segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Esclarecimentos: CONTESTAÇÃO E COMUNICADO

CONTESTAÇÃO E COMUNICADO



Sinceramente, não queria me meter neste embate que provocou um grande racha na Resistência. Não é lugar de leigo, que deve se ocupar de seus deveres de estado. Contudo, para comunicar a decisão que tomei, preciso fazer uma humilde contestação. Humilde mesmo, pois não sou teólogo; mas apesar de simples, uma contestação sensata, que teve a aprovação de um bom teólogo e de dois sacerdotes confiáveis. 

CONTESTAÇÃO

Comento as principais citações utilizadas em “CONTRADIÇÕES E SEMELHANÇAS: O NEFASTO TRABALHO DE DOM RICHARD WILLIAMSON”:

·        CITAÇÃO 01: Dom Williamson: A neo- igreja possui algo de católico (CE 445).

COMENTÁRIO:

No mesmo CE ,445, D. Williamson diz:

“O rito da Nova Missa é, em si mesmo, o ato central de culto da falsa religião do Vaticano II centrada no homem, cujo despertar se deu em 1969.”

“O NOM tem contribuído enormemente para que um incontável número de católicos perca a féquase sem perceber.”


As duas citações acima mostram que o senhor bispo não pretendeu fazer apologia da Missa Nova e da Igreja Conciliar. Analisar a frase acima fora do seu verdadeiro contexto é desonestidade intelectual. Vejamo-la dentro de seu contexto:

O bispo inglês, no decorrer do CE, diz que há bons fiéis enganados que foram introduzidos no Novus Ordus, sem consciência da malignidade do mesmo. Ele dá duas razões que levaram estes fieis a serem enganados: 1-  em razão do rito ter sido apresentado por uma autoridade papal; 2-  pelo fato da revolução litúrgica ter sido lenta e gradual.

Sobre estes enganados, comenta D.Williamson:

“E quem ousará dizer que em meio a essa multidão não há pessoas que ainda estejam alimentando sua fé obedecendo o que lhes parece ser (subjetivamente) sua obrigação (objetiva)? Deus é seu juiz, mas por quantos anos simplesmente a maioria dos seguidores da Tradição católica não teve de ir ao NOM antes de compreender que sua fé a obrigava a não fazer isto? E se o NOM os tivesse feito perder a fé por todos estes anos, como teriam eles chegado à Tradição católica?”

“Dependendo de como o celebrante usa as opções do NOM, nem todos os elementos que podem nutrir a fé são necessariamente eliminados, especialmente se a consagração é válida, uma possibilidade que ninguém que saiba sua teologia sacramental pode negar.”

O bispo inglês diz uma obviedade: as boas almas ENGANADAS que vão na missa nova, APESAR DA MALIGNIDADE DO RITO, não são desamparadas por Deus, naquelas partes do rito que não eliminaram totalmente os atributos da Fé, principalmente na Comunhão.

Certamente, os leitores mais apaixonados estão dizendo, nessa altura da leitura, que me tornei um liberal, tal como Mons. Williamson. Falemos então de D. Antônio de Castro Mayer, bastião da Tradição Católica, que não é considerado liberal pelo autor da carta contestada.  A história diz que o “Leão de Campos” autorizou membros da TFP a comungarem em missas novas. O conselho era para ficarem do lado de fora e apenas entrar na hora da comunhão. Conselho sábio? Não sei. Mons. Lefebvre nunca aconselhou isso. Mas é fato que o bispo de Campos pensava como Mons. Williamson: que, sim, é possível Deus se servir dos elementos católicos que restaram na missa nova para o bem das almas.

O bispo inglês defendeu no CE que os fiéis tradicionalistas deveriam deixar as Capelas Tradicionais e voltar as paróquias modernistas? Claro que não. Vejam outra parte do mesmo CE:

“De fato, a obrigação de manter-se longe do NOM é proporcional ao conhecimento que uma pessoa tenha sobre quão mal ele é.”

Uma mente sensata há de entender que o CE do senhor bispo não foi uma defesa da Missa Nova, mas tão somente um juízo de realidade correto. Dizer o oposto é negar nossa própria realidade.

Permitam-me uma confidência pessoal: quando modernista, no período em que eu ia na missa(nova) diariamente, eu me tornava uma pessoa mais virtuosa. Não tenho dúvidas, leitores, que Deus me concedia graças no novo rito, APESAR DA MALIGNIDADE DO MESMO. Isso aconteceu apenas comigo? Pelo que converso com os confrades tradicionalistas, parece que não. Hoje, se frequentasse a missa nova, pecaria mortalmente, e certamente não receberia as graças de Deus. Mas são realidades diferentes: outrora um ignorante, agora um ciente.

Prezados, dentro deste contexto, é correto dizer que “a neo-igreja possui algo de católico”; e que Nosso Senhor se serve destes elementos para não desamparar os justos que lá, desgraçadamente, ainda estão.  

·        CITAÇÃO 2: Mons. Williamson: Católicos, sejam generosos! Reconheçam o objetivo de Deus, para salvar, fora da “Tradição”, muitas almas. (CE 438).

COMENTÁRIO:

Pode-se entender a palavra tradição – escrita entre aspas - de três formas:

a-      Como a Igreja.
b-      Como o Depósito da Fé.
c-       Como o movimento tradicionalista.

Se o Sr. Bispo disse a palavra nos dois primeiros sentidos, ele é um herege, pois diz o catecismo que “fora da Igreja e do Depósito da Fé não há salvação”. Mas no último sentido, sim, ele estaria correto.

Vamos analisar um trecho do mesmo CE para ver em que sentido o bispo disse a frase:

“Assim, o NOM e a Igreja do Novus Ordo como um todo são perigosos para a fé, e estão certos católicos que se agarraram à Tradição para evitar o perigo.”

O mesmo bispo que pede para sermos generosos em reconhecer os desígnios de Deus de salvar fora da “Tradição” diz que estamos certos em nos agarrar à Tradição. Seria contraditório se não houvesse diferença semântica na palavra Tradição. Na primeira o bispo fala do movimento tradicionalista e no segundo do Depósito da Fé. Portanto, amigos, sim, há salvação fora da “Tradição” (movimento tradicionalista) e fazemos muito bem em nos agarrar na Tradição (Depósito da fé). Basta um pouco de lucidez para não enxergar coisas onde não existem. O bispo não errou.

Mais uma vez, neste artigo, o bispo inglês combate a falta de limites de alguns no movimento tradicionalista. Uma coisa é ser contra a Missa Nova e a Igreja Conciliar, outra coisa é cair no ridículo isolacionista e achar que não sobrou nada por lá.

Um exemplo: temos conselhos de confessar com padres idosos da Igreja Conciliar, na falta de padres da Tradição. O raciocínio é o mesmo, pessoal: o padre conciliar não tem fé, mas tem condições católicas de nos confessar validamente, pois, naquele modernista, há elementos católicos (sacerdócio válido + intenção de absolver + forma correta de absolvição). Orientar a busca de um sacerdote idoso modernista é canonizar a Igreja Conciliar? Claro que não! É simplesmente reconhecer que fora da “Tradição” (movimento tradicionalistas) é possível salvar-se. O modernista com ignorância invencível absolvido de seus pecados por um padre idoso modernista se salva fora da “tradição” (movimento tradicionalista). Sinceramente, não encontro erro algum nas palavras do senhor bispo.

CITAÇÃO 03, 04 E 05:

-Dominicanos de Avrillé: A Igreja Católica tem misteriosamente algo da igreja conciliar. É preciso distingui-las sem separá-las. (Revista“Le Sel de la terra”, edição de inverno de 2015);

-Dom Tomás: Não se pode dizer absolutamente que a igreja conciliar não é a Igreja Católica. (“Em defesa de D. Williamson I”);

-Dom Faure: Não é possível que Deus tenha abandonado 98% das almas. Temos que ler detidamente e entender o que quer dizer Monsenhor Williamson. Entre nós pode haver um perigo de radicalização. (Sermão 06/12/2015, Saltillo – México)

COMENTÁRIO:

Eis a grande polêmica: A Igreja Conciliar é parte da Igreja Católica? Se respondermos esta questão, responderemos as outras citações do Padre Trincado e do Mons. Faure, que afirmam que a missa nova acontece dentro da Igreja Católica.

Antes, segue as citações dos três comentadores citados acima, dos respectivos textos, para fazer contraposição:

- Dominicanos de Avrillé: Pois há uma distinção a fazer entre a Igreja oficial e a Igreja Católica, e ela foi feita por todos os nossos antigos combatentes da fé depois do concílio. Basta que refresquemos a memória e nos lembremos de fórmulas bem conhecidas: “A Igreja ocupada”, “Roma ocupada”.”

Dom Tomás“Não se pode dizer de maneira absoluta nem que a Igreja conciliar seja a Igreja católica, nem que ela não o sejaPela doutrina modernista e a intenção de destruir a Igreja católica ela não o é, evidentemente; mas pelo fato de deter em seu poder uma jurisdição que pertence à Igreja católica, ela tem algo de católico em seu poder. Se o Papa atual se convertesse ele exerceria catolicamente um poder que hoje ele exerce modernisticamente.”

-D.Faure: Sermão na integrahttps://www.youtube.com/watch?v=qIw3Fcwsz9c


As citações e o vídeo acima acabam com o rótulo de que D. Faure, os dominicanos e D. Tomás estão fazendo apologia à Igreja Conciliar. Dizer que a Igreja Conciliar faz parte da Igreja Católica, em razão da jurisdição precária, não é “per si” defender a seita modernista.

Sobre o tema, o Professor Nougué, infinitamente mais capacitado que eu, publicará um livro, em breve.

Porém, usando de senso comum, ouso fazer algumas colocações:

Vejam algumas citações, dentro de seus verdadeiros contextos, dos monsenhores Lefebvre e Antônio de Castro Mayer.

a-      Da Entrevista de Mons. Lefebvre concedida a Fideliter, 05 de Maio de 1988:

“Durante quinze anos dialogamos para tentar devolver a Tradição a seu lugar de honra, no lugar que lhe corresponde na Igreja. Chocamo-nos com a contínua negação. O que agora Roma concede em favor da Tradição só é um gesto puramente político, diplomático para forçar as adesões. Mas não é uma convicção em benefício da Tradição.

b-      Da entrevista de Mons. Lefebvre concedida a Fideliter 68, 1989:

“Durante os últimos contatos que tive em Roma, várias vezes quis sondar suas intenções, medir se verdadeiramente havia uma mudança verdadeira. (…) Se fui discutir em Roma, é porque eu queria ver se podia chegar a um acordo com as autoridades da Igreja”.

c-       Da Declaração de D. Castro Mayer na Sagração em Ecône:

“É a situação que nos encontramos; estamos vivendo uma crise sem precedente na história da Igreja, crise que atinge no seu cerne, no que Ela tem de substancial, que é o Santo sacrifício da Missa....”.

“ É doloroso perceber a lamentável cegueira de tantos confrades no episcopado e no sacerdócio, que não vêem ou não querem ver a crise atual e a necessidade, para sermos fiéis à missão que Deus nos confiou, de resistir ao modernismo reinante.”

Na primeira citação, Mons. Lefebvre disse que lutou para que a tradição tenha um espaço na Igreja. Qual Igreja? A Igreja Católica, infelizmente ocupada por conciliares.

Na segunda citação, Mons. Lefebvre, em um das entrevistas que ele pega mais pesado com os romanos, disse que em Roma há autoridades da Igreja. Qual Igreja, amigos? A Católica, infelizmente ocupada por modernistas.

Em uma das citações, D. Antônio de Castro Mayer chama as autoridades modernistas deirmãos no episcopado. O “Leão de Campos” chamaria uma autoridade de uma igreja distinta de irmãos? Não! Logo ele considera os bispos modernistas parte da Igreja Católica.

Pessoal, saibamos distinguir as coisas nos tempos de crise: como disse D. Tomás, doutrinalmente falando, sim, a Igreja Conciliar é outra Igreja, pois caminha em direção diametralmente oposta a nossa. Estão corretas as citações de D. Mayer e D. Lefebvre colocadas no texto contestado. Porém, em matéria doutrinal, não se chega em conclusões completas e verdadeiras com interpretações estritamente literais de citações isoladas; é necessário interpretação sistêmica, não só da obra completa dos cruzados da Tradição, como também de todo o Magistério da Igreja.

A seita conciliar, que o DICI 273 conceitua como uma “tendência”, um “espírito”, uma “concepção falsa” tem adeptos que misteriosamente (o mistério da iniquidade) receberam jurisdição católica (poder de comado – autoridade sob os fiéis). Receberam quando? Nas ordenações, nas sagrações, nas eleições para o cardinalato, nos conclaves, desde que válidos, formalmente falando. Sim, aqueles bandidos que ocupam as paróquias, as sés diocesanas, o colégio de cardeais e o trono de Pedro são autoridades da Igreja, são irmãos no episcopado dos bispos da Tradição, como disse o “Leão de Campos”.

Padre Calderón mostrou em seu incontestável livro “A candeia debaixo do alqueire” que, em razão da doença do liberalismo, os modernistas não usam da autoridade que têm, o que nos faculta um legítima resistência. Mas este não é o tema em questão. O que se quer provar, aqui, é que, sim, a Igreja Conciliar, mesmo que precariamente, sob o aspecto jurisdicional, é parte da Igreja Católica.

Qual o sentido de falar de crise na Igreja se a Igreja Conciliar é outra igreja?

Qual o sentido de afirmar com veemência que não sedevacantista ou eclesiavacantista, se o papa e todos bispos do mundo (inclusive os da Tradição que são, agora, considerados liberais) são de outra igreja?

Qual o sentido de se esforçar para demonstrar a invalidade das excomunhões se os excomungantes são de outra igreja?

Qual o sentido de mostrar por A mais B que o Magistério Conciliar não usa de autoridade em seus atos, que os seus atos não são infalíveis, se são atos de autoridades de outra igreja?

Qual o sentido de resistir Roma, se ela não é parte da igreja? Bastaria ignorá-la como fazemos com os luteranos, quadrangulares, etc.

Pois, então, amigos: analisemos doutrinalmente, mas também canonicamente e jurisdicionalmente. Sim, os modernista, ainda que precariamente, são parte da Igreja, pois ainda, desgraçadamente, possuem jurisdição.

Sobre a jurisdição, alguns tem arguido contra nossa tese, utilizando-se da bula  CUM EX APOSTOLATUS OFFICIO de Paulo IV.  O mesmo argumento de todos sedevacantistas. Mas saibam que esta bula foi ab-rogada pelo Código de Direito Canônico de 1917. Vamos analisar:

Diz o CDC/1917 no Cân. 6º :

“O Código conserva a maior parte da disciplina vigente até ele, embora faça as alterações oportunas. Por isso: Ab-roga quaisquer leis tanto universais como particulares, opostas às prescrições nele estabelecidas, exceto, se em relação às particulares, se disser expressamente outra coisa.

Diz a Bula de Paulo IV, em resumo: o herege perde jurisdição ao incorrer em heresia.

E diz o mesmo Código de Direito Canônico de 1917, no cân 2264, parágrafo 1°, que para que os atos de jurisdição do excomungado sejam inválidos, é necessário que a heresia venha a ser notória PORSENTENÇA DECLARATÓRIA.

O que significa isso, amigos? Que o bispo modernista e, portanto, excomungado por ser herege, até que uma autoridade o declare fora da Igrejacontinua tendo jurisdição. Ah, mas isso é uma loucura! Eu não me atrevo a contesta o Código de Direito Canônico de 1917. Então, estes bandidos que ocupam a igreja, até a declaração de suas excomunhões, são, sim, parte da Igreja, pois possuem jurisdição. Portanto, como diz D. Tomás, se abandonarem a ideias modernistas e voltarem a usar de suas autoridades, merecerão nossa obediência.

·        CITAÇÃO 06 E 07

-Padre Trincado: A missa nova se dá dentro da Igreja Católica. (Carta ao Padre Ernesto Cardozo, 13/12/2015: “Pero, estimadísimo Padre: el punto relativo a la posibilidad del milagro fuera de la Iglesia católica no tiene relación con los 3 EC de MW, que tratan de posibles milagros en misas Novus Ordo, porque estas misas se dan dentro de la Iglesia.”);

-Dom Faure: Onde viu que Mons. Lefebvre disse que a missa nova está fora da Igreja? (Carta ao Padre Ernesto Cardozo, 06/01/2016: “Donde vio que Mgr Lefevbre dijo que la misa nueva esta fuera de la Iglesia? Ya lo se hay UNA cita en que uno podria pensar eso. Una sobre mil?”);

COMENTÁRIO:

Bom, se os sujeitos que celebram este nefasto rito são autoridades com jurisdição católica (mesmo não sendo doutrinalmente católicos), se estas missas são celebradas dentro de templos católicos, se são assistidas por modernistas e alguns ignorantes que tem Fé integra,qual a razão de dizer que está missa acontece fora da Igreja? Não há absurdo, também, em dizer que, jurisdicionalmente, os recentes milagres eucarísticos aconteceram dentro da Igreja. 

COMENTÁRIO SOBRE A SANTIDADE DA IGREJA

Contra essas teses, surgiu, então, o argumento da nota de santidade da Igreja, presente no catecismo , que diz:

“O fiel que ler com retidão de coração a História eclesiástica verá resplandecer a santidade da Igreja, não só na santidade essencial de sua cabeça invisível, Jesus Cristo, na santidade dos Sacramentos, da Doutrina, das Corporações religiosas, de muitíssimos de membros, mas também na abundância dos dons celestes, dos sagrados carismas, das profecias e milagres com que o Senhor (negando-os às demais religiões) faz brilhar  à face do mundo o dote da santidade que está adornada exclusivamente sua única Igreja.” (Breves noções de história eclesiásticas, n°139, Catecismo de São Pio X).

Pois bem, caros, não é uma questão fácil, mas basta se esforçar. A primeira coisa a se fazer é analisar o Magistério da Igreja sistemicamente. Dificilmente se chegará a uma resposta tão complicada utilizando-se de APENAS uma citação do Catecismo de São Pio X. Ademais, o Catecismo de São Pio X é um compêndio para os fiéis, uma forma simplificada e resumida do Catecismo Romano. Um exemplo: o Catecismo de São Pio X diz que a forma da consagração do cálice é “Este é meu sangue”; contudo, sabe-se que a forma positivada no Catecismo Maior e na Doutrina de Sempre é maior. Por que São Pio X não escreveu toda fórmula? Por que se trata de um catecismo popular para tratar de questões elementares e não de alta teologia.

Deve-se, portanto, completar o ensinamento do Catecismo de São Pio X com, por exemplo, a Mystici Corporisi  de Pio XII e o Código de 1917. Analisando o texto de Pio XII, a luz do Padre Leite Penido, seu comentador autorizado, vê-se que a Igreja é sem pecado, mas jamais sem pecadores. Mesmo que a jurisdição seja incompatível com o pecado de  heresia, e o herege perca ipso facto a sua jurisdição, ainda assim é necessário duas admoestações e um julgamento formal para que seus atos jurisdicionais sejam inválidos e este seja excluído do Corpo de Cristo. Sob esse aspecto, caros leitores, o liberal não admoestado e não condenado (os conciliares) fazem parte do Corpo de Cristo.

Atentem-se para algo importante: aquele que comete pecado grave contra a Fé e a Moral sai da Alma da Igreja (O Espirito Santo); contudo não sai de seu Corpo. Se eu ou você cometermos um pecado mortal, sairemos da Alma da Igreja até o arrependimento e a confissão, contudo não estaremos excomungados do Corpo da mesma. A  diferença é que quem peca contra a moral não se submete a um processo formal de excomunhão, o que acontece com quem peca contra a Fé. Por conseguinte, se não houve o processo formal de excomunhão, o pecador que peca contra a Fé continua no Corpo da Igreja; enfim, o adepto da seita modernista (um “espirito”; uma “tendência”; uma “falsa concepção”) só sai do Corpo da Igreja quando formalmente excomungado.

O próprio São Pio X, autor do brilhante catecismo em análise, não excomungou todos os modernistas de sua época. Sim, tinha tantos outros que ele não conhecia, como por exemplo o quase papa Cardeal Rampolla.  Todos os outros modernistas não excomungados da época de São Pio X estavam fora da Igreja? Não tinha jurisdição precária? Cardeal Lienart, bispo que sagrou Mons. Lefebvre, não tinha jurisdição precária, não fazia parte do Corpo da Igreja? São questões sérias que não podem ser analisadas apenas com uma citação de catecismo.

Outro exemplo: alguns sacerdotes tradicionais não costumam conceder o Sacramento do Matrimônio a todos os fiéis de suas capelas; os motivos são diversos, que não vem ao caso agora. Fato é que estes sacerdotes liberam estes fieis para se casarem na Igreja Conciliar; e  costumam, depois, dar uma benção nupcial de complementação. Pessoal, qual o sentido de orientar a celebração deste nobilíssimo sacramento na Igreja Conciliar, se os seus sacerdotes não tem jurisdição precária, não fazem parte do Corpo da Igreja? Reitero: São questões sérias que não se resolve com apenas algumas citações de catecismo. É necessário analisar sistemicamente o Magistério da Igreja.

Ademais, diz as escrituras: 

"Tropas sob sua ordem virão profanar o santuário, a fortaleza; farão cessar o holocausto perpétuo e instalarão a abominação do devastador." Daniel 11, 36

Esta profetizado que a Santa Igreja iria ao calvário com seu Esposo. Daniel, o profeta, diz que é dentro da Igreja, o único Santuário, e não em uma igreja distinta, que aconteceria a grande abominação do fim dos tempos. A missa nova no Santuário do Senhor é uma abominação; modernistas com jurisdição católica, membros do Corpo de Cristo, é uma abominação. É a grande apostasia. O fim dos tempos. A desorientação diabólica, nas palavras da irmã Lúcia. Mas, apesar de tudo, Nom Praevalebunt


·        CITAÇÃO 8 E 9:


-Dom Faure: Não chamem o Padre Cardozo para dar a Missa. (Carta a fiéis de Santo André);

-Dom Tomás: Eu não aconselho as pessoas a receberem-no. (...) Ouvi dizer que em Ipatinga tiraram o quadro de Dom Williamson da missão. Enquanto isto durar, fica difícil eu ter outra posição" (Carta ao Padre Ernesto Cardozo, 27/01/2016):

COMENTÁRIO:

Aqui, não farei um juízo de mérito, mas de realidade:

Quanto a D.Tomás, transcrevo o email que ele me mandou, e autorizou a publicação:

“Não estou orientando a não irem nas missas do Pe. Cardozo, mas estou aconselhando que não o chamem enquanto ele não se entender com os Bispos...... Nas capelas onde ele não costuma ir ou que nos pedem orientação eu digo para esperar que ele veja os Bispos.”

A resposta de D. Tomás explica bem o porquê da sugestão de D. Faure. Em princípio, não se trata de considerar o padre um perigo para Fé. As missões que procuraram o bispo francês e D.Tomásqueriam e querem direção de padres da  USLM. O conselho, então, foi de esperar para ver se o padre acertaria ou não com os bispos da resistência.

O Padre Cardozo, basta ver no sermão proferido dia 28/02 na Capela Cristo Rei, deixou claro que não quer ser chamado de membro da Resistência (USML). As autoridades da USML, prevendo a eminente ruptura, aconselharam fieis – QUE QUERIAM A DIREÇÃO DE PADRES DA RESISTÊNCIA EM SUAS MISSÕES -, a esperarem para ver se haveria um superveniente acordo; o que aparentemente não ocorrerá. Qual injustiça há nisso? Julguem vocês.

Cai, portanto, a mentira de que D. Tomás proibiu os fiéis do Padre Cardozo de irem na Missa dele. Cai, também, a mentira de que D. Tomás disse que o Padre Cardozo é um perigo para a Fé. Quem fez de D. Tomás um inimigo em razão disso, é inimigo de um D. Tomás diferente do que mora no Mosteiro da Santa Cruz.

Lembro-me, agora, de duas situações em que membros da Missão Cristo Rei/Ipatinga discordaram de trazer sacerdotes em nossa cidade pelo simples fato de não serem reconhecidos pela USML. Um deles era, até então, considerado fiel à doutrina católica pelo Padre Cardozo. Em razão da falta de aceitação, por parte da USML, bastante fieis torciam o nariz quando se falava em trazer o referido “padre”. Por que desta reação? Por que, até então, a ideia era ser dirigida pela USML; exatamente o mesmo critério adotado na polêmica acima.

Ademais, pessoal, quando se chama um clérigo de liberal e herege (ou suspeito de heresia) se diz implicitamente para não frequentar suas missas.

A diferença entre as atitudes de ambas as partes é que, até então, D. Tomás aconselhou, por questão de campo de missão; e a outra parte, implicitamente, por considerar o futuro bispo e os outros clérigos liberais.

OBSERVAÇÕES FINAIS DA CONTESTAÇÃO

1-      Não considero os bispos e padres da USML incaíveis.
2-      Enquanto  guardarem a Fé; apoiarei e rezarei pelos bispos e padres católicos.
3-      Esta contestação não tem por objetivo desmerecer o autor do artigo.


COMUNICADO

Tendo em vista que:

a-      O Rev. Padre Cardozo ratificou o documento contestado no sermão do dia 28/02.

b-      O Rev. Padre Cardozo julgou como liberal e suspeito de heresia quem pensa como as autoridades da USML.

c-       O Rev. Padre Cardozo disse que não quer trabalhar com pessoas que pensam como os bispo da USML e alguns padres da USML.

d-      Há, no meu modo de ver, implicações doutrinais sérias na tese sustentada no contestado artigo


Eu anuncio, tomado por uma tristeza incrível, mas confortado pela tranquilidade de consciência, a saída de minha família das Missões Cristo Rei. Sei que isso não é "grandes coisas", pois sou um leigo pecador qualquer. Mas por questão de hombridade, tendo em vista que sou chamado de liberal/herege nos bastidores, torno isso público. 

Serei sempre grato ao Rev. Pe. Cardozo pelo que fez por mim, espiritualmente e materialmente, nos quase quatro anos de convivência. Espero que o Espírito Santo nos una novamente na Verdade, pois, sinceramente, tirando minha esposa e minha filha, ele foi o homem que mais me fez bem conviver, nos últimos tempos. 

Ave Maria Puríssima!

Fonte: VALEDELAGRIMAS - BLOG
Autor do texto: Bruno - Ipatinga, MG

Sagração de Mons. Faure 2015 - Palavras de Dom Tomás

Salve Maria!


 Palavras de Dom Tomás de Aquino sobre a Sagração Episcopal de Mons. Faure que ocorreu no ano passado. Muito útil para esclarecer e nos fortificar sobre as necessidades pelas quais a Igreja passa e que assim sendo obriga nossas autoridades a providenciar meios para guardar a Fé, integra e inviolada, sem a qual não podemos agradar a Deus e nos salvar.






" O católico que escolhe seus dogmas e seus mandamentos não é católico, é protestante." 
Gustavo Corção

sábado, 27 de fevereiro de 2016

27/02 - Aniversário de vida de Dom Tomás





Salve Maria!

Prezados,

Hoje, 27/02, é o dia do aniversário de vida do diretor espiritual de nossa capela, prior do Mosteiro da Santa Cruz e o nosso futuro Bispo: Dom Tomás de Aquino.
Sabemos que os religiosos ao invés de comemorarem como nós leigos aniversário de vida, lembram-se apenas do dia de seu onomástico, no entanto, é com alegria que pedimos orações a todos por este grande Padre que hoje faz mais um ano de vida. 
Nós, seus filhos espirituais, somos muito gratos a Nosso Senhor por nos ter dado a alegria de termos Dom prior como nosso pai espiritual, temos aprendido muito com os ensinamentos que ele tem nos transmitido. 


Que Nossa Senhora das Alegrias, São José, São Bento e Santa Teresinha, possam cumulá-lo de graças para que continue sendo fiel a Nosso Senhor e a sua doutrina. 

Ad multos annos!



Súplica pelo diretor

"Senhor Jesus Cristo que, como Bom Pastor das nossas almas, Vos dignais habitar entre nós no Santíssimo Sacramento do Altar, do vosso Sagrado Tabernáculo derramai graças copiosíssimas sobre o nosso Bom Pastor (cita-se o nome do diretor...DOM TOMÁS DE AQUINO). 

Conceda-lhe o Vosso Misericordioso Coração todas as graças de que precisa para nossa e sua própria santificação e para que possa velar sempre com paternal dedicação pelas ovelhas que lhe foram confiadas pelo Espírito Santo. Abençoai-o quando na oração levanta a mente para vós. Abençoai-o quando nos prega a Vossa santa lei.Abençoai-o também quando, no desempenho dos seus ministérios de sacerdotes, trabalha pela  salvação das almas, Fazei que seja sempre desvelado pastor segundo o Vosso divino Coração, que consagre inteira e constantemente a sua vida, o melhor das suas energias e dos seus talentos, ao fiel cumprimento da sua nobre missão e dos deveres inerentes ao seu cargo, afim de que,no dia em que vierdes a julgar rebanhos e pastores, nós sejamos sua alegria  e sua coroa,e ele receba de Vossas mãos Divinas a coroa imarcescível da vida eterna. Assim seja."               

Oração rezada em nossa Capela nas quintas-feiras durante a Hora Santa.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Apostolado domingo



Salve Maria!
Prezados fiéis,

 No próximo domingo dia 28/02 iremos em procissão até a Catedral Metropolitana de Vitória em honra à Nossa Senhora da Vitória e faremos esse apostolado principalmente por quatro motivos:

* Em  agradecimento a tão boa Mãe pela perceptível proteção que ela tem para com a nossa Capela que lhe é consagrada e que frequentemente lhe oferece a oração do Santo Rosário.

* Para pedir a Santíssima Virgem que continue nos protegendo e nos afastando de todas as ciladas do demônio, principalmente dos erros modernos e liberais vindos a Revolução e sobretudo dos que vieram do Concílio Vaticano II.

* Pela resistência católica, em especial a que se encontra no Brasil.

* Pela Sagração Episcopal de nosso diretor, Dom Tomás de Aquino - OSB, prior do Mosteiro da Santa Cruz, que Nossa Senhora lhe conceda todas as graças necessárias para bem exercer o bispado.

SAIREMOS DE NOSSA CAPELA ÀS 9Hrs.

TODOS ESTÃO CONVIDADOS!

*Obs: Evidentemente não participaremos de nenhum evento oferecido pela mesma Catedral.


COLÓQUIOS COM MONSENHOR LEFEBVRE - Dom Tomás

COLÓQUIOS COM MONSENHOR LEFEBVRE


COLÓQUIOS COM MONSENHOR LEFEBVRE
Dom Tomás de Aquino

Foi em 1975 que vi Dom Lefebvre pela primeira vez. Ele viera a nosso Mosteiro de Santa Maria Madalena em Bedoin, no Sul da França, para conferir as ordens menores a dois de nossos irmãos, o Ir. Jehan de Belleville e o Ir. Joseph Vannier. A pregação de Dom Lefebvre me impressionou pela sua serenidade. Ele respirava a paz, essa paz que é a divisa dos beneditinos e que ele parecia possuir mais do que nós.

Esta cerimônia não passou despercebida aos progressistas, que não nos perdoaram. Receber Dom Lefebvre! Deixá-los conferir ordens a nossos estudantes! Isto não podia ficar sem uma punição exemplar. O superior geral de nossa congregação veio ver-nos trajado à maneira progressista, como o exigem os tempos modernos, isto é, de paletó e gravata. Talvez a gravata seja fruto da minha imaginação, mas do paletó eu me lembro bem. Conclusão. Nós fomos excluídos da ordem beneditina. Na verdade era Dom Lefebvre que eles procuravam atingir, ou melhor, era Nosso Senhor que eles perseguiam.

Em 1976 eu pude escutar Dom Lefebvre pregando em Ecône no início daquele verão, que ficou conhecido como “verão quente” devido à gravidade dos acontecimentos que marcaram a vida da Fraternidade São Pio X e da Igreja naqueles dias heróicos em que Dom Lefebvre teve de dizer não a Paulo VI. Interrogado pelos jornalistas a respeito de sua atitude, Dom Lefebvre respondeu com simplicidade:

“Quando eu estiver diante de meu juiz, não quero que Ele possa dizer-me: ‘O senhor também, o senhor deixou que destruíssem a minha Igreja’.”[1]

Mas foi somente em 1984 que tive contato pessoal com Dom Lefebvre. Eu havia sido enviado para o seminário de Ecône, sendo já padre, para completar os meus estudos e para cuidar da saúde.

Aproveitando a presença de Dom Lefebvre, fui vê-lo com certa freqüência. Sua bondade paternal tornou fácil essas conversas, cujo essencial transcrevo aqui. Como eu tinha o costume de escrever o conteúdo desses colóquios após cada entrevista, hoje me sirvo dessas notas na redação desse artigo.

Na terça-feira, 6 de novembro de 1984, Dom Lefebvre falou-me do Ecumenismo:

“Se as outras religiões não são obra do demônio, então não há razão para não admiti-las; não há razão para combatê-las. Ora, todas as religiões, fora a Religião Católica, são obras que não vem de Deus. ‘Quem não é por Mim, é contra Mim’, disse Nosso Senhor. Toda religião, fora a Religião Católica, é obra do demônio. Toda atenuação desta verdade concorre para a perda das almas. Esta heresia está de tal maneira espalhada que mesmo nossos fiéis não escapam inteiramente à sua influência. Eu penso que nós estamos diante de uma verdadeira heresia. Penso como Dom Antônio de Castro Mayer, mas não quis dizê-lo publicamente até agora.”

No dia 12 de Março de 1985, Dom Lefebvre falou-me da questão dos acordos com Roma. Penso que Dom Lefebvre abordou este assunto por causa de Dom Gérard, que por essa época procurou obter de Dom Lefebvre apoio para um acordo com Roma. Dom Gérard dizia que com o Cardeal Ratzinger era possível de se entender e que Dom Lefebvre era fechado demais. Mesmo assim, Dom Gérard procurava a aprovação de Dom Lefebvre, sem a qual ele não teria a aprovação dos fiéis da Tradição.

“Submeter-se a homens que não têm a integridade da Fé Católica? Submeter-se a homens que proclamam princípios contrários aos princípios da Igreja? Ou nós seremos obrigados a romper de novo com eles e a situação se tornará pior que antes, ou seremos conduzidos insensivelmente à diminuição e à perda da Fé.

Há ainda uma terceira possibilidade. Uma vida bem difícil por causa do contato freqüente com homens que não tem a Fé católica, conduzindo à desorientação e ao enfraquecimento do espírito de combate dos fiéis.”

Esta questão conduziu Dom Lefebvre a falar das Sagrações:

“Eu esperei o mais possível para que Deus me esclarecesse a respeito das sagrações. Em Roma eles se afundam cada vez mais nos seus erros. Eu penso que é necessário assegurar a permanência do sacerdócio católico. Eu esperei a confirmação deste dever. Parece que a tenho cada vez mais.

O Liberalismo é uma heresia. Eu não o quis dizer até agora. Não se podia imaginar que um Papa pudesse chegar a tal ponto. Ele já não é Papa por causa disso? Eu não penso que se possa afirmar isto. É uma coisa que não se podia imaginar.”

E voltando à questão dos acordos:

“Nossa posição, tal como é agora, nos permite ficar unidos na fé. Todos aqueles que quiseram fazer um compromisso com os modernistas se desviaram. Penso que nós não devemos nos submeter a eles.

Eu desconfio imensamente. Passo as noites a pensar nisso. Não somos nós que temos de assinar nada. São eles que têm de assinar garantindo que aceitam a doutrina da Igreja. Eles querem nossa submissão, mas não nos dão a doutrina.”

Bela conclusão. Submissão? Sim, mas com a doutrina. Sem a Verdade Revelada, sem a Tradição, nada feito, pois seria o suicídio da Fé e a perda da vida eterna.

No dia 30 de março de 1985, Sábado da Paixão, Dom Lefebvre faz observações interessantes sobre a política, conversando com os professores do seminário em Ecône.

“Em vez da ONU, o Vaticano deveria ter encorajado a união dos Estados católicos. Houve um momento, após a guerra, em que havia vários chefes de Estado católicos na Europa: Salazar em Portugal, Franco na Espanha, De Valera na Irlanda, Alphonsini na Itália, Cotti na França e Adenauer na Alemanha, o qual, apesar de não ser católico, tinha alguns princípios católicos.”

Falando de Salazar, Dom Lefebvre contou que o grande presidente português se queixara dos bispos de seu país:

“É necessário reformar as universidades, mas os bispos não me ajudam. Eles parecem não compreender a importância. Mas, sem isso, como conseguir uma geração francamente católica?”

Neste mesmo dia, ou pouco depois, Dom Lefebvre, comentando a ilusão de alguns que estão sempre a procura de compromissos, disse:

“O Sr. X é sempre ambíguo. Ele quer nos conduzir a compromissos. Se a missa não é herética, é ortodoxa, diz o Sr. X. Como? E todas as nuances e graus entre a heresia e a ortodoxia?”

E, falando dos bispos que procuram semear esse clima de ambigüidade, diz:

“Eles se esforçam por propagar a Missa de indulto,[2] mas com a finalidade de aproximar os fiéis da Missa nova e da doutrina de Vaticano II.”

No dia 14 de maio de 1985, no seu escritório, Dom Lefebvre me fala do Concílio:

“Eles vivem na mentira. Inconscientemente. Talvez. Mas, objetivamente, vivem na mentira. No Concílio, eles diziam: ’O Concílio é pastoral.’ O próprio Papa dizia: ‘O Concílio é pastoral e não dogmático.’ Agora eles querem impô-lo como um concílio dogmático.”

Na segunda-feira de Pentecostes, Dom Lefebvre me fala do retiro que ele devia nos pregar no Barroux. As relações com Dom Gérard estavam bem tensas nesta época por causa dos acordos que ele queria fazer com Roma.

“Eu estou num grande embaraço”, diz Dom Lefebvre. “Receio que as palavras não me saiam da boca.”

Confissão comovente que mostra que, se Dom Lefebvre era um combatente, não era insensível e lhe custava enfrentar certas situações. Mas, mesmo assim, foi ao Mosteiro e nos pregou o retiro anual de 1985.

Este retiro foi uma nova ocasião de conversar com Dom Lefebvre. A questão das sagrações se tornava cada vez mais atual.

“Devo sagrar um bispo? Isto me repugna”, dizia ele, “mas me cite um só bispo que tenha um seminário onde se dê uma formação católica, sem mistura de modernismo. Penso que, se eu não fizer nada, Nosso Senhor me repreenderá após a minha morte, dizendo: ‘O senhor tinha o caráter episcopal, o senhor devia ter assegurado a continuação do sacerdócio católico.’”

Em outra ocasião, Dom Lefebvre deu mais esta razão para as sagrações, razão que me parece decisiva e que guardei na memória:

“Se Roma fosse capaz de formar padres católicos, eu não teria nenhuma razão de sagrar sem a autorização de Roma. Mas Roma já não é capaz.”

Tornava-se então necessário sagrar novos bispos. No entanto, Dom Lefebvre iria esperar ainda dois anos, prova de sua grande prudência. Ele queria ter a certeza de que isto era verdadeiramente o seu dever. Talvez quisesse também preparar os padres e os fiéis para este ato tão necessário, mas também tão insólito.

Estando de passagem em Ecône, em janeiro de 1986, aproveito para ver Dom Lefebvre. Entre outras coisas, ele me disse:

“O Papa anunciou um congresso de todas as religiões em Assis. Um congresso de todas as religiões! Que Deus vão eles invocar? Eu não vejo senão o Grande Arquiteto! Tudo isso é uma idéia maçônica. Creio que haverá reações. Itália. Assis. Tudo isso é ainda por demais católico. Eles vão, talvez, pedir um lugar menos católico. Jerusalém, talvez. ”

Diante de tudo isso, pergunto a Dom Lefebvre qual era a essência da doutrina do Santo Padre. Dom Lefebvre responde:

“Que não há verdade. Que a verdade evolui. O que conta é a vida.

Mas isto é a essência do Modernismo.

Eles são modernistas diz Dom Lefebvre. Ratzinger e o Papa são modernistas. Essa é a razão por que não compreendem nada de nossas reclamações. Eles dizem: ‘Mas que mal há em tudo isto?’ É por essa razão que eles foram escolhidos. Por causa de seu espírito impreciso. Jamais dariam esses postos a alguém que tivesse o espírito escolástico, o espírito claro, límpido. Não. Eles já não querem isso.

É a maçonaria, prossegue Dom Lefebvre, que dirige o Vaticano. O Cardeal Cagnon me disse, ele mesmo. Não são necessariamente os que ocupam os postos principais que são maçons, mas eles são colocados de maneira a dirigir tudo.”

No final de 1986 Dom José Vannier e eu fomos envidados para ver um terreno que nos era oferecido para a fundação de um mosteiro no Brasil. Antes de deixar a Europa, fomos a Ecône para nos despedir de Dom Lefebvre. Ele nos falou então de Assis e de um desenho explicativo que ele queria difundir para alertar os fiéis sobre a gravidade desta reunião ecumênica. Ele nos mostrou dois desenhos. Um era de um seminarista e outro de uma irmã da Fraternidade. O do seminarista era mais bem feito, mas o da irmã era mais respeitoso. Dom Lefebvre preferia o da irmã. Ele não queria uma caricatura. Queria simplesmente explicar com imagens o pecado gravíssimo da reunião de Assis. Antes de partirmos, assegurei a Dom Lefebvre nossa adesão sem restrições à idéia do desenho.

Tendo partido para a América do Sul, nossa primeira visita foi ao seminário da Fraternidade São Pio X na Argentina. Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer aí se encontravam para as ordenações daquele ano, nas quais dois padres de Campos receberam o sacerdócio: o Rev. Pe. Hélio Rosa e o Rev. Pe. José Paulo Vieira, assim como o Rev. Pe. Álvaro Calderón e alguns outros padres da Fraternidade São Pio X.

Reencontrando Dom Lefebvre, ele nos falou novamente de Assis, e comentou as reações havidas a respeito dos famosos desenhos:

“Eu fiquei surpreso com a reação. Já a esperava, mas não tanto. Porém é uma lição de catecismo! Pode-se dizer o mesmo de todos os pecados. No céu não há ecumenistas, assim como no céu não há divorciados. No céu não há ninguém em estado de pecado mortal.

Peço a Deus que estes desenhos cheguem às mãos do Santo Padre e que ele acorde e se diga: ‘Aonde irei parar se continuo assim?’ É preciso que o Santo Padre salve a sua alma!

Ele convidou o chefe das falsas religiões a rezar nos seus erros. É um convite a permanecer no erro. É um reconhecimento desses erros.

Depois disso, eu disse que só faltava agora dançar com o demônio. Parece que o Papa já o fez, dançando ao som do rock, com estola, no meio de moças, na Austrália. Alguns se escandalizam mais com isso do que com a reunião de Assis. É uma falta de espírito de Fé. Assis é mais grave. É mais teológico.

A reunião que se realizou na véspera foi ainda pior. As palavras do príncipe Edimbourg foram blasfematórias.”

Este príncipe, marido da rainha da Inglaterra, disse que era necessário terminar com esse escândalo, que já dura dois mil anos, de um homem que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.” O que se poderia esperar de diferente quando se trata de convidar todos os heréticos, cismáticos e infiéis a se manifestar?

Ainda no seminário da Argentina, Dom Lefebvre nos disse, falando das sagrações:

“Do ponto de vista teológico Dom Antônio de Castro Mayer nem vê dificuldade, mas tanto ele como eu pensamos que é melhor esperar um pouco.”

A respeito do Papa, acrescentou:

“Quanto a dizer que o Papa não é Papa, eu não sei. Os teólogos não estão de acordo a esse respeito. Não quero entrar nesta questão. Isto não me parece ainda muito claro. Prefiro dizer apenas que ele é um pecador público. Um Concílio decidirá, depois da sua morte, se ele foi Papa ou não.”

Em seguida nos falou do Cardeal Villot:

“Villot mentiu para Paulo VI, dizendo-lhe que eu havia feito os seminaristas assinar um documento contra o Papa. Quando pude ver Paulo VI, Villot estava furioso. Ele impôs que Benelli estivesse presente à conversa. O Santo Padre me falou desse famoso documento que eu teria feito os seminaristas assinar. Eu disse claramente a Paulo VI que não existia nada daquilo. Depois, o cardeal Benelli, em L’Osservatore Romano, negou que nós tivéssemos falado deste assunto. São uns bandidos. Mesmo a honestidade, a mais elementar, eles já não a têm.

Villot havia organizado tudo. Ele dizia que dentro de seis meses a Fraternidade não existiria mais. Deu-se então a visita canônica a Ecône, o chamado a Roma, a entrevista com Garrone, Tabera e Wright e o que se seguiu. Pior que os soviéticos; nem mesmo a aparência de um julgamento. Eu disse isso a João Paulo II. Ele sorriu. Nada mais [...].”

Falando de Montini e Pio XII, Dom Lefebvre nos disse:

“No começo do Concílio eu fiquei sabendo da história de Montini. ‘Promoveatur ut removeatur’.[3] E, no dia da sagração de Montini, Pio XII fez um discurso ditirâmbico. Que costume desastroso! Até Pio XII.”[4]

Em seguida vieram os anos da fundação da Santa Cruz, durante os quais Dom Lefebvre nos ajudou com seus preciosos conselhos. Eu tinha a consciência bastante incomodada por causa das modificações litúrgicas introduzidas por Dom Gérard na missa. Não se tratava ainda da nova missa, mas também já não era o missal de João XXIII, de 1962. Eram algumas modificações introduzidas por Paulo VI e por Dom Gérard ele mesmo. Escrevi então para Dom Lefebvre, que, embora não aprovando Dom Gérard, me aconselhou sobretudo guardar boas relações com o nosso mosteiro da França, o Barroux. Por aí se vê que Dom Lefebvre era bastante conciliador. Se se opôs ao Santo Padre, era porque realmente não havia outra solução. Ele se opôs por dever e não por inclinação natural.

Mas estas boas relações com nosso mosteiro da França não iam durar muito tempo. Dom Gérard, depois das sagrações, fará um acordo que porá os nossos mosteiros debaixo da autoridade dos modernistas.

Dom Lefebvre me escreveu então uma carta datada de 18 de agosto de 1988, na qual dizia:

“Como lamento que o senhor tenha partido antes dos acontecimentos do Barroux.[5] Teria sido mais fácil considerar a situação resultante da decisão desastrosa de Dom Gérard.

O Padre Tam se ofereceu para visitá-lo ao voltar ao México e lhe entregar estas linhas.

Dom Gérard, na sua declaração, expõe o que lhe é concedido e aceita pôr-se debaixo da obediência de Roma modernista, que permanece fundamentalmente antitradicional, o que motivou o meu afastamento.

Ele queria ao mesmo tempo guardar a amizade e o apoio dos tradicionalistas, o que é inconcebível. Ele nos acusa de ‘resistencialismo’.

Eu bem o avisei. Mas sua decisão estava já tomada havia muito tempo, e ele não quis mais escutar conselhos.

As conseqüências agora são inevitáveis. Mas não teremos mais nenhuma relação com o Barroux e avisamos todos os nossos fiéis para que não ajudassem mais uma obra que daqui para frente está nas mãos de nossos inimigos, dos inimigos de Nosso Senhor e de seu reino universal.

As irmãs beneditinas estão angustiadas. Elas vieram me ver. Eu lhes aconselhei o que lhe aconselho igualmente: guardar a sua liberdade e recusar todo laço com esta Roma modernista.

Dom Gérard usa de todos os argumentos para paralisar a resistência [...].

O senhor devia se unir com Dom Lourenço e com o argentino,[6] e com seus noviços [...].

Os senhores três, com os noviços de Campos, os senhores poderão continuar e constituir um mosteiro independente de Roma. É necessário não hesitar em afirmá-lo publicamente. Deus o ajudará.

E o senhor poderia em seguida, depois de algum tempo, reconstituir um mosteiro na França. O senhor seria muito apoiado e teria vocações.

Dom Gérard suicidou a sua obra.

O Padre Tam lhe dirá de viva voz o que eu não escrevi. Peço a Nossa Senhora que o ajude na defesa da honra de seu divino Filho.

Que Deus o abençoe e abençoe o seu mosteiro.”

Eis como Dom Lefebvre via a situação. Nós seguimos os seus conselhos. Uma declaração pública foi feita, e nós nos separamos de Dom Gérard. Esta declaração foi feita com a ajuda do Rev. Padre Fernando Rifan, do Rev. Padre Tam e do Dr. Júlio Fleichman, pai de Dom Lourenço. Dom Lefebvre queria que esta declaração fosse conhecida dos monges do Barroux e que estes depusessem Dom Gérard “se ele não quiser romper com Roma”.[7]

“As sagrações trouxeram um reforço de vida à Tradição”, escrevia Dom Lefebvre nesta mesma ocasião. “Os fiéis estão contentes. Eis por que a defecção de Dom Gérard é duramente criticada e ninguém o segue; exceto alguns falsos tradicionalistas.”

Após as sagrações e os acontecimentos que se seguiram de perto, Dom Lefebvre teve de suportar uma dura provação com o caso do Padre Morello, na Argentina. Isto não o impediu de continuar a nos aconselhar com sua paternal solicitude. Não somente nós fomos ajudados por ele, mas também Campos e mais especialmente o Rev. Padre Rifan.

No entanto, era sobretudo Dom Antônio de Castro Mayer, seu amigo e irmão no episcopado, que ocupava o coração de Dom Lefebvre.

“Ecos me chegam do Brasil”, escrevia ele a Dom Antônio, “a respeito de vossa saúde, que declina. O apelo de Deus estará próximo? Esta eventualidade me enche de profunda dor. Em que solidão vou me encontrar sem meu irmão mais velho no episcopado, sem o combatente exemplar pela honra de Jesus Cristo, sem o amigo fiel e único no terrível deserto da Igreja Conciliar!”[8]

Dom Lefebvre e Dom Antônio iam nos deixar quase ao mesmo tempo, em 1991, deixando-nos o exemplo da sua Fé e de seu espírito de combate recebidos em Roma durante os anos de seminário junto ao túmulo do príncipe dos Apóstolos.

Que suas heróicas virtudes e seus méritos nos obtenham a graça da fidelidade.


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[1] Dom Tissier de Mallerais, Marcel Lefebvre, une vie, Ed. Clovis, 2002, p. 644.

[2] Indulto de 1984 para celebrar a Missa de São Pio V, concedido pelo Papa João Paulo II, mas com uma restrição: não rejeitar a Missa de Paulo VI. Conclusão: indulto só para os que não tinham motivos para fazer uso exclusivo da Missa de São Pio V. Como dizia, com humor, um escritor francês: “Este indulto é reservado exclusivamente àqueles que não têm nenhuma razão para pedi-lo.” Na verdade, como nota Dom Lefebvre, este indulto tinha como objetivo habituar os padres e os fiéis às duas missas e, desta forma, fazê-los aceitar a Missa nova, como foi o caso de Dom Fernando Rifan e o de tantos outros.

[3] “Promovido para ser removido”.

[4] Secretário de Estado de Pio XII, Montini havia traído Pio XII. Pio XII o destituiu, mas deu-lhe cargo de arcebispo de Milão e fez um sermão elogioso ao seu mau servidor.

[5] Eu tinha voltado ao Brasil antes da conclusão ou, ao menos, da publicação dos acordos de Dom Gérard com Roma.

[6] Dom João da Cruz.

[7] Carta de 2 de setembro de 1988.

[8] Carta de 4 de dezembro de 1990. Apesar de sua análise penetrante desse “terrível deserto da Igreja Conciliar” e das indagações que ele se fazia a respeito do Santo Padre, Dom Lefebvre nunca foi sedevacantista, muito pelo contrário. Sua posição se baseava na atitude de São Pio X em relação aos modernistas e da atitude de Pio IX em relação aos liberais.


REVISTA CORREDENTORA 4-03-2010

http://www.co-redentora.com.br/?p=28

Esse artigo também está disponível na edição 31º de nosso jornal " A família Católica" cujo link segue abaixo.

http://www.nossasenhoradasalegrias.com.br/2016/02/jornal-familia-catolica-edicoes-30-e-31.html