Sermão do Padre René Trincado
Domingo da Santíssima Trindade
México, 26 de Maio de 2013
Domingo da Santíssima Trindade
México, 26 de Maio de 2013
Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória/ES
Observações: capela@nossasenhoradasalegrias.com.br
A GUERRA NÃO É VOSSA MAS SIM DE DEUS
Houve um
rei de Judá, chamado Josafat, que governou com temor de Deus. É muito elogiado por
muitas obras santas que fez, como, por exemplo, quando se diz na Escritura que “varreu
da terra o resto dos efeminados que haviam ficado do tempo de sua pátria Asá” (1
Reis, 22-47).
Em certa
ocasião o Reino de Judá se viu gravemente ameaçado por uma aliança poderosa das
nações vizinhas, humanamente impossível de vencer. O Rei Josafá, muito
angustiado, suplicou o auxilio divino diante de todo o povo. Ao finalizar sua
oração, um profeta chamado Jahaziel, se levantou e disse: “Ouvi, toda Judá, e
vós moradores de Jerusalém, e tú, rei Josafá. O Senhor os disse: não temais nem
se amedronteis diante desta tão grande multidão, porque a guerra não é vossa senão de Deus. Não temais nem desanimeis;
marchai contra eles porque o Senhor está convosco” (2 Cron. 20 15,17). Cheio de
valor, de confiança em Deus, e desprezando os meios puramente humanos, marchou
o rei na cabeça do seu pequeno exército contra os poderosos inimigos, e estes
foram esmagados por obra de Deus. A
guerra não era sua, era de Deus.
A ORDEM DE BATALHA DE CRISTO
No
Evangelho de hoje, festa da Santíssima Trindade, nos diz Nosso Senhor: “Ide
e ensinai a todas as gentes batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo: ensinando-as a observar todas as coisas que os hei mandado: e olhai que
estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”.
Dado
que o diabo se opõe sempre a extensão do Reino de Deus, com essas palavras Cristo
nos deu uma verdadeira ordem de batalha, pois ir a conquistar para Ele todas
as gentes, implica marchar contra todos os demônios e seus exércitos humanos. Por
isso a Igreja dos vivos se chama “militante”, é dizer, combatente, e Santo
Eusébio, comentando este Evangelho, diz que Nosso Senhor, fazendo-nos
exército do Reino dos Céus, nos dispôs para a guerra contra os inimigos.
São
João Crisóstomo assinala que Cristo veio dar início a guerra católica e que por
isso manifestou desde um começo a classe de combate que havíamos de sustentar,
mais terrível que toda guerra civil. E, por sua parte, São Jerônimo diz sobre
este Evangelho, que Nosso Senhor, ao prometer estar conosco, seus discípulos,
até o fim dos tempos, indica que venceremos
sempre.
Se a
guerra é de Deus e não nossa, não devemos buscar, para livrar-se dela, socorros
humanos, senão que devemos aderir por inteiro a fé. Quanto menos buscarmos os
apoios terrenos – diz Santo Ambrósio – mais encontraremos os auxílios divinos.
VATICANO II: A PAZ DO DIABO
Pois bem, depois
de quase vinte séculos de guerra, de resistência da Igreja entre duros
combates, finalmente veio o demônio com sua obra mestra, o Concílio Vaticano
II, a converter em letra morta a ordem de batalha de Cristo: o liberalismo,
batizado no concílio, acabou com a guerra: se assinou por fim a paz com o demônio,
com o mundo e com a carne.
Se existe direito
a não ser católico, a liberdade religiosa e de consciência, como ensinam os
maçons e os documentos conciliares: se fora da Igreja há salvação, se não há
inferno ou está vazio, como pretendem os modernistas; para que ir batizar e
evangelizar? Para que ir combater? Melhor ir dialogar para corrigir os meros
maus entendidos que impedem a realização da paz mundial, dessa unidade dos
homens não fundada em Cristo, que é o novo fim da Igreja, segundo os liberais e
os hereges modernistas. O santo espírito
missionário foi destruído pelo concílio, e seu lugar foi usurpado pelo
diálogo ecumênico que não é outra coisa que a continuação daquele diálogo
catastrófico entre Eva e a serpente.
SE DERRUBA DESDE DENTRO O ÚLTIMO BASTIÃO
Contra
este engano diabólico se levantou nosso fundador, Monsenhor Lefebvre, mas 40
anos depois vemos que a congregação que
lutava gloriosamente contra o liberalismo, está abandonando gradualmente a
trincheira, está deixando paulatinamente de combater e está mendigando migalhas
a seita conciliar.
Perdida a
esperança na conversão de Roma pelo poder divino – coisa que parece impossível
aos que deixaram de confiar inteiramente em Deus – e esquecendo que esta guerra
não é dos homens senão de Deus; se busca um auxílio humano, uma aliança
adúltera com os liberais moderados, a ajuda de uns supostos “novos amigos em
Roma” (Cor Unum 101), se pretende um acordo de paz com o inimigo (esteve a
ponto de firmar-se no ano passado), se pensa que estando na estrutura oficial,
converteremos os modernistas e restauraremos a Igreja. Mas tudo isto não é mais
que uma horrorosa ilusão, e esta ilusão está fazendo baixar os braços aos que
combatiam valorosamente por Cristo: “Não se vem já na Fraternidade os sintomas dessa
diminuição na confissão da Fé?” diziam os três bispos ao Conselho Geral na
carta de 7 de abril do ano passado. O combate diminui, o diálogo aumenta. Mas o
conciliador termina conciliar.
NÃO VIM TRAZER PAZ SENÃO ESPADA
Contra
esses sonhos pacifistas tão característicos dos liberais, estão as palavras eternas
de Cristo: “Não vim trazer paz, senão a espada [ou divisão]” (Mt. 10, 34; Lc
12,51). Uma é a espada da paz do mundo; outra é a paz de Cristo. “Vos deixo a
paz, minha paz dou-Vos; não como o mundo no-la dá, Eu dou-Vos. Não se perturbe o
vosso coração, nem tenhais medo” (Jo. 14, 27).
Há
uma paz boa e há uma paz má. E há uma divisão boa e uma divisão má. A paz
segundo o mundo é a união dos homens para o bem ou para o mal, “a paz
de Cristo é a união que Ele estabelece entre o Céu e a terra por sua Cruz”
(Col. 1), diz São Cirilo citando São Paulo, e agrega que é má a paz quando
separa do amor divino. E São João Crisóstomo, falando da boa espada ou divisão,
diz que o médico, a fim de conservar o resto do corpo, corta o que tem por
incurável. E acrescenta que uma divisão boa terminou com a má paz que havia na
torre de Babel e que São Paulo, por sua vez, dividiu a todos os que se haviam
unido contra ele (Atos 23), porque nem sempre a concórdia é boa e os ladrões
também se unem [para fazer suas delinquências]
Estimados
fiéis: o fumo de Satanás, o liberalismo, entrou na Tradição por uma greta aberta
desde dentro. Por isso agora se busca
uma paz que não é de Cristo.
DEUS DECLAROU GUERRA
De Deus, e
tanto assim que é a única guerra declarada por Deus. Em efeito, ensina São Luis
Maria Grignon de Montfort em seu “Tratado da Verdadeira Devoção”, que “Deus não fez nem formou nunca mais que uma
só inimizade – e inimizade irreconciliável -, que durará e aumentará até o fim;
e é entre Maria e o diabo; entre os filos e servidores da Santíssima Virgem e
os filos e sequazes de Lúcifer”.
E disse
Deus: “Eu porei inimizades entre ti e a mulher e entre tua descendência e a dela (Gen. 3,15). Aí está a declaração de
guerra. É Deus quem declarou a guerra. É sua guerra, não é nossa. Nosso dever é
combater sem pretender colocar fim a essa guerra. Não temos direito a fazer a
paz. Não temos direito a nos render. Temos o dever de guerrear. “Aos
soldados cabe combater e a Deus dar a vitória”, dizia Santa Joana d’Arc.
Sendo
assim, nenhum homem deve pretender fazer uma trégua com os liberais inimigos de
Cristo, nem negociar um acordo de paz com os destruidores da Igreja, nem
aceitar uma paz decretada pelos que – em quanto hereges modernistas – são soldados
do diabo. Isso tem um nome: traição. E
quem o busque ou está disposto a aceitar essa paz também tem um nome: traidor.
Que pela intercessão de nossa Mãe, a
Santíssima Virgem Maria, Deus nos conceda seguir as pegadas de todos os
mártires e de todos os santos, e receber do Céu a ferrenha resolução de combater
até o fim e a graça de morrer antes de trair.
“Ouvi, toda Judá, e vós moradores de Jerusalém, e tú, rei Josafá. O Senhor os disse: não temais nem se amedronteis diante desta tão grande multidão, porque a guerra não é vossa senão de Deus.
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