( Acerbo Nimis.)
CARTA ENCÍCLICA
(Continuação)
O primeiro ministério.
6. Posto que da ignorância da
religião procedem tantos e tão graves danos, e, de outro lado, são tão grandes
a necessidade e a utilidade da doutrina religiosa, desde que, desconhecendo-a,
em vão se esperaria que alguém cumprisse as obrigações de cristão, convém saber
agora a quem compete preservar as almas desta perniciosa ignorância e
instruí-las em tão indispensável ciência. O que, Veneráveis Irmãos, não oferece
dificuldade alguma, porque essa transcendente missão recai sobre os pastores
das almas. Estes, efetivamente, acham-se obrigados por preceito do próprio
Cristo a conhecer e apascentar as ovelhas que lhe foram confiadas. Apascentar
é, antes do mais, doutrinar. “Eu vos darei pastores segundo meu coração, que
vos apascentarão com a ciência e com a doutrina” (Jer 3,15).
Assim falava Jeremias, inspirado
por Deus; pelo que dizia o Apóstolo São Paulo: “Cristo não me enviou para
batizar, mas para pregar” (1 Cor 1,17) advertindo assim que o principal
ministério de quantos exercem, em certo sentido, o governo da Igreja, consiste
em ensinar aos fiéis a ciência sagrada.
7. Inútil se nos afigura aduzir
novas provas da excelência deste ministério e da estima que merece de Deus.
Certo é que Deus exalta grandemente a piedade que nos move a procurar o alívio
das humanas misérias; mas, quem negará que muito acima dela devem ser colocados
o zelo e o trabalho mediante os quais o entendimento recebe o ensino e os
conselhos referentes, não às necessidades terrenas, mas aos bens celestiais?
Nada pode ser mais grato a Jesus Cristo, Salvador das almas, que pelo Profeta
Isaías disse de si mesmo: “Fui enviado para evangelizar os pobres” (Lc 4,18).
Importa muito, Veneráveis Irmãos,
insistir para que todos os sacerdotes compreendam bem que ninguém tem maior
obrigação e dever mais imperioso. Porque, quem negará que no sacerdote hão de
unir-se a ciência e a santidade de vida? “Nos lábios do sacerdote deve estar o
depósito da ciência” (Mal 2,7). E, com efeito, a Igreja o exige rigorosamente
de quantos aspiram ingressar no sacerdócio. E por que isto? Porque o povo cristão
espera receber do sacerdote ensinamento da divina lei e porque Deus o destina
para propagá-la. “De sua boca se há de aprender a lei, pois que ele é o anjo do
Senhor dos exércitos” (Mal 2,7). Por isso, nas Ordens sacras, o Bispo diz,
dirigindo-se aos que vão ser elevados ao sacerdócio: “Que vossa doutrina seja
remédio espiritual para o povo de Deus, e os cooperadores de nossa Ordem sejam
prudentes, para que, mediando dia e noite acerca da lei, creiam no que leram e
ensinem aquilo em que acreditam” (Pontif. Romano).
Se não há sacerdote algum a quem
não correspondam estas obrigações, quais não serão as daqueles que pelo nome e
autoridade que ostentam e por sua mesma dignidade tem a seu cargo e como que
por compromisso a cura das almas? Estes devem ser colocados de algum moda nas
fileiras dos pastores e doutores que Jesus Cristo deu aos fiéis “para que não
sejam como meninos flutuantes, e levados, ao sabor de todo vento de doutrina,
pela malignidade dos homens, pela astúcia dos que induzem ao erro, mas,
praticando a verdade na caridade, cresçamos em todas as coisas naquele que é a
Cabeça, o Cristo” (Ef 4,14 -15).
Extraído de: DOCUMENTOS PONTIFÍCIOS - 15. - PIO X Sobre o Ensino do Catecismo (Acerbo Nimis.) - 1946
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