segunda-feira, 11 de outubro de 1999


SEGUNDA PARTE

O homem procede de Deus e para Deus deve voltar


SECÇÃO PRIMEIRA

Noções gerais acerca do modo como o homem tem de voltar para Deus

I

SEMELHANÇA ENTRE AS OPERAÇÕES DE DEUS E AS DO HOMEM


Há alguma semelhança entre as operações divinas e as humanas?
Sim, Senhor.

Em que consiste?
Em que, assim como Deus é livre para dispor do Universo a seu agrado, também o é o homem no que dele depende (Prólogo).


II

ÚLTIMO FIM DOS ATOS HUMANOS. A FELICIDADE


Tem em vista o homem algum fim em todas as suas ações?
Quando obra como homem e não como máquina, por impulso ou reação física e instintiva, sim, Senhor (I, 1).

É o homem o único ser material que se propõe algum fim em suas ações?
Somente o homem é capaz de se propor uma finalidade.

Logo, os outros seres materiais obram ao acaso?
Não, Senhor; as suas operações estão ordenadas à consecução de um fim determinado, porém, não o intentam, nem o propõem, porque isto, em seu lugar, o faz Deus (I, 2).

Logo, todos se movem para realizar o fim que Deus se propôs?
Sim, Senhor.

Assinalou Deus algum fim às ações humanas?
Na verdade, Deus lhes assinalou um fim.

Que diferença há entre as ações do homem e as dos outros seres materiais?
Diferenciam-se em que o homem pode, sob o impulso e dependência de Deus, determinar o fim dos seus atos, ao passo que os outros seres propendem cegamente, por natureza ou instinto, para o fim que Deus lhes assinalou (Ibid.).

Em que se baseia esta diferença?
Em que o homem possui inteligência e os demais seres, não (Ibid.).

Propõe-se o homem, com seus atos, alcançar algum fim último e supremo?
Sim, Senhor; porque se não quisesse e não intentasse o seu fim último, nada poderia intentar nem querer (I, 4, 5).

Subordina ao dito fim todas as suas ações?
Ordena-as a todas para a consecução do fim último ou de modo consciente e explícito, ou implicitamente em virtude de certa espécie de instinto racional (I, 6).

Qual é este objeto tão desejado?
A felicidade (I, 7).

Logo, o homem quer necessariamente ser feliz?
Sim, Senhor.

Não haverá algum que queira ser desgraçado?
É impossível que o haja (V, 8).

Pode equivocar-se, ao escolher o objeto da sua felicidade?
Sim, Senhor; porque, estando em suas mãos escolher entre muitos bens, pode confundir os verdadeiros com os aparentes (I, 7).

Que sucede, se se engana?
Que em lugar de encontrar a felicidade no fim da jornada, só encontra a mais desconsoladora e irreparável desgraça.

Logo é de excepcional importância o acerto na eleição?
É importantíssimo.

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