quinta-feira, 29 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Coroa das Sete Alegrias de Maria
                                        (Devoção franciscana desde o Século XV)
Como se reza a coroa das Sete Alegrias de Nossa Senhora:
Em Nome do Pai... Creio em Deus Pai, Pai Nosso e 3 Ave Maria


1ª Alegria – A Anunciação do Anjo
Maria, saudamos-te como o Anjo Gabriel, “Alegra-te de graça, o Senhor está contigo...conceberás em teu seio e darás a luz um filho a quem porás o nome de Jesus.” Lc. 1, 26-38Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
2ª Alegria – A visita a Santa Isabel
Alegramo-nos contigo quando foste a casa de Zacarias e saudaste Isabel, que ao ouvir-te, ficou cheia do Espírito Santo. Recebemos-te com fez Santa Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é fruto do teu ventre!” Lc 1, 39-56 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
3ª Alegria – Nascimento de Jesus
Maria, contigo nos alegremos por este presente que nos deste “E deu à Luz seu filho primogênito, reclinou-o num presépio...” Com os anjos e pastores digamos “Glória a Deus nas Alturas e paz aos homens e mulheres de boa vontade.” Lc 2, 4-20 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
4ª Alegria – A Adoração dos Reis Magos
Alegremente, juntemo-nos aos três sábios que creram e com humildade adoraram ao Menino Deus. “Entrando na casa encontraram o menino com Maria sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram... ofereceram como presentes: ouro, incenso e mirra.” Mt. 2, 1-12 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
5ª Alegria – O Encontro do Menino Jesus no Templo
Nossa alegria se junta à tua Maria, quando encontraste a Jesus no Templo e pudeste abraçá-lo. “Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.” Lc. 2, 41-50 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
6ª Alegria – Maria Vê a Jesus Ressuscitado
Contigo Maria, nos regozijamos e nos alegramos por Cristo ressuscitado e vivo no meio de nós; pois o sepulcro vazio está. “... por que buscai entre os mortos aquele que vivo está? Não aqui, mas ressuscitou.” Lc, 24, 1-12 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai.
7ª Alegria – A Assunção de Maria e sua Coroação no Céu
Sentimos alegria contigo Maria, porque atingiste a PLENITUDE DA VIDA e está junto a vosso Filho amado, coroada rainha do céu e da terra. Mãe Co-redentora, intercessora e auxiliadora nossa, te saudamos. Jo 2, 1-12 Pai Nosso, 10 Ave Maria e 1 Glória ao Pai. Rezar ou cantar o MAGNIFICAT. Lc 1, 46-55
Não é uma Missa especificamente católica
Dom Antônio de Castro Mayer
13 de janeiro de 1985

 
Pela Fé

Começo de Ano é tempo de bons propósitos. Olha-se para trás, e percebem-se salientes os defeitos e más ações, avolumadas no decurso do ano anterior. Sobretudo os maus hábitos, adquiridos ou consolidados.

Sob o ponto de vista da Fé - o mais importante, porque nos relaciona com Deus e condiciona nosso destino eterno - o ano findo registrou um profundo abalo: - Dogmas, fixados já em definições conciliares, foram simplesmente afastados, ou melhor, negados, na orientação oficial, dada aos fiéis. - "Fora da Igreja não há salvação", afirmou o IV Concílio de Latrão, o de Florença e vários Papas; - "O Espírito Santo serve-se também de outras crenças para encaminhar as almas ao Céu" - ensina, em sentido contrário, o Concílio Vaticano II. - E o grande mestre, como tal considerado na Igreja instalada, é o Vaticano II. Não se enganaria quem disse que, na igreja nova, com o Vaticano II começou ou recomeçou a Igreja de Cristo.

Em tais condições, que antídoto proporcionar aos fiéis contra a heresia continuamente destilada pelo concílio joaneo-pauliano? - É preciso verificar qual a alavanca de que se servem os fautores do Vaticano II, para incessantemente manter presente, atuando sobre os fiéis o espírito novo do Concílio. - Conhecida a alavanca, opõe-se-lhe energia neutralizante.

Ora, a alavanca do Concílio é o "Novus Ordo Missae" de Bugnini-Paulo VI. A base, com efeito, dessa nova Missa solapa a estrutura da própria Igreja. Pois, desconhece a distinção ontológica entre clérigos e leigos. Na nova Missa, todos, padres e leigos, são igualmente sacerdotes, operando conjuntamente o Sacrifício da Missa. É, aliás para isso que se congregam. Leia-se o nº 7 da "Institutio" que precede e explica o Novus Ordo, e se encontra no Missal de Paulo VI. Por isso mesmo, a missa de Paulo VI serve também para os Protestantes. Não é uma missa especificamente católica.

E chegamos ao antídoto contra a heresia que deturpa e elimina a Fé Católica - manter estrita fidelidade à Missa chamada de S. Pio V, e fazer dela a característica do verdadeiro católico.



(Cf. Monitor Campista - 13.01.85)

Eu conservo a Missa Tradicional
Declaração do Reverendíssimo Pe. Calmel, OP
 

Eu conservo a MISSA TRADICIONAL, aquela que foi codificada, não fabricada, por São Pio V. no século XVI, conforme um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ORDO MISSAE de Paulo VI.

 Por quê? Porque na realidade, este Ordo Missae não existe. O que existe é uma Revolução litúrgica universal e permanente, patrocinada ou desejada pelo Papa atual, e que se reveste, momentaneamente, da máscara de Ordo Missae de 3 de abril de 1969. É direito de todo e qualquer padre recusar-se a vestir a máscara desta Revolução litúrgica. Julgo ser meu dever de padre recusar celebrar a Missa num rito equívoco.

 Se aceitarmos este rito, que favorece a confusão entre a Missa católica e a Ceia protestante — como o dizem de maneira equivalente dois cardeais e como o demonstram sólidas análises teológicas — então cairemos sem tardar de uma Missa ambivalente (como de fato o reconhece um pastor protestante) numa missa totalmente herética e, portanto, nula. Iniciada pelo Papa, depois abandonada por ele às igrejas nacionais, a reforma revolucionária da Missa seguirá sua marcha acelerada para o precipício. Como aceitar ser cúmplice?



Perguntar-me-iam: Mantendo a Missa de sempre, em oposição a todos e contra todos, o senhor refletiu a que se expõe? Sim. Eu me exponho, se assim posso dizer, a perseverar no caminho da fidelidade a meu sacerdócio, e, portanto, prestar ao Sumo Sacerdote, nosso Supremo Juiz, o humilde testemunho de meu oficio de padre. Exponho-me a dar segurança aos fiéis desamparados, tentados de cepticismo ou de desespero. De fato, todo e qualquer padre que conserve o rito da Missa codificado por São Pio V, o grande Papa dominicano da Contra-reforma, permitirá aos fiéis participar do Santo Sacrifício sem equívoco possível; comungar, sem risco de ser enganado, o Verbo de Deus Encarnado e imolado, tornado realmente presente sob as sagradas espécies. Aliás, o padre que se submete ao novo rito, inteiramente forjado por Paulo VI, colabora, de sua parte, para instaurar progressivamente urna Missa falsa, em que a presença de Cristo já não será real, mas transformada num memorial vazio; e por isso mesmo o Sacrifício da Cruz já não será real e sacramentalmente oferecido a Deus; enfim, a comunhão não passará de uma ceia religiosa em que se comerá um pouco de pão e se beberá um pouco de vinho; nada mais do que isso; como entre os protestantes.



Não consentir em colaborar para a instauração revolucionária de uma missa equívoca, orientada para a destruição da Missa, será entregar-se a certas desventuras temporais, e certas desgraças neste mundo? O Senhor o sabe, e Sua graça basta. Na verdade, a graça do Coração de Jesus, que chega até nós pelo Santo Sacrifício e pelos Sacramentos, sempre é suficiente. É por isso que Nosso Senhor nos diz tão tranqüilamente: "Aquele que perder a sua vida neste mundo por minha causa, salva-la-á na vida eterna”.



Reconheço sem nenhuma hesitação a autoridade do Santo Padre. Afirmo, no entanto, que qualquer Papa, no exercício de sua autoridade, pode cometer abusos de autoridade. Sustento que Paulo VI comete um abuso de autoridade de gravidade excepcional quando constrói um rito novo da Missa baseado numa definição de Missa que deixou de ser católica. “A Missa”, escreve ele em seu Ordo Missae, “é a reunião do povo de Deus, presidida por um sacerdote, para celebrar o memorial do Senhor”. Esta definição insidiosa omite propositadamente aquilo que faz católica a Missa católica, sempre irredutível à ceia protestante. Porque na Missa católica não se trata de um memorial qualquer, o memorial é de tal natureza, que contém realmente o Sacrifício da Cruz, porque o Corpo e o Sangue de Cristo se tornam realmente presentes por virtude da dupla consagração. Isto aparece, de modo a não permitir engano, no rito codificado por São Pio V; mas aparece flutuante e equívoco no rito fabricado por Paulo VI.



Da mesma maneira, na Missa católica o padre não exerce uma simples presidência; marcado com um caráter divino que o põe à parte por toda a eternidade, ele é o ministro de Cristo que, por si mesmo, realiza a Missa; é inadmissível que o padre seja assemelhado a um pastor qualquer, delegado dos fiéis para liderar sua assembléia. O que é perfeitamente evidente no rito da Missa ordenado por São Pio V torna-se dissimulado, senão escamoteado, no novo rito.



Portanto, não só a simples honestidade mas infinitamente mais: a honra sacerdotal, exigem de mim não ter a impudência de traficar a Missa católica, recebida no dia de minha ordenação. E porque se trata de ser leal, e principalmente em matéria de gravidade divina, não há autoridade no mundo, ainda que seja a autoridade pontifícia, que mo possa impedir.

Outrossim, a primeira prova de fidelidade e de amor que o padre deve dar a Deus e aos homens é guardar intacto o depósito infinitamente precioso que lhe foi confiado quando o bispo lhe impôs as mãos. É primeiramente sobre esta prova de fidelidade e de amor que serei julgado pelo Supremo Juiz.



Espero, com toda a confiança, da Virgem Maria, Mãe do Sumo Sacerdote, que me conceda permanecer fiel até à morte à Missa católica, verdadeira e sem equívoco.




Tuus sum ego, salvum me fac.  


Pe. R.-TH. Calmel, O.P.
Destruir a Missa Nova
Conferência de Dom Marcel Lefebvre
14 de março de 1971

 


Qual é a crise que estamos atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu entender, sob quatro aspectos fundamentais para a Santa Igreja. Manifesta-se, à primeira vista, acredito eu, e me parece que é um dos aspectos mais graves, porque, para mim, se se estuda a história da Igreja, dá-se conta de que a grande crise que atravessou o século XVI, crise espantosa, que arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de almas, regiões inteiras, Estados na sua totalidade, esta crise foi, antes de tudo, uma crise do culto litúrgico; e que, se atualmente existem divisões entre aqueles que se dizem cristãos, há que se atribuir mais que a outras causas à forma de celebrar o culto litúrgico; e se os protestantes se separaram da Igreja, a causa principal é que os instigadores do protestantismo, como Lutero, disseram, desde o primeiro momento: "Se queremos destruir a Igreja temos que destruir a Santa Missa". Esta foi a chave de Lutero.

Tinha-se dado conta de que, se chegasse a por as mãos na Santa Missa, se conseguisse reduzir o Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma comemoração ou recordação, a uma significação da comunidade cristã, a uma rememoração ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como consequência, que ficasse mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o mais santo que nos legou Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele conseguiria destruir a Igreja. E certamente, conseguiu, por desgraça, arrebatar à Igreja nações inteiras, obrando dessa forma.



A Missa, um sacrifício

Pois bem. Hoje existe uma tendência, que ninguém pode negar, de pôr as mãos sobre a Santa Missa. Chega-se a alterar coisas que são essenciais na Santa Missa. E quais são estas coisas essenciais, na Santa Missa? Em primeiro lugar, a Santa Missa é um sacrifício. Um sacrifício não é uma refeição. Mas, na atualidade, se quis desterrar até a palavra sacrifício. Se fala de Ceia Eucarística, se fala de comunhão eucarística..., se fala de tudo o que se quer, com tal de não mencionar sequer a palavra sacrifício.

E apesar disso, a Missa é, essencialmente, um sacrifício, o Sacrifício da Cruz; não é outra coisa. Substancialmente, o Sacrifício da Cruz e o Sacrifício da Missa são a mesma coisa e o mesmo e único Sacrifício.

Não há outra mutação que na forma de oblação. Nosso Senhor se ofereceu de uma forma sangrenta, cruenta, no altar da Cruz, sendo Ele mesmo o Sacerdote e a Vítima. E sobre nossos altares, se oferece, sendo igualmente o Sacerdote e a Vítima, por ministério dos sacerdotes.

Somente o sacerdote é o Ministro consagrado pelo Sacramento da Ordem, configurado, pelo Caráter, ao Sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo o Sacrifício da Missa, na pessoa de Cristo: "in persona Christi".



A presença real

Se se tira a Transubstanciação da Missa... Já que vos falei de Sacrifício, falemos agora da segunda coisa necessária, essencial, que é a Presença Real de Nosso Senhor, na Sagrada Eucaristia. Se se elimina a Transubstanciação... Esta palavra é de uma importância capital, porque, ao suprimi-la, se omite a presença real, e deixa, portanto, de haver Vítima.

Deixa de haver Vítima para o Sacrifício. E, portanto, deixa de haver Missa. Dizendo de outra maneira: deixa de existir Sacrifício e nossa Missa é vã. Ficamos sem Missa. (Deixou de ser o Sacrifício que nos deu Nosso Senhor, na Santa Ceia e na Cruz, e que mandou os Apóstolos o perpetuarem sobre o altar). É o segundo elemento indispensável. Primeiro, o Sacrifício, logo, a Presença Real. Falemos agora do Caráter sacerdotal do Ministro.



É o sacerdote, não os fieis

É o sacerdote o que recebeu o encargo, de Deus Nosso Senhor, para continuar o Sacrifício. E de nenhuma forma os fieis. É certo que os fieis têm de se unir ao Sacrifício, unir-se de todo coração, com toda a sua alma, à Vítima, que está sobre o altar, como deve fazer também o sacerdote. Mas os fieis não podem oferecer, de forma alguma, o Santo Sacrifício, "in persona Christi", como o sacerdote.

O sacerdote está configurado ao Sacerdócio de Cristo, está marcado para sempre, para a eternidade. "Tu es sacerdos in aeternum"... Somente ele pode oferecer verdadeiramente o Sacrifício da Missa, o Sacrifício da Cruz. E, por conseguinte, somente ele pode pronunciar as palavras da Consagração.



De joelhos!

Não é normal que os leigos se coloquem ao redor do altar e que pronunciem todas as palavras da Missa, junto com o sacerdote. Porque eles não são sacerdotes no sentido próprio em que o é o sacerdote consagrado. Tampouco podemos considerar como coisa normal o ter suprimido todo sinal de respeito à Real Presença. À força de não ver nenhum respeito à Sagrada Eucaristia, acaba por não se crer na Presença Real. E quem se atreverá a chegar, por tal caminho, a coisa parecida, depois de meditar a divina Palavra, segundo a qual "ao nome de Jesus, que se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos infernos"? Se somente ao nome há que ajoelhar-se, vamos permanecer de pé, quando está presente em realidade, na Sagrada Eucaristia?

Ao lugar onde se oferece um sacrifício, se dá o nome de altar. Por isso, não se pode aceitar, como substituto do altar, uma mesa comum, destinada às refeições, que, segundo recordava São Paulo, se encontram nos refeitórios das casas, para comer e beber. O altar tem que ser peça que não se traslade e onde se oferece e se derrama o sangue. No momento em que se converte o altar em mesa de refeitório se deixa de ser altar.



Tomado do protestantismo

Suprimir todos os altares que são verdadeiramente tais, pôr, em seu lugar, uma mesa de madeira, diante do altar que foi solenemente consagrado, é, precisamente, fazer desaparecer a noção de Sacrifício, que vimos é de importância capital para a Igreja Católica. E é desta forma como chegou e se consolidou o protestantismo. Por esta desaparição da ideia de Sacrifício, passou a Inglaterra inteira ao cisma e logo à heresia.

... Deslizando, deslizando, pouco a pouco, vamos tornar-nos protestantes, sequer sem dar-nos conta.

(Granby, Canada, 14/03/71)



Retirado do Livro "La Misa Nueva - Mons. Marcel Lefebvre" Editora ICTION, Buenos Aires 1983
Dom Marcel Lefebvre
08 de novembro de 1979

 


No decorrer destes dez anos tive a oportunidade de responder muitas vezes a perguntas que são muito graves. Me esforcei sempre em permanecer dentro do espírito da Igreja, conforme seus princípios teológicos que expressam sua fé e sua prudência pastoral manifestados dentro da teologia moral e através da experiência de sua história.

Creio poder dizer que não mudei de opinião sobre estes temas e que este pensamento é afortunadamente o da grande maioria dos sacerdotes e fiéis dependentes da Tradição infalível da Igreja.

Certamente, esta linhas são insuficientes para fazer um estudo exaustivo destes problemas. Mas se trata antes que tudo de expor claramente conclusões de forma a não se equivocar sobre as orientações e pensamento da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.



Sobre a Nova Missa

A respeito da Nova Missa destruamos imediatamente esta idéia absurda: se a Nova Missa é válida, logo se pode participar. A Igreja sempre proibiu os fiéis de assistir às Missa dos cismáticos e dos hereges, ainda se elas fossem válidas.

É evidente que não se pode participar de Missas sacrílegas, nem de Missa que ponham nossa fé em perigo.

É fácil pois demonstrar, tal como ela foi formulada pela Comissão da Liturgia, que a Nova Missa com todas as autorizações dadas pelo Concílio de uma forma oficial, e com todas as explicações de Dom Bugnini, apresenta uma aproximação inexplicável à teologia e ao culto dos protestantes.

Não aparecem muito claros e até com contraditórios, os dogmas fundamentais da Santa Missa, que são os seguintes:

- somente o Sacerdote é o único ministro;

- há verdadeiro sacrifício, uma ação sacrifical;

- a Vítima é Nosso Senhor Jesus Cristo presente na Hóstia sob as espécies de pão e vinho com seu corpo, seu sangue, sua alma e sua divindade;

- é sacrifício propiciatório;

- o Sacrifício e o Sacramento se realizam com as palavras de Consagração e não com as palavras que precedem ou seguem.



Basta enumerar algumas das novidades para demonstrar a aproximação aos protestantes:

- o altar transformado em mesa, sem a ara;

- A Missa diante do povo, em língua vernácula, em voz alta;

- A Missa tem duas partes: a Liturgia da Palavra e a da Eucaristia;

- os vasos sagrados vulgares, o pão fermentado, a distribuição da Eucaristia por leigos, nas mãos;

- o Sacrário escondido;

- as Leituras lidas por mulheres;

- a Comunhão dada por leigos.



Todas essas novidades estão autorizadas.

Pode-se pois dizer sem nenhum exagero que a maioria destas Missas são sacrílegas e que diminuem a fé, pervertendo-a. A  dessacralização é tal que a Missa se expõe a perder seu caráter sobrenatural, "seu mistério de fé", para converter-se nada mais que num ato de religião natural.

Estas Missas novas não somente não podem ser motivo de uma obrigação para o preceito dominical, senão que além disso com relação a elas há que seguir as regras da Teologia moral e do Direito Canônico, que são as da prudência sobrenatural com relação à participação ou à assistência a uma ação perigosa para nossa fé ou eventualmente sacrílega.

Deve-se dizer então que todas essas Missas são inválidas? Desde que existem as condições essenciais para a validez, ou seja, a matéria, a forma, a intenção e o sacerdote validamente ordenado, não se pode afirmar o contrário.

As orações do Ofertório, do Cânon e da Comunhão do Sacerdote que circundam a Consagração são necessárias à integridade do Sacrifício e do Sacramento, mas não a sua validez. O Cardeal Mindszenty na prisão, escondido de seus carcereiros, pronunciava as palavras da Consagração sobre um pouco de pão e vinho para alimentar-se do Corpo e Sangue de Nosso Senhor; certamente realizou o Sacrifício e o Sacramento.

À medida que a fé dos sacerdotes se corrompa e que não tenham mais a intenção que põe a Igreja (porque a Igreja não pode mudar de intenção), haverá menos Missas válidas. A formação atual não prepara os seminaristas para cumprir com a validez das Missas. O Sacrifício propiciatório da Missa não é mais o fim essencial do Sacerdote. Nada mais decepcionante e triste que ouvir os bate-papos ou comunicados dos Bispos sobre a vocação, a raiz de uma ordenação sacerdotal. Já não sabem o que é um Sacerdote.

Para julgar a falta subjetiva de aqueles que celebram a Nova Missa e dos que assistem, devemos aplicar a regra de discernimento dos espíritos segundo as diretivas da teologia moral e pastoral. Devemos atuar sempre como médicos de almas e não como juízes e verdugos, como estão tentados a fazer quem está animado por um zelo amargo e não pelo verdadeiro zelo. Que os jovens sacerdotes se inspirem nas palavras de São Pio X em sua primeira encíclica e nos numerosos textos de autores espirituais como os de Dom Chautard: "A alma de todo apostolado", Garrigou-Lagrange no II tomo de "Perfeição cristã e contemplação", e Dom Marmion em "Cristo, ideal do Monge".



Sobre o Papa

Passemos à segunda parte não menos importante. Temos realmente um Papa ou um intruso na sede de Pedro?

Felizes os que viveram e morreram antes de fazer-se essa pergunta! Há que reconhecer que o Papa Paulo VI causou e ocasionou um sério problema à consciência das católicos. Sem indagar nem conhecer sua culpabilidade na terrível demolição da Igreja sob seu Pontificado, não se pode deixar de reconhecer que acelerou as causas em todas as ordens. Alguém pode se perguntar como um sucessor de Pedro pôde em tão pouco tempo causar mais males à Igreja que a revolução de 1789?

Fatos precisos como as assinaturas estampadas no artigo VII da Instrução concernente ao Novus Ordo Missae, como também o documento da "Liberdade Religiosa" são escandalosos e dão ocasião para que algumas pessoas afirmem que esse Papa era herético e que por sua heresia deixou de ser Papa.

A consequência deste fato seria que a maioria dos cardeais atuais não o seriam e além disso seriam inaptos para a eleição de outro Papa. Os Papas João Paulo I e João Paulo II não teriam sido então eleitos legitimamente.

É então inadmissível rezar por um Papa que não o é e conversar com aquele que não tem nenhum título para sentar na cadeira de Pedro. Como diante do problema da invalidez da nova missa, aqueles que afirmam que não há Papa simplificam demasiado os problemas. A realidade é mais complexa.

Se alguém se põe a perguntar se um Papa pode ser herege descobre que o problema não é tão simples como se crê. Sobre este tema, o estudo muito objetivo feito por Xavier da Silveira mostra que um bom número de teólogos pensa que o Papa pode ser herege como doutor privado, mas não como doutor da Igreja Universal. É necessário, então, examinar em que medida o Papa Paulo VI quis empenhar sua infalibilidade nesses casos diversos onde ele firmou textos próximos da heresia, senão heréticos.

Pudemos pois observar nesses dois casos, como em muitos outros, que o Papa Paulo VI atuou muito mais como liberal que aderindo à heresia. Já que, quando se assinalava-lhe o perigo que corria, entregava um texto contraditório, agregando uma fórmula contrária ao que ele afirmava na anterior, ou escrevendo uma fórmula equívoca, o que é próprio do liberal, o qual é incoerente por natureza.

O liberalismo de Paulo VI, reconhecido por seu amigo o cardeal Daniélou, é suficiente para explicar os desastres de seu Pontificado. O Papa Pio IX, particularmente, falou muito sobre o católico liberal, que ele considerava como destruidor da Igreja. O católico liberal é uma pessoa de dupla face, em contínua contradição. Quer manter-se católico e ao mesmo tempo tem o afã de agradar ao mundo. Afirma sua fé com medo de parecer demasiado dogmático e atua de fato como os inimigos da fé católica.

Um Papa pode ser liberal e permanecer Papa? A Igreja sempre admoestou severamente os católicos liberais. Não excomungou a todos. Também aqui devemos permanecer dentro do espírito da Igreja. Devemos rejeitar o liberalismo, venha de onde venha, porque a Igreja sempre o condenou com severidade por ser contrário ao Reinado de Nosso Senhor e em particular ao Reinado Social.

O afastamento dos cardeais de mais de 80 anos e as convençõezinhas que prepararam os dois últimos Conclaves não tornam inválida a eleição desses Papas: inválida, é afirmar muito, mas, eventualmente duvidosa. Mas a aceitação de fato posterior à eleição e unânime dos cardeais e do clero romano basta para convalidar a eleição. Esse é a opinião dos teólogos.

A questão da visibilidade da Igreja é em demasia necessária para sua existência, como para que Deus possa omiti-la durante décadas.

O argumento dos que afirmam a inexistência do Papa põe a Igreja numa situação confusa. Quem nos dirá onde está o futuro Papa? Como poderia ser designado Papa onde não há cardeais? Este espírito é um espírito cismático, ao menos para a maioria dos fiéis que se afiliaram a seitas verdadeiramente cismáticas como a do Palmar de Tróia, a da Igreja Latina de Toulouse, etc.

Nossa Fraternidade rejeita absolutamente compartilhar esses raciocínios. Queremos permanecer aderidos a Roma, ao sucessor de Pedro, mas rejeitamos seu liberalismo por fidelidade a seus Antecessores. Não temos medo de dizer-lo respeitosamente mas firmemente, como São Paulo diante de São Pedro.

Por isso, longe de rejeitar as orações pelo Papa, aumentamos nossas rezas e suplicamos para que o Espírito Santo o ilumine e o fortaleça na manutenção e defesa da fé.

Por isso jamais rejeitei ir a Roma a seu chamado ou ao chamado de seus representantes. A Verdade deve afirmar-se em Roma mais que em qualquer outro lugar. Pertence a Deus quem a fará triunfar.

Como consequência, não se pode tolerar nos membros, sacerdotes, irmãos, irmãs, oblatos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que recusem rezar pelo Papa e que afirmem que todas as Missas do Novus Ordo Missae são inválidas.

Certamente sofremos por esta incoerência contínua, que consiste em elogiar todas as orientações liberais do Vaticano II e ao mesmo tempo tratar de atenuar seus efeitos.

Mas isto nos deve incitar a rogar e a manter firmemente a Tradição, mas nem por isso afirmar que o Papa não é Papa.

Para terminar devemos ter o espírito missionário que é o verdadeiro espírito da Igreja, fazer tudo pelo Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a divisa de nosso Santo Patrono São Pio X: "Instaurare omnia in Christo", restaurar tudo em Cristo, e sofrer como Nosso Senhor em sua Paixão para a salvação das almas, para o triunfo da Verdade.

"In hoc natus sum, disse Nosso Senhor a Pilatos, ut testimonium perhibeam veritati". "Eu nasci para dar testemunho da Verdade".



8 de novembro de 1979



Retirado do Livro "La Misa Nueva - Mons. Marcel Lefebvre" Editora ICTION, Buenos Aires 1983.
     
A Missa de Lutero
Conferência de Dom Lefebvre
1975

 

      Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo Ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.

 Síntese dos princípios fundamentais da Missa

      Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.

       O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.

      Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade.

      Portanto, é o Sacrifício da Cruz que se renova sobre nossos altares, e o Sacerdócio está em relação com ele, em relação essencial com esse Sacrifício. Não se compreende o Sacerdócio sem o Sacrifício, porque o Sacerdócio foi feito para o Sacrifício. Poder-se-ia dizer também: é a Encarnação de Jesus Cristo, séculos a fora: "usque ad finem temporum" (1) , o Sacrifício da Missa será oferecido.

       Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício, quis também ser nele a vítima, uma vez que é o Sacrifício da Cruz que continua, Ele quis que a vítima fosse sempre a mesma, quis ser Ele próprio a vítima. Para ser a vítima, Ele tem que estar presente, verdadeiramente presente nos nossos altares. Se Ele não estiver presente, se não houver a Presença Real nos nossos altares, não haverá vítima, não haverá Sacerdócio. Tudo está ligado: Sacerdócio, Sacrifício, Vítima, Presença Real, portanto transubstanciação.

      Aí está “o coração” do tesouro – o maior, o mais rico – que Nosso Senhor concedeu à Sua Esposa, a Igreja e a toda a humanidade. Assim podemos compreender que, quando Lutero quis transformar, mudar esses princípios, começou por combater o Sacerdócio; como o fazem os modernistas. Pois Lutero bem sabia que se o Sacerdócio desaparecesse, não mais haveria Sacrifício, não mais haveria Vítima, não haveria mais nada na Igreja, não mais haveria a fonte das graças.


Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio?

       Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio? Dizendo: “Não existe diferença entre padres e leigos. O Sacerdócio é universal”. Tais eram as idéias que ele propagava. Ele dizia que há três muros de defesa cercando a Igreja. O primeiro muro é essa diferença entre padres e leigos. (Sua Excia. Então lê): “A descoberta de que o Papa, os bispos, os padres, os religiosos compõem o Estado Eclesiástico, ao passo que os príncipes, os senhores, os artesãos, os camponeses formam o estado secular, é pura invenção, uma mentira”. Essa diferença entre padres e leigos é então uma invenção, uma mentira. Eis o que diz Lutero: “Na realidade, todos os cristãos pertencem ao estado eclesiástico”. Não há diferença, a não ser a diferença de funções, de serviço. Todos têm o Sacerdócio a partir do Batismo; têm-no em razão do caráter batismal, todos os cristãos são padres e os padres não têm um caráter especial, não há um sacramento especial para os padres, mas seu caráter sacerdotal lhes vem do caráter do Batismo. Assim também se explica esta laicização dos padres; eles não querem mais ter uma veste particular, não querem mais se distinguir dos fiéis, porque todos são padres; e são os fiéis que devem escolher os padres, eleger os seus padres.

       Tais foram os princípios de Lutero, que prossegue: “Se um Papa ou um Bispo confere a unção, faz tonsuras, ordena, consagra ou dá uma veste diferente aos leigos ou aos padres, está criando enganadores”. Todos são consagrados padres, a partir do Batismo. Os progressistas do nosso tempo não descobriram novidades.

     Há um novo livro sobre os Sacramentos, aparecido em janeiro deste ano em Paris, sob a autoridade do Arcebispo, o Cardeal Marty. Saiu há pouco. Seus autores descobriram oito sacramentos, não mais sete, porque o oitavo sacramento é a profissão religiosa. Eles dizem claramente, nesse livro, que todos os fiéis são padres e que o caráter sacerdotal vem do caráter do Batismo. Os autores, por certo, devem ter lido Lutero, transformado para eles em Padre da Igreja.


Lutero não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício

       Lutero deu também outro passo à frente, após a supressão do Sacerdócio. Ele não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício. E disse claramente que a Missa não é um Sacrifício. A Missa é uma Comunhão. Podemos então chamar a Missa de Comunhão, Ceia, Eucaristia, tudo, menos Sacrifício. Não há, portanto, Vítima, nem Presença Real, mas apenas uma presença espiritual, uma recordação ou comunhão. Foi por isso que Lutero sempre combateu as Missas privadas; foi uma das primeiras coisas feitas por ele, porque uma Missa privada não é uma Comunhão. É preciso que os fiéis comunguem. A Missa privada, então, não está conforme a verdade, é preciso suprimir todas as Missas privadas.

      Ele chamava a Eucaristia de “Sacramento do Pão”. A Eucaristia, (dizia ele), tornou-se uma lamentável maldade. Essa “maldade” da Missa provém de terem feito dela um Sacrifício. Somos forçados a constatar que não se fala mais de Sacrifício da Missa nos boletins diocesanos ou paroquiais, mas de Eucaristia, de Comunhão, de Ceia. Que singular semelhança com as teses de Lutero!


Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa

      Além disso, Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa. Ele diz que um dos fins do Sacrifício da Missa é render graças a Deus. A Eucaristia é um sacrificium laudis, mas não um sacrificium expiationis, não um Sacrifício de expiação, mas de louvor, de eucaristia. Por isso é que se certos protestantes ainda falam de Sacrifício, nunca o é no sentido de sacrifício expiatório, que remite os pecados. No entanto se trata de um dos principais fins do Sacrifício da Missa, a remissão dos pecados.

      Por isso é que os protestantes modernos aceitam o novo rito da Missa, porque, dizem eles, (isso saiu publicado em uma revista da Diocese de Estrasburgo, noticiando uma reunião de protestantes da Confissão de Augsburgo), agora, com o novo rito, é possível rezar com os católicos. (L’Eglise en Alsace de 8-12-1973 e 1-1-1974). “De fato, com as atuais formas de celebração eucarística da Igreja Católica, e com as presentes convergências teológicas, muitos obstáculos que podiam impedir que um protestante participasse da celebração eucarística estão desaparecendo e agora vai se tornando possível reconhecer na celebração eucarística católica, a Ceia instituída pelo Senhor. Temos à disposição novas orações eucarísticas, que têm a vantagem de apresentar variações à Teologia do Sacrifício”. Isso é evidente! Há duas semanas atrás, estando eu na Inglaterra, soube que um bispo anglicano adotou, ultimamente, o novo rito católico para toda a sua diocese. E declarou: “Este novo rito é muito conforme com as nossas idéias protestantes.” É pois evidente que para os protestantes, não há mais dificuldades para admitir o novo rito. Por que eles não tomam o antigo rito? Foi o que o Senhor Salleron perguntou aos padres de Taizé: “Por que dizeis que hoje podeis admitir este novo rito e não o antigo?” 

       Portanto há uma diferença entre o novo e o antigo e esta diferença é essencial; não é uma diferença acidental, porque eles não aceitam usar o antigo rito, com todas as orações dotadas de precisão e que esclarecem realmente a finalidade do Sacrifício: propiciatório, expiatório, eucarístico e latrêutico. Esta é a finalidade do Sacrifício da Missa católica que, claro no antigo rito, não o é mais no novo rito, porque não há mais Ofertório. E é também por isso que Lutero não quis Ofertório no rito dele.



Como Lutero inaugurou sua nova Missa

      Vejamos como Lutero inaugurou sua nova Missa, sua reforma. A primeira missa evangélica foi levada a efeito na noite de 24 para 25 de dezembro de 1521. Nessa primeira missa evangélica, depois da pregação sobre a Eucaristia, eles falaram sobre a Comunhão sob as duas espécies como obrigatória e sobre a Confissão como inútil, bastando a fé. A seguir, Karlstadt, seu discípulo, apresentou-se no altar, com vestes seculares, recitou o Confiteor, começou a Missa como era antes, mas somente até o Evangelho; o Ofertório e a Elevação foram supressos (pág.282), o que quer dizer que tudo o que significava idéia de Sacrifício foi retirado. Após a Consagração veio a Comunhão e muitos assistentes haviam bebido e comido, e até, tomado aguardente, antes de comungar; comungaram sob as duas espécies e o pão consagrado, (dado) nas mãos. Uma das hóstias escapole e cai em cima da roupa de um assistente. Um padre a recolhe. Uma outra cai no chão e Karlstadt diz aos leigos para apanhá-la; e como eles se recusam, por respeito ou temor, ele declara: “Que ela permaneça onde está, pouco importa, contanto que não se pise em cima”. Pouco depois ele próprio a apanhou (pág.282). Muitos leigos, inúmeras pessoas estavam contentes com a novidade e eram muitos os que vinham assistir a essa nova Missa evangélica, porque uma parte era dita em língua alemã, e eles diziam que compreendiam melhor. Então os mosteiros começaram a se esvaziar. Lutero tinha declarado: “Eu conservarei o meu hábito, meu modo de me apresentar como monge”, mas muitos monges saíram; alguns ficaram nos mosteiros, mas a maioria se casou. Reinava grande anarquia entre os padres. Cada um celebrava sua missa como queria. O Conselho não sabia mais o que fazer (pág.285), tomando então a resolução de fixar uma nova liturgia, de não mais deixar a liberdade e de por um pouco de ordem. A maneira de celebrar a Missa deveria ser então a seguinte: Intróito, Glória, Epístola, Evangelho, Sanctus. Depois havia uma pregação; Ofertório e Cânon ficavam supressos; o padre então pronunciava a instituição da Ceia, que ele proferia, em voz alta, em alemão e distribuía a Comunhão sob as duas espécies. Depois vinha o Agnus Dei e o Benedicamus Domino, para terminar.

     As modificações da Consagração introduzidas no Novus Ordo são semelhantes às que foram introduzidas por Lutero; as palavras essenciais da Consagração não são mais unicamente as palavras da forma, tais como sempre tinham sido conhecidas: “HOC EST CORPUS MEUM. HIC EST CALIX SANGUINIS MEI,” e as palavras que lhe seguem. Não! A partir de então, as palavras essenciais começam nos seguintes termos: “Ele tomou o pão”, até as palavras após a consagração do vinho: “HOC FACITE IN MEAM COMMEMORATIONEM”. Lutero disse a mesma coisa. Por que? Porque se lê a narrativa da Ceia. “É uma narrativa, não uma ação, não um Sacrifício, não uma ação sacrifical, mas um simples memorial”. Por qual razão nossos inovadores o copiaram de Lutero?

       Lutero diz também: “As Missas e as Vigílias estão encerradas. O Ofício será conservado, assim como as Matinas, as Horas menores, as Vésperas, Completas, mas somente o Ofício ferial. Não se comemorará mais santo algum que não esteja expressamente nomeado na Escritura”. Desse modo, ele mudou completamente o Calendário, exatamente como foi feito atualmente (pág.309).

      Donde podemos concluir: A atual transformação é idêntica à de Lutero. Um último exemplo, o das palavras da Consagração do pão: “HOC EST CORPUS MEUM, QUOD PRO VOBIS TRADETUR”. Também Lutero acrescentou essas últimas palavras, porque, justamente são palavras da Ceia, pois ele pretendia que a Ceia não fosse um Sacrifício, mas uma refeição.

       Ora, o Concílio de Trento diz explicitamente: Quem disser que a Ceia não é um Sacrifício seja anátema. A Ceia foi um Sacrifício. E nossa Missa é a continuação da Ceia, porque a Ceia foi um Sacrifício. Isso já se constata na separação prévia do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. O Sacrifício já estava significado por essa separação, no entanto Lutero afirma: “Não. A Ceia não é um Sacrifício”, é por isso que nós devemos repetir todas as palavras que Nosso Senhor disse na Ceia, ou seja: “HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR”, que será entregue por vós sobre a Cruz.


Por que imitar tão servilmente Lutero na Nova Missa?

       A única razão que se pode aduzir é a do Ecumenismo. Pois sem esse motivo, nada se pode compreender dessa reforma. Ela não tem absolutamente vantagem alguma, nem teológica, nem pastoral. Nenhuma vantagem a não ser a de nos aproximar dos protestantes. Podemos legitimamente pensar, que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?!

      Lutero, em janeiro de 1526, promoveu a impressão de um novo ritual para as cerimônias da Missa. No seu pensamento, ele queria a liberdade total. E dizia (pág.314): “Se possível, eu gostaria de dar total liberdade aos padres, para fazerem o rito que quiserem; mas há o perigo de abusos, então é preciso estabelecer regras”. Seu pensamento, porém era de liberdade total. E também de igualdade entre os padres e os fiéis. E assim, todos os fiéis sendo padres, poderiam, também eles, ter idéias de como criar o culto. Então, todos juntos, aqueles que são padres, aqueles que têm uma função especial, aqueles que são escolhidos dentre os fiéis, todos juntos podem demonstrar sua criatividade no culto.

      Mas como era um pouco difícil, acabaria havendo bastante desordem, então ele escreveu um ritual. Nessa ocasião ele dizia também: “O uso do latim é facultativo”. Ele não era absolutamente contra o latim. Queria até que as crianças aprendessem latim. Mas também dizia: “O desejo dos leigos comuns de ter uma Missa em alemão é perfeitamente legítimo. Contudo há pessoas que vão à Igreja para ver novidade, para ver coisas novas. Esses, no entanto, não são verdadeiros cristãos, são curiosos, como se fossem aos turcos ou aos pagãos”.

      Nos domingos se celebra a Missa. Mas Lutero conserva a palavra Missa com certa repugnância. As vestes sagradas, as velas são ainda mantidas provisoriamente. Começa-se com o Intróito em alemão, depois o Kyrie, depois uma Oração cantada pelo celebrante, ainda voltado para o altar, não para o povo. Mas para a Epístola e para o Evangelho, cantados em alemão, se voltará para o povo, quando então todos cantam o Credo em língua vulgar (pág.316).

      O celebrante dirá uma paráfrase do Pater, uma exortação à Comunhão, depois vem a Consagração, que será cantada, em alemão, assim: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão, rendeu graças e o partiu e apresentou a seus discípulos e disse: Tomai e comei, isto é o meu Corpo que é dado por vós”. – HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR; estas são as palavras exatas –. “Fazei isto todas as vezes que o fizerdes, em memória de mim. Do mesmo modo, Ele tomou também o cálice, após a Ceia e disse: Tomai e bebei dele todos, este é o cálice, um novo Testamento em meu Sangue, que é derramado por vós, para a remissão dos pecados”. Não disse PRO VOBIS ET PRO MULTIS, fez desaparecer as palavras PRO MULTIS e também MYSTERIUM FIDEI. (pág. 317)

Mysterium fidei e pro multis desapareceram... “Que é derramado por vós, para a remissão dos pecados, fazei isso todas as vezes que beberdes esse cálice em memória de mim”. Essas palavras que Lutero dizia ser a consagração, portanto as palavras essenciais, correspondem exatamente às palavras do documento da Congregação do Culto. A única expressão a mais é pro multis, que restou no documento do Vaticano. Mas todas as palavras, assim como as que são ditas antes: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor tomou o pão”, essas palavras não são da forma; nunca a Igreja disse que as palavras, que precedem a Consagração, fazem parte da forma do Sacramento.

     Depois da elevação, que Lutero conservou até 1542, vinha a Comunhão na mão. Uma última oração – a coleta – terminava a Missa como a Postcomunio dos católicos (págs.317-318).
     Evidentemente Lutero não aceitou o celibato e lutou contra os votos dos religiosos. Ele queria o fim desses costumes da Igreja. Mas, coisa bastante curiosa, ele sempre teve certo medo das reformas que ele tinha feito. Seus discípulos iam à vanguarda, mais depressa do que ele; ele sempre estava um pouco ansioso. Dizia a seus discípulos: “Eu condeno a nova prática de dar a Eucaristia de mão em mão, bem como o uso irrefletido da Comunhão sob as duas espécies”. Isso nos primeiros tempos, depois ele aceitou; mas logo de começo lhe parecia que essa Comunhão na mão não era boa coisa.
     Depois de ter dito que a Confissão não era necessária, mesmo para aqueles que tinham pecados graves, hesitou e disse: “A Confissão é boa, mas se o Papa me pedir para me confessar, eu me recusarei a fazê-lo, eu não me quero confessar. Nem por isso eu aceito que alguém me proíba essa confissão secreta. Eu não a cederei nem por todos os tesouros da terra, porque eu sei o que ela já me proporcionou de força e de consolação...”
      Lutero estava roído de remorsos, no entanto vivia devorado pela necessidade de fazer novidades, de mudar tudo, de ir contra o Papa, contra a Igreja Romana, contra o dogma. Por isso ele continuou sua reforma.


A reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero

      É evidente que a reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero. Eu disse isso, em Roma, a muitos Cardeais: “Vossa nova Missa é a Missa de Lutero!” A isso me foi respondido: “Mas então ela é herética!” E eu respondi: “Não, ela não é herética, mas é ambígua, equívoca, pois um pode celebrá-la com a fé católica integral do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação e outro pode celebrá-la sem ter essa intenção e, nesse caso, a Missa não será mais válida. As palavras que ele pronuncia e os gestos que ele faz não o contradizem. Ela é equívoca, sim, equívoca. E certamente Lutero, durante muitos anos, a celebrou validamente, quando ele ainda não estava contra o Sacrifício, quando ele era ainda mais ou menos católico. Porém, mais tarde, quando ele recusou o Sacrifício, o Sacerdócio, a Presença Real, então sua Missa passou a não ter mais validade”.

      Mas como uma Missa pode ser assim equívoca? É impossível fazer isso com o antigo rito, porque ele é claro, ele é claro. O Ofertório todo diz com clareza o que nós realizamos. O Ofertório é uma verdadeira definição do Sacrifício da Missa. Por isso é que Lutero era contra o Ofertório, porque ele era por demais claro, e foi por isso que ele fez aquelas mudanças no Cânon para não deixar perceber se é uma narração ou uma ação; mas nós, nós sabemos que a Consagração é uma ação sacrifical.

      Eles sabem que em nossos antigos Missais, antes do Communicantes, está escrito infra actionem, pois não se trata de uma narração, nem de um memorial, uma simples recordação. É uma ação. Uma ação sacrifical.


Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas

       Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os padres novos, que não têm mais a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação, para os quais tudo isso não significa mais nada, esses padres novos perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz, e não celebram mais missas válidas; não há mais a Presença Real.

      Certamente os padres idosos, quando celebram conforme o novo rito, conservam ainda a fé de sempre. Celebraram a Missa no antigo rito, durante tantos anos, que conservam as mesmas intenções; então se pode crer que a Missa deles é válida. Mas na medida em que essas intenções se vão, desaparecem, nessa mesma medida as Missas deixarão de ser válidas.

       Eles quiseram se aproximar dos protestantes, mas foram os católicos que se tornaram protestantes e não os protestantes que se tornaram católicos. Isso é evidente, ninguém pode dizer o contrário.
      Quando cinco Cardeais e quinze Bispos compareceram ao “Concílio dos Jovens”, em Taizé, como esses jovens poderiam saber o que é catolicismo e o que é protestantismo? Alguns receberam a Comunhão das mãos dos protestantes, outros dos católicos.

      Quando o Cardeal Willebrands esteve em Genebra, no Conselho Ecumênico das Igrejas, declarou: “Temos que reabilitar Lutero”.Ele o disse, como enviado da Santa Sé.

      Vede a Confissão. Em que se transformou a Confissão, o Sacramento da Penitência, com essa absolvição coletiva? É acaso pastoral esse modo de dizer aos fiéis: “Nós demos a absolvição coletiva, os senhores podem comungar; quando tiverem oportunidade, se tiverem pecados graves, confessem-se no prazo de seis meses a um ano...” Quem pode dizer que esse modo de proceder é pastoral? Que idéia se poderá fazer do pecado grave?


E a Confirmação

       O Sacramento da Confirmação também está numa situação idêntica. Realmente eu penso que as palavras do livro dos Sacramentos da Comissão do Arcebispo de Paris, que constituem a forma, tornam o Sacramento inválido. Por que? Porque não há mais a significação do Sacramento na forma. O Bispo, quando confere o Sacramento da Confirmação, diz: “Signo te, signo Crucis et confirmo te Chrismate salutis, in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” e “Confirmo te Chrismate salutis”. A Confirmação: “confirmo te.”

       Agora estão dizendo: “Eu te assinalo com a Cruz e recebe o Espírito Santo”. É obrigatório esclarecer qual a graça especial do Sacramento, no qual se confere o Espírito Santo. Se não se diz esta palavra: “Ego te confirmo in nomine Patris...” Não há o Sacramento! Eu o disse também aos Cardeais, porque eles me declararam: “O senhor confere a Confirmação sem ter o direito de o fazer”. - “Eu o faço, porque os fiéis têm medo que seus filhos fiquem sem a graça da Confirmação, porque eles têm dúvida a respeito da validade do Sacramento, que é conferido atualmente nas igrejas. Não se sabe mais se é verdadeiramente um Sacramento ou não. Então, ao menos para ter essa certeza de ter realmente a graça, me pedem para crismar, e eu o faço porque me parece que eu não posso recusar aos que me pedem a Confirmação válida, pois ao menos eles recebem a graça, mesmo que não seja lícito, porque nós estamos num tempo em que o direito divino natural e sobrenatural passa à frente do direito positivo eclesiástico, já que este se lhe opõe, em vez de lhe servir de canal”.


Estamos em uma crise extraordinária

      Nós não podemos seguir essas reformas. Onde estão os frutos dessas reformas? Eu, de fato, me pergunto! Reforma litúrgica, reforma dos seminários, reforma das congregações religiosas, todos esses capítulos gerais! Onde eles estão colocando essas pobres congregações atualmente? Tudo se acabando...! Não há mais noviços, não há mais vocações...!

       Eles próprios reconhecessem que não há mais vocações. O Cardeal Arcebispo de Cincinatti o reconheceu também no Sínodo dos Bispos, em Roma: “Em nossos países (ele representava todos os países de língua inglesa), não há mais vocações, porque não sabem mais o que é o padre”.

      Nós devemos nos conservar na Tradição. Só a Tradição nos concede realmente a graça, nos proporciona realmente a continuidade na Igreja. Se abandonarmos a Tradição, passaremos a contribuir para a demolição da Igreja.


O liberalismo penetrou na Igreja através do concílio

       Também isso eu disse àqueles Cardeais! “Não vedes que o Esquema da Liberdade Religiosa do Concílio é um esquema contraditório? Na primeira parte do Esquema está dito:‘Nada muda na Tradição’, e , dentro do Esquema, está tudo ao contrário da Tradição. O contrário do que disseram Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII”.

       Portanto é preciso escolher! Ou estamos de acordo com a liberdade religiosa do Concílio e então somos contrários ao que esses Papas disseram, ou então nos conservamos de acordo com esses Papas e então nos recusamos a concordar com o que está contido no Esquema sobre a Liberdade Religiosa. É impossível estar de acordo com os dois. E acrescentei: eu me atenho à tradição, eu sou pela tradição, e não por essas novidades que constituem o liberalismo. Não é absolutamente outra coisa senão o liberalismo, que foi condenado por todos os pontífices, durante século e meio. 

      Esse liberalismo penetrou na igreja através do concílio: a liberdade, a igualdade, a fraternidade.
       A liberdade: a liberdade religiosa.
       A fraternidade: o ecumenismo.
      A igualdade: a colegialidade.

      E estes são os três princípios do liberalismo, originado dos filósofos do século XVIII, e que levou a efeito a revolução francesa.

       Foram essas idéias que entraram no concílio, por meio de palavras equívocas. 
       E agora vamos à ruína, a ruína da Igreja, porque essas idéias são absolutamente contra a natureza e contra a fé. Não existe igualdade entre nós. Não existe verdadeira igualdade. O papa Leão XIII disse isso bastante claro, em sua encíclica sobre a liberdade.

     A fraternidade também! Se não houver um pai, como acharemos fraternidade? Se não há pai, se não há deus, como podemos ser irmãos? Como se pode ser irmão, se não houver um pai comum? Impossível! Devemos então abraçar todos os inimigos da igreja, os comunistas, os budistas e todos os outros que são contra a igreja, os Maçons?

      Esse decreto de uma semana atrás, que diz que agora não há mais excomunhão para um católico que entre na maçonaria. Mas onde está a igreja? Isso é impossível! Os Mações são os inimigos tradicionais da igreja, são aqueles que querem destruir os países católicos! Quem destruiu Portugal? Quem estava no Chile? E agora no Vietnam do sul! Porque esses países são católicos! E que será da Espanha dentro de um ano, da Itália, etc...? Porque a Igreja abre os braços a toda essa gente que são inimigos dela?


Temos que rezar

       Na verdade temos que rezar, rezar; é um assalto do demônio contra a Igreja, como jamais se viu igual. Devemos rezar a Nossa Senhora, a Bem-Aventura Virgem Maria, para que Ela venha em nosso socorro, porque realmente nós não sabemos o que será de amanhã. E realmente parece que toda essa ruína trará conseqüências terríveis ao mundo. É impossível que Deus aceite todas essas blasfêmias, sacrilégios que são praticados contra Sua Glória, Sua Majestade!

      Ele tem muita paciência, mas virá o dia (quando virá, eu não sei), virá o dia do castigo, porque todas essa legalizações, leis sobre o aborto, que vemos em tantos países, o divórcio na Itália, toda essa ruína da lei moral, ruína da verdade, realmente é difícil acreditar que tudo isso se possa fazer, sem que Deus fale um dia!

      Então temos que pedir a Deus misericórdia por nós e por nossos irmãos. Mas também temos que lutar, combater. Combater para conservar a Tradição e não ter medo. Conservar, acima de tudo, o rito de nossa Santa Missa, porque Ela é o fundamento da Igreja e da civilização cristã. Quando não houver mais uma verdadeira Missa na Igreja, a Igreja acabará.


Temos que conservar esse rito, esse Sacrifício

      Portanto temos que conservar esse rito, esse Sacrifício. Todas as nossas igrejas foram construídas para esta Missa, não para uma outra Missa; para o Sacrifício da Missa, não para uma Ceia, para uma Refeição, para um Memorial, para uma Comunhão, não! Para o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que continua sobre nossos altares! Foi por isso que nossos pais construíram essas belas igrejas, não para uma Ceia, não para um Memorial, não!

     Conto com vossas orações por meus seminaristas, para fazer de meus seminaristas verdadeiros padres, que tenham fé e que possam assim, ministrar sacramentos verdadeiros e o verdadeiro Sacrifício da Missa. Obrigado.

+ Marcel Lefebvre, Arcebispo.
Superior da Fraternidade São Pio X.
História e Teologia de uma tradução traidora
 

Quando começaram a ser usadas as traduções da Missa de Paulo VI, muitos fiéis católicos não puderam ocultar sua surpresa ao ouvir as palavras da consagração do cálice: “Este é o cálice de meu Sangue, Sangue da aliança nova e eterna, que será derramada por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados”. Em efeito, o texto latim da nova liturgia dizia em realidade: “pro vobis et pro multis – por vós e por muitos”. Atribuiu-se isto naqueles tempos à traição das traduções.

Ora, a encíclica do Papa João Paolo II ‘Eucaristia de Ecclesia’ parece assumir a tradução errada, desta vez inclusive no texto latino: “Accipite et bibite omnes: hic calix novum aeternumque testamentum est in sanguine meo, qui pro vobis funditur et pro omnibus in remissionem pecatorum. (Ver Marc. 14, 24; Luc. 22, 20; 1 Cor. 11, 25). (No 2).



Versões Latinas e Gregas da Bíblia

Se consultarmos as versões latinas e gregas do Evangelho, e as edições críticas que mencionam as variantes do texto que chegou até nós, não encontraremos nada parecido. Em todos os textos da Sagrada Escritura acerca da narração da instituição da Sagrada Eucaristia (Marc. 14, 24; Mat. 26, 28), lemos ‘pro multis’, por muitos, e não ‘pro omnibus’, por todos.

É certo que o mau exemplo veio desde acima, pois um texto do concilio Vaticano II deixava já entrever este deslizamento: “... de sorte que o que uma vez obrou-se para todos em ordem à salvação, alcance seu efeito em todos no decurso dos tempos”. (Decreto ad Gentes, 3)



Interpretação do Catecismo

Poderíamos pensar que é um assunto de pouca importância e que as querelas bizantinas não influem muito sobre a fé do povo e sua salvação. Lendo o Catecismo do Concilio de Trento, percebe-se que não é assim: “As palavras que se ajuntam ‘por vós e por muitos’, foram tomadas parte de São Mateus, parte de São Lucas. A Santa Igreja, guiada pelo Espírito de Deus, coordenou-as numa só frase, para que exprimissem o fruto e a vantagem da Paixão”.

De fato, se considerarmos sua virtude, devemos reconhecer que o Salvador derramou Seu Sangue pela salvação de todos os homens. Se atendermos, porém,  ao fruto real que os homens dele auferem, não nos custa compreender que sua eficácia se não estende a todos, mas só a muitos homens.

Dizendo, pois, ‘por vós’, Nosso Senhor tinha em vista, quer as pessoas presentes, quer os eleitos dentre os judeus, como o eram os Discípulos a quem falava, com exceção de Judas.

No entanto, ao acrescentar ‘por muitos’, queria aludir aos outros eleitos, fossem eles judeus ou gentios. Houve, pois, muito acerto em não dizer ‘por todos’, visto que o texto só alude aos efeitos a Paixão, e esta sortiu efeito salutar unicamente para os escolhidos.

Tal é o sentido a que se referem aquelas palavras do Apóstolo: ‘Cristo se ofereceu uma só vez para apagar os pecados de muitos’ (Hb. 9, 28); e também as que disse Nosso Senhor no Evangelho de São João: ‘Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por estes que Vós me destes, porque eles são Vossos’ (Jo. 17, 9). (II, 4, No 24).



Distinguir entre a virtude e o efeito

O miolo da questão resume-se assim: se Jesus Cristo ofereceu sua vida no Calvário para todos os homens, pode-se dizer que todos se salvarão?

O Magistério da Igreja, no Concilio de Trento, respondeu muito claramente a esta pergunta no seu decreto sobre a justificação: “mas, ainda quando ‘Ele morreu por todos’ (2 Cor. 5, 15), nem todos, porém, recebem o benefício de sua morte, mas apenas aqueles a quem se comunica o mérito da sua Paixão” (Cap. 3; D.B. 795; D.S. 1523).

Procuremos compreender com Santo Tomás de Aquino o que significa o texto tridentino.

Quando o Aquinate fala da virtude da Paixão do Senhor, faz uma distinção dizendo que a morte redentora é suficiente para a salvação de todos os homens, mas que sua eficácia real não os salvará todos: “a Paixão de Cristo foi suficiente para todos e de sua eficácia se aproveitarão muitos” (IIIa, Q78, Art. 3, arg. 8).

É certo que a vontade divina é soberanamente eficaz, mas realiza-se segundo a natureza de cada criatura: infalivelmente quando se trata de criaturas sem alma e por tanto sem liberdade, condicionalmente quando se trata de criaturas gozando de livre arbítrio. E quem diz livre arbítrio, afirma também a possibilidade de falhar: “Deus quer com vontade antecedente que todos os homens se salvem, mas com vontade conseguinte quer que alguns se condenem, porque assim o requer a sua justiça” (Ia, Q19, Art. 6, ad 1um). “Por muitos, e também por todos, porque se consideramos o caráter suficiente, ‘Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo’ (1Jo. 2, 2). Mas se considerarmos o efeito [da Paixão], não produz efeito mais do que para os que se salvam, e isto pela culpa dos homens” (Sobre São Mateus, Cap. 26, v. 28).



Aplicação Litúrgica

Destes princípios gerais sobre a Teologia da Providência, Santo Tomás passa à aplicação litúrgica. Daí a explicação que da às palavras da Liturgia para a consagração do Cálice: “O Sangue de Cristo foi derramado suficientemente por todos, mas é eficaz apenas pelos eleitos. E para que se não acredite que tinha sido derramado apenas pelos judeus que receberam a promessa, disse: ‘por vós’ que são os judeus, e ‘por muitos’, isto é para a multidão dos Gentis” (Sentencias, Liv. IV, Dist, 8, Quest. 2, Art. 2, qc. 3, ad 7um). “Este Sangue foi derramado para remissão dos pecados, não apenas por muitos, mas por todos segundo 1 Jo. 2, 2: ‘Ele é a propiciação pelos nossos pecados, y não apenas pelos nossos, senão pelos do mundo tudo’. Porém, já que alguns se fazem indignos de receber tal efeito, em quanto à eficácia é derramado por muitos, para aqueles para os quais a Paixão produz efeito” (Sobre os Corintios, Cap. 11, lect. 6).

Por isso é sumamente conveniente que, nas próprias palavras da consagração do Preciosíssimo Sangue, estejam indicados os frutos reais e efetivos do sacrifício do Calvário. Temos de reconhecer que se todos podem alcançar a salvação, nem todos a aproveitarão do mesmo modo.



Isto não é Jansenismo?

Alguns poderiam objetar que semelhante jeito de falar se parece muito mais ao Jansenismo do que à doutrina católica, e que suscita mais temor e tremor do que esperança e caridade.

Há um abismo, porém, entre o rigorismo jansenista, condenado pela Igreja como contaminação das idéias calvinistas dentro da Igreja, e a doutrina de Nosso Senhor, transmitida até nós pela Igreja católica.



É certo que “Deus quer que todos os homens sejam salvos” (1 Tim. 2, 4) e que “a vontade de Deus é vossa santificação” (1 Tes. 4, 3). A vontade de Deus de salvar todo homem é irrefutável.

Mas por outra parte, Nosso Senhor não nos deixa ignorar as dificuldades para realizar este divino desígnio: “Entrai pela porta estreita, porque dilatada é a porta, e espaçosa a senda que leva à perdição, e são muitos quem entram por ela. Que estreita é a porta e apertada a senda que leva à vida, e quão poucos são os que dão com ela!” (Mat. 7, 13-14). “Muitos são os chamados e poucos os eleitos” (Mat. 22, 14). “Disse-lhe um: ‘Senhor, são poucos os que se salvam?’ Ele lhe disse: ‘esforçai-vos para entrar pela porta estreita porque vos digo que muitos serão os que procuram entrar e não poderão’” (Luc. 13, 23-24).



Daí o conselho do Apóstolo para nós trabalharmos à nossa salvação “com temor e tremor” (Fil. 2, 12) e as palavras de São Gregório Magno: “Muitos abraçam a Fé, mas poucos chegam até o reino celestial. Olhai que estamos muitos aqui reunidos para a festa de hoje e, no entanto, quem conhece os poucos que pertencem ao número dos eleitos? A voz de todos pronuncia o Nome de Jesus Cristo, mas não a vida de todos reproduz a vida de Jesus Cristo. A maior parte dos que seguem Deus com os lábios, afastam-se dEle com seus costumes” (Homilia 19 super Ev.).



Santo Tomás de Aquino explica na Suma Teológica a razão de tal dificuldade para corresponder à graça superabundante da Paixão redentora:
“O bem proporcionado ao estado comum da natureza acontece amiúde, enquanto a falta deste bem acontece poucas vezes. Mas o bem que ultrapassa o estado comum da natureza acontece poucas vezes, e sua falta a miúdo.
Por isto vemos que são mais numerosos os homens dotados de inteligência  suficiente para o manejo de sua vida diária, enquanto os que carecem dela, -chamados de tolos ou idiotas-, são muito menos; mas os que alcançam um conhecimento profundo das coisas inteligíveis são em proporção pouquíssimos. 
Pois, como a bem-aventurança eterna, que consiste na visão de Deus, está por cima do estado comum da natureza, y principalmente em quanto está privada da graça pela corrupção do pecado original, os que se salvam são os menos numerosos.
E, porém, nisto mesmo descobre-se a imensidade da misericórdia divina, que eleva alguns a um gênero de salvação do que muitos se vem privados, segundo o curso ordinário e a inclinação da natureza” (Ia, Q23, Art. 7, ad 3um).



Com São Pio X

Após conhecermos esta doutrina constante da Igreja, tão importante para a salvação das almas, não podemos senão nós rebelar contra as insinuações da Nova Teologia contemporânea e nós alegrar da recente decisão da Santa Sé corrigindo as traduções errôneas da fórmula de consagração do cálice. Nisso segue-se o exemplo do Papa São Pio X: “Faz alguns tempos, Pio X recebia um sacerdote, cujo nome calaremos, conhecido pelas suas opiniões modernistas. O Santo Padre fez-lhe fortes observações: ‘o senhor faz uma má obra e extravia a Igreja’.  O religioso intentou replicar: ‘Desculpe-me Santo Padre, eu quis alargar um pouco a porta!’ Então, Pio X estourou: ‘O quê! Quer ampliar a porta quando Nosso Senhor declara que é estreita. O que resulta disso, de querer ampliar a porta? Pois, os que estão adentro saem, e entre os que estão fora, ninguém entra!’”.

Pe F. Knittel, FSSPX