quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Catecismo da Crise na Fraternidade Sacerdotal São Pio X


Catecismo da Crise na Fraternidade 
Por um sacerdote francês da FSSPX

Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES
Observações a respeito da tradução, por favor: capela@nossasenhoradasalegrias.com.br

A Capela Nossa Senhora das Alegrias aproveita  para renovar sua total adesão às orientações de Monsenhor Lefebvre, reconhecendo-o vivamente como o instrumento divino para a salvação da Igreja neste nosso tempo. Pedimos orações por nossa perseverança.

5. 

1-      Há realmente uma crise na FSSPX?
Sim. Mons. Fellay fala de “uma grandíssima provação na FSSPX” (Ecône, 02/09/2012); “uma prova maior” (Ecône, 07/09/2012), “uma dolorosa provação” com “sérios problemas” (Cor Unum, nov. 2012); “A maior pela qual nós já passamos” (01/11/2012).

2-      Por que falar desses problemas em público?
Pela simples razão de que nós jamais “devemos dizer que essas discussões teológicas são um assunto para especialistas e que não nos dizem respeito. Elas devem ser enfatizadas para mostrar que o caso é exatamente o oposto: porque tocam a fé, essas questões dizem respeito a todos nós, clérigos e leigos. Nós devemos, portanto nos esforçar para entender e fazer entendíveis essas questões” (Pe. de Cacqueray, Suresnes, 31/12/2008).

3-      Por que lidar com este problema na forma de um Catecismo?
Porque, como Mons. Fellay disse, “ciente da vital necessidade em favor das almas de pregar de novo e novamente as verdades da Fé, a Igreja Católica sempre buscou tornar disponível aos seus filhos o ensinamento das verdades eternas... Que as páginas do catecismo iluminem as almas de boa vontade...” (Prefácio ao Catecismo da Doutrina Cristã).

4-      A crise na FSSPX consiste exatamente em quê?
“Tem havido um desafio à autoridade, um desafio radical, já que ele acusa as autoridades de não mais direcionar a Fraternidade ao seu fim” (Mons. Fellay, Cor Unum, Nov.2012).

5-      Mas a crise não foi superada no Capítulo Geral em julho de 2012?
Não. “Há uma desconfiança da autoridade”. (Mons. Fellay, Ecône, 07/09/2012).

6-      Por que a doença não foi tratada?
Porque, como o próprio Mons. Fellay reconheceu, “Eu estou bem ciente de que isso não acontece em um dia e que é inútil dizer “Confiem em nós!”. É depois dos fatos, com ações, que pouco a pouco ela voltará [a confiança]. É seguindo os fatos, e através de ações, que pouco a pouco ela retornará”.

7-      Não tem havido nenhuma ação significativa de Menzingen desde então?
Mas é claro [que sim!] A expulsão de Mons. Williamson.

8-      Mas isso é suficiente para concluir que a crise ainda está ocorrendo? Você tem que mostrar que, para além de algumas questões disciplinares, Menzingen continua resvalando doutrinalmente.
É exatamente isso que iremos fazer: explicar como e porque Menzingen continua a prosseguir no mau caminho.

9-      Por que Menzingen estaria prosseguindo no mau caminho?
Porque as autoridades da FSSPX se recusam a se livrar da ambiguidade que eles mesmos criaram.

10-   O que é essa ambiguidade?
Ela é dupla e diz respeito aos dois atos realizados por Bento XVI que são favoráveis à Tradição de uma maneira material e que Mons. Fellay apresenta como favorecendo formalmente a Tradição.

11-   O que essas palavras estranhas querem dizer?
Quando se tem cimento, areia e brita, você tem uma casa materialmente falando, mas não formalmente. Esta é uma grande diferença.

12-   Qual é o primeiro ato de Bento XVI que é um problema?
Este é o Motu Próprio do Papa Bento XVI sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma de 1970. Mons. Fellay reivindica que “por meio do Motu ProprioSummorumPontificum, o Papa Bento XVI tem restaurado ao seu devido lugar a Missa Tridentina, declarando que o Missal Romano promulgado por São Pio V nunca fora ab-rogado”, (Menzingen, 07/07-2007).

13-   Onde está a ambiguidade?
Em realidade, o Motu Proprio diz que a missa tradicional nunca fora ab-rogada como a forma extraordinária, mas que ela foi repelida como a forma ordinária. Por meio deste ato, Bento XVI fez o rito romano da missa perder, de jure, seu status como a única forma ordinária e oficial, e relegou-o ao status de “forma extraordinária”, depois de tê-lo humilhado ao comparar sua santidade com a de um “rito bastardo”. Apesar destes fatos, não existe nenhum documento oficial proveniente de Menzingen condenando essa coabitação litúrgica.

14-   Mas essa é apenas a sua maneira de ver as coisas.
Não, é também a opinião do Pe. Cacqueray em sua Carta aos Amigos e Benfeitores, de 2009. O Motu Proprio, disse ele, “não corresponde, e não é uma resposta, ao primeiro requerimento da FSSPX, exceto ao se falar materialmente” (Suresnes, 31/12/2008). Além disso, Mons. Lefebvre, depois de perceber que fora um erro assinar um acordo com Roma em maio de 1988, deixou-nos em guarda após as sagrações: “Vocês podem ver claramente que eles queriam nos trazer de volta à Igreja Conciliar... Eles querem impor essas novidades sobre nós a fim de acabarem com a Tradição. Eles não nos permitem nada por estima à liturgia tradicional, mas simplesmente para enganar aqueles aos quais eles a concedem e para minar nossa resistência, para conduzir uma vanguarda no campo tradicionalista a fim de destruí-lo. Essa é sua política, sua tática...” (Ecône, 09/09/1988).

15-   Então como Mons. Fellay deveria ter respondido?
Da mesma forma que a FSSPX respondera uma vez a uma ação similar de Roma (o Indulto de 1984). O superior geral da FSSPX disse que esse indulto fora “ruinoso para a metafísica da lei”. Ele só poderia ser um “argumentum ad hominem”, porque “suas condições são inaceitáveis”. Um católico, “que pense com a Igreja, pode apenas considerar o indulto como o fundamento de uma requisição”. (Cor Unum, junho 1985).

16-   Então, falando estritamente, a primeira condição da FSSPX não foi bem-sucedida.
Com efeito, o Capítulo Geral de 2006 falou “da necessidade de haver duas condições” nas “discussões com Roma”. Uma nota relembrou a primeira: “Liberdade completa sem quaisquer condições para a Missa Tridentina”. Entretanto, a liberação da missa, para além do engodo já citado, não foi sem condições. O Artigo 2 do Motu Proprio dá essa liberdade ao afirmar que as missas que não precisam de “autorização da Sé Apostólica ou do Ordinário” são apenas as “missas que são celebradas sem o povo”.

17-   Então, nós não deveríamos ter prosseguido tanto as discussões com as autoridades romanas?
Se nós tivéssemos respeitado o que o capítulo geral de 2006 havia decidido, sim, é isso mesmo [não deveríamos ter prosseguido]. Contudo, Mons. Fellay fez o oposto, pois após recordar que “a abordagem hegeliana de Bento XVI, segundo a qual a mudança, que é necessária, no entanto não pode ser uma ruptura com o passado”, ele escreveu: “Quanto a Roma, sem saber como e quando a situação pode mudar, nós preferimos preparar o terreno para as discussões por meio de um grupo ad hoc e não nos deixarmos ser pegos de surpresa, caso haja quaisquer surpresas” (Cor Unum, 16/07/2007).

18-   Qual é o segundo ato de Bento XVI que apresenta um problema?
É o decreto de levantamento das excomunhões lataesententiae dos bispos da Fraternidade (21/01/2009), que tampouco corresponde à segunda condição do capítulo de 2006, que diz: “A anulação do decreto de excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade”.

Pois, já em 1988, “Para Roma, o objetivo dessas discussões é a reconciliação, como diz o Cardeal Gagnon, o retorno da ovelha perdida ao aprisco.” Quando nós pensamos na história das relações entre Roma e os tradicionalistas de 1965 até em nosso próprio tempo, somos obrigados a afirmar que é uma perseguição cruel, implacável para nos obrigar a se submeter ao Concílio. A Roma conciliar e modernista de hoje jamais poderia tolerar a existência de um ramo saudável e vigoroso da Igreja que, por sua vitalidade, condena-os” (Pe. de Cacqueray, Suresnes, 31/12/2008).


19. Mas não importa muito se as excomunhões são “anuladas” ou “levantadas”, ou importa?
“A Fraternidade se recusa a pedir por um ‘levantamento de sanções’. Ela está buscando ‘a anulação do decreto de excomunhão’ – e qualquer um é capaz de ver que os termos que nós empregamos para fazer nosso pedido são dessa forma por desígnio. Nós queremos tornar manifesta nossa convicção de que as sanções são inválidas” (Pe. de Cacqueray, Suresnes, 31/12/2008).

20. Mas o resultado está aí, e apesar de tudo, é positivo!
“Se nós estamos realmente falando sobre a nulidade de um decreto – e não sobre o levantamento de excomunhões – então isso será o início da reparação da injustiça sem precedentes que conhecemos, e poderemos nos regozijar. Entretanto, se é para ser um ‘levantamento de excomunhões’, então as coisas podem ser bem diferentes. Isso pode não corresponder à nossa segunda condição, e isso pode não limpar nossos bispos dos injustos processos que tem sido praticados contra eles. Se permitirmos que se pense que as penalidades pronunciadas não foram inválidas, e talvez fossem merecidas, isso não resultaria, pelo menos em um determinado sentido, em um novo mal e mais profundo? Neste caso, Roma, com uma aparência de compaixão, poderia ter removido penalidades que, por meio deste mesmo ato, foram válidas ou feitas legitimamente” (Pe. de Caqcueray, Suresnes, 31/12/2008).

21. Como Monsenhor Fellay reagiu em público ao levantamento das excomunhões?
Expressou sua “gratidão filial ao Santo Padre por este ato o qual, para além da Fraternidade, beneficiará toda a Igreja (...) além de nosso reconhecimento ao Santo Padre, e a todos aqueles que o ajudaram a fazer este ato corajoso, estamos contentes que o decreto de 21 de janeiro considere ‘discussões’ com a Santa Sé como necessárias (...) Neste novo clima, nós temos a firme esperança de chegarmos em breve ao reconhecimento dos diretos da Tradição Católica” (Menzingen, 24/01/2009).

22. Alguém questionou este comunicado naquela época?
Sim. Na ocasião de uma reunião de priores, um deles comentou que o comunicado contou uma mentira, estava enganando nossos fiéis e que as coisas precisavam ser clarificadas. E utilizou esta imagem: “Quando eu compro um bolo de pera, e me entregam um bolo de maçã, eu não posso dizer que obtive o que havia pedido”.

23. Mons. Fellay corrigiu publicamente a posição que ele havia tomado?
Não. No ano seguinte, o prior foi silenciado e indicado como um sacerdote júnior em um novo posto. Neste meio tempo, Mons. Fellay escreveu um boletim interno para a Fraternidade: “Ao mesmo tempo em que eu entreguei ao cardeal um buquê para o Papa Bento XVI, eu recebi de suas mãos um decreto assinado pelo Cardeal Re, datado de 21 de Janeiro. Como alguém não pode ver a mão de Nossa Senhora nisso? Eu juro para vocês, ainda estou maravilhado com isso. Vai muito além das expectativas humanas, ainda que o decreto fale de remissão [perdão] das excomunhões e não da anulação do decreto de 1988, e mesmo que o texto arranje as coisas de tal forma que a Santa Sé não perca a moral. A coisa essencial ainda é que as excomunhões – que nós sempre contestamos – não existem mais, e a trajetória por nós de discussões dos problemas fundamentais (doutrina, fé, etc.) é reconhecida como necessária.

24. Mas o que importa de fato não é o efeito?
Não, pois afirmar que “a coisa essencial é que as excomunhões não existem mais” é outra forma de dizer que nós estamos contentes em ter uma coisa materialmente, enquanto desejávamos tê-la formalmente.

25. Então, apesar desses “senãos”, Mons. Fellay considerou cumprida a segunda condição?
Sim. Ele não apenas se engajou em discussões com Roma, como ele já havia começado a falar para os membros de uma “situação canônica, quando ela for possível” na qual “nós necessariamente temos de ter um sistema de proteção tal como Mons. Lefebvre tão sabiamente previu, com um comitê para defesa da Tradição em Roma em seu comando” (Cor Unum, 08/02/2009).

26. Então nós começamos as discussões com Roma sob um falso fundamento?
Absolutamente, já que “nós não vemos a reconciliação da mesma forma. O Cardeal Ratzinger a vê no sentido de reduzir-nos e de trazer-nos de volta ao Vaticano II. Nós a vemos como o retorno de Roma à Tradição. Nós não concordamos um com o outro. É um diálogo de surdos” (Mons. Lefebvre, Fideliter, set-out 1988).

27. Mas nós não estamos mais na era de João Paulo II.
Mas é o pensamento de Bento XVI melhor neste aspecto do que aquele de João Paulo II? Basta ler o estudo feito por um de nós três, “A fé sob o perigo da razão”, para perceber que o pensamento do atual Papa também está impregnado de subjetivismo. É toda a imaginação subjetiva do homem no lugar da realidade objetiva de Deus. É toda a religião católica sujeita ao mundo moderno” (Monsenhores Williamson, Tissier, de Galarreta 07/04/2012).

28. Contudo, mesmo que ambas as condições não tenham sido estritamente cumpridas, em termos de mídia e também falando psicologicamente, elas mostraram que Bento XVI foi realmente benevolente para com a Fraternidade e sua posição doutrinária.
“Para um subjetivista esse pode facilmente ser o caso, porque subjetivistas liberais podem tolerar até mesmo a verdade, mas não uma que se recuse a tolerar o erro. Ele poderia nos aceitar dentro de um quadro de pluralismo relativista e dialético, com a provisão de que nós pudéssemos permanecer em ‘plena comunhão’, em relação à autoridade e às outras ‘entidades eclesiásticas’. Por esta razão, as autoridades romanas podem tolerar que aFraternidade continue a ensinar a doutrina católica, mas elas definitivamente não permitirão que ela condene os ensinamentos conciliares. É por isso que mesmo um acordo puramente prático necessariamente silenciaria pouco a pouco a Fraternidade, impedindo-a de fazer uma crítica completa ao Concílio e à Missa Nova. Ao cessar o ataque a mais importante de todas as vitórias da Revolução, a pobre Fraternidade deixaria de se opor à apostasia universal de nossos tristes tempos e ficaria atolada” (Monsenhores Williamson, Tissier, de Galarreta 07/04/2012).

29. Mas quando Roma nos chama a tomar parte nas discussões, nós temos de ir correndo, não temos?
Não! Nós não devemos ir correndo: “Serei eu a colocar as minhas condições para eventualmente continuar as conversas com Roma” (Mons. Lefebvre, Fideliter set-out 1988). Notar bem que essas condições são para voltar a entrar em contato, e não para assinar um acordo!

30. Quais foram as condições, tão sabiamente previstas por Monsenhor Lefebvre, para eventualmente continuar as conversações com Roma?
“[...] Nesse momento seria eu quem imporia condições. Já não aceitaria estar na situação em que nos encontramos durante os colóquios. Isso terminou. Eu apresentaria a questão no plano doutrinal: Estão de acordo com as grandes encíclicas de todos os papas que vos precederam? Estão de acordo com a Quanta Cura de Pio IX, com a Immortale Dei e a Libertas de Leão XIII, com a Pascendi de Pio X, com a Quas Primas de Pio XI, com a Humani Generis de Pio XII? Estão em plena comunhão com estes papas e com suas afirmações? Aceitam ainda o juramento antimodernista? São a favor do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo? 

Se não aceitam a doutrina de seus antecessores, é inútil falarmos. Enquanto não tiverem aceitado reformar o Concílio considerando a doutrina destes papas que vos precederam, não há diálogo possível. É inútil. As posições ficariam, assim, mais claras.” (Mons. Lefebvre, Fideliter set-out 1988).

31. Falta clareza ao trabalho de nossos teólogos?
Absolutamente não. “De nosso lado, nossos especialistas tem mostrado a oposição entre a Igreja de todos os tempos e o ensinamento do Vaticano II e do que veio dele” (Mons. Fellay, Cor Unum, março 2012).

32. Quais foram os resultados dessas discussões?
As discussões tem mostrado um profundo desacordo em virtualmente todos os pontos nelas abordados” (Mons. Fellay, Cor Unum, março 2012).

33. Então por que essa “proposição feita pela congregação romana para reconhecer a Fraternidade através do estatuto jurídico de uma prelazia pessoal, com a condição de que assinemos um texto ambíguo?” (Mons. Fellay, Cor Unum, março 2012)
As discussões com Roma mostraram “que eles não estão prontos para renunciar ao Concílio Vaticano II” e que eles querem “levar-nos a ele”. Entretanto, o retorno da Fraternidade poderia “ser útil” para a Igreja Conciliar, “a fim de endossar a renovação da reforma na continuidade” (Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/2011).

34. Mas Mons. Fellay está ciente disso?
Sim. “Então nós recebemos uma proposta que era uma tentativa de nos fazer entrar no sistema da hermenêutica da continuidade” (Mons. Fellay, Cor Unum, março 2012). No mesmo documento, ele afirma estar surpreso por esta proposta de Roma.

35. Surpreso ou não, o que ele decide fazer?
Antes de tudo, convocar uma reunião com todos os superiores da Fraternidade (exceto Mons. Williamson) em Albano para buscar conselho (Outubro 2011).

36. O que foi dito a ele nessa reunião?
Que a oferta de Roma era “confusa, equívoca, falsa e má no que concerne ao essencial”. “Seu preâmbulo doutrinal” é “pior do que o protocolo de 1988, particularmente no que diz respeito ao Concílio e ao magistério pós-conciliar”. “Dadas as circunstâncias, é certo que, no fim, após um longo palavrório, nós podemos acabar com absolutamente nada”. Continuar os contatos “significaria necessariamente algum prejuízo ao bem comum que nós possuíamos, tanto para a Fraternidade quanto para a família da Tradição” (Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/2011).

37. Ele seguiu o conselho?
Não. 

38. Então Mons. Fellay mostrou uma séria falta de prudência?
Sim, mas isso não foi sua única falta, porque o fazer significou ir contra a vontade do Capítulo Geral de 2006. Portanto, houve não só uma imprudência muito grande como também uma séria desobediência.

39. O que isso significa?
 Em março de 2012, o superior geral escreveu o seguinte a todos os membros da Fraternidade:
“Os poucos atos de Bento XVI ad intra afetando a liturgia, a disciplina e a moral são importantes mesmo que a implementação deles ainda deixe muito a desejar. Alguns bispos jovens mostram claramente suas simpatias para conosco... Pode ser que essas coisas sejam mais óbvias em Roma! Nós temos agora contatos amistosos nos mais importantes dicastérios, e igualmente entre aqueles próximos ao Papa!”
Mons. Fellay pensa que ele está testemunhando “a restauração da Igreja. Ainda que não se possa excluir o retorno de um tipo de “Juliano o Apóstata”, não creio que este movimento possa ser impedido. Se isto for verdadeiro, e disso tenho certeza, isto demanda de nós uma nova posição em relação à Igreja oficial. Este é o contexto apropriado para considerar a questão do reconhecimento da Fraternidade pela Igreja Oficial. É uma questão de ter uma visão sobrenatural da Igreja e do fato de que Ela ainda permanece nas mãos de Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo que desfigurada por seus inimigos. Nossos novos amigos em Roma confirmam que o impacto de tal reconhecimento pode ser extremamente poderoso, ao longo de toda a Igreja, tal a confirmação da importância da Tradição para esta. Com isso, essa realização concreta requer dois pontos absolutamente necessários a fim de garantir nossa sobrevivência: o primeiro é o de que não peçam concessões à Fraternidade em nada que toque a Fé ou o que flui dela (liturgia, sacramentos, moral, disciplina). O segundo é o de que uma liberdade e autonomia de ação sejam concedidas à Fraternidade, e que lhe seja permitido viver e desenvolver-se concretamente. Essas são as circunstâncias concretas que demonstrarão quando o tempo houver chegado para tomar passos de volta em direção à Igreja Oficial. Hoje, apesar da abordagem romana em 14 de setembro e das condições anexas, isso ainda parece ser possível. Quando Deus quiser, chegará o tempo. Nós não podemos mais excluir a possibilidade, porque o Papa está colocando todo o seu peso neste assunto para que ele chegue a um rápido fim” (Cor Unum).

40. Como ele pôde justificar tal mudança de direção?
Desprezando todos os avisos amigáveis e cancelando as decisões do Capítulo de 2006 que o limitariam.

41. Em quais “avisos amigáveis” você está pensando?
Neste em particular: “Prosseguir na direção de um acordo prático significaria quebrar nossa palavra e nossos compromissos na frente de nossos sacerdotes, de nossos fiéis, de Roma e de todo o mundo. Tal passo demonstraria uma séria fraqueza diplomática da parte da Fraternidade, e para dizer a verdade, mais do que diplomática. Isso seria uma falta de coerência, de retidão e de firmeza, cujo efeito seria a perda da credibilidade e da autoridade moral das quais desfrutamos no presente. Apenas o simples fato de trilharmos esse caminho trará a nós desconfiança e divisão. Vários dos superiores e sacerdotes terão um problema de consciência e se oporão a ele. A autoridade, e até mesmo o princípio de autoridade, serão postos em questão e minados. Portanto, este não é o tempo para mudar a decisão do Capítulo de 2006” (Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/2011).

42. O que a decisão do Capítulo de 2006 diz?
“Os contatos que a Fraternidade mantém de tempos em tempos com as autoridades em Roma não tem outro propósito senão auxiliá-las a abraçar novamente aquela Tradição que a Igreja não pode repudiar sem perder sua identidade, e não buscar um benefício para ela mesma, ou chegar a um “acordo” impossível e meramente prático. Quando a Tradição voltar ao seu lugar de direito, a reconciliação não será mais um problema e a Igreja saltará de volta à vida”.

43. O que Mons. Fellay pensa das condições do Capítulo de 2006?
“O Capítulo de 2006 deu-nos uma linha, que era o que se pode chamar de clara, mas a qual eu me arriscaria a sugerir que era abstrata demais. É uma linha clara, pois diz: ‘As discussões tem por fim ajudar Roma a retornar à Tradição e nós não queremos discutir um acordo prático; quando Roma retornar não haverá mais um problema.’ Como alguém pode entendê-la? Até onde ela vai? Ela é total ou parcial? Em quais pontos?”.

44. O que ele fez com essas claras decisões?
Ele oficialmente lançou-as na lata de lixo em março de 2012, no CorUnum. 

45. Como?
Por meio de um sofisma.

46. Qual?
Este: a chamada “nova situação” que requer uma nova “direção”; a decisão do Capítulo de 2006 não é um “princípio”, mas sim uma “diretriz que deve informar nossa ação concreta”. “Nós nos defrontamos com um raciocínio em que a premissa maior é uma afirmação do princípio de primazia da Fé a fim de permanecer católico. A premissa menor é uma observação histórica sobre a atual situação da Igreja; e a conclusão prática é baseada na virtude da prudência governando a ação humana, não buscando um acordo em detrimento da Fé. Em 2006, as heresias continuavam a emergir, as autoridades estavam propagando o espírito moderno e modernista do Vaticano II e estavam a impô-los a qualquer um, tal como um rolo compressor (essa é a premissa menor). É impossível chegar a um acordo prático sem que as autoridades sejam convertidas; do contrário, nós seremos esmagados, moídos, destruídos ou sujeitos a uma pressão tão forte que não poderíamos resistir (essa é a conclusão). Se a premissa menor mudasse, quer dizer, se houver uma mudança na situação da Igreja com relação à Tradição, isso levaria a uma mudança correspondente na conclusão, sem que nossos princípios tivessem a mínima modificação! Como a Divina Providência se expressa através da realidade dos fatos, para conhecer sua vontade nós devemos seguir atentamente a realidade da Igreja, observá-la, escrutinizar o que está acontecendo. Entretanto, não há dúvida de que, desde 2006, estamos a testemunhar um desenvolvimento na Igreja, um desenvolvimento importante e muito interessante, ainda que escassamente visível.” (Monsenhor Fellay, ‘Cor unum’,  março de 2012)

47. Onde está o erro nesse raciocínio?
Em uma cegueira que se recusa a ver a realidade tal como ela é: as autoridades ainda estão, em 2012, propagando o espírito moderno e modernista do Vaticano II! 

Para o Cardeal Ratzinger, “não há Tradição. Não há depósito a se transmitir. A Tradição da Igreja é o que o atual Papa diz hoje. Você tem de se submeter ao que o Papa e os bispos estão dizendo hoje. Isto é o que a Tradição significa para eles, a famosa tradição viva, o único motivo de nossa condenação... É a tirania da autoridade” (Mons. Lefebvre, citado por Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/2011).

48. Em vista desta cegueira, houve reação, oposição?
Sim, e de uma qualidade muito boa também. Como Mons. de Galarreta predisse, “vários dos superiores e sacerdotes” tiveram um “problema de consciência” e “opuseram-se” a ele. Mas eles não eram tão numerosos assim em quantidade, pois: “não vemos nós, já dentro da Fraternidade, os sintomas de uma diminuição de sua confissão de Fé?” (Monsenhores Williamson, Tissier, e de Galarreta, 7 de abril de 2012).

49. Mons. Fellay não teria sido enganado pela “contradição reinante em Roma”? (Mons. Fellay, DICI 264).
Roma sempre utilizou a mesma linguagem errada, contudo clara e precisa. Em contraste, o superior-geral nos últimos anos tem utilizado de ambiguidade e imprecisão em seus comunicados oficiais e declarações de imprensa.

50. Não poderia ser que nós tivéssemos nos enganado sobre as intenções do Papa?
Não!

51. Por que não?
Porque em 20 de abril de 2005, no dia posterior à sua eleição, Bento XVI, diante de114 cardeais, dirigiu sua primeira mensagem ao mundo. Nela, ele elogiou o Papa João Paulo II, “com seu ensino e seu exemplo”:
“O Papa João Paulo II indicou corretamente o Concílio Vaticano II como uma ‘bússola’ com a qual nós nos orientamos no vasto oceano do terceiro milênio. Portanto, enquanto eu me preparo para o serviço que é próprio ao sucessor de Pedro, eu também desejo confirmar minha determinação em continuar a colocar o Concílio Vaticano II em prática, seguindo os passos de meus predecessores e em uma piedosa continuidade com os dois mil anos de Tradição da Igreja... Os documentos conciliares não perderam nada de sua atualidade; de fato, seus ensinamentos estão se provando particularmente relevantes à nova situação da Igreja e da atual sociedade globalizada” (Osservatore Romano, 21/04/2005).

52. O que Mons. Fellay pensava de Bento XVI, quando ele [Mons. Fellay] foi eleito pela primeira vez?
“Muito brevemente, deixe-me resumir o pensamento utilizando uma imagem: se nós tomarmos a alegoria de uma queda livre para descrever o pontificado de João Paulo II, nós podemos predizer que Bento XVI tentará abrir um paraquedas, mas um cujo tamanho não conhecemos. O efeito do paraquedas será o de retardar a queda em alguma medida, mas ela continuará. Essa situação pode enganar mais de uma ou duas pessoas, fazendo-as acreditar que a restauração da Igreja está em mãos. A menos que haja um milagre, este não é o caso. A tendência ainda continuará a ser o Vaticano II, assim como as amplas diretrizes da colegialidade, do ecumenismo e da liberdade religiosa, com uma ênfase sendo colocada no ‘ecumenismo’ com ‘nossos vizinhos mais próximos’, sejam eles os ortodoxos, os anglicanos ou os judeus. Com relação à questão da liturgia, nós podemos esperar um reforço da Ecclesia Dei assim como algum tipo de tentativa de ‘reforma da reforma’”.

53. E que dizer sobre 2012, quando eles estavam todos ocupados celebrando os cinquenta anos do Concílio Vaticano II, com indulgências sendo oferecidas aos fiéis que assistissem às conferências sobre o Vaticano II? 
“Pode-se observar uma mudança de atitude na Igreja, ajudada pelos gestos e atos de Bento XVI para com a Tradição (...) a hierarquia em favor do Vaticano II está perdendo ímpeto (...) eu tenho sido capaz de observar em Roma que, mesmo que as glórias do Vaticano II ainda estejam nas bocas de muitos e lhes sejam empurradas goelas abaixo, apesar disso elas não estão em todas as cabeças” (Carta, 14/04/2012).

54. Seja honesto: há alguma verdade nessa afirmação.
Um pouco de verdade que esconde muito de falsidade. Mons. Lefebvre, em seu juízo, não omitiu a coisa mais essencial: os princípios. Em uma entrevista à revista Jesus, o Cardeal Ratzinger declarou que os “valores” de “dois séculos de cultura liberal” que “nasceram fora da Igreja” haviam “encontrado um lugar na visão da Igreja sobre o mundo”. Mas já que o clima não era mais aquele do otimismo dos anos 1960, nós temos de “continuar a procurar um novo equilíbrio”. Mons. Lefebvre tinha isso a dizer sobre o assunto:

“Está claro: a liberdade religiosa e o ecumenismo são os ‘os direitos do homem’. Isso é satânico. E o Cardeal disse: ‘Isso é uma conquista, agora nós temos de encontrar um novo equilíbrio’. Ele não disse que nós deveríamos nos livrar dos princípios e valores que provém da cultura liberal, mas que devemos encontrar um novo equilíbrio. Este ‘novo equilíbrio’ é o equilíbrio que o Opus Dei possui: um exterior aparentemente tradicional, uma piedade exterior, um exterior de disciplina religiosa, mas com ideias liberais. Isso não é o conceito de lutar contra os ‘direitos do homem’, contra a liberdade religiosa e contra o ecumenismo. Então, por causa desse equilíbrio, eles terão de suprimir um pouco da teologia da libertação, suprimir um pouco dos bispos franceses devido ao catecismo deles; isso significará que eles terão de dar um pouco de satisfação àqueles que têm uma nostalgia real da antiga missa e Voilà! No final das contas, eles darão a impressão de querer o retorno da Tradição, quando em verdade não querem realmente fazer isso. Por isso, nós temos de alertar nossos fiéis de tal forma que eles não acabem sendo enganados, de forma que eles não se deixem levar por uma reforma exteriormente tradicional, que fatalmente os levaria a adotar o liberalismo e as idéias liberais” (St. Nicolas duChardonnet, 13/12/1984).

55. Mons. Fellay disse que ele foi enganado pelo papa porque este era por Roma.
Ele pode dizer isso, mas não pode prová-lo. O Papa alertou publicamente Mons. Fellay e a Fraternidade: 
“Isso deixará claro que os problemas a serem discutidos agora são de natureza essencialmente doutrinal e dizem respeito primariamente à aceitação do Concílio Vaticano II e do magistério dos papas pós-conciliares (...) a autoridade de ensino da Igreja não pode ser congelada no ano de 1962 – isso deve ficar bem claro para a Fraternidade. Mas alguns daqueles que se apresentam como grandes defensores do Concílio também precisam ser lembrados de que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Qualquer um que queira ser obediente ao Concílio deve aceitar a Fé professada ao longo dos séculos, e não pode cortar as raízes das quais a árvore extrai sua vida” (Bento XVI, Carta aos Bispos, 10/03/2009).

56. Talvez o Papa Bento XVI esteja louvando o Vaticano II por razões políticas, mas no fundo não acredite realmente nele, tal como Mons. Fellay afirmou quando veio à reunião dos priores da Fraternidade em Flavigny para falar sobre a beatificação de João Paulo II?
Se Bento XVI acredita no que ele mesmo fala, então ele é um modernista. Se não, é um hipócrita. Em ambos os casos, a vontade de tal pessoa não vale de nada. Em ambos os casos, é um equívoco dizer: “para o bem comum da Fraternidade, a melhor solução seria continuar com o atual status quo intermediário, mas está claro que Roma não o tolerará por mais tempo.”

57. Você vê apenas o que nos divide, e nunca o que os une. Bento XVI, no mínimo, condena a “hermenêutica da ruptura”.
Você fala como um iniciante que não sabe nada sobre a doutrina modernista. Tudo é ‘vivo’ para eles, tudo é história. Tudo é uma continuidade histórica, mas não doutrinal já que, para um modernista, a verdade evolui com a vida e a Igreja é subjetiva.

58. Mons. Fellay talvez não fora mal aconselhado?
Em Menzigen sim, mas não na Fraternidade como um todo. Os superiores de distrito, bispos, sacerdotes amigos e superiores de Ordens religiosas todos o alertaram. Até mesmo vozes dentro de Roma alertaram-no para não seguir na estrada que ele começava a trilhar. Entre estas últimas estava o Pe. Ferre, secretário do Cardeal Cañizares, assim como outros. (Fonte: Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/12).

59. Mas Mons. Fellay não fez nenhuma concessão ou compromisso com a Roma.
Talvez sim, talvez não. Nós ainda não vimos todos os documentos. Em todo caso, há esta estranha confidência de Mons. Fellay: “A entrevista de 13 de junho com o Cardeal Levada confirmou verdadeiramente que o Vaticano” propôs para nós “um arranjo canônico” baseado em “minha carta de 14/04/12” no qual “nós teríamos que dizer que concordávamos e não concordávamos ao mesmo tempo”. “Essa carta extremamente delicada parece ter sido aprovada pelos cardeais e pelo papa” (Cor Unum, verão 2012).

60. Eu tenho de lhe lembrar que Mons. Fellay não assinou nada em 13 de junho de 2012?
“Mas eu vos digo, todo aquele que olhar para uma mulher com luxúria, já cometeu adultério com ela em seu coração”. Pode-se muito bem cometer adultério espiritual por pensamento ou desejo, sem que os planos de alguém jamais cheguem a se concretizar. 

61. Mas você está julgando intenções.
Não! Simplesmente leio. Mons. Fellay censurou os outros três bispos por terem uma visão da Igreja que era “humana demais e até mesmo fatalista”. (Carta do dia 14-4-2012)
- “Esses gestos em nosso favor ao longo dos últimos anos estão sob o governo de Bento XVI.” (O que não é verdade, como nós já vimos).

- “Agora, esses gestos indicam uma linha – nem sempre uma linha reta – mas uma linha clara em favor da Tradição”. (Essa afirmação é superficial, porque ela é material e subjetivista, e, portanto objetiva e formalmente falsa).

- “Nós estamos no processo de transformar os erros do Concílio em super-heresias, como se ele estivesse se tornando um mal absoluto, pior do que qualquer coisa... Isso é sério, porque tal caricatura não corresponde mais à realidade”. (Isso faz pensar se Mons.Fellay realmente compreendeu o combate de Mons. Lefebvre, que disse: “As respostas romanas às nossas objeções tendiam a mostrar que não havia nenhuma mudança, mas uma continuidade da Tradição. Estas são afirmações que são piores que a declaração conciliar sobre a liberdade religiosa. Esta é a real mentira oficial. Não há forma de nos entendermos um com o outro, está tudo em uma contínua evolução. Torna-se impossível falar.” (Mons. Lefebvre, citado por Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/12).

- “Logicamente, isso terminará no futuro em um verdadeiro cisma”. (Outro sofisma desonesto, que joga com a sentimentalidade e não com a reflexão fria. Em uma carta que Mons. Lefebvre escreveu ao Mons. De Galarreta em 1989, lê-se: “Parece-me oportuno analisar a ação do diabo para enfraquecer nosso trabalho ou reduzi-lo a nada. A primeira tentação consiste em manter boas relações com o papa ou com os bispos atuais. Obviamente é normal estar em harmonia com as autoridades, em vez de estar em conflito com elas. A Fraternidade será, portanto acusada de exagerar os erros do Vaticano II, ou de criticar abusivamente os escritos e ações do papa e dos bispos, ou de estar atrelada aos ritos tradicionais com uma rigidez excessiva e finalmente de mostrar uma tendência sectária que um dia levará ao cisma. Uma vez que a palavra ‘cisma’ começa a ser mencionada, ela é utilizada como um espantalho para fazer os seminaristas e suas famílias ficarem com medo, levando-os a abandonarem a Fraternidade mais facilmente do que se padres, bispos e a própria Roma fingissem oferecer-lhes garantias em favor de algum tipo de ‘Tradição’”). 

- “E é bem possível que este fato seja um dos argumentos me empurram a não mais adiar minha resposta à pressão vinda de Roma... Quanto à questão mais crucial de todas, que é se poderemos sobreviver caso a Fraternidade seja reconhecida por Roma, nós não chegamos às mesmas conclusões que as suas”. (O que pode ser mais claro do que isso?).

62. Mas essa carta privada jamais fora destinada à divulgação pública.
É mesmo? Então é certo blasfemar em privado, desde que você não o faça em público? Uma intenção perversa ainda que privada não continua sendo uma intenção perversa?

63. Menzingen disse que a pessoa responsável por esta indiscrição havia “pecado gravemente”.
Pelo contrário, achamos que ela não fez nada mais do que o seu dever. Quando um líder perde sua razão, é como se o resto do grupo percebesse isso. E se houver qualquer falha envolvida: o felix culpa, que revelou as intenções do coração.

64. Estes são assuntos sérios. É necessária uma prova incontestável.
Nós temos palavras muito suficientes de Mons. Fellay que revelam suas intenções mais íntimas. 

65. Quais palavras?
A respeito do “texto que eles apresentaram” a ele “em junho”, houveram algumas modificações desejadas pessoalmente pelo papa (as três condições: Magistério, Vaticano II, Missa Nova). “Quando eles me devolveram este documento, pensei comigo mesmo: ‘Não, eu não posso assiná-lo’” (Mons. Fellay, 01/11/2013, DICI 264).

66. Como essas palavras condenam Mons. Fellay?
Se as modificações foram o que fizeram Mons. Fellay decidir que ele não poderia assiná-las, isso significa que naquele dia havia algo que ele poderia assinar. “Não, eu não posso assinar isso” significa que havia outra possibilidade: “Sim, eu irei assinar isso”.

Sendo este o caso, em outras palavras, sem as modificações papais, o que era aquilo que ele poderia ter assinado em prol da Fraternidade se não um acordo prático sem um acordo doutrinal? E isso contrário à vontade do Capítulo de 2006 e à reunião extraordinária recente dos superiores.

67. Então, sem as explicações doutrinárias adicionadas pelo papa, poderia ter havido um acordo [‘ralliement’]?
Tudo indica que seria desta forma. As diversas indiscrições dos assistentes, Padres Pfluger e Nely, confirmam-no.

68. Mas, mesmo assim, Mons. Fellay não é um modernista.
Obviamente. Ninguém jamais pensou isso. Mas o Cardeal Billot disse que o liberal “é incoerente; ele diz sim, ele diz não; ele não sabe exatamente; ele nunca afirma sua posição de uma forma completamente clara; ele sempre fala de uma maneira ambígua, e tudo isso devido à sua preocupação em agradar ao mundo”.
Uma inclinação liberal é, portanto, suscetível à tentação de um compromisso com uma Roma não-convertida. É aqui onde o perigo mora: em um desejo de se acomodar, e não em qualquer reconhecimento direto da teoria do Vaticano II. O perigo é essa ilusão liberal que na prática busca viver em paz com o sistema conciliar.
 
69. Porque Mons. Fellay e o seu Conselho Geral têm mantido todas essas ambiguidades? Porque eles são tão imprudentes, chegando até mesmo ao ponto da desobediência? Porque eles têm tentado uma política tão perigosa e suicida?
Porque Mons. Fellay e aqueles ao seu redor, quando tudo está dito e feito, têm mais em comum com a eclesiologia de Bento XVI do que com aquela de Mons. Lefebvre.

70. Qual é a eclesiologia de Bento XVI?
É a do Cardeal Ratzinger, que já em 1988 “insistiu na existência de uma só Igreja: a Igreja do Vaticano II” (Mons. Lefebvre, 19/06/1988).

71. Mons. Lefebvre não nos alertou sobre essa falsa eclesiologia?
Claro que sim! “O Cardeal Ratzinger sempre me disse, ‘Mas Monsenhor, há apenas uma Igreja, você não deve fazer uma Igreja paralela’. O que é essa Igreja para ele? A Igreja Conciliar, está claro! E se mencionarmos a Tradição a ele, o Cardeal Ratzinger responde: ‘Mas o Concílio, isto é a Tradição hoje! Vocês têm de retornar à Tradição da Igreja de hoje e não à do passado! Juntem-se novamente à Igreja de hoje!’”. E Mons. Lefebvre comenta: “Eu podia sentir muito bem que era isso o que havia em sua mente: poderia levar alguns anos, talvez, mas ele tinha que nos trazer de volta ao espírito do Concílio” (Ecône, 09/06/1988).

72. Mons. Fellay também pensa que há apenas uma só Igreja, a Igreja concreta?
Sim, e ele a apregoa! “O fato de ir a Roma não significa que nós concordemos com eles. Mas é a Igreja! E é a Igreja verdadeira! Ao rejeitar as partes más, nós não devemos rejeitar tudo. Ela permanece a Única Igreja Santa, Católica e Apostólica.” (Flavigny, 02/09/2012).Esta visão éenganosa, porqueRoma perdeua fé.Portanto, não podemosfalarda Igreja de hojedeixando de ladoalgo de tamanhaimportância.Os fatos - perda da féno ápiceda Igreja -são os fatos, inclusive se eles apontam o mistério da iniquidade.

73. Isso realmente contradiz o pensamento de Mons. Lefebvre?
Obviamente. “A Igreja visível é reconhecida pelos caracteres que sempre foram dados à visibilidade: una, santa, católica e apostólica. Pergunto: onde estão as verdadeiras marcas da Igreja? Elas estão mais na Igreja oficial (esta não é a Igreja visível, mas apenas a Igreja oficial) ou em nós, no que representamos, no que somos? Claramente somos nós que preservamos a Unidade da fé, que desapareceu da Igreja oficial...Não somos nós, mas sim os modernistas que estão deixando a Igreja. Quanto a falar de ‘deixar a Igreja visível’, é um erro tomar a Igreja visível como sendo a mesma coisa que a Igreja oficial. Nós pertencemos à Igreja visível, aos fiéis sob a autoridade do papa, já que nós não estamos negando a autoridade papal, mas apenas o que ele está a fazer (...) então, que dizer sobre estarmos ‘deixando a Igreja oficial’? Em um certo sentido, obviamente sim.” (Ecône, 09/09/1988).

74. Mas Mons. Lefebvre costumava ir a Roma também.
Sim, mas com um objetivo muito preciso e não negociável: “Eu posso ouvi-los dizer: ‘Você exagera! Há cada vez mais e mais bispos que rezam, que têm a fé e são edificantes!’ – Como eles podem ser santos se admitem a falsa Liberdade Religiosa e, portanto o Estado laico? Ou quando eles aceitam o falso ecumenismo e admitem assim que há vários caminhos que levam à salvação? Quando eles aceitam a reforma litúrgica e assim negam praticamente o Sacrifício da Missa? E o novo catecismo com todas as suas heresias e erros? Eles não estão, em vez disso, a cooperar com a revolução dentro da Igreja e com sua destruição? (...) uma coisa apenas é necessária à continuação da Igreja Católica: bispos que sejam completamente católicos, sem qualquer compromisso com o erro, que fundem seminários católicos” (Mons. Lefebvre, Jornada Espiritual).

75. De onde essas palavras - “Igreja conciliar” – vieram?
Elas vieram de uma carta de Mons. Lefebvre a Mons. Benelli (25/06/1976), e desde o tempo de Paulo VI (consistório de 24/05/1976) que via como “fora da Igreja” qualquer um que “recusasse os ensinamentos do Concílio”, e adiante na era de João Paulo II (SacraeDisciplinaeLeges 25/01/1983), que via “no Código um grande esforço para traduzir na linguagem da lei canônica a doutrina exata da eclesiologia conciliar (...) que constitui a novidade essencial do Concílio Vaticano II, em continuidade com a tradição legislativa da Igreja”, levando-nos todos até o caminho de Bento XVI, no qual há uma continuidade perfeita (senão única).

76. Por quanto tempo Mons. Fellay pensou assim?
Por diversos anos. “Identificar a Igreja oficial com a Igreja modernista é um erro, porque nós estamos falando sobre uma realidade concreta.” (Mons. Fellay, Flavigny, 16/02/2009).

77. Alguma pessoa indicou esse erro a ele?
É claro que sim. Em uma reunião de sacerdotes, um teólogo e um antigo professor de seminário pediram-no para se livrar dessa ambiguidade a respeito da Igreja: Católica ou Conciliar? Ouviu-se ele responder: “Estou cansado dessa contenda sobre palavras”.

78. Esta é uma resposta surpreendente.
É mais do que apenas surpreendente! É angustiante! Quarenta anos de combate teológico sobre ortodoxia ou heterodoxia de palavras apenas para terminar ouvindo isso de um sucessor de Mons. Lefebvre! Que este mesmo, em uma entrevista um ano depois das sagrações, disse o seguinte:
“A conversa sobre ‘Igreja visível’ de Dom Gerard e M. Madiran é infantil! É incrível que todos possam falar de ‘Igreja visível’ para se referir à Igreja Conciliar em oposição à Igreja Católica, a qual nós estamos tentando representar e continuar. Não estou dizendo que somos a Igreja Católica. Eu jamais disse isso. Mas nós representamos a Igreja Católica tal como ela costuma ser, já que estamos continuando o que sempre foi feito... Obviamente nós somos contra a Igreja Conciliar, que em termos práticos é cismática, mesmo que eles não aceitem isso. Na prática, ela é uma Igreja que é virtualmente excomungada, já que é uma Igreja modernista”.
79. É por isso que Menzigen e seus órgãos de imprensa (DICI...) sempre evitou usar termos tais como “Igreja Conciliar”, “Igreja do Vaticano II”, etc.
Sem dúvida. E ainda mais preocupante, o mais recente Capítulo Geral de 2012 não quis tomar e fazer como suas novamente nem as palavras da declaração de 1974: “Recusamo-nos e sempre nos recusamos a seguir a Roma de tendências neo-protestantes e neo-modernistas, o que é manifestável claramente no Concílio Vaticano II e depois do Concílio em todas as reformas provenientes deste”, nem as palavras da carta aberta ao Cardeal Gantin: “Nós jamais quisemos pertencer a esse sistema que chama a si mesmo de Igreja Conciliar e que se identifica com o Novus Ordo Missae, com oecumenismo indiferentista e com a laicização da sociedade. Sim, nós não temos nada a ver, nullam partem habemus, com o panteão de religiões de Assis. Nós não podemos pedir nada melhor do que ser declarados excomungados...”.

80. Mas falar de uma Neo-igreja não seria perigoso para a fé de alguém?
Isso não é perigoso, é necessário porqueé a realidade! 
“É uma nova Igreja que se ergueu (...) eles são obcecados pela fidelidade ao Vaticano II que, para eles, é uma nova Igreja, é a Igreja Conciliar com seus próprios sacramentos, sua própria fé, sua própria liturgia, catecismos, isso tudo é aterrorizante, aterrorizante. Nós não podemos nos submeter a isso, é impossível! (...) Então, o que eu deveria pedir? Pedir aos seminaristas para fazer um juramento de submissão à Igreja Conciliar? Isso não é possível. Não, não, está claro agora que nós estamos lidando com uma Neo-igreja, uma igreja que tem doze anos” (Cospec 33B, 1976).

81. Hoje, a Igreja Conciliar tem cinquenta anos. Nada mudou desde então?
Sim, uma coisa mudou. Hoje, Mons. Fellay, o superior da Fraternidade fundada por Mons. Lefebvre, pretende fazer os fiéis católicos acreditarem que essa Igreja Conciliar de cinquenta anos é a mesma realidade que a Igreja Católica, pois a primeira seria uma corrupção desta última.

82. Isso é inaceitável para você?
Não só para mim. É inaceitável por si próprio. Da mesma forma que isso era inaceitável para qualquer um que assistiu as sagrações de 1988 e que aplaudiu o anátema que Mons. Lefebvre lançou contra o espírito conciliar: “O que é essa verdade para eles, senão a verdade do Vaticano II, a verdade da Igreja Conciliar? Consequentemente, está claro que a única verdade que existe hoje para o Vaticano é a verdade conciliar, o espírito do Concílio, o espírito de Assis. Esta é a verdade de hoje. Mas nós não queremos ter nada a ver com isso, por nada no mundo! Por nada no mundo!” (Seguiram-se aplausos longos e tonitruantes) (Mons. Lefebvre, 30/06/1988).

83. Para você, nem Roma nem Bento XVI deveriam ser poupados?
Não sou eu quem o diz! É o próprio Mons. Lefebvre, com o qual eu concordo. Para Mons. Lefebvre, “se abandona praticamente a luta pela fé” quando cessamos “de atacar Roma” (Fideliter, citado por Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/2011).

84. Bom, então mesmo se o líder da Fraternidade não estiver mais em seu juízo perfeito, pelo menos Roma não tentará nada novamente depois do fracasso e da recusa de um acordo pela Fraternidade?
Roma pode ter perdido uma batalha, mas não a guerra. “Se eles romperem conosco, uma pausa na tensão constante que estes contatos trouxeram à Fraternidade seria bem vinda e, ao meu ver, providencial. Em qualquer caso, como eu bem os conheço, eles não ficarão muito tempo sem voltar a entrar em contato conosco.” (Mons. de Galarreta, Albano, 07/10/11).

85. É assim mesmo?
Como já aconteceu, isso não leva muito tempo. Em dezembro de 2012, Mons. Di Noia enviou uma carta a todos os membros da Fraternidade a respeito de “um acordo”. Para isso, nós temos de “erguer-nos acima dos desacordos aparentemente instransponíveis sobre a autoridade e a interpretação do Concílio” a fim de “desejar verdadeiramente a unidade”. Ele nos convidou a não perder “o zelo de [nosso] fundador”. Por causa disso, nós temos de “parar de corrigir publicamente os outros na Igreja” e não “usurpar a missão do soberano pontífice”. Dessa forma, “o carisma autêntico da Fraternidade” que “consiste em formar sacerdotes” será útil à Igreja. Nós temos de abandonar nosso “desejo de autonomia” e “buscar a reconciliação”. “O único futuro para a Fraternidade”, afirma ele, “é encontrar-se no caminho da plena comunhão com a Santa Sé”.

86. O que nós deveríamos pensar disso?
“O Vaticano II é a descoroação de Nosso Senhor Jesus Cristo e a negação de Seus direitos sobre as sociedades. O Vaticano II é uma ‘bondade’ imensuravelmente danosa e escandalosa às almas com respeito a essas sociedades, fábricas de erro e vício e propagadoras do Inferno, que são muito impropriamente chamadas de ‘outras religiões’. O Vaticano II é o triunfo do democratismo dentro da Igreja que torna toda a autoridade ilusória e qualquer ordem quase impossível, e que permite a proliferação da heresia e do cisma. O Vaticano II é, na realidade, o maior desastre da Igreja... Para nos recuperarmos, devemos nos livrar dele. Portanto, a Fraternidade não pode de forma alguma cessar com sua imensa luta para confessar a fé, que deve incluir a renúncia do erro. A Fraternidade deve permanecer humilde e respeitável e contudo intrépida, destemida, para continuar a dizer o que precisa ser dito, para confessar o que precisa ser confessado, para denunciar tudo aquilo que precisa ser denunciado” (Pe. de Cacqueray, Suresnes, 31/12/2008).

87. Mas já que Mons. Fellay declarou, três vezes, que ele não quer assinar, porque Roma diz que eles ainda estão esperando por uma resposta, e dando à Fraternidade mais tempo?
Porque Mons. Fellay, devido à sua falsa eclesiologia e à perpétua tentação de compromisso [‘ralliement’] se recusa a denunciar Bento XVI publicamente como um instigador do erro. Ele continua aficionado nos documentos de Mons. Lefebvre de 1987 que dizem “Nós aceitamos ser reconhecidos tal como somos pelo papa e dar nossa assistência à renovação da Igreja, nós jamais desejamos romper com o sucessor de Pedro...” (Carta ao Cardeal Gagnon, 21/11/1987). Ele se recusa a ver a evolução e conclusão de Mons. Lefebvre depois de 1988; este mesmo dissera que havia ido longe demais em suas negociações com Roma.

88. Então, esta condição que Mons. Fellay adotou (a de que sejamos “reconhecidos tal como somos”) é, portanto ambígua?
Sim, porque ela pode se encaixar na “hermenêutica da continuidade” e porque essa fórmula é uma forma de ecumenismo, misturando verdade e erro na mesma estrutura eclesiástica.

89. Quando essa crise na Fraternidade chegará a um fim? 
Essa crise chegará a um fim quando Menzingen: 
- Livrar-se de suas ambiguidades; 
- Chamar as coisas por seus nomes: um modernista é um modernista, mesmo que ele seja um papa; uma Igreja conciliar virtualmente cismática é uma Igreja conciliar virtualmente cismática, mesmo se ela se mostra favorável à casula e à assim chamada “forma extraordinária”; 
- E decidir exigir publicamente as condições estabelecidas por Mons. Lefebvre.

- 90. Para terminar: “O que Roma fará conosco? Excomunhão? As coisas continuarão como estão? Ou a situação fluirá?” (Bp. Fellay, Econe, 07/09/2012)
O próprio Mons. Fellay respondeu essa questão: “Eu direi a vocês: esperem um pouco de tudo”.

- 91. O que isso significa?
Isso significa que nós não estamos fora da área de turbulência doutrinal. A prova são essas palavras de Mons. Fellay na época em que eles estavam tentando beatificar Paulo VI:  
“Mas vejam, e isso é muito interessante. Quem, naquele tempo, mais se opunha a que a Igreja reconhecesse a Fraternidade? Os inimigos da Igreja (...) Posso dizer que este é o tipo de argumento que nós utilizaremos com Roma. Tentar fazê-los refletir, tentar fazê-los refletir (...) Eu não tenho absolutamente nenhuma ideia de quando haverá um acordo, e o termo “acordo” não é a palavra certa, mas sim “reconhecimento”, “normalização”... [Apesar] de tudo que não está bem, há alguma esperança. Sou otimista quanto a esta situação (...) Quer dizer, se vocês olharem para a situação da Igreja, ainda é inverno. Mas começamos a ver os pequenos sinais que começam a dizer que a primavera está chegando” (Nova Hamburgo, 28/12/2012).

92. O que nós devemos fazer?
Seguir o conselho do confrade: quando se atravessa um trecho de turbulência, dizem para você “colocar seu cinto”, mas “não o afivelar”. (Boletim ‘Le Chardonnet’, julho-agosto 2012).

93.  Você é um pessimista.
Não, sou um realista. Nosso superior vê o diabo trabalhando em todos os lugares da Fraternidade, exceto em Menzingen. Ele é incapaz de questionar a si mesmo. Como um confrade disse, referindo-se às injustas perseguições do Quartel-General (intimidações, advertências, procrastinação de ordenações e a expulsão de sacerdotes e de um de nossos bispos):
“Em última análise, eles estabeleceram uma verdadeira ditadura na Fraternidade. Eles sabidamente ignoraram os avisos de pessoas “prudentes” que os aconselharam a não procurar um acordo prático com a Roma modernista. Eles minaram a unidade e o bem comum da Fraternidade, expondo-a ao perigo de um compromisso com os inimigos da Igreja. E finalmente eles se contradisseram ao afirmarem o oposto do que eles mesmos estavam a dizer há apenas alguns anos. Eles, portanto, traíram o legado de Mons. Lefebvre, a responsabilidade de seus deveres, a confiança de milhares de pessoas e até mesmo daqueles que, sendo enganados, continuaram a confiar neles. Eles têm manifestado uma vontade determinada em levar a  Fraternidade, custe o que custar, a um compromisso com nossos inimigos. Não importa muito se o acordo com a Igreja conciliar ainda não foi feito até hoje, ou se ele não acontecerá em um futuro imediato, ou então... Permanece um grave perigo para a Fraternidade, já que eles não se retrataram dos falsos princípios que tem guiado suas ações destrutivas...” (Pe. Ortiz, dezembro 2012).

94.  Estas são as suas últimas palavras?
Não. “Para todo senhor, toda a honra”. Deixarei a palavra final ao Superior Geral, apesar de todo mal que ele tem feito. 

“Nós devemos esperar que Roma tente nos trazer para um amálgama universalista, no qual  terminaria por se oferecer a nós um lugar “entre outros” mais ou menos tal como eles já estão declarando os ortodoxos como sendo “igrejas irmãs”. Nós podemos imaginar que a tentação de reentrar na “oficialidade” possa ser muito grande, proporcional às ofertas que a Roma ecumenista pode nos oferecer; portanto, ao recusar-nos a entrar nesta confusão, poderemos parecer vilões perversos. Neste momento, isso é apenas uma hipótese...” (Bp. Fellay, Cor Unum, março 1995).


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Jesu et Mariae
Causae Nostrae Laetitiae
Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES