelas consequências absurdas das absurdas interpretações escriturais do livre exame protestante! Aliás toda essa sua obra confirma tal juízo. Seria por demais longo, porém, e já agora desnecessário, transcrevermos aqui muitas outras passagens que corroboram essa verdade indiscutível.
                Terminaremos, não obstante, com estas palavras suas de admirável justeza: “Um serviço divino que só quer edificar pela palavra e procura o seu poder na exclusão de toda a influência estética sobre a alma, poderá ser porventura a fiel expressão do Cristianismo? O Cristianismo não separa o que foi unido por Deus e pela natureza, não quebra os laços que liga a alma e o corpo, a matéria e o espírito”.

XV. Conclusão

                É tempo de concluir o nosso pequeno estudo, já longo. As provas citadas são absolutamente irrefutáveis, senão rui a própria Bíblia, e com ela o bom-senso comum da humanidade.
                Nunca Deus proibiu fazer imagens, nem prestar-lhes um culto; o que proibiu é fazer ídolos, atribuir-lhes um poder e prestar-lhes um culto divino. Ora, como temos provado, a diferença entre a imagem e o ídolo é a diferença do dia e da noite.
                A imagem é a representação de um objeto ou de um ser, que só tem valor pelo o que representa, e as honras, que recebe relativamente, redundam sobre o objeto ou a pessoa representada, que só recebe as homenagens absolutas.
                O ídolo, ao contrário, é honrado por si mesmo, porque lhe se tributa um poder intrínseco, em que se põe a confiança, honrando-o como tal. E, pois, colocar a criatura no lugar de Deus é o crime gravíssimo da idolatria.
                As nossas homenagens referem-se, não a imagens, mas aos originais que elas representam. Quando se honra a imagem, honra-se o ente que ela representa.
                O ato que se diz adoração da imagem é realmente a adoração do próprio Cristo, pela imagem representado.
                O homem é em toda parte e em todo tempo naturalmente propenso a honrar as imagens dos entes que lhe são caros.
                Os próprios protestantes, que nos censuram, nos imitam. Eles, como nós, honram os retratos de seus amigos, de sua mãe, de seu pai, dos seus homens ilustres e a bandeira da sua nação. Mesmo em seu culto religioso eles usam de imagens. Eles honram a Bíblia, que consta de papel e de tinta, unicamente porque ela nos recorda as palavras e os ensinamentos de Deus.
                Mais que isso: Por uma flagrante contradição, enfeitam a Bíblia e outros livros com imagens de Cristo, de Maria Santíssima e até de santos... e depois gritam contra os católicos! É uma incoerência sem nome.
                Fatos notórios provam que Deus aprova a invocação dos santos e a veneração das santas imagens, pois que ele concede favores extraordinários diante destas imagens.
                Em Lourdes, em La Salette, em Pontmain, em Fátima, em Beauraing (Bélgica), Deus opera diariamente curas miraculosas em favor dos que lhe pedem, por intercessão da Virgem Imaculada e diante de sua venerada imagem.
                De outro lado, as imagens são verdadeiros livros que ensinam a prática das virtudes. Assim, contemplando a imagem de S. Sebastião, nós aprendemos o dever de confessar a nossa fé, mesmo diante dos inimigos da nossa religião. Contemplando a imagem de S. Vicente, aprendemos a prática da caridade e da dedicação ao próximo. Um S. Francisco Xavier nos ensina o zelo das almas. — Um S. Francisco de Assis nos mostra o desapego das riquezas. — Um S. Francisco de Sales nos prega a mansidão. — Um S. José nos indica o valor de uma vida trabalhosa. — Um S. Miguel nos recorda a justiça de Deus. — Uma S. Teresinha nos prega a confiança filial e no amor de Deus.
                Contemplando a imagem da Santíssima Virgem, aprendemos a prática da sublime virtude da pureza.
                Considerando a imagem do Coração de Jesus, lembramo-nos do amor que Deus tem aos homens.
                Fitando a imagem de Jesus crucificado, aprendemos a sofrer com paciência e resignação.
                Desprezando as críticas insensatas dos protestantes, continuemos, pois, a fazer, a adquirir, a honrar e venerar as sagradas imagens. É lícito, é útil, de consolação e de virtude. Nunca foi proibido, foi até ordenado pelas palavras e pelos exemplos de Deus, como correspondendo às grandes e íntimas aspirações do espírito e do nosso coração.
                Eles, protestantes, se consentem, sem se indignar, que se rasguem em sua presença e por desprezo os retratos de sua mãe e de seu pai, são indignos de ouvir soar aos seus ouvidos o doce nome do filho, e de pronunciar com seus lábios os nomes sagrados de mãe e de pai.
                E se, por acaso, não consentem nesse desacato feito à representação destes entes, que lhes devem ser tão caros, então são nossos injustos e perversos censores.
                Terão eles a coragem e a sinceridade de declarar-se convencidos de verdades tão claras? Não o sabemos. Neste caso só lhes fica o ditado popular: “Mais cego é quem não quer ver, do que quem não tem olhos!”

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