quarta-feira, 2 de março de 2016

Comentários a uma resposta sobre a polêmica dos milagres


Comentários a uma resposta sobre a polêmica dos milagres

De fato a Resistência vive dias de confusão e discórdia. A razão dessa discórdia é exatamente que a polêmica dos milagres, não teve fim, aja vista que, o amigo Augusto, autor do texto, que agora comento, ainda toca nela.
Nós que defendemos a possibilidade de Milagres fora da Igreja, não recebemos contra-argumentações, o que houve foi uma sucessiva reabertura do debate. O texto do Augusto, no que diz respeito a questão dos milagres, tem o mérito de ter sido o mais lúcido até agora e contradizer a própria defesa do Padre Cardozo. Contudo se ressente parcialmente do mesmo problema dos textos anteriores: não ler as respostas que foram dadas, não se inteirar corretamente da polêmica tornando-a cíclica. Essa é a razão pela qual a polêmica vem se arrastando há muito tempo. Como poderá se observar abaixo.
Afirma o autor do texto:
É certo que alguns teólogos católicos apontam para a possibilidade de Deus fazer milagres fora da Sua Igreja. (Van Noort, Hervé). Por outro lado, alguns outros simplesmente não tratam do tema (De Groot, Pesch) e outros aparentemente negam (Ceruti)”.
 Já foi mostrado anteriormente que não só alguns teólogos, mas a generalidade dos Padres e entre eles S. Tomás e S. Agostinho, como se pode ler:
 “A generalidade dos Padres e dos teólogos admitiu a possibilidade de milagres entre os hereges”, como se lê no prestigioso DTC:  
 E continua:
 “A autoridade de Santo Tomás de Aquino parece pesar para o primeiro caso, mas não se pode negar que o Catecismo de São Pio X afirme exatamente o contrário. 
“O fiel que ler com retidão de coração a História eclesiástica verá resplandecer a santidade da Igreja, não só na santidade essencial de sua cabeça invisível, Jesus Cristo, na santidade dos Sacramentos, da Doutrina, das Corporações religiosas, de muitíssimos de membros, mas também na abundância dos dons celestes, dos sagrados carismas, das profecias e milagres com que o Senhor (negando-os às demais religiões) faz brilhar  à face do mundo o dote da santidade que está adornada exclusivamente sua única Igreja.” (Breves noções de história eclesiásticas, n°139, Catecismo de São Pio X).
Mas o que realmente disse Santo Tomás? Teria dito o Doutor Angélico que Deus concedeu as demais religiões fazer milagres? Quantos méritos para Padre Cardozo: estar mais certo que Santo Tomás! Bom, não sabemos de qual afirmação ele fala, não a cita, mas de qualquer modo, afirmar que existem milagres fora da Igreja de forma extraordinária, não significa necessariamente, e automaticamente, que se está afirmando que Deus concedeu às demais religiões fazer milagres.  Bem, como não significa que Deus concedeu a outras religiões salvar os homens, por poder haver salvação de forma extraordinári fora da Igreja. Se Santo Tomás tivesse contradito o Catecismo de São Pio X, ele teria defendido que o milagre da sacerdotisa Vestal, seria não a confirmação de sua virgindade, mas de seu sacerdócio, de seu culto e de sua falsa divindade Vesta. Contudo, não foi o que S. Tomás defendeu. Se estou errado, talvez, você queira trazer para nós em qual lugar S. Tomás cita que Deus concedeu as demais religiões o poder de fazer milagres, pode fazer? O que Santo Tomás disse, está plenamente de acordo com o Catecismo de São Pio X, não o contradiz de modo algum! Quem leu as respostas dadas pelo Professor Nougué, não tem dificuldade nenhuma em constatar isso.
A causa de toda discórdia na Resistência surgiu exatamente a partir da questão dos milagres, vejamos se é realmente o que D. Williamson propôs . Continuemos com o que ele diz:
“O Bispo afirmou ter tratado desse assunto para inspirar nos católicos resistentes a humildade, o reconhecimento de que entre as pessoas da seita conciliar podem haver excelentes católicos. Sobre a humildade há uma vasta literatura, indo da Bíblia até importantes passagens de São Francisco de Sales, Santo Afonso Maria de Ligório e muitos outros santos e teólogos, incluindo um pouco conhecido livrinho de Leão XIII. No mais, coitados de nós se nos consideramos alguma coisa. Ter maior conhecimento da verdade é uma graça e devemos nos esforçar muito para corresponder a ela”. 
Concordo que sobre a humildade existe uma farta literatura católica, mas por que existe uma farta literatura, isso impede ao bispo de ensinar? Creio que não, ensinar faz parte do ofício do Bispo, D. Williamson escolheu ensinar, sua vontade tem que ser respeitada. Se trata de um bispo, não de um bibliotecário.
Na sequência ele entrará novamente na questão dos milagres e falara da prudência da Igreja na aprovação dos milagres:
“Além disso, mesmo entre os teólogos que aceitam os milagres fora da Igreja, além de uma grande prudência para afirmar sua existência, maior ainda do que aquela normalmente usada pela Igreja para confirmar os milagres ocorridos em seu próprio seio, há a seguinte precisão: Esses milagres nunca confirmam as doutrinas dos hereges, mas só aquilo que eles conservam de católico. (A transubstanciação entre os cismáticos, por exemplo.) O respeitado teólogo Gerardus Van Noort afirma o seguinte:
Muitos falam sobre as curas miraculosas de Ivan Serguiev, sacerdote russo mais conhecido como Padre João de Croonstadt. Os fatos históricos não são confirmados, mas, mesmo se verdadeiros, nada provam em favor dos cismáticos, mas apenas das verdades que a igreja Russa conserva da verdadeira religião católica. (VAN NOORT, Tratactus de Vera Religione, 1929, p. 77)”
A generalidade dos Padres e teólogos aceitam os milagres de forma extraordinária fora da Igreja. A prudência é muito maior dentro da Igreja: os milagres dentro da Igreja são investigados e estudados, mas obviamente não me parece razoável imaginar a Igreja enviar uma equipe para investigar os milagres realizados por um Padre Cismático. Aqui vale a regra da antiguidade, ninguém tem provas dos milagres acontecidos na antiguidade da Igreja, vale mais o testemunho. O que Van Noort afirma sobre os milagres do Padre João de Cronstadt, não nos é novidade, mas talvez seja novidade para você que os milagres no NOM significaram para o Padre Cardozo e seus fiéis a inteira confirmação da Igreja Conciliar. Esse é o ponto!
 Até aqui vimos mais os princípios, agora veremos como ele faz a aplicação:
“Apliquemos o mesmo aos casos expostos por Dom Williamson. Os supostos milagres, se verdadeiros, apenas provariam que na Eucaristia há o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.  Tudo bem, mas há quem negue isso dentro da Resistência?! Não é possível. Qual a outra lição a ser tirada dos supostos milagres? Que pode haver consagração na Missa Nova. Certo, e, mais uma vez, quem o nega? Os que pretendem ser seguidores de Dom Marcel Lefebvre é que não o fazem. Qual é o sentido disso tudo? Qual é a razão desse debate? Colecionar citações? O problema maior é que os exemplos de Dom Williamson, no máximo, provariam aquilo todo do mundo acredita, defenderiam aquilo que ninguém nega. Ou o propósito seria aproximar os fiéis da Resistência da chamada Missa Nova como, claramente, fez o Bispo recentemente ao recomendar a uma fiel que vá a essa missa? Deus o sabe”. 
 Augusto, parte (finalidade do milagre) do que você disse é apenas a repetição do que vemos dizendo. O grande problema não é o que D. Williamson propôs, mas uma parte dele é por que Padre Cardozo e seus fiéis não aceitaram as coisas que você aceitou tão facilmente. Isso é tão óbvio, mas por que não aceitaram? E olha que o Professor Carlos Nougué cansou de responder e explicar, tudo claramente. Se o próprio Padre Cardozo tivesse feito essa análise lúcida ao invés de um bolo com cereja, essa polêmica teria terminado a tempos. Por que não aceitou isso que é tão óbvio e prosseguiu com a polêmica? Repito a questão, porque essa é uma parte importante do problema.
 O que D. Williamson propôs, vai além do que você observou, porque parece não ter lido os Comentários Eleison sobre os milagres eucarísticos de Buenos Aires.
 Os milagres provariam que na Eucaristia há o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque a Missa é válida, até aqui você foi bem, mas a Missa Nova só é válida porque tem um sacerdote que a celebra e foi validamente ordenado por um Bispo, que por sua vez também foi validamente sagrado. Todos no âmbito do Novus Ordo Missae, desse modo, o milagre confirmaria que os Ritos de Ordenação de Paulo VI são válidos. Questão importante reconhecida pelo sr. Arai Danielle, sedevacantista, de forma branda no texto “O milagre Eucaristico de Buenos Aires”. O problema maior não são os exemplos de D. Willamson são a parcialidade com que você abordou a questão sem ao menos ter se inteirado dela. Através disso ele quis demonstrar que há algo de Católico na Igreja Conciliar, mas Padre Cardozo e seus fiéis entenderam que isso significaria a aprovação de toda a Igreja Conciliar, e como não entender a partir dessa aplicação, que os milagres do Padre João de Croonstadt aprovariam o cisma russo?
 A segunda e ultima grande parte do problema é que a questão dos milagres é secundária, como também a questão da Missa Nova, a questão principal é a relação entre a Igreja Conciliar e a Igreja Católica. Como você sabe bem, um Padre não pode fazer uma condenação formal de um Concílio Ecumênico, só um Papa pode fazer isso. Então, a partir do momento que se faz uma condenação formal, total e absoluta de um Concílio, ainda que seja uma consagração, é exatamente isso que é feito. Daí o Padre Cardozo que foi o mentor disso, pelo ato que fez, jamais vai aceitar algo de católico na Igreja Conciliar. O fato de um fiel viver com um Padre ordenado no Rito Novo (não me lembro se foi para lá antes ou depois da consagração, e isso é importante para entender a questão), só prova contradições, porque da rejeição total e absoluta do Concílio, não escapa nem mesmo os ritos reformados por Paulo VI. Ademais, se aceita que um fiel viva com um Padre ordenado no NOM, porque não aceita milagres na Igreja Conciliar? Alguma coisa tem de errado nisso, não acha?
 Todos os teólogos católicos que mencionamos, veem na realização de milagres de forma extraordinária fora da Igreja, a aprovação de uma parte, por que Padre Cardozo (e quase todos os seus fiéis) veem a aprovação do todo? Ao que parece, é mais fácil para ele aceitar que um fiel como você defenda essa possibilidade do que D. Williamson, procede? O assentimento que devemos a um milagre é de fé humana ou é um assentimento de fé divina e católica? Até onde eu sei é de fé humana, mas D. Williamson foi acusado de tudo nessa polêmica de imprudente, herético, senil, cerebrumvacantista e até mesmo de ser causa de escândalo. Contudo escandalizar-se depois de tudo o que já vivemos nesse vale de lágrimas, só pode ser pelos problemas aludidos pelo Padre Faber no texto “Sobre o escandaliza-se”. Bom, vou responder apenas a parte dos milagres, para responder as restantes precisaria de tempo, que no momento não disponho, então, é minha última resposta sobre essa polêmica.
Abraços e lembranças a família!
 Salve Maria!
P.s.: Tome cuidado, porque parece que há uma jihad em andamento aqui no Brasil. Isso significa que existem homens bomba por ai, mas que não explodem. Mais uma prova que existem milagres de forma extraordinária fora da Igreja!
 P.p.s.: Alguns pontos duvidosos pra mim:
1 – Os “supostos” milagres eucarísticos tem análises e estudos científicos. Podemos impugnar essas analises com afirmações?
2 – Não se começa a análise do milagre pelo fato histórico?
3 – A ordem na tratativa de um milagre, não é a exposta pelo Padre Cerruti:
a) verdade histórica : Se o milagre aconteceu realmente;
b) verdade filosófica : Se o milagre é extraordinário, isto é, supera as forças de toda natureza criada;
c) verdade teológica : Se o milagre foi produzido por Deus;
d) verdade relativa : Se Deus o produziu para confirmar uma revelação;
4 – A partir do momento que você não tem condições de contestar os fatos históricos, pode se prosseguir na polêmica?
 Fonte: SalveRegina - Blog

Holy Card Heaven:

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