segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Sermão do 14º Domingo de Pentecostes

 

“Fiel não é quem somente crê que Deus é todo poderoso, mas aquele que crê que tudo pode com Deus” - São João Clímaco.

O Evangelho nos fala da confiança em Deus. A confiança profunda em Deus é uma das coisas mais difíceis de encontrar nas almas, mesmo nas boas, mas é uma das mais necessárias. De sua falta provém a preocupação, a angústia, a inquietude, a tristeza e a consequente impossibilidade de avançar na virtude. Pode-se dizer que a confiança é a chave da santidade.

Eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. Mas, por acaso não necessitamos de tudo isso? Sim, e se nos manda trabalhar, nos esforçamos, mas evitando a preocupação, disse São Jerônimo. Devemos estar ocupados, mas não preocupados, isto é, ocupados antes do tempo com temores e angústias. Sobre o necessários equilíbrio entre confiança e esforço ou ação, há uma máxima de Santo Inácio, que diz: “trabalha como se tudo dependesse de ti, mas sabendo que tudo depende de Deus”.

Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Com nossos cuidados, esforços ou diligências está a divina providência. Devemos crer nisso.


E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Se Deus cuida de tal modo das flores, cuja vida é tão breve, abandonará acaso os homens que criou, não para um tempo limitado, mas para que vivam eternamente? Porque a alma é imortal. Não devemos pensar que seremos abandonados por um Deus que “nos amou até o extremos” e se entregou à morte por nós.

Disse “homens de pouca fé”, porque é muito pequena e limitada aquela fé que não está segura ainda sobre pequeníssimas coisas, como a comida e a veste. E nós nos acostumamos a cair no mesmo erro...



Cristo não quer a preocupação e anima a confiança que provém de crer verdadeiramente que Deus é Deus: que é Bom, Onipotente e Providente. Somos “homens de pouca fé”, pois ainda que não neguemos os dogmas da fé católica, desconfiamos da bondade e da onipotência divinas.


Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso. Comenta São João Crisóstomo que não disse “sabe Deus”, mas “sabe vosso Pai”, para inspirar-nos mais confiança. Se é pai não poderá desprezar seus filhos.

Nosso Senhor nos dá o remédio contra a preocupação: basearmo-nos na confiança que surge da fé, da esperança e da caridade, e que aumenta em nós essas virtudes. Por isso disse “buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça”. Devemos primeiro buscar “o reino de Deus e sua justiça” como nosso verdadeiro bem e fim; e “o demais”, como necessário para esta vida, vida que, por sua vez, é um meio de alcançar a outra (Santo Agostinho). “O reino de Deus” é o prêmio das boas obras (o Céu), e “sua justiça” o caminho de piedade pelo qual se vai ao reino (a vida devota, a santidade).

Não devemos nos preocupar com “o acréscimo” se buscamos primeiramente o Reino de Deus e sua justiça, porque “o demais nos será dado em acréscimo”, isto é, o receberemos se não colocarmos impedimentos, disse Santo Agostinho. E como colocamos impedimentos? Se buscamos “o acréscimo” como tendo igual ou maior importância que “o reino de Deus e sua justiça”, ou incorrendo em preocupação. Bem, como estas coisas nos são dada por complemento ou acréscimo, o Médico Divino – disse Santo Agostinho – ao qual todos nós nos confiamos, sabe quando deve nos conceder a abundância, e quando a escassez, segundo o que nos convém em relação à riqueza ou a pobreza, à saúde ou à enfermidade, à alegria ou à tristeza, o fervor ou à aridez, etc. E se alguma vez sofremos carências em relação às coisas necessárias para a vida, creiamos que isso permite o Senhor para nossa prova, para que consigamos o reino procurado.




Santa Teresa do Menino Jesus nos ensina a cofiança em Deus. Ela, que foi “a maior santa dos tempos modernos”, segundo as palavras de São Pio X. Grande por ter-se feito muito pequena nas mãos de Deus, como uma criança nos braços de sua mãe, por meio de uma confiança cheia de humildade, de fé, de esperança e de caridade. “Meu caminhozinho é o caminho de uma infância espiritual, o caminho da confiança absoluta, dizia.

Frequentemente os fiéis se queixam de que lhes parece que lhes falta amor a Deus. Em uma carta escrita a sua irmã, Santa Teresinha dizia: “a confiança, e nada mais que a confiança, é o que deve nos conduzir ao amor” (ao amor perfeito, à caridade ardente). Nessas poucas palavras resume sua mensagem, nos revela a chave de sua grande santidade e o motor de sua existência. Se a fé abre a alma a Deus como o arado abre a terra, a confiança a abre inteiramente e faz possível o futuro. É pela confiança que Deus fica livre para fazer sua vontade na alma. Essa vontade se cumpre pela medida da confiança que Deus encontra na alma. Antes que Deus dê a confiança aos que a pedem, Ele estará presente na alma, ainda que limitado, como preso e “pequeno”. Mas “pequenos” devemos ser nós, não Ele. Se somos pequenos – pela confiança – Ele será grande em nossas almas. Essa é a maior mensagem da maior santa de nosso tempo.


“Fiel não é quem somente crê que Deus é todo poderoso, mas aquele que crê que tudo pode com Deus” disse São João Clímaco. A falta de confiança em Deus é uma certa infidelidade. Um exemplo: os fiéis que sabem que os pecados veniais se perdoam de vários modos, além da absolução sacramental, mas na prática não estão dispostos a prescindir das “seguranças” da confissão. Não comungam porque tem pecados veniais, ainda que tenham aprendido no catecismo que a comunhão sacramental os perdoa. Além da confiança, também pode haver algo de orgulho nisso, se no fundo pensam que a comunhão é um prêmio para os perfeitos, quando na realidade é um remédio para os pecadores.

Outro exemplo de falta de confiança em Deus: “ceder à tentação de utilizar meios impuros para vencer em uma guerra justa” (P. Calmel). Isso é exatamente o que se passou e se passa com a FSSPX. Se quis fazer uso de meios menos retos ou francamente retorcidos para conseguir a “normalização” ou “regularização” da congregação e a conversão de Roma: violação da decisão do capítulo de 2006, segredo indevido, expulsões injustas, diplomacia mundana, concessões inaceitáveis em alguns pontos de doutrina, uso constante de uma linguagem confusa, pusilânime, dúbia, ambígua, etc..


O Coração Imaculado de nossa Mãe está cheio de confiança. A Ela, que tudo consegue de Deus, recorramos pedindo a santa confiança mediante o Rosário diário.

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