sábado, 24 de setembro de 2011


VI. NA SANTA MISSA, JESUS CRISTO RENOVA SUA VIDA

Entre as coisas que encantam os sentidos, o teatro deve ser colocado em primeiro lugar.
Os homens acham-lhe tal prazer que gastam, para assistir às representações teatrais, muito tempo e muito dinheiro.

Se quiséssemos considerar, atentamente, os grandes mistérios da Missa e persuadir-nos que Jesus Cristo se aproxima do altar como ornado de suas vestes de festa, para aí reproduzir, à nossa vista, as cenas de sua vida maravilhosa, correríamos para a igreja ao primeiro toque do sino.

Mas, oh! loucura do mundo, quantos preferem jogar os bens aos comediantes a assistir à santa Missa, onde riquíssima recompensa é concedida a todo e qualquer espectador piedoso!

Responder-me-ás, talvez, caro leitor: "Não é de admirar que as pessoas frívolas prefiram assistir à comédia; querem distrair-se, e, na santa Missa, nada lhes encanta os olhos e os ouvidos".

Oh triste cegueira! Se essas pessoas superficiais tivessem os olhos da fé, gozariam da santa Missa profundamente, porque é o resumo da vida do Salvador e a reprodução de todos os seus mistérios. Não é somente uma representação poética de fatos passados, como seria um drama; é uma repetição verídica do que Jesus Cristo fez e sofreu sobre a terra.

Com efeito, na santa Missa, temos diante de nós o divino Menino, envolto em panos, como o acharam os pastores, qual os Magos vieram adorar, e qual Maria Santíssima colocou nos braços do velho Simeão. O mesmo divino Infante repousa sobre o altar e espera nossas homenagens e nosso amor. Ao Evangelho, esse mesmo Jesus repete-nos sua doutrina pela boca do sacerdote, com o mesmo proveito para a alma crente, que se lhe viesse dos próprios lábios.

Vemo-lo fazer um milagre maior que o de Caná, porque é mais admirável mudar o vinho em sangue, do que a água em vinho. É a renovação da última Ceia e de sua morte na Cruz. As mãos dos algozes não o atingem, porém as do sacerdote oferecem-no, como vítima expiatória, ao eterno Pai.
Aquele que sabe tirar proveito da santa Missa, pode receber dela o perdão dos seus pecados e a abundância das graças celestes.

"Toda a vida de Cristo, diz S. Dionísio, o Cartucho, não foi mais do que uma Missa solene, em que foi Ele o templo, o altar, o sacerdote e a vítima" (Vida sacerdotum, Antwerpiae, Vostermann, 1751).
Na verdade, Jesus Cristo revestiu-se das vestes sacerdotais no santuário do seio materno, onde nos tomou a carne e com ela a vestimenta da nossa mortalidade. Saiu desse santuário na noite sagrada do Natal e começou o "Introito", entrando no mundo. Entoou o "Kyrie eleison", lançando os primeiros vagidos no presépio; o "Glória in excelsis" foi entoado pelos Anjos, quando apareceram aos pastores, e, convidando-os a misturar seus louvores com os deles, conduziram-nos ao berço do recém-nascido.

Jesus disse a "Coleta" em suas vigílias noturnas, onde implorava a misericórdia divina para nós. Leu a "Epístola", quando explicava Moisés e os profetas, demonstrando que os tempos eram findos. Anunciou o "Evangelho", quando percorria a Judéia a pregar a boa nova. Fez o "Ofertório", quando, no mistério da apresentação, ofereceu-se a seu Pai pela salvação do mundo. Cantou o "Prefácio", louvando, por nós, a Deus sem cessar e agradecendo-lhe os benefícios.

O "Sanctus" foi entoado pelos hebreus, no dia de Ramos, quando, na entrada de Jesus em Jerusalém, clamavam: "Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana ao Filho de David!"

A "Consagração", o Salvador efetuou-a na última Ceia, pela transformação do pão e do vinho em seu Corpo e em seu Sangue. A "Elevação" realizou-se, quando foi pregado na Cruz, elevado nos ares e exposto em espetáculo aos olhos do mundo. O "Pater Noster", Jesus o disse na Cruz, pronunciando as sete palavras. A "fração da Hóstia" cumpriu-se, quando sua alma santíssima separou-se de seu corpo adorável. O "Agnus Dei", o centurião o disse no momento em que exclamou: "Verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus!". A santa "Comunhão" foi o embalsamamento e a sepultura. A "bênção" no fim, Jesus a deu no monte das oliveiras, estendendo as mãos sobre os discípulos na ocasião da ascensão.
Eis a Missa solene celebrada por Jesus Cristo sobre a terra!

Ordenou que seus apóstolos e, depois deles, todos os sacerdotes, dissessem esta Missa, cada dia, ainda que mais resumida.

Somos, pois, tão favorecidos, e talvez mais do que os que viveram no tempo de Jesus. Eles ouviram uma única Missa, cujas partes foram celebradas em longos intervalos, enquanto nós podemos, cada dia, assistir a muitas e recolher, em pouco tempo, os frutos de toda a vida do Salvador.

Caro leitor, repassa, muitas vezes em teu espírito, a utilidade do santo Sacrifício da Missa, onde Jesus Cristo te faz participar dos méritos infinitos de sua santíssima vida e de sua paixão. Se fosse tão fácil adquirir bens temporais, não perderíamos um instante e não pouparíamos trabalho. Como, pois, somos tão pouco diligentes, quando se trata das riquezas eternas e dos tesouros que nem a ferrugem nem os ladrões podem nos arrebatar?

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