segunda-feira, 24 de junho de 2013

SERMÃO DO V DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES - R.P. RENÉ TRINCADO

CORAÇÃO DE FOGO

Dado que amanhã, segunda-feira, a Igreja celebra a Natividade de São João Batista, diremos algo sobre este grande Santo.

Se diz no começo do quarto Evangelho: Houve um homem enviado de Deus, que tinha por nome João. Este veio em testemunho, para dar testemunho da Luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas veio dar testemunho da Luz.

Toda a doutrina e obras de São João não tiveram outro fim que preparar nas almas os caminhos de Cristo, diz Santo Tomás. (Sum. Teol. III, c. 38 a 3). São João Batista devia dar testemunho da luz, não dando de si a Luz, senão sendo um reflexo antecipado da Luz que é Cristo. Cheio do Espírito Santo, desde o seio de sua mãe, iluminava irradiando uma grande luz porque Deus havia posto nele um coração de fogo, igual o do profeta Elias, de quem São João Batista era herdeiro e fiel continuador. Sua alma estava cheia dessa zelo ardente de que diz Cristo: Fogo vim lançar sobre a terra e como quero que arda!

Todo fogo queima e ilumina. Fogo santo e escolhido que preparava no tempo a chegada do Fogo Eterno, o Batista era uma artocha que ardia e iluminava, diz Nosso Senhor. Para isso veio, para isso existia, para arder e iluminar, para queimar-se e para queimar.

FORTE COMO O FOGO

Perguntava Cristo sobre São João Batista aos judeus: Que saístes a ver? Uma cana agitada pelo vento? Um homem débil, inseguro, irresoluto, cambiante? Não: um homem forte. Porque é forte como o fogo e terrível, inflexível, devorador, insaciável e conquistador: tudo o que toca o converte em si mesmo. Por isso neste homem de fogo brilha a mais perfeita fortaleza.

A virtude da fortaleza tem dois atos: atacar e resistir, sendo a resistência o principal e mais difícil. São João resiste a austeridade da vida no deserto, suporta imóvel aos ataques dos escribas e fariseus, não se deixa arrastar pela adulação de alguns que o tinham como o Messias, não cede diante das ameaças dos poderosos. O Batista não é nenhuma cana agitada pelo vento. Tudo o contrário: ele é o vento que agita e destroça as canas, os carvalhos, as rochas e as montanhas; é um vendo abrasador, uma chama, um incêndio.


FORA DIPLOMACIAS, AMBIGUIDADES, HIPOCRISIAS, SIMULAÇÕES

Aos que vinham pedir seu batismo os recebia com estas palavras: Raça de víboras, quem os ensinou a fugir da ira que os ameaça? Palavras de fogo. Disse S. João Crisóstomo que ao povo falava varonil e fervorosamente, de um modo atrevido ao rei, com franqueza a seus discípulos. São João Batista, direto como o fogo, detestava a mundana diplomacia, o linguajar ambíguo, odiava a hipocrisia, a simulação, o sincretismo. Vossas palavras sejam sim sim, não não, porque o que disso passa vem do maligno, disse Cristo. Não conhecia os respeitos humanos e não se calava diante de nenhum homem se havia obrigação de dizer a verdade.

NENHUM ACORDO, NENHUMA TRAIÇÃO

Por isso, São João, censurava publicamente a Herodes seu adultério. E Herodes, como sabemos, o prendeu, ainda que tinha respeito e o ouvia com gosto. E mais: disse S. Tomás (Catena Aurea, Glosa) que Herodes o temia, o respeitava e o protegia para que não o matasse Herodíades. Sendo assim, para evitar a morte, podia ter feito São João Batista algum tipo de acordo com Herodes. Mas não: esta fiel artocha de Deus jamais fez pacto ou acordo algum com a escuridão. Havendo recebido de Deus a missão de iluminar, iluminou até que Deus quis, até o fim, até consumir-se todo, até o martírio. 

¡USQUE AD MORTEM!

São João, o forte, não se deixa vencer pelas simpatias passageiras e a inconstante benevolência de Herodes, que sim, era uma cana agitada pelos ventos de muitos pecados; senão que insiste em repreender pública, frontal, direta, inequívoca e reiteradamente ao rei, pecador público. Não vos é lícito ter por mulher a que é de seu irmão. “Non licet”. Isso que fazes não é lícito, isso que fazes está mal, isso é um pecado, isso ofende a Deus. O resto é história conhecida: amando sobre todas as coisas a união da alma com Deus na Verdade, terminou dividido em dois, isto é, decapitado.

 O ZELO DE TUA CASA ME DEVORA

O zelo de tua casa me devora. O fogo transforma em fogo ao que o toca. A faísca divina que é a graça pode causar um incêndio em quando se deixa atuar, tirando o impedimento do pecado. Por isso São Paulo demonstrou a mesma santa audácia diante da indevida simulação do Papa São Pedro, a quem disse essas mesmas palavras: “non licet”: não vos é lícito.


MONSENHOR LEFEBVRE: OUTRO CORAÇÃO DE FOGO

Estimados fiéis: vinte séculos depois, sendo legítimo herdeiro deste fogo, até então sempre conservado na Igreja de Cristo, outro coração cheio de santa ira lançou novamente o grito de “non licet”, esta vez contra o concílio que ousou batizar os princípios maçônicos liberais. E Mons. Lefebvre legou a Tradição, por sua vez, esse mesmo fogo. E nosso sagrado e primeiro dever é conservar ardendo o fogo do combate pela fé até o fim, quer dizer, até a morte de cada um de nós ou até que Roma apóstata volte a fé católica.

SANTA VIOLÊNCIA E PACIFISMO COVARDE


O Reino dos Céus sofre violência e somente os violentos o arrebatam, disse Nosso Senh0r, falando do Batista. Nós católicos jamais devemos deixar-nos arrastar pela corrente desse pacifismo covarde, tão característico dos liberais, pacifismo satânico que aspira a compromissos adúlteros e acordos traidores com os modernistas, hereges destruidores da Igreja. Disse São Paulo: Não os unais baixo um jugo desigual com os infiéis, pois, que tem de comum a justiça e a iniqüidade? Ou que sociedade pode existir entre a Luz e as trevas? Ou que acordo pode haver entre Cristo e Belial? (2 Cor 6, 14-15. Não una o homem o que Deus separou.

IPSA CONTERET


Que a Santíssima Virgem, destruidora das heresias (um dia também da atual) conserve em nossos corações o fogo que ardeu no peito de São João Batista e de Monsenhor Lefebvre, e que com seu bendito pé esmague logo a cabeça do demônio liberal e modernista. 

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