Pleno mundanismo na nova Igreja Conciliar
1. A imagem que a Igreja oriunda do Concílio Vaticano II projeta hoje, é - dói-nos dizer - o de uma Igreja tributária do mundo, precisamente no que este tem de anticristão e contrário ao Evangelho. Foi a tendência que triunfou no último Concílio, sob a bandeira de "aggiornamento" e "abertura ao mundo", erguida pelo Papa João XXIII ao inaugurar este Concílio, totalmente atípico, na série dos Concílios ecumênicos da Santa Igreja. Foi a aplicação da expressão usada em plena aula conciliar: "É preciso casar a Igreja com o mundo".
2. Com um tal programa-anti-evangelho, a igreja ficou fortemente tributária ao mundo. Assim, o que na mente do Papa João era apenas uma "atualização",tornou-se de fato, uma ruptura profunda com todo o passado glorioso e bimilenar da Igreja.
No entanto, basta um conhecimento sumário da Tradição da Igreja de Jesus Cristo, para ver que Ela é uma Igreja toda voltada a salvar o mundo, sim, mas em nada tributária ao "mundo". Ou antes, tomando-se "mundo" no sentido de mundanismo, é uma Igreja anti-mundo.
3. Realmente, a palavra "mundo" tem, no Novo Testamento, mais de um sentido. Significa, de modo especial, tanto o conjunto dos homens a serem salvos, como o espírito do mal assimilado e vivido pelos homens mundanos.
Assim, para o 1º sentido, lemos, por exemplo, no Evangelho de S. João: "Deus de tal modo amou o mundo, que entregou o seu Filho único para que todo o que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo. 3, 16). Mas o mesmo São João frequentemente toma "mundo" no 2º sentido: "Todo o mundo jaz sob o maligno" (1 Jo. 5, 19); por isso, acrescenta: "Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai, porque tudo o que já no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida - não procede do Pai, mas do mundo" (1 Jo. 2, 16). Nesse sentido, também Nosso Senhor disse: "... Eu não rezo pelo mundo, mas por aqueles que me destes" (Jo. 17, 9). E a estes que o Pai Lhe deu, adverte: "Vós estareis tristes e chorareis, enquanto o mundo se alegrará"(Jo. 16, 20). Mas, "Coragem! Eu venci o mundo" (Jo. 16, 33). O "mundo" é aqui visto, pois, como um inimigo a ser vencido para libertar as almas de suas maléficas influências (Cf. 1 Jo. 5, 4-5).
4. Por isso, os Apóstolos enviados por Jesus, em sua ação apostólica, dando cumprimento à ordem do Divino Mestre de espalhar o Evangelho por toda a parte, começaram por declarar guerra ao "mundo". A sua ação traduz este ensino que receberam do Divino Mestre: "Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a Mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu" (Jo. 15, 18-19). Daí São Paulo afirmar no mesmo sentido: "... somos corrigidos por Deus para não sermos condenados com este mundo" (1 Cor. 11, 32). O mesmo lemos em São Tiago: "A amizade deste mundo é inimiga de Deus" (Tg. 4, 4). Daí, ainda São Paulo: "Não vos conformeis a este século (mundo)" (Rom. 12, 2).
5. Também Santo Agostinho comenta que "mundo", nesse sentido, significa "os amadores do mundo", isto é, as pessoas dominadas pelo espírito do mal que domina no mundo.
Tudo isso está tão claro em todo o Novo Testamento e em toda a ação apostólica da Igreja desde os começos, que é incrível o audacioso programa conciliar de mundanizar a Igreja através de sua funesta abertura ao mundo.
Na brecha da abertura ao mundo, entra a cunha do Maligno
6. Aproveitando-se da abertura ao mundo, contida na ousada expressão-bandeira dos inovadores modernistas no último Concílio, "Casar a Igreja com o mundo", o maligno introduziu nela a sua cunha que A desviou dos objetivos estabelecidos por Nosso Senhor: converter o mundo sem se mundanizar.
A própria história dos três primeiros séculos da vida da Igreja mostra que Ela preferiu ser banhada no sangue de seus filhos do que mundanizar-se. Realmente, não teria havido os três séculos de perseguição, se a Igreja não tivesse recusado qualquer pacto com o "mundo", ou seja, se Ela tivesse consentido que Jesus Cristo, Nosso Divino Salvador e Senhor, figurasse entre os muitos deuses do Panteon romano. A atitude da Igreja foi, pois, totalmente o contrário do novo Panteão de religiões e deuses do tipo "Assis".
7. Graças a Deus, que o Vaticano II só iria acontecer depois de dois mil anos de Tradição católica. E Papas como Paulo VI e João Paulo II, com seu nefasto ecumenismo e escandalosa abertura da Igreja ao mundo, só vieram a aparecer agora, que já temos toda essa luz da Tradição. Luz muito clara e segura que nos está orientando nas presentes trevas pós-conciliares, e impede de nos desviarmos do autêntico Cristianismo, nessa tremenda crise de fé e desorientação, fruto do último Concílio.
"Inculturação": o "mundo" na Igreja
8. É realmente sob a bandeira da inculturação, outro mau fruto do Concílio, que se está introduzindo cada vez mais no que já de mais sagrado na Igreja, isto é, na sagrada Liturgia, e mais especialmente na Santa Missa, o "mundo", ou antes o pleno mundanismo. E isso através da introdução nela de todos os folclores dos povos - sem excetuar o candomblé dos africanos - como se fossem verdadeiras culturas, e não como frequentemente são, um misto de lendas e superstições grosseiras. Como se a Igreja não tivesse uma cultura bíblica e cristã, digna do nome "cultura", capaz de servir de veículo para expressar dignamente os sagrados mistérios.
9. Eis algumas amostras dos danosos efeitos dessa inculturação:
a) Na Índia, sacerdotes estão celebrando a Missa (a nova, é claro) meio desnudos, e nela misturam elementos idolátricos da religião hindu na qual se presta culto a vários "deuses" falsos, inclusive à divindade que tem o nome de "deusa" Shiva.
b) O Papa João Paulo II, em visita a esse país, consentiu em receber de uma sacerdotisa hindu a "unção" do "tilak" dessa falsa divindade. Note-se um pormenor: o "tilak" de Shiva é um preparado à base de escremento de vaca, que os hindus têm como animal sagrado.
c) Em Guiné Papua, no extremo oriente, uma jovem com o busto totalmente desnudo, subiu ao palanque onde o mesmo Papa celebrava a Santa Missa e fez a leitura da epístola da Missa.
d) Nesse país, porque, em vez de criação de ovelhas, era comum a de porcos, houve até quem sugerisse, em nome da tal inculturação conciliar, a substituição de "cordeiro", por aquele animal, na expressão: "Eis o cordeiro de Deus". Tão grande absurdo não foi ainda posto em prática. Ele mostra, porém, a grande desorientação que reina nas mentes de muitos eclesiásticos por causa da inculturação hoje aplicada à pastoral litúrgica.
e) E em nosso sofrido Brasil, é também em nome dessa inculturação, que temos, além da "missa" em rito afro-brasileiro (puro candomblé na Igreja!), várias outras, como a "missa" do vaqueiro, a "missa" dos quilombos, a "missa" do futebol (Galo mineiro), etc.
f) Nesse sentido vão os encontros inter-religiosos inaugurados pelo atual Papa em "Assis", que promovem o tipo de religião pleiteado pela "New Age" (Nova Era) com o seu programa de volta ao antigo paganismo, com o culto de seus falsos "deuses" da natureza.
10. Outro triste exemplo de mundanização de tudo o que é mais sagrado na Santa Igreja, foi o "show de rock" do Congresso Eucarístico de Bolonha, o qual o Papa aprovou e assistiu; no mesmo sentido, tivemos as exibições de samba, no final da sua Missa no Rio, que faltou pouco para terminar em carnaval.
Em tudo isso, que poderoso e perverso incentivo para os shows e bailesprofanadores das nossas festas religiosas! Como triste efeito desses mais exemplos vindos do alto, já tivemos na Diocese de Campos, recente versão "carnaval com Cristo", promovido inclusive por padres. E oxalá tenha sido só em Campos, pois, conforme noticiaram os meios de comunicação, em alguns lugares foi praticado por freiras tresloucas. Mas estamos presenciando pasmos de horror à novíssima versão dos assim ditos "shows-missas" em praias e estádios, executados por padres vedetes, com aprovação de altas autoridades eclesiásticas. Quanta profanação! Quanta injúria a Deus! Quanta desonra da Igreja! Quantos danos às almas!
11. Ah! se essa simples amostra de tantos absurdos, que se praticam em nome daperversa inculturação conciliar, servisse para abrir os olhos de tantos cegos! Mas, que fazer quando o sal não salga mais e a luz não ilumina? Rezar, rezar muito, e esperar plenamente pelo divino socorro do alto, que não falhará, cedo ou tarde.
Fonte: Avulsos "Fé íntegra", nº 5. Dom Licínio Rangel.
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