terça-feira, 18 de junho de 2013

Entrevista com Monsenhor Lefebvre por “Le Figaro”

Tradução da versão espanhola do site amigo: http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br/

Nesta entrevista, as declarações de Monsenhor Lefebvre são tremendas e sumamente esclarecedoras. Parece que foi feita para estes tempos.


-Monsenhor, não está o senhor a beira do cisma?

-Esta é uma questão que apresentam muitos católicos ao ler sobre as últimas sanções feitas por Roma contra nós. Os católicos, em sua maioria, definem ou imaginam o cisma como uma ruptura com o Papa. Não levam mais além sua investigação. Os senhores romperão com o papa ou o papa romperá com os senhores, e portanto irão ao cisma.

Por que romper com o Papa é fazer cisma? Porque onde está o Papa está a Igreja Católica. Mas a Igreja Católica é uma realidade mística que existe não somente no espaço ou na superfície da Terra, mas também no tempo e na eternidade. Para que o papa represente a Igreja e seja sua imagem, deve estar unido a ela não somente no espaço, mas também no tempo, sendo a Igreja essencialmente uma tradição viva.

Na medida em que o papa se distancia desta tradição, far-se-á cismático, romperia com a Igreja. Teólogos como São Belarmino, Caetano, o Cardeal Journet e muitos outros estudaram esta eventualidade. Portanto, não é algo inconcebível. Mas, no que a nós concerne, é o Concílio Vaticano II e suas reformas, suas orientações oficiais o que nos preocupa, mais que a atitude pessoal do papa, mais difícil de descobrir.

Este concílio representa, tanto aos olhos das autoridades romanas como aos nossos olhos, uma NOVA IGREJA, chamada A IGREJA CONCILIAR.

Nós cremos poder afirmar, tendo em vista a crítica externa e interna do Vaticano II, quer dizer, analisando os textos e estudando as atas e as conclusões deste Concílio, que este, dando as costas à Tradição e rompendo com a Igreja do passado, é um CONCÍLIO CISMÁTICO. Julga-se a árvore por seus frutos. Desde então, toda a grande imprensa mundial americana e europeia reconhece que este concílio está arruinando a Igreja Católica a tal ponto, que até os incrédulos e os governos laicos se inquietam.

Um pacto de não agressão foi concluído entre a Igreja e a maçonaria. É a este pacto que se cobriu com o nome de aggiornamento, de abertura ao mundo, de ecumenismo. A partir daí, a Igreja aceita já não ser a única religião verdadeira, o único caminho de salvação eterna. Ela reconhece as outras religiões como religiões irmãs. Reconhece como um direito, outorgado pela natureza da pessoa humana, que esta seja livre para escolher sua religião e que em consequência um Estado católico já não é admissível.

Admitido este NOVO PRINCÍPIO, é toda a doutrina da Igreja que deve mudar seu culto, seu sacerdócio, suas instituições. Porque até então a Igreja manifestava que ela era a única a possuir a Verdade, o Caminho e a Vida em Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem possuía em pessoa na Santa Eucaristia, presente graças à continuação de Seu Sacrifício. Portanto, é uma inversão total da tradição e do ensinamento da Igreja que se operou no Concílio e pelo Concílio.

Todos aqueles que cooperam na aplicação desta mudança radical aceitam e aderem a esta nova Igreja conciliar, como a designou Sua Excelência Monsenhor Benelli, na carta que me dirigiu em nome do Santo Padre no último 25 de junho, entram em cisma.  

A adoção das teses liberais por um concílio não pode haver tido lugar senão em um concílio pastoral não infalível e não pode explicar-se sem uma secreta e minuciosa preparação que os historiadores terminaram de descobrir com grande estupefação dos católicos que confundem a Igreja Católica e Romana eterna com a Roma humana e suscetível de ser invadida pelos inimigos cobertos de púrpura. Como poderíamos nós, por uma obediência servil e cega, seguir o jogo desses cismáticos que nos pedem que colaboremos em sua empresa de destruição da Igreja?

A autoridade delegada por Nosso Senhor ao papa, aos bispos e ao sacerdócio em geral está a serviço da fé em sua divindade e da transmissão de Sua própria vida divina. Todas as instituições divinas ou eclesiásticas são destinadas a este fim. Todos os direitos, todas as leis não têm outro objetivo. Servir-se do direito, das instituições para ANIQUILAR A FÉ CATÓLICA e já não comunicar a vida, é praticar o aborto ou a contracepção espiritual. Quem ousará dizer que um católico digno deste nome possa cooperar para um crime pior que o aborto corporal?

É por isso que nós estamos submetidos e dispostos a aceitar tudo o que for conforme à nossa fé católica, tal qual foi ensinada durante dois mil anos, mas rejeitamos tudo o que se opõe a ela. Objeta-se-nos: Os senhores julgam a fé católica. Mas não é o dever mais grave de todo católico julgar a fé católica que se ensina hoje pela fé que foi ensinada e crida durante vinte séculos e que está inscrita nos catecismos oficiais, como o de Trento, o de São Pio X e em todos os catecismos anteriores ao Vaticano II? Como atuaram todos os verdadeiros fiéis com respeito às heresias? Eles preferiram derramar seu sangue a trair sua fé. Se a heresia vem de algum porta-voz tão elevado em dignidade como possa sê-lo, o problema é o mesmo para a salvação de nossas almas. A este respeito, muitos fiéis sofrem de grave ignorância da natureza e da extensão da infalibilidade do papa. Muitos pensam que qualquer palavra saída da boca do papa é infalível.

Por outro lado, temos certeza de que a fé ensinada pela Igreja durante vinte séculos não pode conter erro, mas não temos, de modo algum, absoluta certeza de que o papa seja verdadeiramente papa.

Neste caso, evidentemente muito excepcional, a Igreja se encontraria em uma situação parecida com a que ela sofre depois da morte de um soberano pontífice. Porque, afinal, um grave problema se apresenta à consciência e à fé de todos os católicos desde o princípio do pontificado de Paulo VI. Como é possível que um papa, verdadeiro sucessor de Pedro, com a assistência assegurada do Espírito Santo, possa presidir à destruição da Igreja, a mais profunda e a mais extensa de sua história, no espaço de tão pouco tempo, o que nenhum heresiarca jamais conseguiu fazer?

Haverá que responder a está questão um dia, mas, deixando este problema para os teólogos e para os historiadores, a realidade nos obriga a responder praticamente segundo o conselho de São Vicente de Lérins: “Que fará o cristão católico se uma parte da Igreja se separar da comunhão da lei universal? Que outro partido tomar senão o preferir ao membro gangrenado e corrompido o corpo em conjunto que é são, e se algum contágio novo se esforça por envenenar já não uma pequena parte da Igreja, mas a Igreja inteira? Então sua grande preocupação será apegar-se à antiguidade, que, evidentemente, não pode ser seduzida por nenhuma verdade mentirosa!”   


Então nós estamos muito decididos a continuar nossa obra de restauração do sacerdócio católico passo a passo, persuadidos de que não podemos prestar melhor serviço à Igreja, ao papa, aos bispos e aos fiéis. Que nos deixem fazer a experiência da Tradição. 

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