sábado, 27 de junho de 2020

Dom Carlo Maria Viganò, arcebispo, denuncia novamente o Concílio Vaticano II: Se, por orgulho ou infeliz obstinação nós não sabemos reconhecer o erro e a fraude nas quais nós caímos, nós deveremos prestar contas a Deus, que é igualmente misericordioso com seu povo quando ele se arrepende e implacável em justiça quando eles seguem Lúcifer em seu "non serviam" [não servirei].

Respostas precisas a perguntas precisas, respostas de Dom Viganò ao diretor da Catholic World News, Phil Lawler, publicado em seu blog Catholic Culture

Arcibiskup Viganò pritvrdzuje: „Treba identifikovať a ...

21 de junho de 2020
 Dominica infra Octavam Ss.mi Cordis Jesu

Caro Doutor Lawler, Recebi seu e-mail através do seu amigo em comum Edward Pentin, no qual o senhor faz algumas perguntas relacionadas ao que eu já expressei sobre o Concílio Vaticano II. Com prazer, respondo-lhe, esperando que essas reflexões ajudem a sanar a Igreja Católica dos graves males que a afligem. 

Lawler: Primeiramente,  o que o senhor diz sobre o Vaticano II?. Que as coisas se deterioraram rapidamente depois  dele é certamente verdadeiro. Mas, se o conjunto do Concílio apresenta um problema, como isso se aconteceu? Como conciliar isso com o que nós pensamos da inerrância do Magistério?. Como todos os padres do Concílio se enganaram?. Mesmo se somente certas partes do Concílio, por exemplo, Nostra Aetate, Dignitatis Humanae são problemáticas, nós somos sempre confrontados com as mesmas questões. Muitos dentre nós dizem há anos que "o espírito do Vaticano II" é errôneo. O senhor quer dizer com suas afirmações que o falso "espírito" liberal reflete fielmente os trabalhos do Concílio?.

Dom Viganò: Eu penso que não seja necessário demonstrar que o Concílio representa um problema: o simples fato de que nós coloquemos esta questão sobre o Vaticano II e não sobre Trento ou Vaticano I me parece confirmar um fato que é evidente e conhecido para todos. Em realidade, mesmo aqueles que defendem o Concílio com as espadas desembainhadas o fazem fora de todos os outros concílios ecumênicos precedentes, dos quais nenhum se classificou como pastoral. E note-se que eles chamam: "O Concílio" por excelência, como se se tratasse do só e único concílio de toda a história da Igreja, ou ao menos o considerando como único, seja por causa da formulação de sua doutrina ou pela autoridade de seu magistério. Foi um concílio que, diferente de todos os concílios  que o precederam, foi chamado concílio pastoral, declarando que ele não queria propor uma nova doutrina, mas que criou uma distinção entre o antes e o depois, entre um concílio dogmático e um pastoral, entre cânones sem equívocos e discursos vazios, entre anátemas e piscadas de olhos para o mundo. 

Neste sentido, eu creio que o problema da infalibilidade do Magistério (A inerrância, como você mencionou, é propriamente uma qualidade da Sagradas Escrituras) não se levanta, pois o legislador, quer dizer, o Pontífice Romano em torno do qual o Concílio se reuniu, solenemente e claramente afirmou que ele não queria usar de autoridade doutrinal que ele teria podido exercer se ele tivesse querido. Eu gostaria de sublinhar que nada pode ser mais pastoral do que aquilo que é proposto como dogmático, pois o exercício do munus docendi em sua forma a mais elevada coincide com a ordem que o Senhor deu a Pedro de apascentar suas ovelhas e seus cordeiros. E portanto esta oposição entre dogmático e pastoral foi feita precisamente por aquele que, em seu discurso de abertura do Concílio, procurou dar um sentido severo ao dogma e um sentido mais doce e mais conciliante a pastoral. Nós vemos igualmente a mesma decoração nas intervenções de Bergoglio, onde ele identifica o "pastoralismo [pastoralità]" como uma versão doce do ensinamento católico rígido em matéria de fé e de moral, em nome do discernimento. É doloroso reconhecer que a prática do recurso a um léxico equívoco, utilizando termos católicos compreendidos de maneira inapropriada, invadiu a Igreja a partir do Vaticano II, que é o primeiro e o mais emblemático exemplo do suposto "circiterismo" que é a utilização equívoca e intencional imprecisa da língua. Isso é produzido porque o Aggiornamento [adaptação ao mundo] termo em si promovido ideologicamente pelo Concílio como um absoluto, fez do diálogo com o mundo sua prioridade sobre todas as coisas.

Há um outro equivoco que deve ser esclarecido. Se, de uma parte, João XXIII e Paulo VI declaravam que eles não queriam engajar o Concílio na definição de novas doutrinas e queriam que ele se limitasse a ser somente um concilio pastoral, de outra parte, é verdade que exteriormente midiaticamente ou nas mídias, diríamos nós hoje em dia, o acento colocado em seus atos foram enormes. Essa ênfase serviu para veicular a idéia de uma autoridade doutrinal presumida, de uma infalibilidade magisterial implícita, mesmo se estas eram claramente excluídas desde o ponto de partida. Se este acento foi posto, foi para permitir as instâncias mais ou menos heterodoxas de serem percebidas como tendo  autoridade e então de ser aceitas pelo clero e pelos fiéis. Mas isso seria suficiente para desacreditar estes autores de um engano similar, que gritam ainda hoje quando alguém toca em Nostra Aetate, enquanto se calam quando alguém nega a divindade de Nosso Senhor ou a virgindade perpétua de Maria Santíssima. Lembremos que os católicos não adoram um concílio, nem ao Vaticano II, nem a Trento, mas a Santíssima Trindade, o único verdadeiro Deus; eles não veneram uma declaração conciliar ou uma exortação pós-sinodal, mas a verdade vinculada nestas atas de Magistério.

O senhor me perguntou: Como todos os padres conciliares se enganaram?.   Eu respondo me apoiando sobre minha experiência destes anos e sobre as palavras de meus irmãos com quem eu tinha engajado uma discussão na época.  Ninguém poderia imaginar que em pleno coração do corpo eclesial, haviam força hostis tão poderosas e organizadas podendo chegar a rejeitar os esquemas preparatórios perfeitamente ortodoxos que tinham sido preparados por cardeais e prelados com uma fidelidade fiável à Igreja, substituindo-os por um pacote de erros habilmente disfarçados por trás de discursos longos e deliberadamente ambíguos.  Ninguém poderia acreditar, que, sob as abóbodas da Basílica do Vaticano, os Estados Gerais podiam ser convocados para decretar a abdicação da Igreja católica e a inauguração da Revolução. (Como eu já tinha mencionado em um artigo precedente, o cardeal Suenens chamou o Vaticano II de "1789 da Igreja"). Os padres conciliares foram objetos de um embuste sensacional, de uma fraude habilmente cometida que tinha recorrido aos meios mais sutis: eles se encontraram em minoria em grupos lingüísticos, excluídos de reuniões convocadas na última hora, empurrados a dar seu "placet" [aceito] fazendo-lhes crer que o Santo Padre o queria.   

E o que os inovadores não conseguiram obter na Aula Conciliar eles alcançaram nas Comissões e Comitês, graças igualmente ao ativismo dos teólogos e peritos que foram acreditados e aclamados por uma poderosa máquina midiática. Existe uma vasta gama de estudos e de documentos que testemunham esta mentira sistemática e malévola de certos Padres do Concílio de uma parte, e de outra do otimismo ingênuo ou da negligência de outros Padres do Concílio bem intencionados.

A atividade do Coetus Internationalis Patrum [se opondo aos inovadores] podia somente um pouco ou nada diante da violação das regras dos progressistas ratificadas na Mesa Santa ela mesma [Pelo Papa].

Aqueles que sustentaram que "espírito do Concílio" representava uma interpretação heterodoxa ou errônea do Vaticano II se entregaram a uma operação inútil e prejudicial, mesmo se eles o fizeram impulsionados pela boa fé. É compreensível que um cardeal ou um bispo queira defender a honra da Igreja e deseja que ela não seja desacreditada diante dos fiéis e do mundo, e se pensava então que o que atribuíam ao concílio  era, na realidade, uma falsa declaração induzida, um forçamento arbitrário. Mas se na época podia ser difícil de pensar que uma liberdade religiosa condenada por Pio XI (Mortalium Animos) podia ser afirmada pela Dignitatis Humanae, ou que o Pontífice Romano podia ver sua autoridade usurpada por um colégio episcopal fantasma, se compreende hoje que o que foi habilmente oculto no Vaticano II é hoje afirmado ore rotundo [linguagem pomposa] nos documentos pontificais precisamente em nome de uma aplicação coerente do Concílio. 

De outra parte, quando nós falamos correntemente do espírito de um evento, nós queremos exprimir precisamente o que constitui a alma, a essência deste evento. Nós podemos então afirmar que o espírito do Concílio é o Concílio ele mesmo, que os erros do período pós conciliar estavam contidos in nuce [em semente] nos atos conciliares, igualmente como é dito justamente que o Novus Ordo é a missa do Concílio, mesmo se em presença dos Padres conciliares foi celebrada a missa que os progressistas chamam significativamente "pré-conciliar". E ainda: Se o Vaticano II não representasse verdadeiramente um ponto de ruptura, qual seria a razão de falar de uma Igreja pré-conciliar e de uma Igreja pós-conciliar, como se ele tratasse de duas entidades diferentes definidas em sua essência pelo Concílio ele mesmo?. E se o Concílio estava verdadeiramente alinhado com o Magistério infalível ininterrupto da Igreja, por que ele é o único Concílio que apresenta graves e sérios problemas de interpretação?, demonstrando sua heterogeneidade ontológica com relação aos outros Concílios?.

Lawler: Em segundo lugar, qual seria a solução?. Dom Schneider propõe que um futuro Pontífice deve repudiar os erros; O bispo Viganò encontra isso insuficiente. Como então corrigir os erros, de maneira a manter a autoridade do ensinamento magisterial?.

Dom Viganò: A solução, a meu ver, reside antes de tudo em um ato de humildade que cada um entre nós, a começar pela hierarquia e pelo Papa, deve cumprir: reconhecer a infiltração do inimigo no coração da Igreja, a ocupação sistemática dos postos chaves na Cúria Romana, os seminários e as escolas eclesiásticos, e a conspiração de um grupo de rebeldes - compreendida aí, em linha de frente, a desviante companhia de Jesus que conseguiu dar a aparência de legitimidade e de legalidade à um ato subversivo e revolucionário. Nós devemos igualmente reconhecer a insuficiência da resposta do bem, a ingenuidade de muitos, o temor de outros e os interesses daqueles que se beneficiaram graças a este complô. Depois de sua tríplice negação do Cristo na corte do sumo sacerdote, Pedro "flevit amare", chorou amargamente. A tradição nos diz que o príncipe dos apóstolos tinha dois pequenos vales em suas bochechas até o fim de seus dias, seguidas das lágrimas que ele copiosamente derramou, se arrependendo de sua traição. Pertencerá a um de seus Sucessores, o Vigário de Cristo, na plenitude de seu poder apostólico, de reunir o fio da Tradição lá onde ele foi rompido. Isso não será uma derrota mas um ato de verdade, de humildade e de coragem. A autoridade e a infalibilidade do Sucessor do Príncipe dos Apóstolos sairão intactas e reconfirmadas. De fato, elas não foram colocados em dúvida no Vaticano II, mas ironicamente, elas o seriam no dia onde um Pontífice corrigisse os erros que este Concílio permitiu, brincando assim com o equívoco de uma autoridade que ele oficialmente negou ter, mas que os fiéis foram sorrateiramente autorizados a compreender que a Hierarquia toda inteira tinha, começando pelos papas do Concílio.  

Eu faço questão de lembrar que para certas pessoas, o que é exprimido aqui em cima pode parecer excessivo, pois isso pareceria colocar em causa a autoridade da Igreja e dos Pontífices Romanos. Portanto, nenhum escrúpulo impediu a violação da Bula Quo Primum tempore, de São Pio V, abolindo da noite para o dia, toda a liturgia romana, o venerável tesouro milenar da doutrina e da espiritualidade da Missa Tradicional, o imenso patrimônio do canto gregoriano e da música sacra, a beleza dos ritos e dos paramentos sacros, desfigurando a harmonia arquitetural mesma das basílicas as mais distintas, suprimindo as balaustradas, os altares monumentais e os sacrários: tudo foi sacrificado sobre o altar "coram populo" [de frente para o povo] da renovação conciliar, com a cinscunstância agravante de ter feito isso unicamente porque esta liturgia era admiravelmente católica e inconciliável com o espírito do Vaticano II.   

A Igreja é uma instituição Divina, e tudo nela deve começar por Deus e retornar a Deus. O que está em jogo não é o prestígio de uma classe dirigente, nem a imagem de uma empresa ou de um partido: se trata aqui da glória da majestade de Deus, de não anular a paixão de Nosso Senhor sobre a Cruz, dos sofrimentos de sua Mãe Santíssima, do sangue dos mártires, do testemunho dos santos, da salvação eterna das almas. Se, por orgulho ou infeliz obstinação nós não sabemos reconhecer o erro e a fraude nas quais nós caímos, nós deveremos prestar contas a Deus, que é igualmente misericordioso com seu povo quando ele se arrepende e implacável em justiça quando eles seguem Lúcifer em seu "non serviam" [não servirei].

Caro Doutor Lawler, a vós e a vossos leitores, eu envio cordialmente meus comprimentos e a benção de Nosso Senhor, por intercessão de Sua e de Nossa Mãe Santíssima.

+Carlo Maria Viganò



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