Salve Maria!
Segue abaixo um pequeno trecho do livro "Irmã Maria Antônia, Cecy Cony. Devo Narrar minha vida". Este livro é uma autobiografia de uma religiosa brasileira nascida em 1900 na cidade de Santa Vitória do Palmar -RS, três anos após a morte de Santa Teresinha. Aos 5 anos começou a ter a presença sensível de seu Anjo da Guarda, o qual passou dessa maneira muitos anos auxiliando-a.
" (...) em todos os momentos ela sentia a presença do seu divino protetor (...)".
Que possamos também nós aproveitar desse exemplo e colocar mais atenção em quem está sempre ao nosso lado, o Bom Anjo que sempre está a nos guardar e proteger.
Esses trechos são escritos de maneira muito simples pela santa irmã o que facilita o uso dos relatos como bons exemplos para as aulas de catecismo.
Façam todos um bom proveito!
O ESPINHO DOLOROSO
Fui com Irmã Irene para as instruções. Dia por dia mais desejava o bom Jesus no meu coração. Grande terror senti do pecado, que tanto desgostava e entristecia o bom Deus. E dia por dia, ao me levantar, dizia a meu "Novo Amigo": "Meu Novo Amigo, Santo Anjo da Guarda, tenha hoje muito cuidado comigo e não me deixe desgostar o bom Deus. Amém!"
(...)
OS PÊSSEGOS
Certa tarde fomos, com outras crianças, passear ao campo com Acácia e Conceição. Acácia levava dinheiro para comprar frutas e nós, cestinhas. Iríamos a uma chácara que Abelino, o bom soldado que papai trouxera de S. Vitória, conhecia, e ensinava o caminho para Acácia.
Chegamos a tal chácara. Um homem, com uma enxada ao ombro, mandou-nos entrar. Corremos logo com Abelino, Acácia e Conceição. E enquanto o homem colhia as frutas, sem que os nossos três guias o percebessem, as crianças colhiam por si grandes pêssegos e ameixas e os metiam nas suas cestinhas. Eu as vi; suas cestinhas estavam quase cheias, só a minha, vazia.
Estava eu justamente ao pé de um pessegueiro!... e um grande pêssego!... e outro!... e mais outro! e todos ao alcance da minha mão! Por que também não poderia eu colhê-los? Estendi o braço para colher a fruta e meus dedos já tocavam o grande pêssego aveludado quando sinto a advertência suavíssima e calma do meu Novo Amigo. Meu braço suspenso foi descido por "mão invisível", sim, mas tão realmente sentida como se alguma das pessoas que eu podia ver me houvesse tocado. Compreendia melhor e mais claramente a voz do meu Novo Amigo do que quando Madre Rafaela, Irmã Paulina ou Irmã Irene, a quem eu via, falavam-me.
Arrependi-me logo, dolorosamente, sim, do feio e grande pecado que estive prestes a fazer, e uma imensa pena do bom Jesus me feria o coração, qual o grande espinho que estive quase a enterrar na sua Santa Cabeça. De noite, na cama, chorei amargamente depois de ter pedido perdão ao bom Jesus, a Nossa Senhora e ao meu Novo Amigo. [Este tratamento de Novo Amigo só deixei aos 14 anos.]
Em outra instrução, Irmã Irene nos havia falado de um meninozinho que, ao morrer, fora para o purgatório porque mentia, e aparecera, então, à sua irmã mais velha, mostrando-lhe a língua crivadinha de alfinetes e, em cada um destes, uma cobrinha enroscada e que incessantemente lhe picava a língua. Até aqui ignorava o que fosse uma mentira e, por isso, não compreendi o motivo do grande castigo do meninozinho. Imaginei, no entanto, que o pobrezinho cometera mui grande pecado para ser tão horrivelmente castigado. Porém o meu Novo Amigo me daria a explicação.
O COPO QUEBRADO
Todas as tardes costumávamos ir com Acácia e as crianças da vizinhança ao tambo tomar leite. Cada uma de nós levava seu copinho enrolado no guardanapo. Eu tinha um lindo copinho verde com asinha dourada e todo bordadinho de estrelinhas. Fora o Capitão Barcelos que mo dera.
C., uma das minhas companheiras, gostou do meu copinho e disse: "Dá-me o teu copinho e toma leite no meu". Acácia, porém, interveio dizendo: "Não senhora, cada uma toma no seu". Ela nada disse e até parece que concordou.
Caminhamos ainda uma quadra, mais ou menos, quando C. se voltou para mim e, dando um grande puxão no guardanapo, fez com que o copinho caísse ao chão e ficasse em cacos. Com a mesma rapidez com que fizera isto, correu para Acácia, que então vinha um tanto afastada de nós e que não vira o caso, e disse-lhe: "Acácia, a Cecy, de Braba, porque você não deixou que ela trocasse comigo o copinho, atirou com ele ao chão de propósito, e quebrou".
Acácia, naturalmente, indignou-se e disse: "Muito bonito, meninazinha braba, pois fica sem copo e não tomas leite, só as outras tomarão e tu chucharás no dedo".
Eu não atinava com a inverdade de minha amiguinha e, no mesmo momento, pois tudo fora tão rápido, movia-me uma espécie de indignação e de revolta, para lhe fazer o mesmo que ela me fizera, quebrando também seu copo, quando meu Novo Amigo entra em ação e impede os meus passos da mesma maneira como impedira o furto das frutas. E ouvi claramente a santa advertência de meu Novo Amigo: a pobre C. fizera duas grandes maldades: a primeira, não a compreendi [o ter-me quebrado o copinho], a segunda, ah! foi a mentira o mesmo pecado daquele meninozinho que fora castigado na língua com os alfinetes e as cobrinhas. C. mentira para Acácia, e esta pensou que assim fosse como ela o dissera.
Agora sabia, perfeitamente, o que era uma mentira. "Já sei, eu quebro um copo e depois digo para mamãe que não fui eu".
Chegamos ao tambo e não sei por que esquecera de dizer à Acácia que não fora eu que quebrara o copinho. É que meu Novo Amigo ali estava e eu respeitava sua presença mais, imensamente mais do que respeitava a presença da Madre Rafaela, Irmã Irene, Irmã Paulina, enfim das boas Irmãs que eram para mim de suprema autoridade. Acácia, porém, fazia-me sempre a vontade, e deu-me leite no copinho de minha irmã.
E foi assim que meu Novo Amigo impedira que eu cometesse a feia e baixa vingança.
Meu Santo e Fiel Guarda, se eu narrar tudo o que por mim fizeste, ah, um grande e volumoso caderno não bastaria.
"Irmã Maria Antônia, Cecy Cony. Devo Narrar minha vida".
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