QUANDO A FÉ ESTÁ EM PERIGO, TEMOS O DEVER DE FALAR – DOMINICANOS DE
AVRILLÉ.
O Brasão
dominicano representa um espaço de cor branca adentrando-se em um fundo negro.
Poderia explicar o significado?
Este espaço
branco representa a verdade que expulsa as trevas do erro, como um exército de
ferro que como ponta de lança penetra as massas inimigas. Com efeito, nossa
Ordem foi querida pela Divina Providência para exercitar o ministério da
pregação doutrinal, para ensinar a verdade. Sua divisa é Veritas e o papa Honório III, que aprovou a Ordem em 1216, pediu
aos dominicanos que fossem “verdadeira luz do mundo – vera mundi lumina”
Mas a luz
não pode brilhar sem afugentar as trevas. Se queremos esclarecer as
inteligências, é necessário denunciar os erros, especialmente os erros da hora
presente. Em uma obra como a Suma Teológica
de Santo Tomás de Aquino, se percebe que a exposição dos erros e sua
refutação (nas objeções e nas respostas às objeções) tem tanto lugar, se é que
não mais, que a exposição da verdade (existem 10.000 objeções na Suma).
É por isso
que, com a vontade de ensinar a verdade, devemos denunciar os erros que ameaçam
as inteligências católicas deste começo do século XXI, notavelmente as da
Igreja conciliar.
Porque, como
disse Ernest Hello:
“Quem quer que ame a verdade, aborrece o erro
e este aborrecimento do erro é a pedra de toque mediante a qual se reconhece o
amor à verdade”.
“Se não
amais a verdade, podereis dizer que a amais e mesmo fazê-la
crer os demais; mas estejais seguro que, neste caso, necessitareis do horror ao
que é falso, e por este sinal se reconhecerá que não amais a verdade”. Ernest
Hello.
Entre os
erros atuais, os senhores situam os da “Igreja conciliar”. Estes erros estão
contidos no mesmo Concílio Vaticano II ou vem de uma má hermenêutica
(interpretação)?
A crise na
Igreja vem do Concílio mesmo. Se lermos a história do Concílio, por exemplo, O Reno se lança no Tibre, de Ralf
Wiltgen, se vê que um partido liberal e modernista tomou a direção do Concílio
com a aprovação ao menos tácita dos papas João XXIII e Paulo VI. É por isso que
o Concílio produziu textos infestados de liberalismo e modernismo. Não
obstante, o erro está frequentemente mais ou menos dissimulado, porque os
modernistas sabem muito bem esconder-se, como o fez notar São Pio X: “Tal
página da sua obra poderia estar assinada por um católico; virem a página e
crerão ler um racionalista”. Encíclica Pascendi.
Dai-nos alguns exemplos de erros nos textos do
Concílio.
Como o fez
notar Monsenhor Lefebvre, o Concílio retomou os três grandes erros da Revolução
chamada francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) sob uma forma
“eclesiástica”: liberdade religiosa – colegialidade – ecumenismo. Estes são os
documentos do magistério anterior que os condenam:
A liberdade
religiosa afirmada por Dignitatis hamanae
foi condenada pelos papas Gregório XVI (Mirarivos),
Pio IX (Quantacura), Leão XIII (ImortalleDei), São Pio X (Vehementernos) e Pio XI (Quas primas).
A
colegialidade contida no Lumen gentium
nº 22
(ainda que corrigido pela Nota praevia)
é contrária ao ensinamento do Concílio Vaticano I (Pastor aeternus) sobre o poder supremo do papa.
O ecumenismo
e o diálogo inter-religioso preconizados por Unitatis reintegratio e Nostra
aetate, são condenados por Pio IX (Syllabus
nº 16 e 17), Leão XIII (Satis cognitum)
e Pio XI (Mortalium animos).
No fundo
destes erros se encontra a doutrina maçônica do humanismo: tudo deve estar
centrado no homem (já não em Deus). Este erro está expresso na Gaudium et spes (“tudo na terra deve ser
ordenado ao homem como seu centro e seu cume); isso já foi condenado por Pio IX
na Syllabus. É por isso que o futuro
papa Bento XVI disse justamente que Gaudium
et spes pode ser considerado como “uma revisão da Syllabus de Pio IX, uma espécie de contra-Syllabus”.
Portanto o
papa Bento XVI propõe uma hermenêutica da continuidade entre o passado da
Igreja e o Vaticano II. Que pensa sobre isso?
O mesmo papa
que descreve esta hermenêutica como aquela de “renovação dentro da continuidade
do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos deu; é um sujeito que cresce no tempo
e se desenvolve, mas permanecendo sempre o mesmo, único sujeito do povo de Deus
no caminho”.
Por
consequência, esta hermenêutica permite ensinar uma doutrina contrária a
anterior, desde o momento que quem ensina está em continuidade (dizendo que é o
sucessor) do que ensinou a doutrina precedente.
Mas a
concepção católica do magistério é completamente diferente, o magistério deve
transmitir a mesma doutrina, que recebeu de Nosso Senhor “no mesmo sentido e o
mesmo pensamento (in eodem sensu eademqe
sententia)” (Vaticano I)
Mas o papa
nos pede para aderirmos ao Vaticano II. Não devemos obedecê-lo?
É CLARO QUE
NÃO. O mesmo São Paulo responde na Epístola aos Gálatas (1,8): “Se qualquer um,
seja eu ou um anjo do céu, vos pregaroutro Evangelho que o que nós temos
anunciado, seja anátema”. E também São Pedro disse: “Há que obedecer a Deus antes
que aos homens” (Atos 5, 29).
A nova missa
e o ensinamento do Vaticano II colocam em perigo nossa fé fazendo adotar uma
mentalidade modernista e favorecendo a heresia protestante. Portanto, não
podemos aceitar, porque nossa fé é nossa propriedade mais preciosa, ela que nos
salva.
A respeito
do papa e da hierarquia. Devemos adotar uma atitude de defesa passiva
esforçando-nos em emitir algumas observações respeitosas e discretas, ou devemos
ser mais ofensivos?
QUANDO A FÉ
está em perigo, temos o dever de falar para salvaguardar o bem comum da Igreja.
Monsenhor Lefebvre soube praticar a ofensiva: por suas palavras (por exemplo,
sua declaração de 21 de Novembro de 1974, sua conferência de imprensa de
dezembro de 1983, seus sermões de 29 de Junho em Ecône, etc.) e, sobretudo, por
suas ações, continuando com a ordenação de sacerdotes e consagrando bispos
apesar da proibição da Roma conciliar.
É verdade
que já há algum tempo, este espírito de combate diminuiu bastante e isso se
mostra muito danoso: os fiéis estão cada vez menos firmes, e a Roma conciliar é
cada vez mais empreendedora para causar corrosão e fazer cair a resistência
católica. Tem que [se]manter a ofensiva e isto é o que quer fazer nossa revista
O sal da terra e suas diversas
publicações, notavelmente o Catecismo da
crise na Igreja, do padre Gaudron e A
estranha Teologia de Bento XVI, de Monsenhor Tisser de Mallerais.
Os senhores
parecem muito pessimistas. Não tem ao menos uma palavra de esperança?
NOSSA
ESPERANÇA está no Imaculado Coração de Maria. Se o papa ao fim cumprir a
consagração da Rússia (e sabemos que o fará, mas como o Rei da França, será
tarde), então a Santíssima Virgem intervirá para salvar a Igreja. Esperando,
temos que resistir firmes na fé, rejeitando todo compromisso com o inimigo que
ocupa a Igreja. É a Igreja Católica que tem as promessas da vida eterna, não a
seita modernista que atualmente a ocupa.
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