Revmo. Padre René C. Trincado.
Ensina Santo
Agostinho que as naves mencionadas no Evangelho de hoje representam a Igreja,
que se encherá de peixes bons e maus até o fim do mundo. As redes se rompem por
causa de uma grande multidão de homens carnais que rasgarão a Igreja com
heresias e cismas.
São Beda, por
sua parte, disse que as naves que correm perigo de afundar por causa dos mesmos
peixes, figuram a Igreja que ameaçará afundar por causa dos maus cristãos, que
são seus inimigos internos, segundo que profetizou São Paulo em 2º Timóteo: “Há
de saber que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis. Porque os homens
serão egoístas e amadores do dinheiro, jactanciosos, soberbos, difamadores,
rebeldes com seus pais, mal agradecidos, ímpios, desumanos, implacáveis,
caluniadores, desenfreados, cruéis, inimigos de todo bem, traidores,
temerários, obcecados, mais amantes dos prazeres que de Deus; E ainda que farão
ostentação de piedade… se oporão a verdade… homens de inteligência corrompida,
réprobos no que se refere a fé”.
Santo Ambrósio
explica que a barca está ameaçada por ter a bordo Judas, e acrescenta: “evitemos
o trato com o traidor, não seja que muitos vacilemos, empurrados por somente um”.
Disse São Pedro:
“Mestre, toda a noite estivemos trabalhando, sem ter pego nada”; porque –
comenta Santo Ambrósio – o fruto que há de obter-se por meio da pregação não
depende dos homens, senão de Deus. Para conseguir esta pesca milagrosa, Nosso
Senhor manda São Pedro conduzir as naves mar adentro e este responde que em seu
nome (no Nome de Cristo) as redes se encherão. Há que confiar somente em Deus.
Nada pescava
Pedro nesta noite porque seus esforços eram puramente humanos. Essa noite infrutuosa é a noite da atual
crise da Igreja: recorrer a meios humanos desprezando os divinos foi,
precisamente, o intento do Concílio Vaticano II. Desde o Vaticano II a Igreja
se encontra em uma espantosa noite de já longos 50 anos. Noite da apostasia da
cristandade por não lançar as redes no Nome de Cristo, senão no nome do mesmo
homem; noite fria, tormentosa e muito escura, por colocar a confiança no homem
e não em Deus. Se leem, no Profeta Jeremias, estas graves e sempre
atuais palavras: “Assim disse o Senhor: Maldito o homem que confia no homem e
faz da carne sua fortaleza e seu coração se aparta do Senhor” (Jer 17, 5)
Tragicamente,
essa obscuridade finalmente alcançou a FSSPX. O demônio tem também suas redes,
e havendo caído nelas, confiando mais no nada do homem que no poder de Deus, a
congregação está hoje disposta a apoiar-se adulteramente nos liberais moderados
para conter os liberais extremos. As autoridades da congregação estão se
comportando como verdadeiros cegos guias de cegos, segundo o demonstra, de modo
irrefutável, o fato de haverem contratado, recentemente, a um ateu expert em
marketing para que este adapte a imagem corporativa da congregação a gosto dos liberais.
Esta gravíssima infidelidade, este inacreditável despropósito foi revelado recentemente
pelo padre Girouard, da Resistência, e está provado pelas palavras que o
Superior do Distrito do Canadá, Pe. Wegner, escreveu em janeiro de 2012: “Uma
reconhecida empresa européia de imagem corporativa, desenvolveu um estilo corporativo
para a Fraternidade (…) O estilo é novo e fresco, atrativo para velhos e
jovens. Uma (…) característica deste novo estilo é sua positividade. Desprovida
de qualquer elemento agressivo e impositivo, nos compromete com uma maneira
positiva de escrever (…)” (“Angelus”, janeiro de 2012). Se trata, então de
recorrer a uns ateus que nos ensinaram o modo de projetar uma imagem agradável
aos homens. “Adúlteros! Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus?
Qualquer um pois que quiser ser amigo do mundo, se constitue em inimigo de Deus”
(Tg. 4, 4). Deus nos livre!
Sem
dúvida se vive também na Tradição essa “desorientação diabólica” de que em algumas
ocasiões falava a Irmã Lúcia de Fátima. Para proteger nossas almas disto,
nunca esqueçamos que Cristo mandou a São Pedro ir mar adentro, para que lá,
no profundo, fossem lançadas redes em seu Nome. É necessário empregar muitos
e grandes esforços em defesa da fé e da Igreja, fazer o que pudermos para
manter vivo o autêntico espírito católico, que é essencialmente batalhador e conquistador,
mas não é menos necessário ir até o profundo pelos caminhos do espírito, pela
união da alma com Deus que se faz mediante a oração, a que consiste em elevar
a alma a Deus, a esse Deus que mora no profundo da alma em estado de graça.
Sem oração não podemos esperar nada de Deus, mas com a oração devemos esperar
tudo dEle.
Santo Agostinho compara a pesca do Evangelho de
hoje com outra pesca milagrosa,
essa na qual os apóstolos recolhem 153
peixes. Não é casualidade que o Rosário
completo (com suas 3 coroas, com seus 15 mistérios) tenha, exatamente, 153 Ave Marias. Bom, pelo menos até
que os modernistas ousaram “corrigi-lo”, acrescentando os chamados “mistérios
da luz”.
Estimados
fiéis: Confiemos em Deus, creiamos no divino poder do Rosário! Empunhando diariamente
– e idealmente com seus 15 mistérios – o Santo Rosário, arma toda poderosa;
seremos capazes de lançar uma e outra vez e cada vez em maiores profundidades
de caridade, as redes santas que são nossas obras feitas para cumprir a
vontade de Deus, nossas vidas vividas no “Nome de Cristo”.
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