Citações de Mons. Lefebvre (3° parte) Trechos do sermão de 30 de março
de 1986 sobre Assis.
Citações de Mons. Lefebvre (3° parte)
Tradução: Rafael Horta
Capela Cristo Rei - Ipatinga
Trechos do sermão feito em Ecône em
30 de março de 1986, sobre Assis. Mons. Lefebvre considerou nessa época sobre
se o Papa não seria Papa. Avec l’Immaculée aproveita para lembrar nossa posição
sobre o sedevacantismo (cf. nota 1): a este respeito seguimos Mons. Tissier de
Mallerais, em sua carta de 28 de fevereiro de 2009 ao padre Schoonbroodt.
Publicamos igualmente um trecho desta carta na nota 2.
(...) Nós todos sabemos, caríssimos
irmãos, caríssimos amigos, todos nós sabemos que estamos atualmente diante uma
situação na Igreja que é bem mais que inquietante. Não é de agora que o
problema existe. O problema existe desde o concílio particularmente e desde a
aplicação das reformas do concílio. Ora, nós assistimos a uma espécie de
escalada do ecumenismo praticado pelo Papa e pelos bispos.
Isto não é um mistério: é visto e
sabido por todo mundo; é apresentado na televisão, por todos os meios de
comunicação social. Todo mundo está bem consciente deste ecumenismo praticado
hoje pelas autoridades da Igreja.
Então este ecumenismo nos coloca, estou
certo disso, caros fiéis, caros amigos, um grave problema de consciência. Para
nós, queremos e estamos decididos, e não penso que não tenhamos a intenção de
mudar: queremos continuar católicos. E o catolicismo para nós significa:
guardar a fé, os sacramentos, o Santo Sacrifício da Missa, o catecismo que a
Igreja ensinou, legou, como herança preciosa durante dezenove séculos às
gerações e gerações de católicos.
Nós mesmos recebemos em nossa infância,
em nossa juventude, em nossa adolescência, em nossa idade madura, esta preciosa
herança e nós a ela nos apegamos como a menina
dos olhos, pensando que esta fé que nos foi legada e todos os meios de
guardar a fé que nos foi legada, de conservar a graça em nós, são um meio
necessário, absolutamente indispensável para salvar nossas almas, para ir ao
Céu. Não é por outro motivo que queremos permanecer católicos: para salvar
nossas almas.
Então, quando tive a ocasião de vos
dizer na última quinta-feira, meus caros amigos, que temos a impressão de nos
afastar sempre mais daqueles que praticam este ecumenismo insensato, contrário
à fé católica – eu deveria dizer antes
que, permanecendo católicos e decididos a permanecer católicos até o fim de
nossos dias – são eles que vemos se afastar de nós, porque permanecemos
católicos e que eles se afastam sempre um pouco mais da profissão desta fé
católica que é o primeiro preceito de quem é batizado, professar a fé.
Não é por nada nem para nada que nossos
padrinhos e madrinhas pronunciaram o Credo no dia de nosso batismo – e nós
mesmos em seguida – pela confirmação que recebemos, repetimos, nós mesmos, este
Credo, que nos prende definitivamente à fé católica. Ora, é um fato certo, conhecido
daí em diante de todo o mundo, sobretudo desde a viajem do Papa ao Marrocos, ao
Togo, às Índias e nos comunicados que a Santa Sé oficialmente publicou ainda
nestes últimos dias, para dizer que o Papa tem a intenção de se encontrar com
os judeus para rezar com eles, que o Papa tem a intenção de ir a Taize para
rezar com os protestantes e que ele tinha a intenção – ele disse publicamente
em São Paulo fora dos Muros – de fazer uma cerimonia que reuniria todas as
religiões do mundo para rezar com elas em Assis, pela paz – por ocasião do Ano
da Paz que foi proclamado pela O.N.U. e que deve ter lugar em 24 de outubro.
Eis os fatos. Vós os lestes nos
jornais; vós os ouvistes na televisão, para aqueles que possuem televisão. Que
devemos pensar? Que é a reação de nossa fé católica? É isto que conta, não nosso sentimento pessoal, uma
espécie de impressão ou constatação qualquer. Trata-se de saber o que pensa a Igreja Católica;isso que nos
ensinou; isso que nossa fé nos ensina diante dos fatos. É por isso que me
permito vos ler algumas palavras bem curtas que recolhi no Dicionário de
Direito Canônico do cônego Naz, que é oficialmente o comentário do Direito
Canônico que é a Lei da Igreja desde os princípios. O Direito Canônico editado
e publicado sobre a ordem do Papa Pio X e publica por Bento XV, o Direito
Canônico é a expressão da Lei da Igreja durante dezenove séculos. O que diz ele
a propósito disto que se chama a comunicatio
in sacris, ou seja, a participação em um culto acatólico, participação em
um culto não católico? Eu crio que esse é o assunto que nos ocupa; é isto que
vemos: a participação de Papa e dos bispos em cultos não católicos.
O que diz a Igreja? A comunicatio in sacris, como diz a Igreja
em latim: é proibida com os não católicos pelo cânon 1258, parágrafo 1, que
diz:
“É absolutamente proibido aos fiéis de assistir ou de tomar parte
ativamente nos cultos não católicos de qualquer maneira que seja”.
De qualquer maneira que seja. Eis como ele o explica – e o que faz é
somente copiar o que se encontra no comentário oficial da doutrina da Igreja -:
“A participação é ativa e formal quando um católico participa de um
culto heterodoxo, ou seja, não católico, com a intenção de honrar a Deus por
este meio, de maneira não católica”.
Eu repito:
“A participação é ativa e formal quando um católico participa de um
culto heterodoxo, ou seja, não católico, com a intenção de honrar a Deus por
este meio, de maneira não católica”.
É exatamente isto diante que nos
encontramos. Eu penso realmente que os bispos e que o Papa tem a intenção de
honrar a Deus pelo culto não católico, o qual eles participam. Eu penso não me
enganar.
Tal
participação é proibida, sob qualquer forma – quo vis modo – por que ela implica a profissão de uma falsa
religião e por consequência a negação da fé católica.
“Não é permitido nem rezar, cem cantar,
nem tocar órgãos em um templo herético ou cismático se associando aos fiéis que
celebram seus cultos mesmo se os cantos ou termos das orações sejam ortodoxos”.
E não foi eu
quem escreveu isso. Está escrito com todas as letras no Dicionário de Direito
Canônico pelo cônego Naz, que faz parte oficial, que sempre foi considerado na
Igreja como um comentário oficial e válido. “Aqueles que participam ativamente
e formalmente nos cultos não católicos, são presumidos de aderir às crenças
destes últimos. É por isso que o cânon 2316 os declara suspeitos de
heresia e se perseverarem são considerados realmente como
hereges”.
Não sou eu quem disse isso, mais uma
vez. Por que está legislação na Igreja? Para nos ajudar a praticar o primeiro
mandamento que temos que professar nossa fé católica. Se professamos nossa fé
católica, nos é impossível, inconcebível de confessar outra fé, outro culto.
Por que rezando em outro culto fazemos profissão de honrar o deus que é
invocado pelo culto, pelo culto de uma falsa religião. Uma falsa religião é
honrar um falso deus; um deus que é a construção do espírito ou que é um ídolo
qualquer, mas que não é o verdadeiro Deus. Como quereis que os judeus rezem ao
verdadeiro Deus? Eles formalmente, essencialmente contra Nossa Senhor Jesus
Cristo, desde precisamente o dia da Ressurreição de Nosso Senhor. E mesmo
antes, por que O crucificaram. Mas de uma maneira quase oficial, despois da
Ressurreição de Nosso Senhor. Eles se colocaram imediatamente a perseguir os
discípulos de Nosso Senhor e isso durante séculos.
Como se pode rezar ao verdadeiro Deus
com os judeus? Quem é Nosso Senhor Jesus Cristo? O Verbo de Deus. Ele é Deus. Nós
só temos um Deus: Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo e que há um só Senhor:
Nosso Senhor Jesus Cristo. São os evangelistas que nos repetem isso sem cessar.
Se, pois, se é oposto a Nosso Senhor Jesus Cristo, como o diz explicitamente
são João em suas cartas: “Quem não tem o Filho, não tem o Pai. Aquele que não
honra o Filho não honra o Pai”.
É normal, há somente um Deus em três
Pessoas. Se uma dessas Pessoas é desonrada, é recusada, não se pode honrar as
outras Pessoas, é impossível. É destruir a Santíssima Trindade. Por
consequência, desonrando Nosso Senhor Jesus Cristo, os judeus desonram a
Santíssima Trindade. Como podem eles rezar ao verdadeiro Deus? Não há outro
Deus no Céu, que nos foi ensinado por nossa fé católica.
Eis a situação diante da qual nós nos
encontramos. Eu não a invento. Não sou eu quem quero, eu desejaria morrer para
não existir essa situação. Eu queria dar minha vida. Mas nos encontramos diante
desta situação. Como a julgar segundo nossa fé, seguindo a doutrina da Igreja?
Nos encontramos verdadeiramente diante
de um grave dilema, excessivamente grave, que eu creio jamais ter existido na
Igreja: Que aquele que está sentado
sobre a sé de Pedro, participa do culto destes falsos deuses. Eu creio não ter
isso acontecido em outro momento da História da Igreja.
Qual é a conclusão que devemos tirar,
talvez em alguns meses, diante destes atos repetidos de comunicação com os
falsos cultos? Eu não sei. Eu me pergunto. Mas é possível que nós estejamos na
obrigação de crer que este papa não é papa1. Por que parece, a primeira vista – eu
não quero ainda dizer de uma maneira solene e formal – mas parece à primeira
vista – que seja impossível que um papa seja herético publicamente e
formalmente. Nosso Senhor lhe prometeu estar com ele, de guardar sua fé, de o
guardar na fé. Como aquele o qual Nosso Senhor prometeu guardar na fé
definitivamente e sem que ele possa errar na fé, poderia ele ser herético
publicamente e quase apostatar?
Eis um problema que concerne a todos,
que não concerne somente a mim. Se somos perseguidos, se agora nos tratam como
gente quase fora da Igreja, por quê? Porque continuamos católicos. Porque
queremos continuar católicos. Então constatamos que permanecendo católicos,
estas personagens se afastam sempre mais da doutrina católica e por
consequência de nós. Que quereis que eu faça? Absolutamente como os judeus se
afastaram de Nosso Senhor. Eles se afastaram Dele sempre mais, até virarem
inimigos jurados de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando deveriam se unir a Nosso
Senhor; quando todos eles deveriam seguir a Santíssima Virgem e os Apóstolos –
a exceção feita a Judas é claro – mas todos os discípulos de Nosso Senhor,
judeus, que se converteram a Nosso Senhor e que O seguiram. (...)
Notas:
1. Em seguida, Mons. Lefebvre rejeitou
essa hipótese que o papa não seja papa. Entretanto, se ele a considerava é
porque isso não é mal em si, doutrinalmente. Porque não se pode colocar na
mesma condição um sedevacantista e um modernista. Um sedevacantista tem a fé.
Um modernista não a tem. O sedevacantismo não é em si uma atitude condenável e
cismática, pois o sedevacantismo continua apegado ao princípio da autoridade da
Sé de Pedro. O blog Avec l’Immaculée (Com
a Imaculada) não é sedevacantista e pensa que eles se enganam. Entretanto, é
possível ser um bom católico e ser sedevacantista. Mons. Fellay não cessa de
apresentar o sedevacantismo como um espantalho e ele não tem razão, pois, em contrapartida,
isso o aproxima dos modernistas que, são muito perigosos, pois são hereges.
Face ao sedevacantismo, nosso blog segue a posição de Mons. Tissier de
Mallerais: cf. carta de 28/02/2009 ao padre Schoondroodt2: nós não somos, mas
não condenamos, mas isso não leva a excessos tal como declarar, como fazem
certos sedevacantistas, que a FSSPX é herética e que seria um pecado ir a sua
Missa. Neste caso, pensamos que o sedevacantismo passa a ser excessivo e
perigoso. O bom combate não deve consistir em demonstrar uma opinião teológica
discutível. O bom combate consiste em lutar contra o modernismo recordando a
doutrina tradicional.
2. Carta
de Mons. Tissier de Mallerais em 28 de fevereiro de 2009 ao padre Schoonbroodt:
Ecône, 28 de fevereiro de 2009.
Senhor padre,
Vossa carta de 25 de fevereiro me chegou a mãos, eu a li assim que
cheguei dos Estados Unidos. (...)
Caro padre, eu admito que um
padre, fiéis, tenham dúvidas sobre a validade de um papa tal como João Paulo II
ou Bento XVI; Mons. Lefebvre não o teve por vezes? Mas não mais que nosso
venerável fundador, eu não quero fazer
desta dúvida legítima um cavalo de batalha ou uma justificação para minha ação.
Minha ação se funda inteiramente sobre o dever do combate da fé, segundo São
Paulo. Quanto àquele que se encontra em Roma, se há dúvida, uma vez que a
presunção é a favor dos que possuem, uma vez que os argumentos dos
sedevacantistas não são admitidos pela maioria dos católicos da Tradição, é
preciso aplicar o cânon 209 “in dubio positivo... jurisdictionem supplet
Ecclesia pro fors tum externo tum interno”. É por isso que a FSSPX mantem
relações com Bento XVI, certamente não para abraçar seus erros, mas para o
converter.
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