Dom
Williamson escreveu no seu Comentário Eleison 438: “Se a evidência
dos milagres ocorridos dentro da Igreja do Novus Ordo é tão séria
quanto parece, então os católicos têm de conformar suas mentes à
mente de Deus, e não o inverso."
Muitos
atacaram Dom Williamson por causa destes comentários a respeito do
possível milagre eucarístico ocorrido em Buenos Aires. Entre os
argumentos utilizados retenho os seguintes:
1-
Fora da Igreja não pode haver milagres. A Igreja conciliar não é a
Igreja católica. Logo não houve milagre em Buenos Aires.
2-Ninguém
age sem um fim. Um milagre na Missa Nova não poderia ter outro fim
senão induzir os fiéis a assistirem a Missa Nova. Logo não houve
milagre em Buenos Aires.
3-O
milagre é a assinatura de Deus. Deus não pode assinar uma heresia.
A Missa Nova favorece a heresia. Logo não houve milagre em Buenos
Aires.
Vejamos
cada um desses argumentos.
1-
O primeiro simplifica em demasia a questão e simplificando-a ele
confunde duas questões. Uma é a de saber se pode ou não haver
milagres fora da Igreja. A outra é a de se saber se a Igreja
conciliar é totalmente alheia à Igreja católica ou não.
À
primeira questão deve-se responder com santo Tomás que sim. Pode
haver milagres "fora da Igreja" dentro de certas condições.
Veja-se os artigos do Prof. Carlos Nougué a esse respeito. O que
Deus não faz é confirmar o erro ou o vício com um milagre, mas ele
pode confirmar a verdade ou a virtude com um milagre, e isto, mesmo
entre os pagãos. Se alguns bens foram realizados entre os pagãos,
estes bens foram realizados por inspiração ou ação de Deus (cf.
De Potentia, questão VI, artigo V, ad 5um). No mesmo artigo santo
Tomás diz ser possível que Deus tenha feito um milagre para atestar
a castidade de uma virgem pagã. Pode-se lembrar também o milagre da
mula de Balaão que falou distintamente como se lê nas Sagradas
Escrituras. Ora Balaão era um mago pagão. A mula falou porque Deus
queria adverti-lo de não levar adiante seu intento de amaldiçoar os
judeus. (Num XXII)
À
segunda pergunta deve-se responder que as autoridades da Igreja
conciliar, constituem uma seita modernista a qual, ocupando os postos
chaves da Igreja, a mantêm cativa. Não se pode dizer de maneira
absoluta nem que a Igreja conciliar seja a Igreja católica, nem que
ela não o seja. Pela doutrina modernista e a intenção de destruir
a Igreja católica ela não o é, evidentemente; mas pelo fato de
deter em seu poder uma jurisdição que pertence à Igreja católica,
ela tem algo de católico em seu poder. Se o Papa atual se
convertesse ele exerceria catolicamente um poder que hoje ele exerce
modernisticamente.
Esta
parece-me ter sido a posição que Dom Lefebvre sempre adotou.
2-
Ninguém age sem um fim. Mas que fim Deus poderia ter fazendo um
milagre na Missa Nova?
Dom
Faure já respondeu a esta pergunta. Se Nosso Senhor está presente
na hóstia consagrada numa Missa Nova com o agravante desta hóstia
ter sido profanada não parece absurdo que Deus faça um milagre para
indicar a gravidade desta profanação.
Mas,
dirão alguns, Dom Williamson citou também um suposto milagre
ocorrido na Polônia. O mesmo raciocínio se impõe. Onde há
presença real pode haver milagre sem se faltar com a verdade.
Mas
não seria isso aprovar a Missa Nova?
Não,
assim como não é aprovar o paganismo que demostrar, através de um
milagre, a inocência de uma virgem pagã.
3-
O milagre é uma assinatura de Deus e Deus não pode assinar uma
heresia. Mas este milagre, se milagre houve, não é uma assinatura
do novo rito da missa mas sim da presença real. O sacramento
recebido na Igreja conciliar pode ser verdadeiro e a doutrina que o
acompanha pode ser falsa. Mas são duas coisas distintas. Uma não
anula a outra. Afirmar um, mesmo com milagre, não é afirmar o
outro, como provar a inocência de uma virgem pagã não é aprovar o
paganismo.
Os
argumentos apresentados não me parecem conclusivos. Seja como for, eles não podem servir para desacreditar Dom Williamson que permanece
o Bispo que se opôs à política suicidária dos acordistas e que
sagrou Dom Faure, ordenou padres para a Resistência, confirmou
inúmeros fieis dando assim a todos a esperança de continuar o bom
combate de Dom Lefebvre que não é outro senão o bom combate da
Santa Igreja una, católica, apostólica e romana e, como dizia São
Pio X, perseguida.
Ir.
Tomás de Aquino O.S.B
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