Primeira sexta-feira do mês
Dia do Sagrado Coração de Jesus
JESUS, REI DE AMOR.
Pe. Mateo Crawley-Boevey
A ENTRONIZAÇÃO
Em que consiste - Sua importância - Sua
prática.
Em que consiste
A Entronização pode definir-se: o reconhecimento
oficial e social da soberania
do Coração de Jesus sobre uma família
cristã.
Reconhecimento afirmado, tornado
sensível e permanente pela instalação
solene da imagem desse Coração divino
no lugar de honra e pelo ato de consagração.
Foi o próprio Deus de misericórdia que
disse: que, sendo a fonte de todas as
bênçãos, Ele as distribuiria em abundância
em todos os lugares onde fosse colocada
a imagem do seu Coração para ser
amada e honrada.
Disse ainda: “Eu reinarei apesar dos
meus inimigos e de todos aqueles que se
quiserem opor”.
A Entronização não é então outra coisa
senão a inteira realização do conjunto dos
pedidos feitos pelo Sagrado Coração em
Paray-le-Monial e das promessas magníficas
que acompanharam esses pedidos.
Padre Mateo |
Digo o conjunto, porque a família a santificar
é o objetivo transcendente de todos
esse apostolado: célula social, ela deve
ser o primeiro trono vivo do Rei de amor.
Para transformar, para salvar de novo o
mundo, é preciso que o Natal se perpetue,
que o Emanuel, o Jesus do Evangelho
habite sempre entre nós.
É preciso, para chegar-se ao Reino Social
de Jesus Cristo, retomar a sociedade
pela base e refazer a família cristã.
É pela família que se afirma e se mede
o valor de um povo. O povo vale o que
vale a família.
Dizia-me um grande convertido: “Padre,
o senhor nunca poderá exagerar a importância
da cruzada que está pregando.
Deixamos de boa vontade para os católicos
as igrejas, as capelas, as catedrais;
basta-nos, para perverter a sociedade,
possuir as famílias. Se nisso formos bem
sucedidos, acabou-se a vitória da Igreja.”
Oh! Como será sempre verdadeira esta
palavra de Jesus: “Os filhos deste século
são mais prudentes que os filhos da luz.”
O grande mal da nossa sociedade é que
ela perdeu o sentido do divino. Que remédio dar a esse mal?
Voltar a NAZARÉ.
Foi por Nazaré, fundando a Santa Família, que o Verbo começou a Redenção do
mundo. As sociedades para serem redimidas
deverão voltar para lá.
Mostraram-vos quadros horríveis da
devastação das igrejas nos países invadidos;
vossas almas de católicos ficaram
revoltadas. Pois bem, a ruína da família
cristã é um mal ainda maior. A família é o Templo dos templos. Não são essas igrejas
esplêndidas, essas igrejas de pedra
que salvarão o mundo, são as famílias
cristãs, é NAZARÉ.
E isso compreende-se.
A família é a fonte da vida, a primeira
escola da criança. Se a fonte da vida nacional
for envenenada, a nação perecerá. O
que queremos, é inocular nas famílias a
fé e o amor do Sagrado Coração. Se Jesus
Cristo for inoculado nas raízes, toda a
árvore será Jesus Cristo.
Ora, a Entronização é Nosso Senhor
vindo reclamar seu lugar no lar; como
outrora no fim de suas viagens apostólicas,
Ele pedia hospitalidade em Betânia:
lugar de honra, porque Ele é Rei e, - nós o
repetimos - Ele deve reinar sobre cada
família em particular afim de vir a reinar
bem cedo sobre a sociedade...lugar íntimo
e familiar porque Ele é Amigo e é pelo
seu Coração, pelo seu Amor que Ele quer
reinar.
A Entronização é portanto de fato o
Emanuel, o Jesus do Evangelho habitando
ainda entre nós. (...)
Sua prática
Receber a Jesus como Rei e Amigo,
colocar a imagem do seu Coração em
vossa casa, no lugar de honra, como penhor
sensível dessa recepção, e o alvo
imediato, é o primeiro passo no caminho
do vosso amor familiar com o Mestre bem
amado. (...)
É preciso que a consagração seja vivida
e constitua um estado em que o Evangelho
se torne a regra e como que a alma
do lar.
É necessária a convivência, isto é, a
vida comum com aquele Jesus que foi
acolhido e festejado; é necessário convidá-lo
a abençoar a aurora e o crepúsculo,
a paz e a tribulação, os sorrisos e as lágrimas.
(...)
Eis a ideia: um Jesus vivo no lar, um
Deus Emanuel no santuário da família
consagrada! (...)
Vou mostrar-vos com exemplos o que é
a consagração vivida, mais vale um fato
que mil dissertações.
Em plena guerra, uma família consagrada
recebe um telegrama comunicando
que o filho mais velho tombou no campo
da honra. A mãe toma o despacho e depõe-no
diante da imagem do Rei da casa.
Chama seus filhos, seus empregados,
toda a família, acende candelabros, traz
flores e, dominando-se como uma verdadeira
heroína, inicia um hino: “Jesus, nossa
esperança”... Depois, todos rezam
“Creio em Deus Padre”. Quando a prece
termina a mãe diz aos filhos: “Sua vontade
é sempre sábia e boa...Que o seu Reino
venha a nós!” só então correm as lágrimas
serenas diante do Coração de Jesus.
Eis uma homenagem incomparável rendida
ao Rei do amor: eis uma dor que não é
da carne e do sangue, mas a do Calvário,
fecunda e gloriosa.
Numa outra família, chegam da escola
as crianças com os braços carregados de
prêmios e coroas. Correm para seus pais
para serem abraçadas.
“Não, diz o pai, vamos primeiro depor as
coroas e os prêmios aos pés de Jesus; é
Ele e não eu o Chefe da família. Beijem o
seu Coração com amor depositando cada
um os seus prêmios e dizendo: “Venha a
nós o teu Reino. Seus pais podem desaparecer
um dia, meus filhos, este Rei,
nunca”.
No começo da minha vida apostólica eu
tinha tido a alegria de entronizar o Sagrado
Coração no lar que acabavam de fundar
dois jovens da classe operária. No
próprio dia do seu casamento eles tinham
querido fazer entrar em sua casa o Rei Jesus.
“Ele será, diziam, o Amigo íntimo de
todos os instantes”.
Alguns anos mais tarde, o operário me
chamava para ver sua mulher, gravemente
enferma. O pobre quarto em que moravam,
deixava adivinhar uma grande miséria; mas o que chamava logo a atenção
do visitante, era uma bela imagem do
Coração de Jesus, que lá estava fixada,
bem à vista, no lugar de honra, e mais
ainda a grande paz daquela morada.
Depois de algumas palavras de conforto
e consolação: “És muito infeliz, minha
filha? Disse eu à doente.
- Infeliz? Respondeu ela com a convicção
da mais viva fé, com os olhos brilhantes
pelo fogo da febre, não, Padre, nós não
somos infelizes! Nós sofremos, é verdade,
mas choramos com Ele. Entronizando-O
em nossa casa, o Senhor nos tinha dito
que Ele nos consolaria em todas as nossas
dores, que Ele saberia abrandar todos
os nossos sofrimentos...Ele o fez, Padre!”
E tomando pela mão seu marido que
soluçava, ela lhe disse: “E tú, o que dizes?
Fomos infelizes?”.
Então, fixando o seu olhar cheio de lágrimas sobre a imagem do Coração de
Jesus, ele respondeu: “Infelizes, nós?
Nem cinco minutos! Sofremos bastante,
oh!, sim isso é inevitável, a vida é a vida.
Mas, ser infeliz é coisa bem diferente...infelizes
com Jesus, nosso Rei e nosso
Amigo? Nunca, nunca! Jesus vem buscar
minha querida, é seu direito, que seja
feita a sua vontade; mas Ele tornará logo
para me buscar, a mim também; e então
nós três, lá em cima, seremos felizes no
céu, como fomos, os três nesta pobre
choupana!” Não é sublime? Eles tinham
aprendido a alta filosofia, do Evangelho: a
diferença que há entre chorar, sofrer e
ser infeliz.
Jornal "A Família Católica" - Edição 13, junho/2014.
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