Revmo. Padre René C. Trincado.
Estimados
irmãos: a epístola de hoje diz: Sede
sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão
que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. (1 Pe. 5,8-9)
Sede sóbrios e
vigiai: para nos defender das inumeráveis astúcias do demônio, devemos viver
com temperança e vigiar, quer dizer, ser prudentes, estar atentos, usar a inteligência,
ser reflexivo, ter um cuidado constante. E, por certo, também devemos orar, pois
Cristo disse vigiai e orai para que não
entreis em tentação (Mt 23, 41; Mc 14, 38)
Dotado de uma inteligência
superior, o maligno de ordinário se disfarça de anjo de luz. Intenta
arrastar-nos ao mal sob pretextos ou aparências de bem. Quanto mais reais
parecem esses disfarces de bondade, mais perigosos se voltam os enganos do
demônio.
Neste contexto, o desejo de chegar a um acordo com os
modernistas destruidores da Igreja, nova prioridade da FSSPX, constitui uma
ilusão perigosíssima, porque submeter a Tradição ao poder dos liberais é em uma
palavra – suicídio. O disse claramente Mons. Lefebvre depois de retratar o
protocolo de acordo de 1988.
Os disfarces, as
aparências de bem, as falsas razões, estão ante nossos olhos: “estando dentro da estrutura oficial muito
mais almas viriam a nós, poderíamos fazer muito bem”. “Pedir que essa nefasta
etiqueta [de “excomungados”] seja removida, equivale a restituir a Tradição seu
nome glorioso” (Palavras do Superior Geral, Cor Unum nº 85, 10-06) “A
situação em que estamos é como a situação ao fim do inverno: se vêem os brotos.
A primavera está para vir” (Mons. Fellay, 8-10-12). “A condição do capítulo de
2006, que dizia que não devemos buscar uma solução prática antes da doutrinal,
é em teoria muito clara, mas na prática [é] impraticável” (id.).”... “me
disseram que a primeira coisa que fará sendo reconhecidos, é que se abrirá em
Roma um seminário, um instituto para o estudo do Concílio... também me
disseram: em pouco tempo nos chamarão até as congregações romanas. São gente
que sabe que o futuro está na Tradição...” (id) “O papa expressa uma vontade
legítima com respeito a nós, que é boa” (carta de Mons. Fellay aos outros três
bispos de 14-4-12). “Se Nosso Senhor nos dirige, nos dará também os meios para
continuar nossa obra” (id.) “O Bom Deus não nos abandonaria no momento mais
crucial” (id.). “Monsenhor Lefebvre não haveria duvidado em aceitar o que nos
propõem (id.)”.
O acordo suicida não se firmou porque os liberais
romanos exigiram mais do que o Superior Geral estava disposto a ceder. Este, como se
constata ao ler a declaração que apresentou ao Vaticano em abril do ano
passado, cedeu de tal maneira que sua contraproposta, longe de constituir um
ato de comprovação dos oferecimentos de Roma – como disse reiteradamente -
implicou uma traição objetiva a
Fraternidade, ao legado de Mons. Lefebvre, a fé, a Igreja e a Cristo.
Logo dessa
tentativa falida de selar a paz com os inimigos de Cristo, se levou a cabo um
Capítulo Geral, em cujas atas se lê em caso de reconhecimento canônico, a
congregação porá certas condições a Roma. A primeira das condições necessárias
ou sine qua non é a seguinte:
“A
liberdade de conservar, transmitir e ensinar a sã doutrina do Magistério
constante da Igreja e da verdade imutável da Tradição Divina; a liberdade de
defender, corrigir, repreender, inclusive publicamente, os promotores dos erros
ou as inovações do modernismo, do liberalismo, do concílio Vaticano II e de
suas consequências” ( sic na tradução oficial)
Sobre esta condição, em uma conferência dada em 8 de outubro do ano passado na Argentina,
o Superior Geral explicava o seguinte: “Dizer
que temos direito a atacar os erros significa que a autoridade está de acordo,
significa uma conversão. É muito claro! Significa que a cabeça não é liberal
porque um liberal, um modernista, não pode permitir que se ataque o liberalismo”.
Ouvimos outros acordistas expressarem-se em idênticos termos.
Antes de tudo há
que dizer que diante de umas autoridades romanas convertidas do modernismo ao
autêntico catolicismo, ante um Papa que deixa de ser liberal e passa a ser antiliberal
(porque neste não cabe uma neutralidade ou meio termo: ou se é liberal ou se é
antiliberal); não há direito a por condições, a fazer exigências ou a negociar acordos:
simplesmente se deve obedecer. Então, por que há outras cinco condições além
desta?
O segundo que há
que observar é que é falso que um Papa
demonstraria haver abandonado o liberalismo por tolerar que se contradiga sua
doutrina. Acaso não é o liberalismo uma ideologia contraditória? Não
promovem os liberais essa forma de demencial libertinagem chamada “liberdade de
expressão”? Pode não ser liberal um Papa que aceite que uma congregação a ele
submetida contradiga o ensinamento oficial, magistério papal incluído? Não
seria um perfeito liberal?
Portanto, a primeira e fundamental condição posta
pelo Capítulo de Julho está formulada, a medida, para um Papa liberal, e essas
seis condições fazem possível um acordo com os modernistas em qualquer momento.
São uma armadilha.
Estimados
irmãos: resistamos ao diabo firmes,
inteiramente intransigentes na fé. “Se tratando da verdade religiosa, ensinada
e revelada pelo mesmo Deus – diz o grande bispo antiliberal Ezequiel Moreno –
se Ele é nosso futuro eterno e a salvação de nossa alma, não há transação possível.
Me encontrareis inquebrantável e haverei de ser. A condição de toda verdade é
ser intolerante; mas a verdade religiosa, sendo a mais absoluta e a mais
importante de todas as verdades, é por consequência também a mais intolerante.
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