segunda-feira, 1 de março de 1999

O Único Mediador

CAPÍTULO XIX

O ÚNICO MEDIADOR

A 14ª objeção do famoso repto protestante é de citar um texto que prove que há mais de um mediador. Tal objeção denota de novo grande ignorância da Bíblia e da significação dos termos, e visa sobretudo o culto da Santíssima Virgem Maria, invocada pelos católicos sob o título de medianeira.

Demos-lhe, pois, a resposta clara e bíblica.

I. Cristo Mediador
Só há um Deus, diz S. Paulo, e só há um mediador entre Deus e os homens.
Esta verdade é repetida diversas pelo Apóstolo (Gál 3, 20; Heb 8, 6; 9, 15; 12, 24). E este mediador é Jesus Cristo homem (1 Tim 2, 5).
Eis a verdade básica, que os católicos e protestantes aceitam integralmente e sem discussão.
Donde vem a discordância? Unicamente pela tendência perversa dos amigos protestantes, em quererem protestar, até nos pontos onde não há possibilidade de protesto, nem sombra de razão de protesto.
Nunca a Igreja Católica admitiu outro mediador entre Deus e os homens, senão Jesus Cristo; e isso pela razão admiravelmente exposta pelo Apóstolo: Cristo nos deu um novo testamento, mas, onde há um testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois o testemunho não se confirma senão quanto aos mortos (Heb 9, 16-17).
Tudo isso é positivo e claro. – Por que então discutir? Cristo ofereceu-se, morreu derramando seu sangue divino, e por isso é mediador do novo testamento (Heb 9, 15).
Por que os católicos invocam a imaculada Mãe de Jesus, como medianeira das graças?
Eis que a palavra medianeira, aplicada à Virgem Santa, levanta e exalta a natural aversão dos protestantes à mãe de Jesus.
Não havia razão para isso, pois os católicos não perturbam em nada a ordem estabelecida e não pretendem, como julgam os amigos protestantes, colocar um outro mediador ao lado de Cristo.
Tal asserção denota simplesmente uma ignorância estupenda, ou, então, resolução de querer protestar, seja como for.
Examinemos bem, pois, a tal mediação, atribuída à Virgem Maria.

II. Maria Santíssima Medianeira
O único mediador, entre Deus e os homens, é Jesus Cristo. Note bem, amigo protestante. Os católicos colocam aqui, a Virgem Santíssima, não diretamente entre Deus e os homens, mas sim entre Cristo e os homens, o que é essencialmente diferente.
A teologia católica diz: Mediatrix ad Christum mediatorem: isto é, Medianeira junto a Cristo mediador. Deste modo, Cristo fica o único mediador entre Deus e os homens; e a Virgem Maria fica uma medianeira junto a Cristo; em outros termos: o mediador principal e perfeito é Cristo; sendo Maria Santíssima uma medianeira ministerial e dispositiva.    
Neste sentido, todos os santos são intercessores, medianeiros, junto a Cristo, sendo-o a Virgem Santa, pela sua qualidade de mãe de Deus, de um modo mais excelente e eficaz.
Eis a doutrina muito simples e muito lógica.
Deus, o Pai e Senhor de tudo. Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens. Maria Santíssima, medianeira entre Cristo e os homens, de um modo mais excelente, mas na mesma ordem do que todos os santos.

I.                    A dupla mediação

Tal é a mediação particular da Virgem Santíssima.
Ao lado desta mediação exerce ela ainda uma mediação geral, ao lado do mediador único, que é Jesus Cristo.
Maria SS. é Medianeira entre Jesus Cristo e os homens; ela é também Medianeira entre Deus e os homens, desta vez ao lado do seu divino Filho.     
Esta segunda mediação resulta da unidade da obra redentora. A obra redentora – este ponto é o eixo sobre o qual giram todas as outras obras divinas – não é simplesmente a paixão e morte do Salvador, como o pensam os protestantes, mas é o conjunto de tudo o que se refere a ela, na preparação, na execução e na aplicação. A obra redentora, nos desígnios divinos, é uma só: é a nossa salvação por Jesus Cristo.
Estas três partes são, e devem ficar, inseparavelmente unidas, de tal modo que os elementos que constituem a primeira parte, devem encontrar-se na segunda e na terceira.
Sendo certo que Maria teve a sua parte ativa, ao lado de Jesus, na obra redentora, pelo fato mesmo, ela deve ter parte na obra de nossa salvação e em todas as graças que nos são dadas, em vista do Redentor, pois tudo isso é uma única e mesma obra redentora.
E tudo isso é ligado à maternidade divina. E Maria, devendo ser a mãe de Jesus, o é necessariamente no Jesus inteiro, de Jesus como pessoa e como enviado de Deus. Pelo fato de sua cooperação na Encarnação, Maria SS. cooperou em nossa redenção e em nossa salvação.
São estas as três partes constitutivas da obra redentora. Deste modo nós somos devedores a Maria de Jesus inteiro: é Jesus como resgate e como fonte do todas as graças.
Logo Deus nos dando Jesus, por Maria, dá-nos tudo por Maria; e ela se torna verdadeiramente associada à redenção, ou, em outros termos, co-redentora... A medianeira, ao lado de Jesus, entre Deus e os homens. Tal é a dupla mediação da Virgem Santíssima.
Para refutar os erros protestantes a esse respeito, repitamos que isso não significa de modo algum que nós aceitamos um mediador ao lado do mediador único, ou que a mediação de Jesus nos parece insuficiente, ou que atribuímos qualquer coisa a Maria, fora de Jesus.
Nada de tudo isto. Maria está, ao lado de Jesus-mediador, para constituí-lo mediador perfeito, neste sentido que ela ocupa na mediação da vida a parte que Deus lhe outorgou; como Eva estava ao lado de Adão, na mediação da morte.
Em ambos os sentidos aqui indicados, o nome de medianeira inclui para Maria SS. a dupla cooperação à obra redentora, acima exposta: cooperação pela sua ação na terra, cooperação pela sua intercessão no céu.
Estas duas mediações são universais, como é universal a mediação de Jesus, e se estendem a todas as gerações que nos são concedidas em vista de Jesus.
Numa das orações da festa da medalha milagrosa, a Igreja adota integralmente esta opinião, dizendo: Senhor, Deus onipotente, que quisestes que recebamos todos os bens pela Mãe Imaculada de vosso Filho, concedei-nos, pelo auxílio de uma Mãe tão poderosa, etc.
É o que a piedade cristã exprime neste axioma clássico: tudo por Jesus, nada sem Maria!
          
IV. O necessário e o útil
Podíamos mostrar, com outros argumentos, a lógica e o fundamento desta mediação, dizendo que a mediação de Jesus Cristo é uma mediação necessária, e a da Virgem Santíssima, uma mediação útil.
A seguinte comparação é de Carlos de Laet: podemos dizer que sem água não podemos viver: a água é, pois, necessária; porém, podemos ir buscar esta água ao longe, na fonte, como pode ser-nos transmitida por encanamento e chegar, deste modo, até dentro de casa, poupando-nos fadiga e tempo, para ir captá-la em cima dos montes. Tal encanamento não é necessário, porém é muito útil. Imagine-se agora que um homem venha dizer-nos: “não vos é necessário tal encanamento; urge, pois, destruí-lo, porque necessário é só a nascente”. Que diria o meu amigo protestante a tal homem? Diria, de certo, o que o católico dirá: “É verdade que só a água é necessária, porém o encanamento é de suma utilidade”.
Eis o que ensina a Igreja Católica: só a mediação de Cristo é necessária, mas a da Virgem Santa é sumamente útil. Cristo é a nascente, a fonte; Maria Santíssima é o canal, que nos transmite a água cristalina da graça divina. “Aquaeductus gratiarum”, como dizem os teólogos e os santos padres.

V. Outra comparação
Suponhamos, amigo protestante, que o presidente da república só a nossa pátria, auxiliado por um ministro de confiança, por cujas mãos passassem todas as nomeações e cargos inferiores. Tal ministro será, deste modo, o único mediador entre o presidente e o povo. Suponhamos que tal ministro tenha junto a si a sua própria mãe, a quem muito estima, sem que ela tome parte na direção dos negócios públicos. Um belo dia, eis que o amigo protestante precisasse de um emprego, de um favor qualquer. Que faria o amigo?       
Usaria de um pouco de diplomacia, e podendo entrar em relação com mãe do ministro, falaria com ela, para que intercedesse junto ao filho, a fim de alcançar-lhe o benefício almejado. Não seria isso lógico, natural? E podia o ministro ficar ofendido por não ter o suplicante recorrido a ele? De certo que não. Ao contrário, o pedido do amigo protestante, apresentado ao ministro pela própria mãe deste, adquiria duplo valor: o do pedido e o da intercessão.
Ainda assim fazem os católicos. Reconhecem que Deus é a fonte e o autor de todo o bem; reconhecem que Jesus Cristo é o único mediador necessário, mas reconhecem que, junto a ele, tem um valor extraordinário a sua Santíssima Mãe, e recorrem a ela como medianeira secundária de grande utilidade para que interceda por eles junto ao seu divino Filho.

Conclusão

Está vendo, caro amigo protestante, que é inútil citar trechos da Bíblia, para provar uma verdade que a Igreja Católica reconhece e aceita.
É inútil refutar objeções, que só existem na cabeça daqueles que a fabricam, sem indagar ou saber o que eles objetam, se existe ou tem, pelo menos, qualquer razão de existir. Que serve provar que o Sol existe, quando ninguém nega a sua existência?
Por que atribuir à Igreja Católica erros, que ela não possui, ou doutrinas, que ela não professa? Tudo isso, de novo, mostra ou uma ignorância sem igual, ou então uma leviandade sem nome.
Peço, pois, reter bem esta conclusão, que o senhor quer provar sem que ninguém o negue: só há um Deus, e só há um mediador entre Deus e os homens, o qual é Jesus Cristo (1 Tim 2, 5).   
          Os santos, por serem amigos de Deus, são intercessores junto de Deus, porém secundariamente.
          Acima de todos os santos, elevada pela sua dignidade de Mãe de Deus, está a Virgem Santíssima, verdadeira medianeira entre Jesus e os homens, medianeira entre Deus e os homens, pois o seu Filho é Deus; porém medianeira secundária, não absolutamente necessária, mas sumamente útil para nós homens.
          Eis porque os católicos têm em vista apresentarem-se a Jesus Cristo, acompanhados pela Virgem Santa, para, deste modo, dar mais valor às suas preces e serem mais bem acolhidos pelo único mediador necessário, isto é, Cristo Jesus, o Filho de Maria.
Como isto é lógico, suave, consolador e, sobretudo, esperançoso!

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