Decidimos publicar integralmente neste blog (em quatro postagens sucessivas) ASuma Teológica de Santo Tomás de Aquino em Forma de Catecismo. E eis as razões disso.
1) Antes de tudo, trata-se de obra magnífica, apoiada publicamente (como se verá) pelo Papa Bento XV.
2) Se é fato que num catecismo da Suma Teológica não se pode de modo algum esgotar a complexa teia do pensamento do Doutor Angélico – uma autêntica “catedral” da sabedoria –, também é fato que este catecismo lhe expõe admiravelmente as principais linhas e conclusões.
3) Ademais, este catecismo alcança o fim precípuo de todo e qualquer catecismo: dar aos fiéis em geral um guia seguro para sua vida intelectual e prática. Nem todos os católicos terão condições concretas de sequer estudar este catecismo – mas já sabemos, contra todo e qualquer intelectualismo profano, que “(...) nenhum dos filósofos de antes da vinda de Cristo, apesar de todos os esforços, podia saber tanto acerca de Deus e do necessário para a vida eterna quanto depois da vinda de Cristo sabe qualquer velhinha por meio da fé” (Santo Tomás de Aquino, In symbolum Apostolorum sc. “Credo in Deum” expositio. Prologus, 4). Alguns terão plenas condições concretas de estudar e assimilar este catecismo – e já terão dado imenso passo. Outros, enfim, terão neste catecismo um convite a viver da seiva da sabedoria teológica, entregando-se ao estudo perpétuo, de toda uma vida, da doutrina do Aquinate.
4) E hoje mais que nunca nos é necessária a doutrina do Doutor Comum da Igreja. Nestes tempos de profunda crise na Igreja, decorrente sobretudo do infausto Concílio Vaticano II e do magistério dos papas que o seguem; nestes tempos em que não resta ao católico senão agarrar-se firmemente (sem alterar-lhe nem um iota) à doutrina infalível de vinte séculos de magistério assistido pelo Espírito Santo; nestes tempos, pois, o tomismo é barca seguríssima para atravessarmos a tormenta que nos atinge e aflige. E é seguríssimo meio de escaparmos não só à doutrina vaticano-segunda, mas também:
a) ao intelectualismo profano e seus fumos de sabedoria;
b) ao espírito de seita que enferma os próprios meios católicos (sobre esse espírito de seita, escreveremos proximamente um artigo para este blog);
c) a certo “tomismo” acadêmico que quer fazer de Santo Tomás um intelectual palatável para o mundo, apagando-lhe o traço principal: o serviço de Deus mediante a sacra teologia, ciência subalternada à própria ciência do Altíssimo e dos bem-aventurados;
d) e, por outro lado, a certo “pietismo” que quereria exilar da vida católica o esforço intelectual, esquecendo-se de que, se é fato que, como diz o próprio Aquinate, “nesta vida mais vale amar a Deus que conhecê-lO”, também é fato que diante da face de Deus os bem-aventurados, graças à “luz da glória”, amarão indefectivelmente ao Senhor precisamente porque O conhecerão em sua essência – que é a própria Verdade.
Não podemos, porém, deixar de advertir que este magnífico catecismo padece de dois defeitos, um certamente de explicação e o outro talvez de compreensão. Com efeito:
• nele expõe-se demasiado sumariamente a tese tomista da predestinação, mistério que, por sua imensa complexidade e gravidade, requer exposição mais longa e cuidadosa (o que faremos, ainda neste blog, seguindo em parte as elucidações de Francisco Muñiz O.P. e sobretudo os complementos do próprio Aquinate dispersos por toda a sua extensa obra);
• nele expõe-se a doutrina tomista das relações entre poder civil e poder eclesiástico de modo que pode fazer crer na existência de dois fins do homem (um natural e um sobrenatural), o que segundo o mesmo Santo Tomás é impossível: como diz ele em vários lugares de sua vasta obra, o homem (como tudo no universo) não pode ter senão um fim último – Deus mesmo –, e a este fim todos os demais fins se subordinam essencialmente, ou seja: são com respeito a ele fins intermediários ou meios (para um aprofundamento do tema, cf. “Corte e Costura Humanista”, no número 2 da Revista Corredentora [http://www.co-redentora.com.br/]).
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