Citações de Monsenhor Marcel
Lefebvre (2° parte). Extratos da conferência em 13 de dezembro de 1984 em Saint
Nicolas, Paris.
Tradução: Rafael Horta
Capela Cristo Rei - Ipatinga
(...) É, pois uma grande prova a
que todos nós sofremos, é a prova da Igreja. Por que enfim, é preciso bem
reconhecer, a situação exterior e de certa maneira a situação jurídica (ao
menos jurídica no sentido do direito puramente literal) não é normal, é verdade.
Assim, não temos relações normais com os bispos, com os padres que estão a
nossa volta e que fazem também um apostolado. Qual apostolado? Mas enfim, estes
são padres que estão nas paróquias ainda; as relações que temos com eles não
são, evidentemente, relações que deveríamos ter normalmente na Santa Igreja.
Sem relações normais com os bispos, com os padres que nos cercam, sem relações
normais com os religiosos e religiosas, com uma boa parte dos fiéis, com Roma
mesmo. É uma provação terrível, por que é anormal. Mas esta anomalia não vem de nós; vem deles, de todos aqueles que não
seguiram a Tradição da Igreja, que em definitivo se colocaram fora da
legalidade, fora da Fé, sim, fora da Fé. Mas, de qualquer forma, estamos
persuadidos que eles estão errados, eles que mudaram de caminho, eles romperam
com a Tradição da Igreja, eles que se lançaram em busca de novidades, estamos
convencidos disso; é por isso que não podemos nos reunir com eles, não podemos
trabalhar com eles; não podemos colaborar com pessoas que se afastaram do
espírito da Igreja, da Tradição da igreja.
(...) Quem não tem Jesus Cristo não
tem o Pai, diz São João, e não tem o Pai quem não tem Nosso Senhor Jesus
Cristo. Essa guerra instaurada pelos judeus e que é continuada pela Maçonaria é
dirigida por Satanás, por todos os meios.
Então chegamos à traição, a traição
dos católicos pelo liberalismo. Os liberais são aqueles que se comprometem com
essas pessoas, com aqueles que proclamam a liberdade e independência de Deus,
nos Direitos do Homem. Com efeito, a
liberdade religiosa não é outra coisa que um dos artigos da Constituição dos
Direitos do Homem, da proclamação dos direitos do homem e mesmo ecumenismo não
é senão uma consequência da liberdade religiosa, da “igualdade”; da igualdade
que arruína toda a natureza como o Bom Deus a fez.
Somos todos nascidos desiguais. Sem
dúvida somos iguais por nossa natureza, mas o Bom Deus quis que fossemos
desiguais nos dons, nos dons que Eles nos deram para a organização da
sociedade. Entre nós, para que haja uma ordem cristã, uma hierarquia cristã.
Essa desigualdade está fundamentalmente na natureza querida por Deus; mesmo a
propriedade privada, que dá fundamento as desigualdades, é querida por Deus;
todas essas coisas são queridas por Deus.
Ora, o liberalismo fez um pacto com as ideias satânicas do mundo em
revolta contra Deus e contra todas as leis que Deus fez, naturais e
sobrenaturais. O liberalismo quer se unir a essas
pessoas e admitir esses princípios. Então nós que queremos salvar justamente e
reconstituir esta dependência de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo em nós, ao
redor de nós, pela intercessão da Santíssima Virgem Maria. Nós nos revoltamos
contra aqueles que não querem a dependência de Deus, a dependência de Nosso
Senhor Jesus Cristo e contra aqueles que arruinaram a dependência de Nosso
Senhor.
Ora, é isso que fazem os homens da Igreja atualmente. Nós vemos sob
nossos olhares, está claro, em todos os lugares. Desde o Concílio o liberalismo
investiu sobre os postos mais altos e importantes na Igreja, desde o Papa até
os cardeais de Roma e a Cúria.
O liberalismo se implantou na Igreja, é um compromisso dos homens da
Igreja com os homens de Satanás, não é um pacto aberto. Não há mais luta contra
Satanás, não há mais guerra contra aqueles que proclamam a independência para
com Deus. Está tudo terminado; e este pacto foi assinado na ocasião do Concílio
abertamente, publicamente com os maçons, com os protestantes, com os
comunistas. Nós assistimos a este casamento, este casamento adúltero,
abominável entre os homens da Igreja e a revolução e as ideias que vão contra
Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo e seu Reino. É abominável.
E isto se prova ainda agora
recentemente pela entrevista concedida pelo cardeal Ratzinger, entrevista que
foi publicada em 14 paginas. Um livro será publicado em breve, no próximo mês
de janeiro sobre essa entrevista que, durou vários dias. A pessoa que fez essa
entrevista vai, pois editar um livro. Penso que a frase que será dita aqui por
essa pessoa (é uma conversa com o cardeal Ratzinger) vai será seguramente
mencionada. Ela é de uma importância capital. Se há muitas coisas boas na
entrevista, existem coisas extremamente más nas palavras do cardeal Ratzinger
que nos mostram a gravidade da situação atual quando se pensa que o cardeal é
aquele que está na cabeça da Congregação dita “para a doutrina da Fé” que,
infelizmente, não é mais o Santo Ofício.
Eis a frase que se encontra à página
72 desta revista italiana: “Então, um
pouco inquieto disse ao cardeal – disse a pessoa que interrogava o cardeal
– a situação da Igreja terá
verdadeiramente mudado”?
“Sim (a resposta é grave), sim. O problema dos anos 60 era de adquirir
os valores melhores exprimidos em dois séculos de cultura liberal. (Eis o problema dos
anos 60). Existem valores que, bem que
tenham nascido fora da Igreja (admiráveis as besteiras ditas: que nasceram
fora da Igreja)! Podem encontrar seu
lugar, daqui para frente, desde que sejam “depurados e corrigidos” (O que
ele quer dizer? Em todo caso os valores podem encontrar seu lugar) em sua visão do mundo. E
assim se fez. Está terminado para ele. É um assunto encerrado. A Igreja,
durante os anos 60, no decorrer do Concílio praticamente, adquiriu valores
vindos de fora da Igreja, da cultura liberal, dois séculos de cultura liberal.
Está claro que são os direitos do homem, a liberdade religiosa, o ecumenismo. É
satânico.
Então o cardeal disse: “Isto já está feito. Mas, acresce ele, agora o clima é pouco favorável. Agora é
preciso procurar por um novo equilíbrio”.
Ele não disse que é preciso tirar
esses princípios, esses valores que veem da cultura liberal, mas que é preciso
tentar encontrar um novo equilíbrio. Esse novo equilíbrio é a Opus Dei. O
equilíbrio da Opus Dei é um equilíbrio exterior de tradicionalismo, de piedade,
de disciplina religiosa, com ideias liberais. É preciso guardar as ideias
liberais. Nada de acabar com as ideias liberais. Nada de lutar contra os
direitos dos homens, contra o ecumenismo ou contra a liberdade religiosa que é
um direito essencial do homem, claro.
Então penso que é preciso julgar todos os atos de Roma, atualmente,
nesta ótica, na ótica do cardeal Ratzinger por que ele é o porta-voz: guardar
as ideias liberais; nada de mudar aquilo de novo que já conquistamos
nos anos 60 e que é agora da Igreja. As ideias liberais, certas ideias liberais
podem fazer parte da visão que a Igreja tem do mundo, mas é preciso buscar um
equilíbrio. Então, para esse equilíbrio é necessário atacar um pouco a Teologia
da Libertação, é preciso atacar um pouco os bispos franceses por causa do
catecismo, é preciso dar àqueles que tem certa nostalgia da antiga Missa, uma
pequena satisfação. É a mesma coisa para a teologia da libertação, não se
abandona o princípio, por que, em seus documentos há uma teologia da libertação
que é possível, há uma teologia da libertação para os pobres, que não é mais
nem menos que a solução marxista da libertação. Eles estão sempre em
contradição.
Em definitivo, eles dão a impressão de querer retornar a Tradição, mas
eles não querem, eles não querem e não aceitam as conclusões que todos estes
falsos teólogos e de todos esses bispos que são revolucionários, que levam a
revolução a frente.
Encontramos-nos atualmente nessa
situação. É claríssimo que nesta entrevista do Cardeal Ratzinger. Eu penso que
é esta visão que deve nos guiar em nossa situação atual. Não nos iludamos
crendo que, por estes pequenos golpes que nos são dados de todos os lados, assistiremos
um retorno completo a Tradição. Não é verdade. Eles continuam sempre com o
espírito liberal. São sempre os liberais que comandam Roma e eles continuam
liberais (...).
Penso ter dito o que queria vos dizer
e vos dar uma mesma linha de conduta nos acontecimentos atuais que vão, talvez,
se precipitar. Haverá talvez outras
manifestações de certos ‘golpes’ no Vaticano; em meu ponto de vista, é muito
perigoso nos aproximarmos agora. Sem aproximações com os liberais; sem
aproximações com os eclesiásticos que comandam a Igreja agora e que são
liberais. Não pode haver aproximação. Se nos aproximarmos seria uma aceitação
dos princípios liberais. Não o podemos, mesmo se nos dessem a Missa de São Pio
V, reconhecimentos, encardinações, etc. Um bispo poderia vos dizer “eu vos
incardino em minha diocese, vos dou a Missa de São Pio V, mas em vossa paróquia
se dirá também a nova Missa. Será preciso que vós aceiteis de vez em quando dar
a comunhão nas mãos que agora é costume. Será preciso que dizer a Missa virada
para o povo que já está habituado a isso. Compreendam que não pode ser feito de
outro modo. E depois, enfim, é preciso, sobretudo aceitar o Concílio, com todas
as consequências que isso representa, com suas ideias...”.
Não é possível, não podemos nos comprometer ! Que eles nos devolvam
tudo. Que eles saiam de seu liberalismo, que retornem à Verdade da Igreja, à
Fé da Igreja, aos principios fundamentais da Igreja, desta dependencia total
das sociedades, das famílias e dos indivíduos à Nosso Senhor Jesus Cristo. Então
neste Momento, que nos dão a Missa de Sempre. Muito bem, então nós
estaremos perfeitamente de acordo. Haverá um entendimente perfeito e nós
poderemos ser reconhecidos e não teremos mais escrúpulos.
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