sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Quarta Parte
Dos Sacramentos
CAPÍTULO I

Dos Sacramentos em geral
§ 1º - Natureza dos Sacramentos

515) De que trata a quarta parte da Doutrina Cristã?
A quarta parte da Doutrina Cristã trata dos Sacramentos.

516) Que se entende pela palavra “Sacramento”?
Pela palavra Sacramento entende-se um sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo, para santificar as nossas almas.

517) Por que chamais aos Sacramentos sinais sensíveis e eficazes da graça?
Chamo aos Sacramentos sinais sensíveis e eficazes da graça, porque todos os Sacramentos significam, por meio de coisas sensíveis, a graça divina que eles produzem na nossa alma.

518) Explicai com um exemplo como os Sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça.
No Batismo, o ato de derramar a água sobre cabeça da pessoa, e as palavras: Eu te batizo, isto é, eu te lavo, em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, são um sinal sensível do que o Batismo opera na alma; porque assim como a água lava o corpo, assim a graça, dada pelo Batismo, purifica a alma, do pecado.

519) Quantos e quais são os Sacramentos?
Os Sacramentos são sete, a saber: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio.

520) Quantas coisas se requerem para fazer um Sacramento?
Para fazer um Sacramento requerem-se a matéria, a forma, e o ministro, que tenha intenção de fazer o que faz a Igreja.

521) Que é a matéria dos Sacramentos?
A matéria dos Sacramentos é a coisa sensível que se emprega para os fazer; como, por exemplo, a água natural no Batismo, o óleo e o bálsamo na Confirmação.

522) Que é a forma dos Sacramentos?
A forma dos Sacramentos são as palavras que se proferem para os fazer.

523) Quem é o ministro dos Sacramentos?
O ministro dos Sacramentos é a pessoa que faz ou confere os Sacramentos.

§ 2º - Do efeito principal dos Sacramentos, que é a graça

524) Que é a graça?
A graça de Deus é um dom interior, sobrenatural, que nos é dado sem merecimento algum da nossa parte, mas pelos merecimentos de Jesus Cristo, em ordem à vida eterna.

525) Como se divide a graça?
Divide-se a graça em: graça santificante, que se chama também habitual; e graça atual.

526) Que é a graça santificante?
A graça santificante é um dom sobrenatural, inerente à nossa alma, que nos faz justos, filhos adotivos de Deus e herdeiros do Paraíso.

527) Quantas espécies há de graça santificante?
Há duas espécies de graça santificante: graça primeira, e graça segunda.

528) Que é a graça primeira?
A graça primeira é aquela pela qual o homem passa do estado de pecado mortal ao estado de justiça, de amizade com Deus.

529) E que é a graça segunda?
A graça segunda é um aumento da graça primeira.

530) Que é a graça atual?
A graça atual é um dom sobrenatural que ilumina a nossa inteligência, move e fortalece a nossa vontade, a fim de que pratiquemos o bem e evitemos o mal.

531) Podemos nós resistir à graça de Deus?
Sim, podemos resistir à graça de Deus, porque ela não destroi o nosso livre arbítrio.

532) Só com as nossas forças, podemos nós fazer alguma coisa que nos seja útil para a vida eterna?
Sem o auxílio da graça de Deus, só com as nossas forças, não podemos fazer nada que nos seja útil para a vida eterna.

533) Como nos comunica Deus a graça?
Deus nos comunica a graça principalmente por meio dos santos Sacramentos.

534) Além da graça santificante, conferem-nos os Sacramentos mais outra graça? Os Sacramentos, além da graça santificante, conferem também a graça sacramental. 535) Que é a graça sacramental?
A graça sacramental consiste no direito que se adquire, recebendo qualquer Sacramento, de ter em tempo oportuno as graças atuais necessárias, para cumprir as obrigações que derivam do Sacramento recebido. Assim, quando fomos batizados, recebemos o direito a ter as graças necessárias para vivermos cristãmente.

536) Dão sempre os Sacramentos a graça a quem os recebe?
Os Sacramentos dão sempre a graça, contanto que se recebam com as disposições necessárias.

537) Quem deu aos Sacramentos a virtude de conferir a graça?
Foi Jesus Cristo que, por sua Paixão e Morte, deu aos Sacramentos a virtude de conferir a graça.

538) Quais são os Sacramentos que conferem a primeira graça santificante?
Os Sacramentos que conferem a primeira graça santificante, que nos faz amigos de Deus, são dois: Batismo e Penitência.

539) Como se chamam, por este motivo, estes dois Sacramentos?
Estes dois Sacramentos, isto é, o Batismo e a Penitência, chamam-se por este motivo Sacramentos de mortos, porque são instituídos principalmente para restituir a vida da graça às almas mortas pelo pecado.

540) Quais são os Sacramentos que aumentam a graça em quem a possui?
Os Sacramentos que aumentam a graça em quem a possui, são os outros cinco, isto é, a Confirmação, a Eucaristia, a Extrema-Unção, a Ordem e o Matrimônio, os quais conferem a graça segunda.

541) Como se chamam, por esse motivo, estes cinco Sacramentos?
Estes cinco Sacramentos, isto é, a Confirmação, a Eucaristia, a Extrema-Unção, a Ordem e o Matrimônio, chamam-se Sacramentos de vivos, porque aqueles que os recebem, devem estar isentos de pecado mortal, quer dizer, já vivos pela graça santificante.

542) Que pecado comete quem recebe um Sacramento de vivos, sabendo que não está em estado de graça?
Quem recebe um Sacramento de vivos, sabendo que não está em estado de graça, comete um grave sacrilégio.

543) Quais são os Sacramentos mais necessários para nossa salvação?
Os Sacramentos mais necessários para nossa salvação, são dois: o Batismo e a Penitência; o Batismo é necessário absolutamente para todos, e a Penitência é necessária para todos aqueles que pecaram mortalmente depois do Batismo.

544) Qual é o maior de todos os Sacramentos?
O maior de todos os Sacramentos é o Sacramento da Eucaristia, porque contém não só a graça, mas também ao mesmo Jesus Cristo, autor da graça e dos Sacramentos.

§ 3º - Do caráter que imprimem alguns Sacramentos

545) Quais são os Sacramentos que se podem receber uma só vez?
Os Sacramentos que se podem receber uma só vez, são três: Batismo, Confirmação e Ordem.

546) Por que os três Sacramentos, Batismo, Confirmação e Ordem só se podem receber uma vez?
Os três Sacramentos, Batismo, Confirmação e Ordem, podem-se receber uma só vez, porque imprimem caráter.

547) Que é o caráter que cada um destes três Sacramentos imprime na alma?
O caráter impresso na alma em cada um destes três Sacramentos, é um sinal espiritual que nunca se apaga.

548) Para que serve o caráter que estes três Sacramentos imprimem na alma?
O caráter que estes três Sacramentos imprimem na alma, serve para nos distinguir, no Batismo como membros de Jesus Cristo, na Confirmação como seus soldados, na Ordem como seus ministros.

CAPÍTULO II

Do Batismo

§ 1º - Natureza e efeitos do Batismo

549) Que é o Sacramento do Batismo?
O Batismo é o Sacramento pelo qual renascemos para a graça de Deus, e nos tornamos cristãos.

550) Quais são os efeitos do Sacramento do Batismo?
O Sacramento do Batismo confere a primeira graça santificante, que apaga o pecado original e também o atual, se o há; perdoa toda a pena por eles devida; imprime o caráter de cristão; faz-nos filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Paraíso, e torna-nos capazes de receber os outros Sacramentos.

551) Qual é a matéria do Batismo?
A matéria do Batismo é a água natural, que se derrama sobre a cabeça do que é batizado, de maneira que escorra.

552) Qual é a forma do Batismo?
A forma do Batismo é esta: Eu te batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo.

§ 2º - Ministro do Batismo

553) A quem compete batizar?
Batizar compete por direito aos Bispos e aos párocos; mas, em caso de necessidade, qualquer pessoa pode batizar, seja homem ou seja mulher, e até um herege ou um infiel, contanto que realize o rito do Batismo e tenha intenção de fazer o que faz a Igreja.

554) Se houver necessidade de batizar uma pessoa que está em perigo de morte, e estiverem muitas pessoas presentes, quem é que deverá batizar?
Se houver necessidade de batizar alguém em perigo de morte, e estiverem muitas pessoas presentes, deverá batizá-lo o Sacerdote, se lá estiver; na sua falta, um eclesiástico de ordem inferior, e na falta deste, o leigo homem de preferência à mulher, a não ser que a perícia maior da mulher ou a decência exijam o contrário.

555) Que intenção deve ter quem batiza?
Quem batiza deve ter a intenção de fazer o que faz a Santa Igreja ao batizar.

§ 3º - Rito do Batismo e disposições de quem o recebe já adulto

556) Como se batiza?
Batiza-se derramando água sobre a cabeça do batizando, ou, não podendo ser sobre a cabeça, sobre qualquer outra parte principal do corpo, e dizendo ao mesmo tempo: Eu te batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo.

557) Se alguém derramasse a água e outro proferisse as palavras, a pessoa ficaria batizada?
Se alguém derramasse a água, e outro proferisse as palavras, a pessoa não ficaria batizada; é necessário que seja a mesma pessoa que derrame a água e pronuncie as palavras.

558) Quando não se tem certeza de que uma pessoa está viva ou morta, deve-se deixar de batizá-la?
Quando não se tem certeza de que uma pessoa está viva ou morta, deve-se batizá-la sob condição, dizendo: Se estás vivo, eu te batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo.

559) Quando se devem levar à Igreja as crianças para serem batizadas?
As crianças devem ser levadas à Igreja para serem batizadas, o mais cedo possível.

560) Por que se deve ter tanta solicitude em levar as crianças ao Batismo?
Deve-se ter suma solicitude em levar a batizar as crianças, porque elas pela sua tenra idade estão expostas a muitos perigos de morrer, e não podem salvar-se sem o Batismo.

561) Pecam então os pais e as mães que, pela sua negligência, deixam morrer os filhos sem Batismo ou simplesmente demoram em fazê-lo?
Sim, os pais e as mães, que pela sua negligência deixam morrer os filhos sem Batismo, pecam gravemente, porque os privam da vida eterna; e pecam também gravemente, demorando muito tempo o Batismo, porque os expõem ao perigo de morrer sem o terem recebido.

562) Quando o que se batiza é adulto, que disposições deve ter?
O adulto que se batiza deve ter, além da fé, a dor, pelo menos imperfeita, dos pecados mortais que tivesse cometido.

563) Se um adulto se batizasse em pecado mortal, sem esta dor, que receberia?
Se um adulto se batizasse em pecado mortal, sem esta dor, receberia o caráter do Batismo, mas não a remissão dos pecados, nem a graça santificante; e estes efeitos ficariam suspensos, enquanto não fosse removido o impedimento pela dor perfeita dos pecados ou pelo Sacramento da Penitência.

§ 4º - Necessidade do Batismo e deveres dos batizados

564) É o Batismo necessário para a salvação?
O Batismo é absolutamente necessário para a salvação, porque o Senhor disse expressamente: Quem não renascer na água e no Espírito Santo, não poderá entrar no reino dos céus.

565) Pode suprir-se de algum modo a falta do Batismo?
A falta do Batismo pode supri-la o martírio, que se chama Batismo de sangue, ou um ato de amor perfeito de Deus, ou de contrição, junto com o desejo, ao menos implícito, do Batismo, e este ato chama-se Batismo de desejo.

566) A que fica obrigado quem recebe o Batismo?
Quem recebe o Batismo, fica obrigado a professar sempre a fé e a observar a lei de Jesus Cristo e da sua Igreja.

567) A que se renuncia ao receber o santo Batismo?
Ao receber o santo Batismo renuncia-se para sempre ao demônio, às suas obras e às suas pompas.

568) Que se entende por obras e pompas do demônio?
Por obras e pompas do demônio, entendem-se os pecados e as máximas do mundo, contrárias às máximas do Santo Evangelho.

§ 5º - Nome e padrinhos

569) Por que se impõe o nome de um Santo ao que se batiza?
Ao que se batiza, impõe-se o nome de um Santo, para o pôr sob a especial proteção de um padroeiro celeste, e para o animar a imitar-lhe os exemplos.

570) O que são os padrinhos e as madrinhas do Batismo?
Os padrinhos e as madrinhas do Batismo são aquelas pessoas que por disposição da Igreja seguram as crianças junto à pia batismal, respondem por elas, e ficam responsáveis, diante de Deus, pela educação cristã das mesmas, especialmente se vierem a faltar os pais.

571) Somos nós obrigados a cumprir as promessas e renúncias que por nós fizeram nossos padrinhos?
Sim, somos obrigados, sem dúvida, a cumprir as promessas e renúncias que por nós fizeram os nossos padrinhos, porque Deus, só mediante estas condições, nos recebeu na sua graça.

572) Que pessoas se devem escolher para padrinhos e madrinhas?
Devem escolher-se para padrinhos e madrinhas pessoas católicas e de bons costumes, e observantes das leis da Igreja.

573) Quais são as obrigações dos padrinhos e das madrinhas?
Os padrinhos e as madrinhas são obrigados a cuidar que os seus filhos espirituais sejam instruídos nas verdades da fé, e vivam como bons cristãos, edificando-os com o bom exemplo.

574) Que vínculo contraem os padrinhos do Batismo?
Os padrinhos contraem um parentesco espiritual com o batizado, e este parentesco origina impedimento de matrimônio com o mesmo.

CAPÍTULO III

Da Confirmação ou Crisma

575) Que é o Sacramento da Confirmação?
A Confirmação, ou Crisma, é um Sacramento que nos dá o Espírito Santo, imprime na nossa alma o caráter de soldados de Cristo, e nos faz perfeitos cristãos.

576) De que maneira o Sacramento da Confirmação nos faz perfeitos cristãos?
A Confirmação faz-nos perfeitos cristãos, confirmando-nos na fé, e aperfeiçoando em nós as outras virtudes e os dons recebidos no santo Batismo; e é por isso que se chama Confirmação.

577) Quais são os dons do Espírito Santo que se recebem na Confirmação?
Os dons do Espírito Santo, que se recebem na Confirmação, são sete:
1º Sabedoria,
2º Entendimento;
3º Conselho;
4º Fortaleza;
5º Ciência;
6º Piedade;
7º Temor de Deus.
578) Qual é a matéria deste Sacramento?
A matéria deste Sacramento, além da imposição das mãos do Bispo, é a unção feita na fronte da pessoa batizada, com o santo Crisma; por isso, este Sacramento se chama também Crisma, que significa Unção.

579) Que é o santo Crisma?
O santo Crisma é óleo de oliveira misturado com bálsamo, e consagrado pelo Bispo na Quinta-Feira Santa.

580) Que significam o óleo e o bálsamo neste Sacramento?
Neste Sacramento, o óleo, que se derrama e fortalece, significa a abundância da graça que se difunde na alma do cristão para o confirmar na fé; e o bálsamo, que é aromático e preserva da corrupção, significa que o cristão fortificado por esta graça é capaz de difundir o bom aroma das virtudes cristãs, e de preservar-se da corrupção dos vícios.

581) Qual é a forma do Sacramento da Confirmação?
A forma atual do Sacramento da Confirmação é esta: Recebe o sinal do dom do Espírito Santo, que substituiu a antiga: Eu te assinalo com o sinal da Cruz, e te confirmo com o Crisma da salvação, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.Assim seja.

582) Quem é o ministro do Sacramento da Confirmação?
O ministro ordinário do Sacramento da Confirmação e só o Bispo.

583) Com que cerimônias administra o Bispo a Confirmação?
O Bispo, para administrar o Sacramento da Confirmação, primeiro estende as mãos sobre os que estão para se crismar, invocando sobre eles o Espírito Santo; em seguida faz uma unção em forma de cruz com o santo Crisma na fronte de cada um, dizendo as palavras da forma; depois, com a mão direita, dá uma leve bofetada na face do crismado, dizendo: A paz seja contigo; e no fim abençoa solenemente todos os crismados.

584) Por que se faz a unção na fronte?
Faz-se a unção na fronte, onde aparecem os sinais do temor e da vergonha, a fim de que o crismado entenda que não deve envergonhar-se do nome e da profissão de cristão, nem ter medo dos inimigos da fé.

585) Por que se dá uma leve bofetada na face do crismado?
Dá-se uma leve bofetada na face do crismado para que saiba que deve estar pronto a sofrer todas as afrontas e todas as penas pela fé e amor de Jesus Cristo.

586) Devem todos procurar receber o Sacramento da Confirmação?
Sim, todos devem procurar receber o Sacramento da Confirmação e fazer que os seus subordinados o recebam.

587) Em que idade é conveniente receber o Sacramento da Confirmação?
A idade em que é conveniente receber o Sacramento da Confirmação é a de sete anos, pouco mais ou menos, porque então costumam começar as tentações e já se pode conhecer bastante a graça deste Sacramento, e conservar-se a lembrança de tê-lo recebido.

588) Que disposições se requerem para receber o Sacramento da Confirmação?
Para receber dignamente o Sacramento da Confirmação é necessário estar em estado de graça, saber os mistérios principais da nossa santa Fé, e aproximar-se deste Sacramento com reverência e devoção.

589) Cometeria pecado quem recebesse a Confirmação uma segunda vez?
Cometeria um sacrilégio, porque a Confirmação é um daqueles Sacramentos que imprimem caráter na alma e que portanto só se podem receber uma vez.

590) Que deve fazer o cristão para conservar a graça da Confirmação?
Para conservar a graça da Confirmação, o cristão deve orar freqüentemente, fazer boas obras, e viver segundo a lei de Jesus Cristo, sem respeito humano.

591) Por que também na Confirmação há padrinhos e madrinhas?
Para que estes, com as palavras e com os exemplos, orientem o crismado no caminho da salvação e o auxiliem nos combates espirituais.

592) Que condições se requerem no padrinho?
O padrinho deve ser de idade conveniente, católico, crismado, instruído nas coisas mais necessárias da religião e de bons costumes; e deve ser do mesmo sexo que o crismado.

593) Contrai algum parentesco com o crismado o padrinho de Crisma?
Sim, o padrinho de Crisma contrai parentesco espiritual com o crismado; mas este parentesco não é impedimento para o matrimônio.

CAPÍTULO IV

Da Santíssima Eucaristia

§1º - Da natureza da Santíssima Eucaristia e da presença real de Jesus Cristo neste Sacramento

594) Que é o Sacramento da Eucaristia?
A Eucaristia é um Sacramento que, pela admirável conversão de toda a substância do pão no Corpo de Jesus Cristo, e de toda a substância do vinho no seu precioso Sangue, contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das espécies de pão e de vinho, para ser nosso alimento, espiritual.

595) Está na Eucaristia o mesmo Jesus Cristo que está no Céu e que nasceu, na terra, da Santíssima Virgem?
Sim, na Eucaristia está verdadeiramente o mesmo Jesus Cristo que está no Céu e que nasceu, na terra, da Santíssima Virgem Maria.

596) Por que acreditais que no Sacramento da Eucaristia está verdadeiramente Jesus Cristo?
Eu acredito que no Sacramento da Eucaristia está verdadeiramente presente Jesus Cristo, porque Ele mesmo o disse, e assim no-lo ensina a Santa Igreja.

597) Qual é a matéria do Sacramento da Eucaristia?
A matéria do Sacramento da Eucaristia é a que foi empregada por Jesus Cristo.A saber: o pão de trigo e o vinho de uva.

598) Qual é a forma do Sacramento da Eucaristia?
A forma do Sacramento da Eucaristia são as palavras usadas por Jesus Cristo:
Isto é o meu Corpo: este é o meu Sangue.

599) Que é a hóstia antes da consagração?
A hóstia antes da consagração é pão de trigo.

600) Depois da consagração, que é a hóstia?
Depois da consagração, a hóstia é o verdadeiro Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, debaixo das espécies de pão.

601) Que está no cálice antes da consagração?
No cálice, antes da consagração, está vinho com algumas gotas de água.

602) Depois da consagração, que há no cálice?
Depois da consagração, há no cálice o verdadeiro Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, debaixo das espécies de vinho.

603) Quando se faz a mudança do pão no Corpo, e do vinho no Sangue de Jesus Cristo?
A conversão do pão no Corpo, e do vinho no Sangue de Jesus Cristo, faz-se precisamente no ato em que o sacerdote, na santa Missa, pronuncia as palavras da consagração.

604) Que é a consagração?
A consagração é a renovação, por meio do sacerdote, do milagre operado por Jesus Cristo na última Ceia, quando mudou o pão e o vinho no seu Corpo e no seu Sangue adorável, por estas palavras: Isto é o meu Corpo; este é o meu Sangue.

605) Como é chamada pela Igreja a miraculosa conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo?
Esta miraculosa conversão, que todos os dias se opera sobre os nossos altares.É chamada pela Igreja transubstanciação.

606) Quem deu tanta virtude às palavras da consagração?
Foi o mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, Deus onipotente, que deu tanta virtude às palavras da consagração.

607) Depois da consagração não fica ainda alguma coisa do pão e do vinho?
Depois da consagração ficam só as espécies do pão e do vinho.

608) Que são as espécies do pão e do vinho?
Dizem-se espécies a quantidade e as qualidades sensíveis do pão e do vinho, como a figura, a cor, o sabor.

609) De que maneira podem ficar as espécies do pão e do vinho sem a sua substância?
As espécies do pão e do vinho ficam maravilhosamente sem a sua substância por virtude de Deus Onipotente.

610) Debaixo das espécies de pão está só o Corpo de Jesus Cristo, e debaixo das espécies de vinho está só o seu Sangue?
Tanto debaixo das espécies de pão, como debaixo das espécies de vinho, está Jesus Cristo vivo e todo inteiro com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

611) Podereis dizer-me por que tanto na hóstia como no cálice está Jesus Cristo todo inteiro?
Tanto na hóstia como no cálice está Jesus Cristo todo inteiro, porque Ele está na Eucaristia vivo e imortal como no céu; por isso onde está o seu Corpo, está também o seu Sangue, sua Alma e sua Divindade; e onde está seu Sangue está também seu Corpo, sua Alma e sua Divindade, pois tudo isto é inseparável em Jesus Cristo.

612) Quando Jesus está na hóstia, deixa de estar no Céu?
Quando Jesus está na hóstia, não deixa de estar no Céu, mas encontra-se ao mesmo tempo no Céu e no Santíssimo Sacramento.

613) Jesus Cristo está presente em todas as hóstias consagradas do mundo?
Sim, Jesus está presente em todas as hóstias consagradas do mundo.

614) Como é possível que Jesus Cristo esteja em todas as hóstias consagradas?
Jesus Cristo está em todas as hóstias consagradas, por efeito da onipotência de Deus, a quem nada é impossível.

615) Quando se parte a hóstia, parte-se também o Corpo de Jesus Cristo?
Quando se parte a hóstia, não se parte o Corpo de Jesus Cristo, mas partem-se somente as espécies do pão.

616) Em que parte da hóstia fica o Corpo de Jesus Cristo?
O Corpo de Jesus Cristo fica inteiro em todas e em cada uma das partes em que a hóstia foi dividida.

617) Está Jesus Cristo tanto numa hóstia grande como na partícula de uma hóstia?
Tanto numa hóstia grande, como na partícula de uma hóstia, está sempre o mesmo Jesus Cristo.

618) Por que motivo se conserva nas igrejas a Santíssima Eucaristia?
Conserva-se nas igrejas a Santíssima Eucaristia, a fim de ser adorada pelos fiéis, e levada aos enfermos, quando for necessário.

619) Deve-se adorar a Eucaristia?
A Eucaristia deve ser adorada por todos, porque Ela contém verdadeira, real e substancialmente o mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor.

§ 2º - Da instituição e dos efeitos do Sacramento da Eucaristia

620) Quando instituiu Jesus Cristo o Sacramento da Eucaristia?
Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Eucaristia na última ceia que celebrou com seus discípulos, na noite que precedeu sua Paixão.

621) Por que instituiu Jesus Cristo a Santíssima Eucaristia?
Jesus Cristo instituiu a Santíssima Eucaristia, por três razões principais:
1º para ser o sacrifício da nova lei;
2º para ser alimento da nossa alma;
3º para ser um memorial perpétuo da sua Paixão e Morte, e um penhor precioso do seu amor para conosco e da vida eterna.

622) Por que Jesus Cristo instituiu este Sacramento debaixo das espécies de pão e de vinho?
Jesus Cristo instituiu este Sacramento debaixo das espécies de pão e de vinho, porque a Eucaristia devia ser nosso alimento espiritual, e era por isso conveniente que nos fosse dada em forma de comida e de bebida.

623) Que efeitos produz em nós a Santíssima Eucaristia?
Os principais efeitos que a Santíssima Eucaristia produz em quem a recebe dignamente são estes:

1º conserva e aumenta a vida da alma, que é a graça, como o alimento material sustenta e aumenta a vida do corpo;
2º perdoa os pecados veniais e preserva dos mortais; produz consolação espiritual.

624) Não produz em nós a Santíssima Eucaristia outros efeitos?
Sim. A Santíssima Eucaristia produz em nós outros três efeitos, a saber:
1º enfraquece as nossas paixões, e em especial amortece em nós o fogo da concupiscência;
2º aumenta em nós o fervor e ajuda-nos a proceder em conformidade com os desejos de Jesus Cristo;
3º dá-nos um penhor da glória futura e da ressurreição do nosso corpo.

§ 3º - Das disposições necessárias para bem comungar

625) Produz o Sacramento da Eucaristia sempre em nós os seus maravilhosos efeitos?
O Sacramento da Eucaristia produz em nós os seus maravilhosos efeitos, quando o recebemos com as devidas disposições.

626) Quantas coisas são necessárias para fazer uma comunhão bem feita?
Para fazer uma comunhão bem feita, são necessárias três coisas:
1º estar em estado de graça;
2º estar em jejum desde uma hora antes da comunhão;
3º saber o que se vai receber e aproximar-se da sagrada Comunhão com devoção.

627) Que quer dizer: estar em estado de graça?
Estar em estado de graça quer dizer: ter a consciência limpa de todo o pecado mortal.

628) Que deve fazer antes de comungar quem sabe que está em pecado mortal?
Quem sabe que está em pecado mortal, deve fazer uma boa confissão antes de comungar; porque para quem está em pecado mortal, não basta o ato de contrição perfeito, sem a confissão, para fazer uma comunhão bem feita.

629) Por que não basta o ato de contrição perfeita, a quem sabe que está em pecado mortal, para poder comungar?
Porque a Igreja ordenou, em sinal de respeito a este Sacramento, que quem é culpado de pecado mortal, não ouse receber a Comunhão, sem primeiro se confessar.

630) Quem comungasse em pecado mortal, receberia a Jesus Cristo?
Quem comungasse em pecado mortal, receberia a Jesus Cristo, mas não a sua graça; pelo contrário, cometeria sacrilégio e incorreria na sentença de condenação.

631) Em que consiste o jejum eucarístico?
O jejum eucarístico consiste em abster-se de qualquer espécie de comida ou bebida, exceto a água natural, que, na atual disciplina eucarística, não quebra o jejum.

632) Pode comungar quem engoliu restos de comida presos aos dentes?
Quem engoliu restos de comida presos aos dentes, pode comungar, porque já não são tomados como alimentos ou perderam tal condição.

633) Quem não está em jejum, pode comungar alguma vez?
Comungar sem estar em jejum é permitido aos doentes que estão em perigo de morte, e aos que obtiveram permição especial do Papa em razão de doença prolongada. A comunhão feita pelos doentes em perigo de morte chama-se Viático, porque os sustenta na viagem que eles fazem desta vida à eternidade.

634) Que querem dizer as palavras: saber o que se vai receber?
Saber o que se vai receber quer dizer: conhecer o que ensina com respeito a este Sacramento a Doutrina Cristã e acreditá-lo firmemente.

635) Que quer dizer: comungar com devoção?
Comungar com devoção quer dizer: aproximar-se da sagrada Comunhão com humildade e modéstia, tanto na própria pessoa como no vestir, e fazer a preparação antes e a ação de graças depois da Comunhão.

636) Em que consiste a preparação antes da Comunhão?
A preparação antes da Comunhão consiste em nos entretermos algum tempo a considerar quem é Aquele que vamos receber e quem somos nós; e em fazer atos de fé, de esperança, de caridade, de contrição, de adoração, de humildade e de desejo de receber a Jesus Cristo.

637) Em que consiste a ação de graças depois da Comunhão?
A ação de graças depois da Comunhão consiste em nos conservarmos recolhidos a honrar a presença do Senhor dentro de nós mesmos, renovando os atos de fé, de esperança, de caridade, de adoração, de agradecimento, de oferecimento e de súplica, pedindo sobretudo aquelas graças que são mais necessárias para nós e para aqueles por quem somos obrigados a orar.Sobretudo licença especial em razão de moléstia.

638) Que se deve fazer no dia da Comunhão?
No dia da Comunhão deve-se manter, o mais possível, o recolhimento, ocupar-se em obras de piedade, bem como cumprir com grande esmero os deveres de estado.

639) Depois da sagrada Comunhão, quanto tempo permanece Jesus Cristo em nós?
Depois da sagrada Comunhão, Jesus Cristo permanece em nós com a sua graça enquanto se não peca mortalmente; e com a sua presença real permanece em nós enquanto se não consomem as espécies sacramentais.

§ 4º - Da maneira de comungar

640) Como devemos apresentar-nos no ato de receber a sagrada Comunhão?
No ato de receber a sagrada Comunhão devemos estar de joelhos, com a cabeça medianamente levantada, com os olhos modestos e voltados para a sagrada Hóstia, com a boca suficientemente aberta e com a língua um pouco estendida sobre o lábio inferior. Senhoras e meninas devem estar com a cabeça coberta.

641) Como se deve segurar a toalha ou a patena da Comunhão?
A toalha ou a patena da Comunhão deve-se segurar de maneira que recolha a sagrada Hóstia, caso ela viesse a cair.

642) Quando se deve engolir a sagrada Hóstia?
Devemos procurar engolir a sagrada Hóstia o mais depressa possível, e convém abster-nos de cuspir algum tempo.

643) Se a sagrada Hóstia se pegar ao céu da boca, que se deve fazer?
Se a sagrada Hóstia se pegar ao céu da boca, é preciso despegá-la com a língua, nunca porém com os dedos.

§ 5º - Do preceito da comunhão

644) Quando há obrigação de comungar?
Há obrigação de comungar todos os anos pela Páscoa, na própria paróquia, e além disso em perigo de morte.

645) Em que idade começa a obrigar o preceito da Comunhão pascal?
O preceito da Comunhão pascal começa a obrigar na idade em que a criança é capaz de recebê-la com as devidas disposições.

646) Pecam aqueles que têm idade capaz para serem admitidos à Comunhão e não comungam?
Aqueles que, tendo a idade capaz para serem admitidos à Comunhão, não comungam, ou porque não querem, ou porque não estão instruídos por sua culpa, pecam sem dúvida. Pecam igualmente os seus pais, ou quem lhes faz às vezes, se o adiamento da Comunhão se dá por sua culpa, e hão de prestar por isso severas contas a Deus.

647) É coisa boa e útil comungar freqüentemente?
É coisa ótima comungar freqüentemente e até todos os dias, contanto que se faça com as devidas disposições.

648) Qual a freqüência com que se deve comungar?
Pode-se comungar tão freqüentemente quanto o permita o conselho de um confessor piedoso e douto.

CAPÍTULO V

Do Santo Sacrifício da Missa

§ 1º - Da essência, da instituição e dos fins do Santo Sacrifício da Missa

649) Deve considerar-se a Eucaristia só como Sacramento?
A Eucaristia não é somente um Sacramento; é também o sacrifício permanente da Nova Lei, que Jesus Cristo deixou à Igreja, para ser oferecido a Deus pelas mãos dos seus sacerdotes.

650) Em que consiste em geral o sacrifício?
O sacrifício, em geral, consiste em oferecer a Deus uma coisa sensível, e destruí-la de alguma maneira, para reconhecer o supremo domínio que Ele tem sobre nós e sobre todas as coisas.

651) Como se chama este sacrifício da Nova Lei?
Este sacrifício da Nova Lei chama-se a Santa Missa.

652) Que é então a Santa Missa?
A Santa Missa é o sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da Cruz.

653) É o Sacrifício da Missa o mesmo que o da Cruz?
O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se oferece pelas mãos dos sacerdotes seus ministros, sobre os nossos altares, mas quanto ao modo por que é oferecido, o sacrifício da Missa difere do sacrifício da Cruz, conservando todavia a relação mais íntima e essencial com ele.

654) Que diferença, pois, e que relação há entre o Sacrifício da Missa e o da Cruz?
Entre o Sacrifício da Missa e o sacrifício da Cruz há esta diferença e esta relação: que Jesus Cristo sobre a cruz se ofereceu derramando o seu sangue e merecendo para nós; ao passo que sobre os altares Ele se sacrifica sem derramamento de sangue, e nos aplica os frutos da sua Paixão e Morte.

655) Que outra relação tem o Sacrifício da Missa com o da Cruz?
Outra relação do Sacrifício da Missa com o da Cruz é que o Sacrifício da Missa representa de modo sensível o derramamento do Sangue de Jesus Cristo na Cruz; porque em virtude das palavras da consagração só o Corpo de nosso Salvador se torna presente debaixo das espécies de pão, e debaixo das espécies de vinho, só o seu Sangue; entretanto, pela concomitância natural e pela união hipostática, está presente, debaixo de cada uma das espécies, Jesus Cristo todo inteiro, vivo e verdadeiro.

656) Não é porventura o Sacrifício da Cruz o único sacrifício da Nova Lei?
O Sacrifício da Cruz é o único sacrifício da Nova Lei, porquanto por ele Nosso Senhor aplacou a Justiça Divina, adquiriu todos os merecimentos necessários para nos salvar, e assim consumou da sua parte a nossa redenção. São estes merecimentos que Ele nos aplica pelos meios que instituiu na sua Igreja, entre os quais está o Santo Sacrifício da Missa.

657) Para que fins se oferece o Santo Sacrifício da Missa?
Oferece-se a Deus o Santo Sacrifício da Missa para quatro fins:
1º para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício é latrêutico;
2º para Lhe dar graças pelos seus benefícios, e sob este ponto de vista o sacrifício é eucarístico;
3º para aplacá-Lo, dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as almas do Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é propiciatório;
4º para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista o sacrifício é impetratório.

658) Quem oferece a Deus o Santo Sacrifício da Missa?
O primeiro e principal oferente do Santo Sacrifício da Missa é Jesus Cristo, e o sacerdote é o ministro que em nome de Jesus Cristo oferece este sacrifício ao Eterno Padre.

659) Quem instituiu o Santo Sacrifício da Missa?
Foi o próprio Jesus Cristo que instituiu o Santo Sacrifício da Missa, quando instituiu o Sacramento da Eucaristia, e disse que fosse ele feito em memória da sua Paixão.

660) A quem se oferece o Santo Sacrifício da Missa?
O Santo Sacrifício da Missa oferece-se só a Deus.

661) Se a santa Missa se oferece só a Deus, por que se celebram tantas Missas em honra da Santíssima Virgem e dos Santos?
A Missa celebrada em honra da Santíssima Virgem e dos Santos é sempre um sacrifício oferecido só a Deus; diz-se, porém, celebrada em honra da Santíssima Virgem e dos Santos, para louvar a Deus neles pelos dons que lhes concedeu, e para alcançar, pela intercessão deles, em maior abundância, as graças de que necessitamos.

662) Quem participa dos frutos da Missa?
Toda a Igreja participa dos frutos da Missa, mas particularmente:
1º o sacerdote e os que assistem à Missa, os quais se consideram unidos ao sacerdote;
2º aqueles por quem se aplica a Missa, e podem ser tanto vivos como defuntos.

§ 2º - Do modo de assistir à Missa

663) Quantas coisas são necessárias para ouvir bem e com fruto a Santa Missa?
Para ouvir bem e com fruto a Santa Missa são necessárias duas coisas:
1º modéstia exterior,
2º devoção interior.

664) Em que consiste a modéstia exterior?
A modéstia exterior consiste particularmente em estar modestamente vestido, em observar o silêncio e o recolhimento, e em estar, quanto possível, de joelhos, excetuando o tempo dos dois evangelhos, que se ouvem estando de pé.

665) Ao ouvir a santa Missa qual é o melhor modo de praticar a devoção interior?
O melhor modo de praticar a devoção interior ao ouvir a santa Missa é o seguinte:
1º Unir-se, desde o começo, a própria intenção à do sacerdote, oferecendo a Deus o Santo Sacrifício para os fins por que foi instituído;
2º acompanhar o sacerdote em cada uma das orações e ações do Sacrifício;
3º meditar a Paixão e morte de Jesus Cristo e detestar, de todo o coração, os pecados que Lhe deram causa;
4º fazer a comunhão sacramental, ou ao menos a espiritual, ao tempo em que o sacerdote comunga.

666) Que é a Comunhão espiritual?
A Comunhão espiritual é um grande desejo de se unir sacramentalmente a Jesus Cristo, dizendo por exemplo: “Meu Senhor Jesus Cristo, eu desejo de todo o meu coração unir-me a Vós agora e por toda a eternidade”; e fazendo os mesmos atos que se fazem antes e depois da Comunhão sacramental.

667) Impede ouvir a Missa com fruto a recitação do Rosário ou de outras orações durante o Santo Sacrifício?
A recitação destas orações não impede ouvir com fruto a Missa, desde que haja um esforço possível de seguir as cerimônias do Santo Sacrifício.

668) É coisa boa também rezar pelos outros, quando se assiste à Santa Missa?
É coisa boa rezar também pelos outros, quando se assiste à Santa Missa; e até o tempo da Santa Missa é o mais oportuno para rezar pelos vivos e pelos mortos.

669) Terminada a Missa, que se deve fazer?
Terminada a Missa, devemos dar graças a Deus por nos ter concedido a graça de assistir a este grande sacrifício e pedir-Lhe perdão das faltas cometidas enquanto a assistíamos.

CAPÍTULO VI

Da Penitência

§ 1º - Da Penitência em geral

670) Que é o Sacramento da Penitência?
A Penitência, chamada também Confissão, é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.

671) Por que se dá a este Sacramento o nome de Penitência?
Dá-se a este Sacramento o nome de Penitência, porque, para obter o perdão dos pecados, é necessário detestá-los com arrependimento e porque quem cometeu uma falta deve sujeitar-se à pena que o Sacerdote impõe.

672) Por que este Sacramento se chama também Confissão?
Chama-se este Sacramento também Confissão, porque, para alcançar o perdão dos pecados, não basta detestá-los, mas é necessário acusar-se deles ao Sacerdote, isto é, confessá-los.

673) Quando Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência?
Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência no dia da sua Ressurreição, quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados.

674) Como deu Jesus Cristo aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados?
Jesus Cristo deu aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados, soprando sobre eles, e dizendo: Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.

675) Qual é a matéria do Sacramento da Penitência?
Distingue-se a matéria do Sacramento da Penitência em remota e próxima. A remota é constituída pelos pecados cometidos pelo penitente depois do Batismo, e a matéria próxima são os atos do próprio penitente, isto é, a contrição, a acusação e a satisfação.

676) Qual é a forma do Sacramento da Penitência?
A forma do Sacramento da Penitência é esta: Eu te absolvo dos teus pecados.

677) Quem é o ministro do Sacramento da Penitência?
O ministro do Sacramento da Penitência é o Sacerdote aprovado pelo Bispo para ouvir confissões.

678) Por que o Sacerdote deve ser aprovado pelo Bispo?
O Sacerdote deve ser aprovado pelo Bispo para ouvir confissões, porque, para administrar validamente este Sacramento, não basta o poder da Ordem, mas é necessário também o poder de jurisdição, isto é, a faculdade de julgar, que deve ser dada pelo Bispo.

679) Quantas são as partes do Sacramento da Penitência?
As partes do Sacramento da Penitência são: a contrição, a confissão e a satisfação da parte do pecador, a absolvição da parte do sacerdote.

680) Que é a contrição ou a dor dos pecados?
A contrição ou a dor dos pecados é um desgosto da alma, pelo qual se detestam os pecados cometidos, e pelo qual o pecador se propõe não os tornar a cometer no futuro.

681) Que quer dizer esta palavra contrição?
A palavra contrição quer dizer fratura ou despedaçamento, como quando uma pedra é esmagada e reduzida a pó.

682) Por que se dá o nome de contrição à dor dos pecados?
Dá-se o nome de contrição à dor dos pecados, para significar que o coração duro do pecador em certo modo se despedaça pela dor de ter ofendido a Deus.

683) Em que consiste a confissão dos pecados?
A confissão consiste na acusação distinta dos nossos pecados ao confessor, para dele recebermos a absolvição e a penitência.

684) Por que é que a confissão se chama acusação?
Chama-se a confissão acusação, porque não deve ser uma narração indiferente, mas sim uma verdadeira e dolorosa manifestação dos próprios pecados.

685) Que é a satisfação ou penitência?
A satisfação ou penitência é a oração ou outra boa obra, que o confessor impõe ao pecador em expiação dos seus pecados.

686) Que é a absolvição?
A absolvição é a sentença que o Sacerdote pronuncia em nome de Jesus Cristo, para perdoar os pecados ao pecador.

687) Das partes do Sacramento da Penitência, qual é a mais necessária?
Das partes do Sacramento da Penitência, a mais necessária é a contrição, porque sem ela nunca se pode obter o perdão dos pecados, e com ela só, quando é perfeita, pode obter-se o perdão, contanto que esteja unida com o desejo, ao menos implícito, de confessar-se.

§ 2º - Dos efeitos e da necessidade do Sacramento da Penitência e das disposições para bem recebê-lo.

688) Quais são os efeitos do Sacramento da Penitência?
O Sacramento da Penitência confere a graça santificante, com a qual são perdoados os pecados mortais e também os veniais que se confessaram e de que haja arrependimento; comuta a pena eterna em temporal, da qual também é perdoada uma parte maior ou menor, conforme as disposições do penitente; faz reviver o merecimento das boas obras feitas antes de se cometer o pecado mortal; dá à alma auxílios oportunos para não recair no pecado e restitui a paz à consciência.

689) É o Sacramento da Penitência necessário a todos para se salvarem?
O Sacramento da Penitência é necessário, para se salvarem, a todos aqueles que, depois do Batismo, cometeram algum pecado mortal.

690) É bom confessar-se com freqüência?
Confessar-se com freqüência é coisa ótima, porque o Sacramento da Penitência, além de apagar os pecados, dá as graças necessárias para evitá-los no futuro.

691) Tem o Sacramento da Penitência virtude de per. doar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam?
Sim, o Sacramento da Penitência tem virtude de perdoar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam, contanto que se receba com as devidas disposições.

692) Quantas coisas são necessárias para fazer uma confissão bem feita?
Para fazer uma boa confissão, são necessárias cinco coisas:
1º exame de consciência;
2º dor de ter ofendido a Deus;
3º propósito de nunca mais pecar;
4º acusação dos próprios pecados;
5º satisfação ou penitência.

693) Que devemos fazer, antes de tudo, para bem nos confessarmos?
Para bem nos confessarmos devemos, antes de tudo, pedir de todo o coração ao Senhor que nos dê luz para conhecer todos os nossos pecados e força para os detestar.

§ 3º - Do exame de consciência

694) Que é o exame de consciência?
O exame de consciência é uma diligente investigação dos pecados que se cometeram, desde a última confissão bem feita.

695) Como se faz o exame de consciência?
Faz-se o exame de consciência trazendo diligentemente à memória, na presença de Deus, todos os pecados ainda não confessados, cometidos por pensamentos, palavras, obras e omissões contra os Mandamentos de Deus e da Igreja, e contra as obrigações do próprio estado.

696) Sobre que mais coisas devemos examinar-nos?
Devemos examinar-nos também sobre os maus hábitos e sobre as ocasiões de pecado.

697) No exame, devemos investigar também o número dos pecados?
No exame devemos investigar também o número dos pecados mortais.

698) Que é necessário para que um pecado seja mortal?
Para que um pecado seja mortal são necessárias três coisas: matéria grave, plena advertência e consentimento perfeito da vontade.

699) Quando há matéria grave?
Há matéria grave, quando se trata de uma coisa notavelmente contrária à Lei de Deus e da Igreja.

700) Quando há plena advertência no pecado?
Há plena advertência no pecado, quando se conhece perfeitamente que se faz um mal grave.

701) Quando, no pecado, há o consentimento perfeito da vontade?
Há no pecado, o consentimento perfeito da vontade, quando se quer fazer deliberadamente uma coisa, embora se reconheça que é culpável.

702) Que diligência se deve usar no exame de consciência?
No exame de consciência deve usar-se aquela diligência que se usaria em um negócio de grande importância.

703) Quanto tempo se deve empregar no exame de consciência?
Deve empregar-se no exame de consciência mais ou menos tempo, conforme a necessidade, isto é, conforme o número e a qualidade dos pecados que sobrecarregam a consciência, e conforme o tempo decorrido desde a última confissão bem feita.

704) Como se pode facilitar o exame para a confissão?
Facilita-se o exame para a confissão, fazendo todas as noites o exame de consciência sobre as ações do dia.

§ 4º - Da dor ou arrependimento

705) Que é a dor dos pecados?
A dor dos pecados consiste num desgosto e numa detestação sincera da ofensa feita a Deus.

706) De quantas espécies é a dor?
A dor é de duas espécies: perfeita ou de contrição; imperfeita ou de atrição.

707) Que é a dor perfeita ou de contrição?
A dor perfeita é o desgosto de ter ofendido a Deus, porque Deus é infinitamente bom e digno, por Si mesmo, de ser amado sobre todas as coisas.

708) Por que se chama perfeita a dor de contrição?
Chama-se perfeita a dor de contrição por duas razões:
1º porque se refere exclusivamente à bondade de Deus, e não ao nosso proveito ou prejuízo;
2º porque nos faz alcançar imediatamente o perdão dos pecados, ficando-nos porém a obrigação de nos confessarmos.

709) Então a dor perfeita alcança-nos o perdão dos pecados independentemente da confissão?
A dor perfeita não nos alcança o perdão dos pecados independentemente da confissão, porque sempre inclui a vontade de se confessar.

710) Por que a dor perfeita, ou contrição, produz este efeito de nos conceder o estado de graça?
A dor perfeita, ou contrição, produz este efeito, porque procede da caridade, que não pode encontrar-se na alma juntamente com o pecado mortal.

711) Que é a dor imperfeita ou de atrição?
A dor imperfeita ou de atrição é aquela pela qual nos arrependemos de ter ofendido a Deus como nosso supremo Juiz, isto é, por temor dos castigos que merecemos e nos esperam nesta ou na outra vida, ou pela própria fealdade do pecado.

712) Que condições deve ter a dor para ser boa?
A dor, para ser boa, deve ter quatro condições: deve ser interna, sobrenatural, suma e universal.

713) Que quer dizer: a dor deve ser interna?
Quer dizer que deve estar no coração e na vontade, e não só nas palavras.

714) Por que a dor deve ser interna?
A dor deve ser interna, porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar para Deus, detestando o pecado cometido.

715) Que quer dizer: a dor deve ser sobrenatural?
Quer dizer que deve ser excitada em nós pela graça do Senhor, e a devemos conceber levados por motivos que procedem da fé.

716) Por que a dor deve ser sobrenatural?
A dor deve ser sobrenatural, porque é sobrenatural o fim a que se dirige, isto é, o perdão de Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna.

717) Explicai melhor a diferença entre a dor sobrenatural e a natural.
Quem se arrepende por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser amado, por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia intrínseca do pecado, tem dor sobrenatural, porque estes são os motivos fornecidos pela Fé. Quem, ao contrário, se arrependesse só pela desonra ou castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria dor natural, porque se arrependeria só por motivos humanos.

718) Por que a dor deve ser suma?
A dor deve ser suma, porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males, visto ser ofensa de Deus, sumo Bem.

719) Para ter dor dos pecados, é porventura necessário chorar, como às vezes se chora pelas desgraças desta vida?
Não. Não é necessário que materialmente se chore pela dor dos pecados; mas basta que no íntimo do coração se deplore mais o ter ofendido a Deus, do que qualquer outra desgraça.

720) Que quer dizer que a dor deve ser universal?
Quer dizer que se deve estender a todos os pecados mortais cometidos.

721) Por que a dor se deve estender a todos os pecados mortais cometidos?
Porque quem se não arrepende, ainda que seja de um só pecado mortal, continua sendo inimigo de Deus.

722) Que devemos fazer para ter dor dos nossos pecados?
Para ter dor dos nossos pecados, devemos pedi-la de todo o coração a Deus e excitá-la em nós com a consideração do grande mal que fizemos, pecando.

723) Como fareis para vos excitardes a detestar os pecados?

Para me excitar a detestar os pecados considerarei:
1º o rigor da infinita justiça de Deus, e a deformidade do pecado que enfeiou a minha alma, e me tornou merecedor das penas eternas do inferno;
2º que perdi a graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus, e a herança do Paraíso;
3º que ofendi o meu Redentor que morreu por mim, e que os meus pecados foram a causa da sua morte;
4º que desprezei o meu Criador, o meu Deus; que Lhe voltei as costas, a Ele, meu sumo Bem, digno de ser amado sobre todas as coisas, e servido fielmente.

724) Devemos ter grande empenho, quando nos vamos confessar, em ter verdadeira dor dos nossos pecados?
Sim, quando nos vamos confessar, devemos ter muito empenho em ter verdadeira dor dos nossos pecados, porque esta é a coisa mais importante de todas; e, se falta a dor, a confissão não é válida.

725) Quem se confessa só de pecados veniais, deve ter dor de todos?
Quem se confessa só de pecados veniais, para se confessar validamente, basta que se arrependa de algum deles; mas, para alcançar o perdão de todos, é necessário que se arrependa de todos os que reconhece ter cometido.

726) Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma boa confissão?
Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma confissão nula; neste caso a confissão além disso é sacrílega, se adverte que lhe falta a dor.

727) Que convém fazer para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais?
Para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais, é prudente acusar, com verdadeira dor, também algum pecado mais grave da vida passada, ainda que já confessado outras vezes.

728) É bom fazer com freqüência o ato de contrição?
É coisa boa e muito útil fazer, com freqüência, o ato de contrição, principalmente antes de se deitar, e quando se tem certeza ou se dúvida de ter caído em pecado mortal, para recuperar mais depressa a graça de Deus; é útil, sobretudo, para alcançar mais facilmente de Deus a graça de fazer semelhante ato na ocasião de maior necessidade, isto é, em perigo de morte.

§ 5º - Do propósito

729) Em que consiste o propósito?
O propósito consiste em uma vontade determinada de nunca mais cometer o pecado, e de empregar todos os meios necessários para o evitar.

730) Que condições deve ter esta resolução, para ser um bom propósito?
Para ser um bom propósito, esta resolução deve ter principalmente três condições:
deve ser absoluta, universal e eficaz.

731) Que quer dizer: o bom propósito deve ser absoluto?
Quer dizer que o propósito deve ser sem condição alguma de tempo, de lugar ou de pessoa.

732) Que quer dizer: o bom propósito deve ser universal?
O bom propósito deve ser universal, quer dizer que devemos ter a vontade de evitar todos os pecados mortais, tanto os que já tenhamos cometido no passado, como os que poderíamos cometer ainda.

733) Que quer dizer: o bom propósito deve ser eficaz?
O bom propósito deve ser eficaz, quer dizer que é necessário termos uma vontade decidida de perder todas as coisas antes que cometer um novo pecado, de fugir das ocasiões perigosas de pecar, de destruir os maus hábitos, e de satisfazer a todas as obrigações lícitas contraídas em conseqüência dos nossos pecados.

734) Que é que se entende por mau hábito?
Por mau hábito entende-se a disposição adquirida para cair com facilidade naqueles pecados aos quais nos acostumamos.

735) Que devemos fazer para corrigir os maus hábitos?
Para corrigir os maus hábitos, devemos vigiar sobre nós mesmos, fazer muita oração, confessar-nos com freqüência, ter um bom diretor sem mudá-lo, e pôr em prática os conselhos e os remédios que ele nos propõe.

736) Que se entende por ocasiões perigosas de pecar?
Por ocasiões perigosas de pecar entendem-se todas aquelas circunstâncias de tempo, de lugar, de pessoas ou de coisas, que, pela sua própria natureza, ou pela nossa fragilidade, nos induzem a cometer o pecado.

737) Somos gravemente obrigados a evitar todas as ocasiões perigosas?
Somos gravemente obrigados a evitar as ocasiões perigosas que de ordinário nos levam a cometer o pecado mortal, e que se chamam ocasiões próximas de pecado.

738) Que deve fazer quem não pode evitar alguma ocasião de pecado?
Quem não pode evitar alguma ocasião de pecado diga-o ao confessor, e siga os conselhos dele.

739) Que considerações nos auxiliam a fazer o propósito?
Para fazer o propósito auxiliam-nos as mesmas considerações que servem para excitar a dor, isto é, a consideração dos motivos que temos para temer a justiça de Deus, e para amar a sua infinita bondade.

§ 6º - Da acusação dos pecados ao confessor

740) Depois de vos terdes disposto bem para a confissão com o exame, com a dor e com o propósito, que haveis de fazer?
Depois de me ter disposto bem com o exame, com a dor e com o propósito, irei fazer ao confessor a acusação dos meus pecados, para receber a absolvição.

741) De que pecados somos obrigados a confessar-nos?
Somos obrigados a confessar-nos de todos os pecados mortais; é bom, porém, confessar também os veniais.

742) Quais são as qualidades que deve ter a acusação dos pecados, ou confissão?
As qualidades principais que deve ter a acusação dos pecados são cinco: deve ser humilde, íntegra, sincera, prudente e breve.

743) Que querem dizer as palavras: a acusação deve ser humilde?
A acusação deve ser humilde, quer dizer que o penitente deve acusar-se diante do seu confessor sem altivez de ânimo ou de palavras, mas com sentimentos de um réu que reconhece a sua culpa, e comparece diante do juiz.

744) Que quer dizer: a acusação deve ser íntegra?
A acusação deve ser íntegra, quer dizer que se devem confessar, com as suas circunstâncias e no seu número, todos os pecados mortais cometidos desde a última confissão bem feita, e dos quais se tem consciência.

745) Quais são as circunstâncias que se devem dizer para que a acusação seja íntegra?
Para que a acusação seja íntegra, devem acusar-se as circunstâncias que mudam a espécie do pecado.

746) Quais são as circunstâncias que mudam a espécie do pecado?
As circunstâncias que mudam a espécie do pecado são:
1º aquelas pelas quais uma ação pecaminosa de venial se torna mortal;
2º aquelas pelas quais uma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados mortais.

747) Dai-me um exemplo de uma circunstância que faça tornar mortal um pecado venial?
Quem, para se desculpar, dissesse uma mentira da qual resultasse dano grave para o próximo, deveria manifestar esta circunstância, que muda a mentira, de oficiosa em gravemente nociva.

748) Dai-me agora exemplo de uma circunstância pela qual uma e a mesma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados?
Quem tivesse roubado uma coisa sagrada, deveria acusar esta circunstância, que acrescenta ao furto a malícia do sacrilégio.

749) Se uma pessoa não tiver a certeza de ter cometido um pecado, deve confessá-lo?
Se uma pessoa não tiver a certeza de ter cometido um pecado, não é obrigada a confessá-lo; se porém o quiser acusar, deverá acrescentar que não tem a certeza de o ter cometido.

750) Quem não se lembra exatamente do número dos seus pecados, que deve fazer?
Quem não se lembra exatamente do número dos seus pecados, deve acusar o número aproximado.

751) Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão?
Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão, contanto que tenha empregado a devida diligência no exame de consciência.

752) Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados a acusá-lo noutra confissão?
Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados, sem dúvida, a acusá-lo na primeira vez que de novo nos confessarmos.

753) Quem por vergonha, ou por outro motivo culpável, cala voluntariamente na confissão algum pecado mortal, este que comete?
Quem, por vergonha, ou por qualquer outro motivo culpável, cala voluntariamente algum pecado mortal na confissão, profana o Sacramento e por isso torna-se réu de gravíssimo sacrilégio.

754) Quem ocultou voluntariamente algum pecado mortal na confissão, este como há de conciliar a própria consciência?
Quem ocultou culpavelmente algum pecado mortal na confissão, deve expor ao confessor o pecado ocultado, dizer em quantas confissões o ocultou, e repetir todas as confissões, desde a última bem feita.

755) Que deve considerar quem se vir tentado a calar algum pecado na confissão?
Quem se vir tentado a calar um pecado grave na confissão, deve considerar:
1º que não teve vergonha de pecar na presença de Deus, que vê tudo;
2º que é melhor manifestar os próprios pecados ao confessor em segredo, do que viver inquieto no pecado, ter uma morte infeliz, e ser por isso envergonhado no dia do Juízo universal, em face do mundo inteiro;
3º que o confessor é obrigado ao sigilo sacramental, sob pecado gravíssimo, e com a ameaça de severíssimas penas temporais e eternas.

756) Que significam estas palavras: a acusação deve ser sincera?
A acusação deve ser sincera, significa que é necessário declarar os pecados como eles são, sem os desculpar, sem os diminuir e sem os aumentar.

757) Que significam estas palavras: a confissão deve ser prudente?
A confissão deve ser prudente, significa que, ao confessar os pecados, devemos servir-nos dos termos mais modestos, e que devemos guardar-nos de descobrir os pecados alheios.

758) Que significam estas palavras: a confissão deve ser breve?
A confissão deve ser breve, significa que não devemos ir falar de coisas inúteis ao confessor.

759) Mas o dever de confessar a outro homem os próprios pecados, não será muito custoso, sobretudo se são muito vergonhosos?
Ainda que confessar a outro homem os próprios pecados possa ser penoso, é necessário fazê-lo, porque é de preceito divino; e de outro modo não se pode obter o perdão dos pecados cometidos; além disso, a dificuldade de se confessar é compensada por muitas vantagens e grandes consolações.

§ 7º- Do modo de se confessar

760) Como vos apresentareis ao confessor?
Ponho-me de joelhos aos pés do confessor, e digo: Abençoai-me, Padre, porque pequei.

761) Que fareis enquanto o confessor vos der a bênção?
Inclino-me humildemente para receber a bênção, e faço o sinal da Cruz.

762) Depois de feito o sinal da Cruz, que direis?
Depois de feito o sinal da Cruz, direi: Eu me confesso a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, a todos os Santos, e a vós, Padre, porque pequei.

763) E depois, que direis?
Depois direi: Confessei-me em tal tempo; por graça de Deus recebi a absolvição, cumpri a penitência, e fui à Comunhão. Em seguida faz-se a acusação dos pecados.

764) Terminada a acusação dos pecados, que direis?
Direi: Acuso-me ainda de todos os pecados da vida passada, especialmente contra tal ou qual virtude, por exemplo, contra a pureza, contra o quarto Mandamento, etc.

765) Depois desta acusação, que direis ainda?
Direi: De todos estes pecados e de todos aqueles de que não me lembro, peço perdão a Deus de todo o meu coração; e a vós, Padre, peço a penitência e a absolvição.

766) Concluída assim a acusação dos pecados, que mais resta a fazer?
Concluída a acusação dos pecados, é necessário ouvir com respeito o que disser o confessor; aceitar a penitência com sincera vontade de cumpri-la; e, enquanto ele dá a absolvição, renovar o ato de contrição.

767) Depois de recebida a absolvição, que há ainda a fazer?
Depois de recebida a absolvição, é preciso agradecer a Nosso Senhor, cumprir quanto antes a penitência, e pôr em prática os avisos do confessor.

§ 8º- Da absolvição

768) Devem os confessores dar sempre a absolvição àqueles que se confessam?
Os confessores devem dar a absolvição somente àqueles que julgam bem dispostos a recebê-la.

769) Podem os confessores diferir ou negar alguma vez a absolvição?
Os confessores não só podem, mas devem diferir ou negar a absolvição em certos casos, para não profanar o Sacramento.

770) Quais são os penitentes que se devem considerar mal dispostos, e aos quais se deve ordinariamente diferir ou negar a absolvição?
Os penitentes que se devem considerar mal dispostos são principalmente:
1º aqueles que não sabem os mistérios principais da Fé, ou não se importam de aprender os pontos da Doutrina Cristã, que são obrigados a saber, conforme o seu estado;
2º aqueles que são gravemente negligentes em fazer o exame de consciência ou não dão sinais de dor e arrependimento;
3º aqueles que não querem restituir, podendo, as coisas alheias ou a reputação roubada;
4º aqueles que não perdoam de coração aos seus inimigos;
5º aqueles que não querem empregar os meios para se corrigir dos seus maus hábitos;
6º aqueles que não querem fugir das ocasiões próximas de pecado.

771) Não há excessivo rigor da parte do confessor em diferir a absolvição ao penitente que ele não julga ainda bem disposto?
Não. Não há excesso de rigor no confessor que difere a absolvição do penitente, porque não o julga ainda bem disposto; há antes caridade, pois procede como um bom médico, que tenta todos os remédios, ainda os desagradáveis e penosos, para salvar a vida ao doente.

772) Deverá desesperar ou afastar-se inteiramente da confissão o pecador a quem se difere ou se nega a absolvição?
O pecador a quem se difere ou se nega a absolvição não deve desesperar ou afastar-se inteiramente da confissão; mas deve humilhar-se, reconhecer o seu estado deplorável, aproveitar os bons conselhos que o confessor lhe dá, e assim pôr-se quanto antes em estado de merecer a absolvição.

773) Que deve fazer o penitente quanto à escolha do confessor?
O verdadeiro penitente deve encomendar-se muito a Deus para escolher um confessor piedoso, douto e prudente, e deve depois entregar-se às suas mãos, e submeter-se a ele como a seu juiz e médico.

§ 9º - Da satisfação ou penitência

774) Que é a satisfação?
A satisfação, que também se chama penitência sacramental, é um dos atos do penitente, com o qual ele dá uma certa reparação à justiça divina pelos pecados cometidos pondo em prática aquelas obras que o confessor lhe impõe.

775) É obrigado o penitente a aceitar a penitência que o confessor lhe impõe?
O penitente é obrigado a aceitar a penitência que o confessor lhe impõe, se a pode cumprir, e, se não a pode cumprir, deve dizê-lo humildemente ao mesmo confessor, e pedir-lhe outra.

776) Quando se deve cumprir a penitência?
Se o confessor não marcou tempo, a penitência deve cumprir-se quanto antes, e deve fazer-se a diligência por cumpri-la em estado de graça.

777) Como se deve cumprir a penitência?
A penitência deve cumprir-se na sua integridade e com devoção.

778) Porque na confissão se impõe uma penitência?
Impõe-se uma penitência porque de ordinário, depois da absolvição sacramental que perdoa a culpa e a pena eterna, resta uma pena temporal a pagar neste mundo ou no Purgatório.

779) Por que razão quis Nosso Senhor perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no Sacramento da penitência?
Nosso Senhor quis perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no Sacramento da Penitência, porque os pecados depois do Batismo são muito mais graves, visto serem cometidos com maior conhecimento e ingratidão aos benefícios de Deus, e também para que a obrigação de satisfazer por eles sirva de freio para não se recair no pecado.

780) Podemos nós, com as nossas forças, dar satisfação a Deus?
Não; com nossas forças, não podemos dar satisfação a Deus; mas nós o podemos unindo-nos a Jesus Cristo que, com os merecimentos da sua Paixão e morte, dá valor às nossas ações.

781) É sempre bastante a penitência dada pelo confessor para pagar a pena que ainda resta, por causa do pecados?
A penitência que dá o confessor, de ordinário não é bastante para pagar a pena devida pelos pecados; por isso deve-se fazer a diligência por suprir com outras penitências voluntárias.

782) Quais são as obras de penitência?
As obras de penitência podem reduzir-se a três espécies: à oração, ao jejum, à esmola.

783) Que se entende por oração?
Por oração entende-se toda a espécie de exercícios de piedade.

784) Que se entende por jejum?
Por jejum entende-se toda a espécie de mortificação.

785) Que se entende por esmola?
Por esmola entende-se toda e qualquer obra de misericórdia espiritual e corporal.

786) Qual é a penitência mais meritória: a que dá o confessor, ou a que nós fazemos por nossa escolha?
Á penitência que nos dá o confessor é mais meritória, porque, sendo parte do Sacramento, recebe maior virtude dos merecimentos da Paixão de Jesus Cristo.

787) Vão logo para o Céu os que morrem depois de ter recebido a absolvição, mas antes de terem satisfeito plenamente à justiça de Deus?
Não; eles vão para o Purgatório, para ali satisfazerem à justiça de Deus e se purificarem inteiramente.

788) Podem as almas que estão no Purgatório ser aliviadas por nós nas suas penas?
Sim, as almas que estão no Purgatório podem ser aliviadas com orações, com esmolas, com todas as demais obras boas e com as indulgências, mas sobretudo com o Santo Sacrifício da Missa.

789) Além da penitência, que mais deve fazer o penitente depois da confissão?
O penitente, depois da confissão, além de cumprir a penitência, se danificou injustamente o próximo nos bens ou na honra, ou se lhe deu escândalo, deve, o mais breve e na medida em que for possível, restituir-lhe os bens, reparar-lhe a honra e remediar o escândalo.

790) Como se pode reparar o escândalo que se causou?
Pode-se reparar o escândalo que se causou fazendo cessar a ocasião dele, e edificando com as palavras e com o bom exemplo aqueles que se tenha escandalizado.

791) De que maneira devemos satisfazer o próximo quando o tivermos ofendido?
Devemos satisfazer o próximo quando o tivermos ofendido, pedindo-lhe perdão ou dando-lhe alguma outra reparação conveniente.

792) Que frutos produz em nós uma boa confissão?
Uma boa confissão:
1º perdoa-nos os pecados cometidos, e dá-nos a graça de Deus;
2º restitui-nos a paz e o sossego de consciência;
3º reabre-nos as portas do Paraíso, e comuta a pena eterna do inferno em pena temporal;
4º preserva-nos das recaídas, e torna-nos capazes de ganhar indulgências.

§ 10º - Das indulgências

793) Que é a indulgência?
A indulgência é a remissão da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, remissão que a Igreja concede fora do Sacramento da Penitência.

794) De quem recebeu a Igreja o poder de conceder indulgências?
Foi de Jesus Cristo que a Igreja recebeu o poder de conceder indulgências.

795) De que maneira nos perdoa a Igreja a pena temporal por meio das indulgências?
A Igreja perdoa a pena temporal por meio das indulgências, aplicando-nos as satisfações superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos Santos, as quais formam o que se chama o tesouro da Igreja.

796) Quem tem o poder de conceder indulgências?
O poder de conceder indulgências pertence ao Papa em toda a Igreja, e ao Bispo, na sua diocese, na medida em que lhe é concedido pelo Papa.

797) Quantas espécies há de indulgências?
Há duas espécies de indulgências: a indulgência plenária e a indulgência parcial.

798) Que é a indulgência plenária?
A indulgência plenária é a que perdoa toda a pena temporal devida pelos nossos pecados. Por isso, se alguém morresse depois de ter recebido esta indulgência, iria logo para o céu, inteiramente isento das penas do Purgatório.

799) Que é a indulgência parcial?
A indulgência parcial é a que perdoa só uma parte da pena temporal, devida pelos nossos pecados.

800) Qual é a intenção da Igreja ao conceder as indulgências?
A intenção da Igreja ao conceder as indulgências é auxiliar a nossa incapacidade de expiar neste mundo toda a pena temporal, fazendo-nos conseguir por meio de obras de piedade e de caridade cristã aquilo que nos primeiros séculos Ela obtinha com o rigor dos cânones penitenciais.

801) Em que apreço devemos ter as indulgências?
Devemos ter as indulgências em muito grande apreço, porque com elas se satisfaz a justiça de Deus e mais depressa e mais facilmente se alcança a posse do céu.

802) Quais são as condições requeridas para se ganharem as indulgências?
As condições para se ganharem as indulgências são:

1º o estado de graça, pelo menos ao cumprir a última obra, e o desapego mesmo das culpas veniais cuja a pena se quer apagar;
2º o cumprimento das obras que a Igreja prescreve para se ganhar a indulgência;
3º a intenção de ganhá-las.

803) Podem as indulgências aplicar-se também às almas do Purgatório?
Sim, as indulgências podem aplicar-se também às almas do Purgatório quando quem as concede declara que se lhes podem aplicar.

804) Que é o Jubileu?
O Jubileu, que ordinariamente se concede todos os vinte e cinco anos, é uma indulgência plenária, à qual estão anexos muitos privilégios e concessões particulares, como o poder de obter-se a absolvição de alguns pecados reservados e de censuras, e a comutação de alguns votos.

CAPÍTULO VII

Da Extrema-Unção

805) Que é o Sacramento da Extrema-Unção?
A Extrema-Unção é o Sacramento instituído para alívio espiritual e também temporal dos enfermos em perigo de vida.

806) Que efeitos produz o Sacramento da Extrema-Unção?
O Sacramento da Extrema-Unção produz os seguintes efeitos:
1º aumenta a graça santificante;
2º apaga os pecados veniais e também os mortais que o enfermo arrependido já não possa confessar;
3º tira a fraqueza e languidez para o bem, que fica, ainda depois de se ter alcançado o perdão dos pecados;
4º dá força para suportar pacientemente o mal, para resistir às tentações, e para morrer santamente;
5º ajuda a recuperar a saúde do corpo, se isso for útil à salvação da alma.

807) Em que tempo se deve receber a Extrema-Unção?
A Extrema-Unção deve receber-se quando a doença é grave, e, se puder ser, depois de o enfermo ter recebido os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia; e deve procurar-se que o enfermo a receba quando está ainda com plena consciência e com alguma esperança de vida.

808) Por que é bom que o enfermo receba a Extrema-Unção quando está ainda em plena consciência e com alguma esperança de vida?
É bom receber a Extrema-Unção quando o enfermo está ainda com plena consciência e com alguma esperança de vida, porque recebendo-a com melhores disposições poderá obter maior proveito; e além disso, como este Sacramento dá a saúde do corpo, se convém à alma auxiliando as forças da natureza, não se deve estar à espera de que se desespere da cura.

809) Com que disposições se deve receber a Extrema-Unção?
As principais disposições para receber a Extrema-Unção são: estar em estado de graça, confiar na eficácia do Sacramento e na misericórdia divina e resignar-se à vontade de Deus.

810) Que sentimento deve experimentar o enfermo à vista do Sacerdote?
À vista do Sacerdote, o enfermo deve experimentar sentimentos de gratidão para com Deus, por lho ter enviado, deve recebê-lo de boa vontade e pedir, se puder, por si mesmo, os confortos da Religião.

CAPÍTULO VIII

Da Ordem

811) Que é o Sacramento da Ordem?
A Ordem é o Sacramento que dá o poder de exercitar os ministérios sagrados que se referem ao culto de Deus e à salvação das almas, e que imprime na alma de quem o recebe o caráter de ministro de Deus.

812) Por que se chama Ordem?
Chama-se Ordem porque consiste em vários graus, uns subordinados aos outros, dos quais resulta a sagrada Hierarquia.

813) Quais são estes graus?
Supremo entre eles é o Episcopado, que contém a plenitude do Sacerdócio; em seguida o Presbiterado ou Sacerdócio simples; depois o Diaconato e as Ordens que se chamam menores.

814) Quando Jesus Cristo instituiu a Ordem Sacerdotal?
Jesus Cristo instituiu a Ordem Sacerdotal na Última Ceia, quando conferiu aos Apóstolos e aos seus sucessores o poder de consagrar a Santíssima Eucaristia. E no dia da sua ressurreição conferiu aos mesmos Apóstolos e seus sucessores o poder de perdoar e de reter os pecados, constituindo-os assim os primeiros Sacerdotes da Nova Lei em toda a plenitude do seu poder.

815) Quem é o ministro deste Sacramento?
O ministro deste Sacramento é só o Bispo.

816) É então grande a dignidade do Sacerdócio cristão?
A dignidade do Sacerdócio cristão é muito grande, pelo duplo poder que lhe conferiu Jesus Cristo sobre o seu Corpo real e sobre o seu Corpo místico, que é a Igreja, e pela divina missão, confiada aos Sacerdotes, de conduzir todos os homens à vida eterna.

817) É necessário o Sacerdócio católico na Igreja?
O Sacerdócio católico é necessário na Igreja, porque sem ele os fiéis estariam privados do Santo Sacrifício da Missa e da maior parte dos Sacramentos; não teriam quem os instruísse na fé, e ficariam como ovelhas sem pastor à mercê dos lobos; em suma, não existiria a Igreja como Cristo a instituiu.

818) Então não acabará nunca o Sacerdócio católico sobre a terra?
O Sacerdócio católico, não obstante a guerra que contra ele move o Inferno, há de durar até o fim dos séculos, porque Jesus Cristo prometeu que as potências do Inferno não prevaleceriam jamais contra a sua Igreja.

819) Será pecado desprezar os Sacerdotes?
É pecado gravíssimo, porque o desprezo e as injúrias que se dirigem contra os Sacerdotes recaem sobre o próprio Jesus Cristo, que disse aos seus Apóstolos: Quem a vós despreza, a Mim despreza.

820) Qual deve ser o fim de quem abraça o estado eclesiástico?
O fim de quem abraça o estado eclesiástico deve ser unicamente a glória de Deus e a salvação das almas.

821) Que é necessário para entrar no estado eclesiástico?
Para entrar no estado eclesiástico é necessário, antes de tudo, a vocação divina.

822) Que deve fazer o cristão para conhecer se Deus o chama ao estado eclesiástico?
Para conhecer se Deus o chama ao estado eclesiástico, o cristão deve:
1º pedir fervorosamente a Nosso Senhor que lhe manifeste qual é a sua vontade;
2º tomar conselho com o próprio Bispo ou com um diretor sábio e prudente;
3º examinar com diligência se tem a aptidão necessária para os estudos, para os ministérios e para as obrigações desse estado.

823) Quem entrasse para o estado eclesiástico, sem vocação divina, faria mal?
Quem entrasse para o estado eclesiástico, sem ser chamado por Deus, faria um mal muito grave e colocar-se-ia em risco de se perder.

824) Fazem mal os pais que, por motivos temporais, induzem os filhos a abraçar o estado eclesiástico sem vocação?
Os pais que, por motivos temporais, induzem os filhos a abraçar o estado eclesiástico sem vocação, cometem também culpa gravíssima, porque com isto usurpam o direito que Deus reservou exclusivamente para Si de escolher os seus ministros, e porque põem os filhos em risco de condenação eterna.

825) Quais são os deveres dos fiéis para com aqueles que são chamados às ordens sacras?
Os fiéis devem:
1º deixar aos seus filhos e subordinados plena liberdade de seguir a vocação divina;
2º pedir a Deus que se digne conceder à sua Igreja bons Pastores e ministros zelosos; e até foram instituídos para este fim os jejuns das Quatro Têmporas;
3º ter um respeito singular a todos aqueles que, por meio das Ordens, são consagrados ao serviço de Deus.

CAPÍTULO IX

Do Matrimônio

§ 1º - Natureza do Sacramento do Matrimônio

826) Que é o Sacramento do Matrimônio?
O Matrimônio é um Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher, e lhes dá a graça de se amarem um ao outro santamente, e de educarem cristãmente seus filhos.

827) Por quem foi instituído o Matrimônio?
O Matrimônio foi instituído pelo próprio Deus no Paraíso terrestre; e no Novo Testamento foi elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento.

828) Tem o Sacramento do Matrimônio alguma significação especial?
O Sacramento do Matrimônio significa a união indissolúvel de Jesus Cristo com a Santa Igreja, sua esposa e nossa Mãe amantíssima.

829) Por que se diz que o vínculo do Matrimônio é indissolúvel?
Diz-se que o vínculo do Matrimônio é indissolúvel, isto é, que não se pode quebrar senão pela morte de um dos cônjuges, porque assim o estabeleceu Deus desde o começo, e assim o proclamou solenemente Jesus Cristo, Senhor Nosso.

830) No Matrimônio cristão, poder-se-ia separar o contrato do Sacramento?
Não. No Matrimônio entre cristãos o contrato não se pode separar do Sacramento, porque para eles o Matrimônio não é outra coisa senão o mesmo contrato natural, elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento.

831) Então, entre os cristãos não pode haver verdadeiro Matrimônio que não seja Sacramento?
Entre os cristãos não pode haver verdadeiro Matrimônio que não seja Sacramento.

832) Que efeitos produz o Sacramento do Matrimônio?
O Sacramento do Matrimônio:
1º dá um aumento da graça santificante;
2º confere a graça especial para se cumprirem fielmente todos os deveres matrimoniais.

§ 2º - Ministros, cerimônias e disposições para o Matrimônio

833) Quem são os ministros do Sacramento do Matriônio?
Os ministros deste Sacramento são os mesmos esposos, que reciprocamente conferem e recebem o Sacramento.

834) De que maneira se administra este Sacramento?
Este Sacramento, porque conserva a natureza de contrato, é administrado pelos mesmos contraentes, declarando na presença do próprio pároco, ou de outro Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas, que se unem em matrimônio.

835) Para que serve então a bênção que o pároco dá aos esposos?
A bênção que o pároco dá aos esposos não é necessária para constituir o Sacramento, mas é dada para sancionar em nome da Igreja a sua união, e para atrair sempre mais sobre eles as bênçãos de Deus.

836) Que intenção deve ter quem contrai Matrimônio?
Quem contrai Matrimônio deve ter intenção:
1º de fazer a vontade de Deus, que o chama a tal estado;
2º de procurar nele a salvação da própria alma;"
3º de educar cristãmente os filhos, se Deus lhos der.

837) De que maneira se devem dispor os esposos para receber com fruto o Sacramento do Matrimônio?
Os esposos, para receber com fruto o Sacramento do Matrimônio, devem:

1º encomendar-se de todo o coração a Deus, para conhecer a sua vontade e para alcançar d'Ele as graças que são necessárias em tal estado;
2º consultar os próprios pais, antes de chegar ao noivado, como o exige a obediência e o respeito devido aos mesmos;
3º preparar-se com uma boa confissão, até mesmo geral, se for necessário, de toda a vida;
4º evitar toda a familiaridade perigosa de trato e de palavras, ao conversarem mutuamente antes de receberem este Sacramento.

838) Quais são as principais obrigações das pessoas unidas em Matrimônio?
As pessoas unidas em Matrimônio devem:

1º guardar inviolada a fidelidade conjugal, e proceder sempre cristãmente em tudo;
2º amar-se mutuamente, suportando-se um ao outro com paciência, e viver em paz e harmonia;
3º se têm filhos, cuidar seriamente de prover às suas necessidades, dar-lhes educação cristã, e deixar-lhes a liberdade de escolher o estado de vida a que Deus os chamar.

§ 3º - Condições e impedimentos do Matrimônio

839) Que é necessário para contrair validamente o Matrimônio cristão?
Para contrair validamente o Matrimônio cristão é necessário estar livre de qualquer impedimento matrimonial dirimente, e dar livremente o próprio consentimento ao contrato do Matrimônio na presença do próprio pároco ou de um Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas.

840) Que é necessário para contrair licitamente o Matrimônio cristão?
Para contrair licitamente o Matrimônio cristão, é necessário estar livre dos impedimentos matrimoniais impedientes, estar instruído nas verdades principais da religião, e estar em estado de graça. Não estando em estado de graça, cometer-se-ia um sacrilégio.

841) Que são os impedimentos matrimoniais?
Os impedimentos matrimoniais são certas circunstâncias que tornam o matrimônio ou inválido ou ilícito. No primeiro caso chamam-se impedimentos dirimentes, no segundo impedimentos impedientes.

842) Dai-me alguns exemplos de impedimentos dirimentes.
Impedimentos dirimentes são, por exemplo, a consangüinidade até ao terceiro grau, o parentesco espiritual, o voto solene de castidade, a diversidade de culto entre batizados e não batizados etc.

843) Dai-me algum exemplo de impedimento impediente.
Impedimento impediente é, por exemplo, o voto simples de castidade etc.

844) São os fiéis obrigados a manifestar à autoridade eclesiástica os impedimentos matrimoniais que conhecem?
Os fiéis são obrigados a manifestar à autoridade eclesiástica os impedimentos matrimoniais que conhecem; e é por isso que os párocos fazem as publicações, isto é, lêem os pregões dos que se vão casar.

845) Quem tem o poder de estabelecer impedimentos matrimoniais, de dispensar deles, e de julgar da validade do Matrimônio cristão?
Só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos e de julgar da validade do Matrimônio entre os cristãos, assim como só a Igreja pode dispensar daqueles impedimentos que Ela estabeleceu.

846) Por que só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos e de julgar da validade do Matrimônio?
Só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos, de julgar da validade do Matrimônio e de dispensar dos impedimentos que Ela própria estabeleceu, porque não se podendo separar no matrimônio cristão * contrato do Sacramento, também o contrato cai sob * alçada da Igreja, porque só a Ela conferiu Jesus Cristo * direito de promulgar leis e decisões acerca das coisas sagradas.

847) Pode a autoridade civil dissolver, com o divórcio, o vínculo do Matrimônio cristão?
Não. O vínculo do Matrimônio cristão não pode ser dissolvido pela autoridade civil, porque esta não pode ingerir-se em matéria de Sacramentos, nem separar o que Deus uniu.

848) Que é o matrimônio ou casamento civil?
O casamento civil não é mais que uma formalidade prescrita pela lei para os cidadãos, a fim de dar e de assegurar os efeitos civis aos casados e aos seus filhos.

849) Pode um cristão celebrar somente o casamento ou contrato civil?
Um cristão não pode celebrar somente o contrato civil, porque este não é Sacramento, e portanto não é um verdadeiro matrimônio.

850) Em que condições se encontrariam os esposos que convivessem juntos, unidos somente pelo casamento civil?
Os esposos que convivessem juntos, unidos somente pelo casamento civil, estariam em estado habitual de pecado mortal, e a sua união seria sempre ilegítima diante de Deus e da Igreja.

851) Deve fazer-se também o contrato civil?
Deve fazer-se também o contrato civil, porque, embora não seja ele Sacramento, serve, no entanto, para garantir aos casados e a seus filhos os efeitos civis da sociedade conjugal; eis porque, como regra geral, a autoridade eclesiástica não permite o casamento religioso, quando não se cumprem as formalidades prescritas pela autoridade civil.

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